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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

25.10.23

NOTA: Este post foi sugerido pelo leitor Pedro Serra, a quem também devemos as fotos que acompanham o texto. Obrigado, Pedro!

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já é situação recorrente nesta rubrica falar da hegemonia que a Abril Jovem (mais tarde Abril/Controljornal) detinha sobre o mercado de 'livros aos quadradinhos' nacional, e a oportunidade que essa posição lhe oferecia para levar a cabo 'experiências' sem grandes consequências em caso de 'falhanço', já que até as piores de entre as suas revistas da Disney, DC e Marvel tinham volume de vendas garantido. Ainda assim, e apesar dessa total falta de necessidade de apostar em estratégias de 'marketing' e publicidade, a editora não se mostrava, de todo, aversa a esse tipo de medida, como bem o comprova a série de livros que examinamos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Três dos quatro livros da colecção, parte do acervo pessoal do Pedro Serra.

Lançada algures durante o ano de 1992, esta série de quatro edições especiais da colecção 'As Melhores Histórias Disney' trazia como principal diferencial o facto de as referidas melhores histórias serem (alegadamente) escolhidas a dedo por celebridades de 'primeira linha' na vivência infanto-juvenil da altura, com José Jorge Duarte (por essa altura já no auge da sua fase como apresentador de concursos infantis, mas ainda apresentado sob o nome da personagem com a qual se celebrizara, 'Lecas') à cabeça. Além do 'ídolo' infantil, marcavam presença nas capas destes livros Herman José e Maria Vieira (também em alta após o sucesso de 'Hermanias', no fim-de-ano anterior, além da sempre popular 'Roda da Sorte') e ainda Marco Paulo, que muitas crianças conheciam (e ouviam) por intermédio dos pais. Cada livro vinha, mesmo, acompanhado de um frontispício supostamente escrito (e definitivamente assinado) pela própria personalidade, e que exaltava o contributo da mesma para o seu conteúdo – o qual, de outra forma, pouco se distinguia de um número perfeitamente 'normal' da colecção.

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O frontispício de uma das edições.

E a verdade é que, apesar de, aos olhos dos adultos que entretanto nos tornámos, esta jogada de 'marketing' ser transparente ao ponto de parecer um pouco desesperada, a mesma resultou em cheio junto das crianças que então éramos – lá por casa, por exemplo, existia com cem por cento de certeza o número do 'Lecas' – rendendo à Abril ainda mais um triunfo a juntar à sua já invejável lista naqueles inícios da década de 90. Prova de que, mesmo não sendo necessária, uma boa estratégia de 'marketing' e publicidade nunca cai mal, e rende sempre pelo menos alguns dividendos; aliás, se a mesma estratégia fosse repetida, hoje em dia, com Cristiano Ronaldo ou algum influenciador do Instagram no lugar das celebridades noventistas, talvez se verificasse um renascer (ainda que temporário) do interesse dos jovens por este tipo de banda desenhada...

05.04.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há alguns meses atrás, falámos aqui do Lecas, o personagem 'criança grande' que, em finais da década de 80 e inícios de 90, apresentava a sua Hora homónima, e que se tornou tão popular que chegou a gravar e editar um disco de músicas originais; hoje, vamos falar do próximo projecto abraçado pelo homem que o criara e lhe vestira a pele durante vários anos – o apresentador José Jorge Duarte.

Em estado de graça entre o público infantil, como resultado do seu estilo hiperactivo e energético de actuar enquanto Lecas, Duarte decidiu, em 1991, despir o 'fato' de personagem, e tentar a sua sorte em nome próprio, e num formato diferente: enquanto que a 'Hora do Lecas' era um programa de variedades com foco na apresentação de desenhos animados, o novo projecto seria um concurso de moldes clássicos. Em comum, os dois programas tinham, apenas, o facto de serem gravados em auditório, e dirigidos a um público infanto-juvenil, aquele que mais facilmente reconheceria o nome do apresentador, e teria interesse numa emissão por ele apresentada.

O resultado final deste desiderato foi 'Tal Pai, Tal Filho', concurso produzido pela Duvídeo, de Teresa Guilherme, e estreado na mesma RTP d''A Hora', menos de um ano depois de a mesma ter saído do ar - um 'timing' presumivelmente destinado a evitar que o nome de Duarte se esvaísse da sempre efémera memória das crianças.

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Com muitas semelhanças com outros concursos da época, como a mítica 'Arca de Noé' – então no pico da popularidade, e que adoptaria um formato semelhante para as suas últimas temporadas, apresentadas por outro ícone da televisão infantil da época – 'Tal Pai, Tal Filho' via equipas de um adulto e uma criança (normalmente familiar ou amiga) competir entre si em provas de cariz criativo e cultural, que iam desde criar um conto a cantar uma música ou representar uma peça de teatro.

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O apresentador, junto ao quadro com as diferentes categorias de provas disponíveis

A julgar cada 'performance' estava um júri de celebridades e respectivos mini-companheiros (também eles familiares ou amigos próximos dos jurados), cujas classificações numéricas de 0 a 10 perfaziam o total de pontos de cada equipa. No final, a equipa vencedora tinha direito a escolher entre uma série de prémios bastante típicos dos concursos da época e, na altura, incrivelmente aliciantes, desde viagens a computadores e outros produtos electrónicos. Pelo meio, havia ainda lugar aos interlúdios musicais típicos deste tipo de programa à época.

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Um típico painel de jurados do programa

Nada de incrivelmente inovador, portanto, mas suficiente para satisfazer o público-alvo, para quem o conceito interessante e um Duarte tão energético como sempre (já para não falar do tema inicial, daqueles tão 'peganhentos' que por aqui, ainda é parcialmente recordado três décadas depois) eram suficientes para justificar a hora passada à frente da televisão – embora não chegassem para manter o concurso no ar mais do que um ano.

Sim, 'Tal Pai, Tal Filho' foi mais um de entre vários concursos noventistas a desaparecer das televisões portuguesas tão rapidamente quanto tinha surgido; no caso, foram 41 emissões semanais, entre Outubro de 1991 e Agosto do ano seguinte, uma marca bem aquém da referida Arca de Noé (que se manteria no ar mais três anos, estabelecendo-se como o programa de concursos infantil mais duradouro da época) e mais condicente com emissões tão Esquecidas Pela Net como o Trocado em Miúdos (do qual, em tempo, também aqui falaremos.)

Ainda assim, para quem viu e fazia parte da demografia-alvo, tratou-se de um programa bem conseguido, que tentou afirmar-se por mais do que apenas o nome do apresentador, missão que, de um certo prisma, se pode dizer ter sido cumprida – ainda que não de forma tão longeva quanto, presume-se, teria sido desejável para a direcção da RTP. O referido apresentador, esse, transitaria para novos e mais altos vôos, nem todos direccionados ao sector infanto-juvenil (embora os mais famosos definitivamente o sejam). Desses, talvez um dia falemos; para já, e para quem não viu ou quiser matar saudades, partilhamos abaixo o único episódio de 'Tal Pai, Tal Filho' disponível online, para que os nossos leitores tirem as suas próprias conclusões sobre se o mesmo merecia ou não ter permanecido mais tempo no ar...

25.01.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Desde o início deste blog, já várias vezes aqui falámos da importância dos apresentadores no sucesso (ou falta dele) de um programa dirigido ao público infantil ou jovem. Sem ter sido, de todo, exclusivo desta era da cultura ocidental moderna, este fenómeno teve, no entanto, no final do século XX a sua época áurea, deixando para a posteridade um rol de nomes ainda hoje reconhecíveis, quer no estrangeiro (em que a brasileira Xuxa ou o americano Mr. Rogers vêm imediatamente à memória) quer em Portugal, onde as crianças e jovens das décadas de 80 e 90 tiveram o prazer de conhecer e conviver com personalidades tão carismáticas como Júlio Isidro, José Figueiras, Ana Malhoa, Rita Mendes, Batatinha, ou o nome a que dedicamos o 'post' de hoje, José Jorge Duarte.

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O actor e apresentador, na pele do personagem que o popularizou

'Nascido' para a televisão aos 16 anos, quando foi finalista do concurso Écran Mágico, promovido pela RTP 2, José Jorge Marques Duarte de Jesus viria, nas décadas seguintes, a cimentar a sua posição como uma das personalidades mais populares entre o público mais jovem, primeiro pela sua presença 'em carne e osso' em vários concursos e séries populares e, mais tarde, através da sua voz, que fez parte do elenco de dobragens tão icónicas como a da Rua Sésamo original (onde foi responsável pela icónica e inesquecível voz do permanentemente nervoso Gualter) ou a do filme 'Shrek', de 2001, em que teve a árdua tarefa de replicar a memorável prestação de Mike Myers no papel principal. Para uma certa e determinada fatia da população, no entanto – a mesma que, à época, terá rido com o Gualter, sem saber nem se importar com quem o dobrava – o actor, apresentador e humorista ficará, para sempre, associado com uma só personagem: o Lecas, apresentador da 'Hora' com o mesmo nome.

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Estreada em 1989, 'A Hora do Lecas' - programa substituto do anterior bloco de programação infanto-juvenil da RTP, 'Juventude e Família', mas agora às tardes de semana, por oposição às manhãs de Sábado e Domingo - gozou de popularidade imediata entre o público alvo, não só pela excelente selecção de desenhos animados que o programa propunha, como também pela personalidade castiça, desbocada e algo hiperactiva do apresentador, que recuperava para esse efeito um personagem criado ainda no âmbito do bloco familiar anterior. A típica 'criança grande' em corpo de homem crescido, o Lecas era um daqueles apresentadores que nunca 'parava quieto', não se limitando a servir de mero interstício entre duas séries animadas, mas antes dinamizando (por vezes até demais...) os segmentos que permeavam essas mesmas séries, e que incluíam os habituais jogos, momentos didácticos, interacções com o público e prestações de artistas musicais convidados – alguns, como também era apanágio da época, bem inesperados, como foi o caso dos Censurados, que promoveram no programa o seu álbum homónimo, de 1990.

Um formato, portanto, quase idêntico ao de outros espaços infantis do mesmo período, como o 'Clube Disney', e que, como tal, não podia deixar de agradar aos mais novos. De facto, foi tal a popularidade do Lecas – em grande medida auxiliada pelo horário de transmissão do programa, que punha o apresentador nas televisões infantis quatro dias por semana, mesmo à hora de chegada do público-alvo da escola – que o mesmo foi, em Outubro de 1990, 'promovido' a uma nova posição. 'Lecas, Mais Certo Que Sem Dúvida' (nome algo infeliz no que toca à memorização futura) via o personagem regressar ao espaço que o vira, literalmente, nascer – as manhãs de fim-de-semana – embora agora com um contexto bem mais sóbrio, em que Lecas se limitava a apresentar cada nova série, ao mesmo tempo que mostrava desenhos enviados pelas crianças.

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Um formato completamente errado, tanto para a personalidade que Duarte desenvolvera para o personagem como para o público-alvo, que não queria uma imitação infanto-juvenil do Agora Escolha (nem precisava, já que o original primava pela popularidade entre o mesmo segmento.) Saldou-se, assim, em pouco mais do que seis meses a duração da experiência – tempo, ainda assim, suficiente para Lecas conseguir um último êxito junto do 'seu' público, através do lançamento do disco 'As Canções do Lecas', composto por uma dúzia de temas de 'pop rock' infantil, interpretados 'in character', e do qual aqui falámos no nosso último post.

Poucos meses depois, o Lecas – tal como as crianças da 'viragem' da década de 80 para a de 90 o haviam conhecido – desaparecia para sempre das televisões portuguesas, ao mesmo tempo que o seu criador progredia para programas mais 'adultos', e explorava outras vertentes, como o teatro. E apesar de hoje pouco lembrado – mesmo no contexto da carreira de José Jorge Duarte - quem teve o privilégio de com ele conviver nas tardes depois da escola sabe que o divertido e carismático personagem nada deixava a desejar a qualquer dos seus contemporâneos, merecendo destino melhor do que cair no (quase) esquecimento no contexto da cultura popular portuguesa...

24.01.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na década de 90, ser apresentador de programas infantis equivalia, praticamente, a ter o estatuto de celebridade entre a faixa mais nova da população. Dos apresentadores do Clube Disney a nomes icónicos como Ana Malhoa ou Carlos Alberto Moniz, passando pelo elenco da Rua Sésamo ou (mais tarde) pelo palhaço Batatinha, os anfitriões das horas dedicadas à criançada atraíam, muitas vezes, audiências por si só, com o seu carisma e entusiasmo quanto à tarefa de apresentar desenhos animados ou convidados musicais, ou servir de árbitro a jogos.

Este estatuto fazia, naturalmente, com que o referido público se mostrasse, à partida, predisposto a adquirir todo e qualquer produto directamente relacionado com os referidos nomes – em particular, no tocante a registos fonográficos. Das 'Canções da Rua Sésamo' ao disco de Ana Malhoa e Hadrianno ou o primeiro CD de músicas do Batatoon, são inúmeros os exemplos de lançamentos que não deveriam ter resultado, mas que acabaram por se revelar sucessos de vendas.

A esta lista, há que adicionar uma obra menos 'mediática', mas não menos recordada por quem era da idade certa em inícios de 90: 'As Canções do Lecas', o primeiro e único registo discográfico do então mega-popular personagem infantil criado e interpretado por José Jorge Duarte.

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À semelhança dos registos anteriormente mencionados, 'As Canções do Lecas' consiste de doze canções (seis por lado do disco de vinil) de pop-rock dançável, típico da época, com temas relevantes para a faixa etária a que se destinava (como os factos sobre animais, a segurança rodoviária, ou simplesmente uma lista-rol de referências aos mais populares heróis de ficção e banda desenhada da época) e refrões orelhudos trauteados por Lecas na sua voz nasalada, com a ajuda de um coro infantil.

E aqui, há que ressalvar que – ao contrário da maioria dos registos contemporâneos do estilo – quem canta aqui é mesmo Lecas (o personagem de mentalidade infantil que apresentava a popular 'Hora do Lecas' na RTP) e não o seu criador; à semelhança da dupla Batatinha e Companhia alguns anos mais tarde, José Jorge Duarte veste o personagem durante toda a duração do álbum, tanto nas letras como na própria interpretação dos temas. A diferença é que, ao contrário do que acontecia com o CD do Batatoon, estes temas são todos originais, não havendo lugar a quaisquer adaptações de temas 'sacados' a programas infantis de outros países.

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O alinhamento de músicas do álbum

O resultado, diga-se de passagem, salda-se por extremamente positivo, mesmo de uma perspectiva adulta; este é daqueles discos que leva a sério e trata com respeito o seu público-alvo, e como tal, pode ser apreciado como obra musical por direito próprio, ao invés de mero artigo de 'marketing' ligado a uma propriedade intelectual popular.

Infelizmente, e apesar da sua qualidade, este registo não goza, hoje em dia, da popularidade ou volume nostálgico de qualquer dos discos citados acima, tendo um estatuto mais 'de culto' entre quem era fã do programa e da idade certa para o apreciar; uma pena, visto tratar-se de um registo que, como o grupo atrás mencionado certamente atestará, era merecedor de bem maia reconhecimento...

 

 

08.06.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Só a música já deve ter feito a maioria dos leitores deste blog viajar no tempo até aos primeiros anos da década a que este blog diz respeito -altura em que estreava, no principal canal televisivo português, um dos melhores programas infantis da história da televisão nacional.

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Uma adaptação localizada do (também universalmente bem recebido e recordado) original americano, a versão portuguesa da ‘Rua Sésamo’ chegava á RTP1 em 1989, mesmo a tempo de ensinar as primeiras letras, números e conceitos de cidadania a toda uma geração de crianças. Constituído por uma mistura de segmentos ‘made in Portugal’ – basicamente todos os que se passavam no espaço da Rua Sésamo propriamente dita, e ainda algumas das animações – com dobragens dos ‘sketches’ originais da Jim Henson Creature Workshop, o programa gozava de uma produção cuidada, claramente feita com amor, e de uma equipa criativa composta por grandes nomes da literatura e televisão infanto-juvenis da época. O resultado final era um programa, previsivelmente, de enorme qualidade, e que não tardou a capturar a imaginação do público-alvo.

O talento, no entanto, não se ficava pela equipa técnica; os dobradores, bonecreiros e actores da série estavam, também, entre os melhores em solo nacional, sendo que o elenco de ‘carne e osso’ contava com uma mistura de actores consagrados, como Fernanda Montemor, e nomes que se viriam a tornar clássicos da televisão portuguesa em anos subsequentes, como Alexandra Lencastre, Vítor Norte ou José Jorge Duarte. No entanto, e apesar destes grandes nomes, as verdadeiras ‘estrelas da companhia’ eram os bonecos Poupas e Ferrão, adaptações portuguesas do Big Bird e Oscar the Grouch americanos, a quem, a partir da segunda série do programa, se juntaria um terceiro elemento, a dengosa Gata Tita.

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O elenco do programa contava com estrelas tanto presentes como futuras.

Na ‘outra parte’ do programa, eram também os emblemáticos personagens de Jim Henson quem mais captava a atenção do público-alvo, com destaque para Cocas, o Sapo, o frenético e exagerado ‘drama king’ Gualter, o esfomeado Monstro das Bolachas, e a impagável dupla Egas e Becas, companheiros de casa em modo ‘inimigos inseparáveis’ cujos segmentos eram os únicos sem propósito educativo, tendo apenas como finalidade fazer rir - e conseguiam-no, com louvor!

Quem não se lembrou imediatamente desta vinheta assim que viu o nome do Egas e do Becas, não deve ter boa memória...

Um personagem, entretanto, primava pela ausência – e logo o mais famoso de todos os bonecos da versão original. Pois é, a versão nacional da ‘Rua Sésamo’ nunca teve Elmo – e haverá quem diga que os miúdos portugueses tiveram sorte nesse aspecto…

Parte do sucesso do programa devia-se precisamente ao facto de tratarem o seu público com respeito, nunca forçando a vertente educativa, e fornecendo-lhes material adequado à idade e aprendizagens, mas que simultaneamente puxava pela imaginação e incentivava à curiosidade, sem nunca se tornar lamechas - um feito apenas à altura da equipa de ‘craques’ pedagógicos a cargo da adaptação. Foi, em parte, esta abordagem frontal e honesta que permitiu ao programa manter-se no ar durante espantosos sete anos, sem nunca deixar de ter a mesma recepção calorosa e interessada por parte das crianças que a acompanhavam, e chegando mesmo a ser referenciada no titulo de uma música punk de intervenção (!) Em suma, a ‘Rua Sésamo’ é daqueles programas com estatuto de clássico tanto entre as crianças da altura como entre os seus pais – e que o justifica plenamente, em ambos os casos.

Não, não estávamos a inventar aquilo da malha punk de intervenção...

Como não podia deixar de ser, um programa com este grau de popularidade abria vastas oportunidades de mercado, e não tardaram a começar a aparecer nas prateleiras das lojas produtos com a chancela ‘Rua Sésamo’. Muitos destes, como a maioria os livros e algumas das cassettes VHS, eram simples importações directas e traduzidas de material pré-existente no mercado norte-americano, com os correspondentes personagens de ‘cores erradas’ e cenários nova-iorquinos; no entanto, havia também um grande número de produtos totalmente concebidos em Portugal, dos quais os mais memoráveis talvez sejam os discos de ‘Canções da Rua Sésamo’, cujo sucesso justificou vários volumes.

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Alguns dos muitos produtos alusivos ao programa comercializados em Portugal na época, tanto com os personagens portugueses como americanos

Um produto, no entanto, destaca-se dos demais, não só pela sua qualidade ‘à parte’ como também por ter sobrevivido como elemento independente do programa que o originara. Falamos, é claro, da revista com o mesmo nome, talvez o melhor exemplo de revista de passatempos e variedades para um público infantil alguma vez criada em Portugal.

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Alguns dos muitos números da revista 'Rua Sésamo', um complemento de enorme qualidade ao programa televisivo

Mantendo-se fiel ao conceito do programa, a revista trazia passatempos, jogos e pequenas histórias que permitiam às crianças assimilar conhecimentos e desenvolver competências de um modo divertido e cativante, bem como um 'Guia Para Pais e Educadores', que procurava explicar os valores e competências que cada segmento da revista e do programa procurava transmitir, e sugeria actividades complementares para os próprios educadores realizarem com as crianças. Não admira, portanto, que a revista tenha sido um êxito quase tão grande como o programa, e seja hoje lembrada com tanto carinho quanto este, tanto pelas crianças a quem se dirigia como pelos seus pais.

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O programa chegou a ter honras de capa na revista 'TV Guia'

Em suma, a ‘Rua Sésamo’ portuguesa foi daqueles raros programas em que tudo foi bom, do início ao fim. Enquanto a congénere americana continua a debater-se em estertores cada vez mais comerciais, desvirtuando assim o seu legado, a congénere lusa soube quando parar, e conseguiu por isso manter fiel um público que, entretanto, talvez tivesse já crescido demasiado para ainda gostar de um programa expressamente dirigido à faixa etária dos três a sete anos. De facto, essas mesmas crianças ainda hoje relembram com nostalgia o programa – que certamente já terão feito questão de mostrar aos próprios filhos. Se esse ainda não foi o caso, deixamos abaixo o primeiríssimo episódio na íntegra, como ponto de partida para o 'aprendizado' dos gaiatos; e caso não tenham filhos, aproveitem e revivam vocês próprios as memórias daqueles bons tempos a rir e a aprender com o Poupas, o Ferrão e os restantes personagens que nos eram tão queridos…

 

 

 

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