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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.07.23

NOTA: Por motivos de relevância, esta Sexta será também de cinema. Voltaremos a falar de moda na próxima semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O Verão foi, e continua a ser, tradicionalmente uma 'época alta' no que toca a estreias de filmes, sobretudo 'blockbusters' e películas destinadas a um público mais jovem, tendo, inclusivamente, sido um dos dois períodos do ano, juntamente com o Natal, em que era expectável um novo lançamento por parte da Disney; e, tendo os anos 90 sido um dos períodos áureos do cinema infanto-juvenil (com a própria Disney, por exemplo, em plena 'Renascença'), não é de estranhar que os últimos dias de Julho tivessem, tanto há trinta anos como há um quarto de século, visto chegar ao nosso País filmes capazes de entusiasmar o público mais jovem, e que se tornariam clássicos nostálgicos para os hoje adultos da geração 'millennial'.

De facto, os dias 30 e 31 de Julho tanto de 1993 como de 1998 assinalaram a estreia nacional de nada menos do que três longas-metragens hoje recordadas com carinho pelos portugueses na casa dos trinta a quarenta anos, duas delas explicitamente destinadas a um público infantil, e a terceira um potencial alvo para o tradicional visionamento 'às escondidas', com amigos ou depois de os pais já terem ido para a cama.

Começando pelo 'início' – isto é, pelo filme mais antigo dos três – o dia 30 de Julho de 1993 via chegar às salas lusas 'Ferngully', filme de Don Bluth que, em Portugal, receberia o incompreensivelmente longo sub-título de 'As Aventuras de Zak e Krysta na Floresta Tropical'. Lançada no auge da era de ouro da sensibilização para a ecologia, a longa-metragem conta com uma mensagem de protecção da natureza, envolta na habitual história de um humano comum 'puxado' para um reino mágico que deve ajudar a proteger - neste caso, o das fadas protectoras da 'última floresta tropical', que se encontra ameaçada por madeireiros.

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Com o padrão de qualidade habitual de Bluth, e talentos vocais de qualidade (entre eles Robin Williams, então em estado de graça após a sua interpretação do Génio em 'Aladdin', do ano anterior, e que ainda em 1993 faria outro clássico, 'Papá Para Sempre') o filme divide, hoje em dia, opiniões, com muitos críticos a apontarem para a mensagem do filme e para o número musical do personagem de Williams, Batty - que interpreta um 'rap' bem ao estilo da década então em curso - como pontos negativos. Para quem lá esteve em 1993, no entanto - a duas semanas de completar oito anos, 'impante' e ufano por ter conseguido bilhetes para a ante-estreia – nada disso era minimamente relevante, e 'Zak e Krysta' pareceu um excelente filme; ou seja, para o público-alvo, menos preocupado com questões de detalhe, esta foi, e provavelmente continuará a ser, uma excelente forma de passar uma hora e meia com uma animação de qualidade, a qual fez sucesso suficiente para, inclusivamente, dar azo a uma sequela, esta sem qualquer repercussão em Portugal.

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Um dia após a estreia da última obra de Bluth, a 31 de Julho, chegava ao nosso País um futuro 'clássico' dos canais de filmes a cabo: 'O Último Grande Herói', uma comédia de acção que via Arnold Schwarzenegger fazer um papel bem 'meta-textual', interpretando o personagem titular, o típico herói musculado da época, que se vê a braços com um jovem espectador que, graças a um bilhete mágico, consegue entrar no filme, e se vê envolto na trama do mesmo. Os dois membros deste insólito par têm, assim, de trabalhar juntos para travar o vilão, aliando a força e armamaento de Arnie ao conhecimento sobre estereótipos e fórmulas cinematográficas do seu jovem coadjuvante.

E é, precisamente, a química entre os 'músculos de Bruxelas' e o jovem Austin O'Brien que rende os momentos mais divertidos deste filme, como aquele em que o Danny Madigan de O'Brien menciona, jocosamente, o facto de todos os números de telefone do filme começarem por 555, o indicativo tradicionalmente usado por Hollywood neste tipo de situações. Apesar de não ser uma obra-prima intemporal (o único filme de Arnie qualificado para essa categoria continua a ser 'O Predador') trata-se de uma longa-metragem bem divertida, que doseia bem o humor e a acção (à maneira de antecessores como 'O Caça-Polícias' e de sucessores como 'Hora de Ponta'), sabe explorar a veia cómica de Schwarzenegger, e conta com uma banda sonora à altura, povoada por nomes como AC/DC, Alice in Chains, Def Leppard, Queensryche, Aerosmith, Anthrax ou Cypress Hill, entre outros.

Exactos cinco anos após a literal explosão de Arnie nos cinemas nacionais, estreava em Portugal outro filme teoricamente para um público mais 'maduro', mas que muitas crianças terão, decerto, visto em anos subsequentes, no contexto do 'home video' – aqui, por exemplo, viu-se aos cerca de treze ou catorze anos, na noite de cinema da colónia de férias.

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Falamos de 'O Enigma do Horizonte' (no original, 'Event Horizon') um excelente filme de ficção científica encabeçado por Laurence Fishburne (em 'ensaios' para 'Matrix', dois anos depois), Sam Neill e Jason Isaacs e realizado pelo hoje conceituado Paul W. S. Anderson. Com uma história algo semelhante à de 'Alien – O Oitavo Passageiro' (em que uma equipa de salvamento espacial fica presa numa nave abandonada, à mercê de uma força sinistra) o filme é notável, sobretudo, pelos efeitos especiais, de entre os quais se destaca o 'rio' de sangue a descer um dos corredores da nave – imagem que deixou boquiaberto aquele adolescente de finais do Segundo Milénio, sentado em colchões no chão da sala principal de uma colónia de férias presencial na Margem Sul do Tejo. Mesmo para um público mais adulto e exigente, no entanto, este filme continua a ser uma boa proposta para uma noite mais escura e chuvosa, de preferência em boa companhia...

Em suma: em apenas dois dias de dois anos distintos, o público infanto-juvenil português viu surgirem nas telas nacionais três excelentes filmes (mais ou menos) apropriados à sua faixa etária, e que ainda hoje são conceituados dentro dos seus respectivos estilos – uma coincidência, sem dúvida, digna de nota nas páginas deste 'nosso' Portugal Anos 90, numa altura em que se assinalam aniversários marcantes sobre as estreias de todos os três.

26.05.23

NOTA: Por motivos de relevância temporal, o post desta Sexta será sobre cinema. As Sextas com Style regressam para a semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A passada Quarta-feira, dia 24 de Maio de 2023, ficou marcada pelo falecimento de um ícone da música pop e 'soul' das décadas de 80 e 90, a icónica e inimitável Tina Turner. Como tal, e enquanto preparamos a inevitável homenagem à mesma, iremos, esta Sexta, recordar o filme biográfico alusivo à sua vida, e sobre cuja estreia em Portugal se assinalam, em Novembro próximo, exactas três décadas.

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Baptizado com o mesmo nome de um dos maiores sucessos da cantora, 'What's Love Got To Do With It' (abreviado, na versão Portuguesa, para o consideravelmente mais simples e menos icónico 'Eu, Tina', mesmo titulo da autobiografia da cantora, que o filme tem por base) trazia Angela Bassett no papel principal – uma escolha tão acertada que quase parecia inevitável, dadas as semelhanças físicas entre a actriz e a cantora (após, claro está, a adição da inconfundível cabeleira 'afro' que era imagem de marca de Tina) – e Laurence Fishburne (outra escolha acertada) como o controverso Ike Turner. Na cadeira de realizador sentava-se o britânico Brian Gibson, um relativamente anónimo realizador de televisão cujos principais créditos, à época, eram a realização de 'Kilroy Was Here' (o filme que servia de 'teledisco' para o álbum conceptual do mesmo nome da banda de rock sinfónico Styx) e da sequela de 'Poltergeist'. Um candidato tão improvável quanto estarrecedor, para quem esta filmo-biografia da diva helvético-americana continua a ser, talvez, o projecto de maior monta até aos dias de hoje.

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Os dois actores principais partilham bastantes semelhanças físicas com o verdadeiro casal.

Apesar da falta de um nome sonante ao 'leme' do projecto (e das objecções do verdadeiro casal quanto à falta de veracidade e liberdades tomadas com a história), no entanto, 'Eu, Tina' foi um sucesso de bilheteira, e ambos os seus actores principais nomeados para os Óscares de Melhor Actor e Melhor Actriz na cerimónia daquele ano; Angela Bassett viria, mesmo, a arrecadar um Globo de Ouro pela sua prestação como Tina, na categoria de Melhor Actriz de Comédia ou Musical, mostrando porque havia sido escolhida em detrimento de nomes mais jovens e populares, como Hale Berry, Janet Jackson ou a sucessora natural de Tina, Whitney Houston, que havia sido protagonista de um dos maiores sucessos do ano anterior, 'O Guarda-Costas', e para quem esta teria sido a oportunidade perfeita de dar continuidade à carreira cinematográfica.

Conforme referimos, no entanto, Bassett foi uma escolha acertada, não só pelas semelhanças com Tina como por se tratar de uma actriz experiente, e capaz de desempenhar um papel complexo e emotivo como o da diva 'pop' sem se 'assustar' nem ficar além das expectativas. O seu desempenho, juntamente com o de Fishburne, é, aliás, o principal argumento a favor deste filme, que – mesmo trinta anos após o seu lançamento – se afirma como uma excelente forma de prestar homenagem a Tina, e à influência que a sua música, personalidade e até história de vida tiveram na música 'pop' dos anos 80 e 90.

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