10.05.23
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.
O regresso das férias da Páscoa, e início do terceiro período lectivo, eram uma época de grande optimismo por parte dos alunos do ensino básico e secundário de finais do século XX e inícios do seguinte, não só por se ver já a 'luz' do Verão e das 'férias grandes' ao fundo do 'túnel' das aulas, mas também por, na maioria das disciplinas, se atingir por essa altura o mais desejado de todos os marcos lectivos: a mítica lição número cem, conhecida como a única aula, além da primeira do ano, em que era possível disfrutar de um ambiente mais relaxado.
De facto, ainda que a origem exacta desta tradição se perca nas 'brumas' da geração anterior, por alturas da viragem do Milénio, a abordagem à centésima lição de uma disciplina escolar como 'dia de festa' (ou, pelo menos, de descontracção) estava já bem 'entranhada' na mente tanto de alunos como de professores. Claro que havia sempre aquele docente que se regozijava em negar esse momento às suas turmas, fazendo da 'lição mágica' apenas mais uma aula normal, mas na maioria dos casos, esse marco era mesmo assinalado com um interregno ou variação da rotina das aulas – normalmente uma festa, para a qual os próprios alunos contribuíam com comes e bebes, mas, muitas vezes, também com uma aula à base de jogos, dada no exterior, ou simplesmente proporcionando aos alunos uma hora 'livre', na qual descomprimir da esgotante rotina escolar. Assim, não é de estranhar que qualquer jovem da época ansiasse quase o ano inteiro por esta aula, sendo manifesto o seu desapontamento nas disciplinas em que esse número não era atingido.
Com todas as mudanças verificadas tanto no ensino como na sociedade, é incerto que a lição número cem continue a ser um fenómeno nas escolas básicas e secundárias do Portugal de hoje em dia; espera-se, no entanto, que essa tradição não tenha sido apanágio exclusivo das gerações X e 'millennial', e que os 'Z' possam, também, experienciar aquele que foi, para os seus pais e irmãos mais velhos, talvez o momento alto de qualquer ano lectivo.