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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

29.01.25

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui, em tempos, falámos de 'Lisboa Às Cores', uma colaboração entre António Jorge Gonçalves e Rui Zink lançada pela Câmara Municipal de Lisboa como forma de celebrar o colorido especial da cidade capital de Portugal. Essa não foi, no entanto, a única obra de banda desenhada institucional criada pelo ilustrador, que, apenas um ano mais tarde, voltaria a realizar uma obra por comissão para uma entidade estatal e centrada sobre a cidade de Lisboa, desta feita para o Instituto Português de Museus e em parceria com o seu mais famoso e duradouro parceiro, Nuno Artur Silva.

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Intitulada 'À Procura do F. I. M.', a obra em causa, que comemorou neste ano transacto exactas três décadas sobre a sua publicação (no âmbito do projecto 'Lisboa '94') marca ainda presença nas bibliotecas de algumas escolas primárias e preparatórias do nosso País, pelo menos a julgar pelas informações disponíveis em diversos catálogos bibliográficos 'online'. Já na restante Internet, a sua pegada é bastante mais reduzida, encontrando-se o álbum no limiar de ser Esquecido Pela Net, sendo 'salvo' de tal fado apenas pelos inevitáveis Bazar0 e Bedeteca, bem como pelos supramencionados catálogos.

Ainda assim, além dos dados básicos de publicação, o único elemento disponível após pesquisa é a capa, que mostra um grafismo abstracto e psicadélico (quase ao estilo cubista ou impressionista) e sugere a presença, na história, de uma nave espacial, ou no mínimo um carro voador. O subtítulo, no entanto, sugere que a trama se centra sobre a Lisboa Subterrânea, o famoso conjunto de passagens, catacumbas e aquedutos no subsolo da capital, embora a verdadeira natureza do 'F.I.M' e a razão para a sua busca sejam, infelizmente, impossíveis de discernir.

Apesar da falta de informações que, por vezes, assola certos 'posts' deste nosso 'blog', no entanto, não queríamos deixar de relembrar esta segunda colaboração por parte de dois dos melhores criadores de banda desenhada em Portugal, e certamente os que melhor conseguem transmitir informações didácticas de forma cativante e divertida.

23.11.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Já aqui anteriormente falámos dos esforços de sensibilização para a ecologia que foram uma das imagens de marca das décadas de 80 e, principalmente, 90; de igual modo, na última Saída de Sábado, abordámos alguns dos novos espaços verdes que esse mesmo foco na natureza ajudou a criar durante as referidas décadas, nomeadamente na região da Grande Lisboa. No entanto, não era apenas na capital que eram levados a cabo projectos de grande monta com vista à recuperação de espaços naturais, e das espécies que neles habitavam; pelo contrário, duas das três iniciativas mais famosas da época neste âmbito – todas focalizadas na recuperação de espécies consideradas à beira da extinção – tiveram lugar longe da capital.

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A primeira destas, com origem ainda nos anos 80, viu ser criada uma reserva natural na Serra da Malcata, no Norte de Portugal, com o objectivo de ajudar a reintroduzir no nosso País o animal que lhe serve até hoje de símbolo, o lince-ibérico. E ainda que a campanha em causa não tenha sido bem-sucedida – só décadas mais tarde, já nos anos 2020, é que a espécie voltaria a existir em Portugal, tendo mesmo sido dada como extinta no País pela Quercus, em 2007 – o espaço em si teve enorme impacto na conservação ecológica da área, mantendo-se até hoje como uma das principais áreas naturais protegidas do território nacional, além de proporcionar, desde a sua inauguração, uma excelente Saída de Sábado para as famílias residentes no Norte do País.

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Mais a Sul, concretamente na zona de Mafra, o projecto é outro, bastante mais bem-sucedido que o da Malcata, e com foco numa espécie igualmente ameaçada em Portugal. Em actividade desde 1987, e originalmente idealizado por um inglês, o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico continua, até hoje, a albergar membros da referida espécie que, por uma razão ou outra, são incapazes de sobreviver em liberdade, servindo assim como uma espécie de associação de abrigo para os animais em causa. No entanto, longe de resguardar os seus animais do grande público - como o faria um canil, por exemplo – o Centro encoraja visitas, permitindo aos visitantes admirar os lobos a partir de torres estrategicamente colocadas para facilitar a observação sem com isso interferir ou afectar o quotidiano semi-selvagem dos animais ali abrigados. Uma visita mais do que recomendada, portanto, e que deverá fazer as delícias das gerações X e Alfa, tal como aconteceu com as dos seus pais.

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O terceiro e último projecto mediático de conservação de espécies com origem nos anos 90 – e único situado em Lisboa – teve como alvo o esquilo-vernelho, animal também de existência restrita em Portugal (e extinto em outros países, devido à literal invasão do esquilo-cinzento, espécie invasora e directamente concorrente) e que, na década em causa (concretamente em 1993) foi reintroduzido no Parque Florestal de Monsanto, espaço do qual falámos na última edição desta rubrica e onde, ainda hoje, pode ser observado.

Em suma, são muitos os espaços naturais criados nos anos 80 e 90 do século passado que, além da função declarada de protecção de espécies animais ameaçadas, constituem também, desde essa época destinos privilegiados para uma Saída de Sábado para 'miúdos e graúdos' com interesse pela natureza.

09.11.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

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O Parque dos Moinhos de Santana, um dos espaços verdes inaugurados na capital durante a década de 90.

Os anos 90 ficaram marcados, um pouco por todo o País, por uma série de manobras e desenvolvimentos em prol do urbanismo, que ajudaram não só a modernizar várias zonas menos centrais, como também vieram aumentar o leque de opções para uma Saída ao Sábado de cariz saudável para quem vivia na cidade. Lisboa, em particular, foi alvo, ao longo de toda esta década, de um sem-número de medidas de intervenção na zona florestal circundante, as quais contribuíram para criar um espaço ainda hoje diferenciado na arquitectura e estilo de vida da capital portuguesa.

De facto, apesar de já contar com infra-estruturas como o parque infantil do Alvito (entre outras) desde o início do século XX, a década de 90 viu a área de Monsanto (situada directamente 'acima' de Belém, Algés e Restelo, à saída de Lisboa) sofrer transformações consideráveis, enquadradas no projecto de criação de um 'corredor verde' na capital, e que transformavam os seus inúmeros hectares de mata selvagem numa série de parques urbanos, perfeitos para uma Saída ao Sábado em família, bem como numa reserva natural, o famoso Parque Ecológico de Monsanto, desde logo notável pela presença de esquilos, animal raro em muitas regiões de Portugal.

Além desta área dedicada à conservação – a qual rapidamente se afirmou, a par da Quinta Pedagógica dos Olivais, como local de eleição para visitas de estudo por parte das escolas lisboetas – o plano urbanístico aplicado à área em causa durante os últimos anos do século XX viu também nascer o Parque Urbano do Alto da Serafina, composto por duas áreas distintas (o Parque Infantil homónimo, grande 'concorrente' do Alvito, e o Parque do Calhau) e o Parque dos Moinhos de Santana (onde os mesmos continuam a ser a grande atracção), bem como ser recuperada a Mata de São Domingos de Benfica, também ela previamente votada ao abandono. Os lisboetas passavam assim, no espaço de menos de uma década, a poder contar com nada menos do que quatro novos locais para passear, brincar ao ar livre, fazer ciclismo ou piqueniques, além de novos acessos pedonais a áreas anteriormente mais remotas ou menos acessíveis, como a Buraca, que passava a estar ligada a Campolide por um caminho pedonal ao longo do Aqueduto das Águas Livres.

Com estes projectos-chave, o Governo e a Câmara Municipal conseguiam, de uma assentada, melhorar a acessibilidade, infraestruturas e paisagem urbana da cidade, bem como a qualidade de vida dos seus residentes, os quais continuam ainda hoje, mais de um quarto de século após a conclusão dos mais recentes esforços de reconversão, a usufruir das medidas então postas em práctica, e a utilizar os novos espaços verdes então criados para passeios em família, criando assim para as novas gerações o mesmo tipo de Saída ao Sábado diferente e memorável de que as crianças de então desfrutaram...

14.10.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre as muitas salas de espectáculos e bares da noite lisboeta, o Rock Rendez-Vous foi, a par do Johnny Guitar, uma das mais históricas e influentes, e continua até hoje a ser das que mais memórias e nostalgia despertam entre os portugueses de uma certa idade e com gosto pela música. E ainda que os muitos concertos ali realizados tenham uma palavra a dizer no tocante a esse estatuto, é inegável que grande parte do mesmo se devia ao histórico Concurso de Música Moderna, tão sinónimo com o espaço que muitas vezes se confunde com o mesmo, naquilo a que hoje se chama um 'efeito Mandela'.

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O livre-trânsito de uma das bandas a concurso, os Gritos Oleosos.

De facto, foi o referido concurso - realizado consecutivamente entre 1984 e 1989 – que deu a conhecer grupos como os Mler Ife Dada (vencedores da primeira edição), Ritual Tejo e Sitiados, todos os quais tiveram oportunidade de gravar para a Dansa do Som, a editora ligada ao concurso e ao próprio Rock Rendez-Vous em si. Assim, não é de estranhar que, cinco anos após a última edição anual, a competição tenha sido 'revivida' a título esporádico, e proporcionado uma despedida 'em alta' para um dos grandes eventos musicais do Portugal oitentista. Isto porque o sétimo e último Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous - levado a cabo há quase exactos trinta anos, a 16 de Outubro de 1994 - teve honras de transmissão na RTP, um facto que demonstra bem a importância cultural e mediatismo que o evento havia adquirido desde a sua criação, dez anos antes.

Curiosamente, esta última edição do concurso manteve a tendência, verificada na esmagadora maioria dos seus antecessores, de atribuir a vitória a bandas que acabariam por nunca singrar, pese embora o disco lançado como prémio pela classificação no concurso. Para a História, nesta 'reencarnação' do evento, ficavam Drowning Men (mais tarde Geração X, e depois Os Vultos), Jardim Letal e Neura, nenhum dos quais é hoje lembrado ou conhecido pela esmagadora maioria da população nacional, até mesmo a que era já viva à época. O único nome 'sonante' desta edição de 1994 seria, assim, o dos Ornatos Violeta, que levavam para casa o último Prémio de Originalidade alguma vez atribuído pelo Rock Rendez-Vous, saindo assim como nome destacado da última edição de um certame histórico do panorama musical português.

A extinção do Concurso de Música Moderna não significaria, no entanto, o fim do nome Rock Rendez-Vous, o qual seria 'repescado', já no Novo Milénio, para título de uma compilação de novos talentos lançada pela Worten, em homenagem às edições do mesmo tipo que a Dansa do Som fazia sair durante o seu período áureo. E apesar de o local em si, bem como o nome, terem entretanto voltado a mergulhar nas 'brumas' da memória, haverá sempre uma certa faixa etária de portugueses para quem aquelas três palavras meio 'estrangeiradas', e o concurso que lhes estava associado, serão, eternamente, sinónimas com o melhor que se fazia, e fez, no meio pop-rock e alternativo em Portugal.

08.10.24

NOTA: Por razões de relevância temporal, esta Terça será de TV, e a próxima Tecnológica.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A chegada a Portugal da TV Cabo, na ponta final da década de 90, veio terminar definitivamente com a hegemonia dos canais abertos, completando um processo de transição e expansão iniciado aquando da criação dos dois canais privados, SIC e TVI, alguns anos antes. Pela primeira vez, o panorama televisivo português contava com uma amplitude e liberdade anteriormente inimagináveis, as quais abriam possibilidades nunca antes pensadas, nomeadamente no tocante à criação de 'alternativas' menos generalistas aos quatro canais originais. Escusado será dizer que este paradigma não tardou a ser explorado, tendo os primeiros anos do serviço assistido ao aparecimento de toda uma gama de novos canais 'feitos em Portugal', muitos deles tematizadas. E se algumas destas novas adições ditariam o 'mote' para o próximo quarto de século de emissões por cabo, outras tantas ficariam 'pelo caminho', destinadas a permanecer confinadas à memória dos primeiros adoptantes da TV Cabo. Entre estes, contava-se um canal sobre cujas primeiras emissões se acabam de celebrar, há coisa de três semanas,vinte e cinco anos, e que demonstrava as supramencionadas possibilidades do novo sistema televisivo nacional.

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Falamos do Canal de Notícias de Lisboa, vulgarmente abreviado para CNL, que surgia pela primeira vez nos ecrãs portugueses a 15 de Setembro de 1999, pela mão da SIC e da Portugal Telecom, que assim adquiria o seu segundo canal, depois da Sport TV. Por comparação com os canais generalistas abertos, o CNL apresentava um foco mais regional, explícito no próprio nome, e uma marcada e assumida aposta em jornalistas e 'pivots' mais jovens, que fazia com que os seus programas fossem mais bem aceites por espectadores de faixas etárias mais baixas, os quais se sentiam talvez mais 'representados' do que anteriormente. Esta opção pela juventude estendia-se, aliás, também aos programas de entrevista e debate, tendo o CNL entrado para a História da televisão portuguesa como o canal que albergou o formato original de um dos mais icónicos programas entre os portugueses da geração 'millennial', o famoso Curto Circuito. Por entre os diversos blocos informativos, havia ainda lugar a algumas 'bizarrias' difíceis de imaginar na grelha de outros canais, como o programa que fechava cada emissão, 'Morfina'.

Uma das consequências da inovação, no entanto, é o potencial para o insucesso – factor que, infelizmente, viria a afectar irremediavelmente o CNL, o qual, no seu formato original, não chegaria a completar um ano e meio de vida, sofrendo uma reestruturação menos de dezasseis meses após ir ao ar, a 8 de Janeiro de 2001. Desengane-se, no entanto, quem pensar que o canal se extinguiu; antes pelo contrário, o mesmo continua a marcar presença diária em muitos lares portugueses, embora agora sob um novo nome – SIC Notícias. Não deixa de ser curioso perceber, no entanto, que um dos maiores canais especificamente noticiosos da televisão portuguesa talvez não tivesse sido possível sem aquela 'aventura' de um ano e três meses, que acabou por 'desbravar' caminho a tanto do que se seguiu ao nível da informação por cabo...

 

 

28.09.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

A zona de Belém, em Lisboa, é, tradicionalmente, um dos principais pólos culturais da capital portuguesa, devido à sua elevada concentração de edifícios históricos, museus e outros locais de índole educativa, bem conducentes a uma Saída de Sábado didáctica na companhia dos mais novos. E se os 'eternos' Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém se viram, já no século XX, acompanhados de instalações como o Museu dos Coches, o Museu de Marinha, o Museu de Arqueologia ou o Planetário Municipal de Lisboa, já na ponta final do mesmo – em inícios dos anos 90 – a icónica Praça do Império veria ser implementado mais um edifício, o qual rapidamente assumiria o seu lugar por entre as atracções que o circundavam.

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Oficialmente inaugurado em 1992, após meros três anos de construção, o Centro Cultural de Belém destinou-se, numa fase inicial, a servir de sede à Presidência do Conselho Europeu, na época da responsabilidade de Portugal. Logo desde o projecto inicial, no entanto, que a intenção passava, declaradamente, pela construção de um espaço que pudesse transcender essa primeira função e servir, a longo prazo, como pólo aglutinador tanto de cultura como de comércio e serviços, combinando as duas vertantes para proporcionar aos seus visitantes uma experiência o mais completa possível – uma planificação estratégica que voltaria a ser aplicada, novamente com excelente efeito, já no final da década de 90, aquando da construção do Parque das Nações, terreno da Expo '98.

Essa visão acabaria por ser tornada realidade pelo arquitecto português Manuel Salgado, cuja proposta, submetida em conjunção com um consórcio italiano liderado por Vittorio Gregotti, seria seleccionada de entre as quase seis dezenas submetidas a concurso público. O local seleccionado seria o anteriormente ocupado pelos pavilhões da exposição 'Mundo Português', de 1940 – uma escolha que não deixou de causar polémica, dado o volume e a traça marcadamente moderna do edifício, mas que tinha como justificação o facto de a referida área marcar o ponto de partida dos Descobrimentos.

Dos cinco módulos inicialmente propostos, seriam construídos três - o Centro de Exposições, o Centro de Espectáculos e o Centro de Reuniões, tendo sido descartados o módulo de hotel e a sala de equipamentos - cada um deles ligado por vias pedonais desembocando em pracetas e áreas ajardinadas, uma traça que torna o espaço tão adequado a um simples passeio como à organização de eventos culturais, e que valeria aos arquitectos o Prémio de Arquitectura em Pedra na Feira de Verona de 1993, mostrando que a opinião internacional sobre o edifício era algo distinta da nacional. Mesmo os portugueses, no entanto, rapidamente se habituaram ao novo 'mamarracho', e o CCB rapidamente floresceu na sua função de novo pólo cultural, tendo-se tornado local de 'romaria' para fãs de arte moderna, fotografia, teatro e música clássica, e englobando ainda eventos tão distintos como palestras e mostras de cinema, cumprindo assim o objectivo para ele delineado aquando do planeamento inicial, em 1988.

A sua importância enquanto potenciador de cultura na cidade de Lisboa valeu, aliás, ao edifício a distinção de Imóvel de Interesse Público, já no Novo Milénio, concretamente em 2002. Cinco anos depois, o seu estatuto entre os expoentes máximos da cultura em Lisboa seria reforçado com a instalação do Museu Colecção Berardo, sucedido, em 2022, pelo Museu de Arte Contemporânea, o qual constitui apenas mais um motivo para visitar um espaço que vem, há já mais de três décadas, contribuindo activamente não só para o panorama cultural lisboeta, como para o do País em geral.

21.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 20 de Setembro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Embora o sector juvenil continue a ser o que mais activamente procura logotipos e marcas, dada a necessidade de 'parecer bem' junto dos colegas, os pais de crianças pequenas ficam, talvez, logo atrás dos adolescentes no que a este particular diz respeito. Isto porque, para a maioria das mães e pais, é importante que a roupa envergada pelos filhos seja duradoura e tenha alguma qualidade – atributos normalmente reunidos pelas peças 'de marca'. E apesar de, hoje em dia, o preço proibitivo da maioria das marcas ter direccionado a maioria dos portugueses para as lojas de 'fast fashion', no anos 80 e 90 – quando tal conceito era ainda inexistente a nível mundial – havia certas lojas que chamavam, decididamente, a atenção dos progenitores lusitanos no momento de comprar vestuário para os filhos. Uma dessas marcas, nascida em Lisboa mas popular em todo o País em finais dos 80 e inícios da década seguinte, levava o nome de um vegetal, e propunha roupas coloridas e intemporais para crianças em idade pré-adolescente.

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Falamos, claro está, da Cenoura, uma 'etiqueta' que, sem ser para todos (os seus artigos não eram especialmente baratos, antes pelo contrário) chegou a vestir uma boa parcela de crianças portuguesas do período em causa - entre as quais se incluía o autor deste 'blog', em cujo bairro de infância existia uma loja da marca. Nascida em Lisboa nas últimas semanas do ano de 1972, começou por ser um empreendimento modesto de três amigas na casa dos vinte anos, que fabricavam e decoravam as suas próprias roupas e utilizavam os seus próprios filhos e sobrinhos, ou os de amigos próximos, como 'caras' dos catálogos; as décadas seguintes viram, no entanto, a marca expandir-se e tornar-se uma referência no mercado nacional de vestuário infantil, pela grande qualidade das suas peças e pela tendência para comercializar conjuntos completos. Apesar de ainda presente sobretudo na zona de Lisboa, antes de completar dez anos de existência, a Cenoura recebia já pedidos e encomendas de todo o País, o que a levou a inaugurar um serviço de venda postal em meados dos anos 80; foi, pois, com naturalidade que se verificou, em anos subsequentes, a expansão do raio de acção da marca, que ainda hoje tem lojas em todo o País (embora, infelizmente, não aquela que faz parte das memórias do autor deste texto, a qual fechou ainda muito antes do centro comercial de bairro que a albergava.)

Tal como sucede com tantas outras marcas de que aqui falamos, no entanto, também o 'momento' da Cenoura passou, e se, a dada altura da História portuguesa, vestir peças com essa etiqueta era sinal de estatuto económico e social, a mesma acabou, eventualmente, por ser suplantada po outras 'grifes' e lojas mais 'na moda'. Para quem tem hoje uma certa idade, no entanto (sobretudo os 'millennials' mais velhos ou os nascidos nos últimos anos da geração dita 'X') esta marca e as suas apelativas lojas farão, certamente, parte das memórias e do imaginário infantil, merecendo bem a menção nesta nossa rubrica dedicada a peças de vestuário que marcaram décadas passadas.

14.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 12 de Setembro de 2024.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Em marcado contraste com a 'morte lenta' de que padece hoje em dia, nos anos da viragem do século XX para o XXI, a imprensa portuguesa encontrava-se num período de expansão que via surgirem novas publicações a um ritmo relativamente frequente, enquanto as existentes cimentavam ainda mais os seus números de tiragem e vendas. Tal paradigma possibilitava, por sua vez, a exploração de novas 'avenidas' dentro do mercado, oferecendo margem para 'experiências' que, alguns anos antes, seriam consideradas por demais arriscadas; ese algumas destas tentativas acabavam mesmo por falhar a curto prazo, outras revelavam ter 'pernas para andar', e tornavam-se marcos do jornalismo português da época. De entre estas, uma das principais nascia há exactos vinte e três anos – em Setembro de 2001 – e tinha sobre o panorama nacional impacto suficiente para justificar uma 'escapadinha' aos primeiros anos do Novo Milénio, a fim de relembrar a sua origem.

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Falamos do jornal 'Destak', o primeiro periódico gratuito 'a sério' a surgir em Portugal (as tentativas anteriores ficavam algures entre a 'gazeta' de bairro e a secção de classificados de um qualquer jornal) criado por António Stilwell Zilhão, Francisco Pinto Barbosa e Gonçalo Sousa Uva, e distribuído gratuitamente em estações de Metro e comboio, centros comerciais e hospitais das duas grandes áreas metropolitanas do País (cada uma das quais tinha a sua própria edição, distinta da da 'concorrente') primeiro com frequência semanal e, uma vez estabelecido, com periodicidade diária. Uma 'aventura' nunca antes tentada em Portugal, mas que acabou por se revelar extremamente bem sucedida, tendo os milhares de passageiros diários dos referidos meios de transporte apreciado a ideia de ter algo com que se 'entreter' durante a viagem sem para isso ter de pagar ou trazer material de leitura de casa – até porque, à época, os telemóveis eram, ainda, demasiado rudimentares para potenciar a disputa de jogos em Java ou sequer a leitura de PDFs ou artigos na Internet. Aliada à qualidade mais do que aceitável dos conteúdos do jornal (de cariz ligeiro e pouco aprofundado, mas bem escritos e relevantes, e em tudo superiores aos veiculados por alguns jornais pagos da mesma época, como o '24 Horas') esta característica ajudou a fazer do 'Destak' um fiel companheiro dos utilizadores de transportes públicos ou serviços de saúde de Lisboa e Porto durante toda a década de 2000, e até meados da seguinte.

De facto, seria apenas em Setembro de 2016 – exactos quinze anos após a sua fundação, e no dealbar da irrevocável mudança de paradigma trazido pela imprensa digital – que o jornal se despediria dos 'viajantes' portugueses, numa altura em que o seu raio de acção se estendia já ao país irmão, o Brasil (onde era editado nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife) e em que disputava já espaço com um não menos bem-sucedido concorrente internacional, o 'Metro', oferecendo uma escolha invejável aos leitores nacionais. Ainda assim, sem o pioneiro trabalho do 'Destak', é possível que o 'Metro' jamais tivesse conquistado o seu espaço, ou sequer pensado em penetrar no mercado português, pelo que é mais que justo lembrar o seu homólogo nacional como pioneiro da imprensa gratuita no nosso País, e potenciador de todo um sub-sector que persistiria – e manteria informada uma parte significativa da população nacional - durante as duas décadas seguintes.

07.07.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

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À entrada para a segunda metade dos anos 90, a experiência de 'ir ver a bola' num local público que não o estádio ainda se resumia, para muitas crianças e jovens nacionais, a uma deslocação a um café ou restaurante, onde a partida era, normalmente, transmitida na única televisão, para benefício da clientela pagante. Tudo isso viria a mudar, no entanto, quando Portugal viu a sua candidatura a anfitrião da última Feira Mundial do século XX ser bem sucedida, levando a que se iniciasse de imediato a construção de toda uma nova infra-estrutura em terrenos abandonados da zona ribeirinha lisboeta, de forma a albergar condignamente a exposição.

Do referido certame, bem como do espaço em que foi levada a cabo e de algumas das várias infra-estruturas que viria a legar em permanência à capital portuguesa, já aqui falámos em outras ocasiões; no entanto, nesses 'posts' anteriores, descurámos falar de uma localização que, embora representasse apenas uma pequena parte do que se viria posteriormente a chamar Parque das Nações, assumia enorme relevância aquando de eventos como Mundiais ou Europeus de futebol, proporcionando aos lisboetas (e não só) a possibilidade de assistir a jogos de forma nunca antes imaginada, numa experiência apenas comparável à chegada do IMAX a Portugal.

Isto porque a Praça Sony – ainda hoje um ponto de referência no recinto do Parque das Nações – tinha como principal motivo de interesse o ecrã LED gigante, onde eram transmitidas não só imagens dos concertos e eventos que ali iam tendo lugar, como também de transmissões televisivas, com destaque para os jogos do Mundial de França '98 e, mais tarde, do Euro 2000. Para um País para quem o futebol era, ainda, visto em grande parte através de televisões CRT de imagem fosca e muitas vezes mal sintonizada, e onde a Sport TV ainda mal acabava de se estabelecer, este novo paradigma 'caiu' como uma autêntica revelação, levando multidões ao recinto da Expo '98 a cada dia de jogo, para uma espécie de 'versão alargada' do velho ritual de 'ver a bola' no café. E se as décadas subsequentes viram surgir mais 'pontos de encontro' públicos onde ver as competições internacionais – a ponto de banalizar a existência de ecrãs LED em espaços exteriores – a verdade é que, sem a Praça Sony como pioneira e 'cobaia', talvez a presente situação nunca se tivesse chegado a verificar...

Seja como for, a verdade é que a icónica praça da Expo – onde ainda hoje são realizados eventos – fica no coração e na memória dos 'millennials' portugueses, sobretudo os lisboetas, como o local onde o futebol televisionado tomou toda uma nova dimensão, e a experiência de 'ver o jogo' em público deixou, para sempre, de ser a mesma...

15.03.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Um dos principais conceitos a dar entrada na cultura popular durante a última década do século XX foi o de 'super-modelo' – aquela profissional das 'passerelles' cujo estatuto, beleza e fama a colocavam num patamar acima das suas congéneres, tornando-a naquilo a que mais tarde se viria a chamar uma 'celebridade'. Nomes como Cindy Crawford, Claudia Schiffer ou Naomi Campbell eram tanto (ou mais) figuras públicas como modelos, e as suas vidas despertavam o interesse do público seguidor de publicações 'cor-de-rosa'...e não só. Assim, é natural que os espectáculos de beleza onde estas e outras beldades desfilavam se tenham, também, revestido de interesse adicional para o público generalista, e conseguido deixar os seus 'confins' de Paris, Nova Iorque, Londres e Milão para se espalhar um pouco por todo o Mundo. Portugal não seria excepção, e a primeira metade dos anos 90 veria surgirem em solo lusitano não um, mas dois eventos anuais subordinados a esta temática, um em cada uma das duas capitais do País. Do organizado mais a Norte falaremos em tempo; esta Sexta, dedicaremos alguma atenção ao de Lisboa, cuja edição de Primavera de 2024 se acaba de encerrar há poucos dias à altura da edição deste 'post'.

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Surgida pela primeira vez como parte das Festas da Cidade, em 1990, foi, no entanto, no ano seguinte que a Moda Lisboa teve o seu arranque oficial, no formato ainda hoje utilizado, e que abrange uma série de eventos de moda realizados bi-anualmente (em Março e Outubro) ao longo de uma semana em espaços públicos, quase todos na popular e turística zona ribeirinha, tendo anos recentes visto mesmo o evento 'esticar-se' até à linha de Cascais. Em suma, um modelo em tudo semelhante ao que fazia sucesso nas grandes 'capitais da moda', e que dava aos fãs portugueses do estilismo uma oportunidade de se inteirarem das novas tendências, ou simplesmente de ver estonteantes modelos em desfile. Essa primeira edição teve, ainda, a particularidade de entrar na História como a primeira 'fashion week' fora dos grandes centros supramencionados, e de 'apresentar' Portugal ao Mundo da alta costura.

Infelizmente, não tardou até que a Moda Lisboa gerasse polémicas, e, em 1993, uma 'confusão' em torno de um convite ao estilista John Galliano levaria à suspensão do evento durante dois anos. Aquando do seu regresso, no entanto, a Moda Lisboa surgiria com ainda mais força do que tivera nas primeiras edições, e estabelecer-se-ia definitivamente como parte integrante do calendário cultural português. Desde então a esta parte, o evento apenas tem crescido, incorporando ora novas localizações para os desfiles (como o Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, em Lisboa) quer parcerias com o referido evento nortenho, e foi mesmo alvo de um documentário na RTP, aquando da quinquagésima edição, em 2020; e, a julgar pelo sucesso que cada novo evento continua a ter, parece improvável que este paradigma se altere num futuro próximo. Os adeptos da moda em Portugal podem, portanto, regozijar-se com o facto de o 'seu' evento anual continuar (quase) ininterrupto há (quase) três décadas, formando parte tão integral do calendário de eventos nacional como o Fantasporto ou os festivais de Verão, e fazendo-o sempre em grande 'estilo'...

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