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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

18.05.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Uma das principais regras não-escritas da comunicação social é que o sensacionalismo 'vende'; apesar de o código deontológico dos jornalistas os cingir à verdade dos factos, a forma de apresentar e transmitir esses mesmos factos possui elasticidade suficiente para englobar uma abordagem mais propositalmente 'exagerada' e alarmista, por oposição ao estilo sóbrio e neutro que a maioria da sociedade ocidental tende a associar a este tipo de cargo. Esta mesma flexibilidade levou, por sua vez, ao surgimento de um tipo específico de jornalismo (e publicação) inteiramente dedicado a essa vertente mais sensacionalizante da transmissão de informação, o qual recebeu o epíteto de 'tablóide', derivado do formato adoptado pelos primeiros exemplares do género. Inicialmente associado sobretudo aos países anglófilos, nomeadamente o Reino Unido e os EUA, este tipo de jornal viria, nas décadas seguintes, a expandir-se também a outros países – incluindo, já na 'recta final' do século XX, Portugal, que acolhia há quase exactos trinta anos o primeiro tablóide 'declarado' da História da imprensa nacionalÇ o jornal '24 Horas'.

24_Horas_(jornal).jpg

E dizemos 'declarado' porque Portugal possuía já algumas publicações cujo conceito 'beirava' o dos tablóides ingleses, fosse mais discretamente (como sucedia com 'A Capital' e 'Tal & Qual', este último do mesmo director do '24 Horas') ou mais 'descaradamente' (como no caso do jornal 'O Crime'); no entanto, o periódico inaugurado a 5 de Maio de 1998 foi o primeiro a assumir o objectivo de constituir uma 'versão portuguesa' de jornais como os ingleses 'The Sun', 'Daily Star' e 'Daily Mirror' ou os norte-americanos 'National Enquirer', 'The Star' e 'The Globe' - dos quais adoptava, inclusivamente, o grafismo de capa, com um esquema de cores centrado no vermelho, branco e preto e chamadas de capa sensacionalistas impressas em letras garrafais.

E tal como os seus 'antecessores espirituais' haviam encontrado o seu público nos respectivos países, também o '24 Horas' conseguiu, rapidamente, estabelecer uma base de leitores, com grande parte dos portugueses a aderir, mais ou menos ironicamente, à proposta do jornal, que (para quem nunca havia lido, ou sequer visto, um tablóide) se assemelhava a uma espécie de 'versão noticiosa' das revistas cor-de-rosa e de 'fofocas' que dominavam o mercado de periódicos da época. Esta forte adesão inicial permitiu ao jornal firmar-se (e afirmar-se) dentro do panorama noticioso português, dando o mote para um 'reino' de mais de uma década nas bancas nacionais que, pesem embora algumas controvérsias (em especial a ligada ao processo Casa Pia, que resultou em buscas na redacção e processos criminais por acesso indevido a dados pessoais) não deixa de ter sido marcante para toda uma geração de portugueses.

Infelizmente, o rápido declínio da imprensa escrita (não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo) viria, também, a vitimar o tablóide 'à portuguesa', cuja circulação sofreu um declínio acentuado a partir de 2009, obrigando mesmo ao encerrar de actividades a 30 de Junho do ano seguinte, um pouco mais de doze anos após a primeira edição do jornal. Esta extinção não significou, no entanto, o fim do jornalismo sensacionalista em Portugal – pelo contrário, o estilo do '24 Horas' criou raízes, embora não tanto na imprensa escrita; é, sim, nos canais noticiosos de televisão (como a TVI24 ou a CMTv) que fica mais patente o 'legado' da publicação de José Rocha Vieira, tornando-a mais do que apenas uma memória nostálgica para a geração a quem apresentou, há quase exactamente um quarto de século, uma nova forma de fazer jornalismo, e que ajudou a polarizar quanto aos méritos relativos da sua existência durante os doze anos seguintes...

 

23.02.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Apesar de muito mais lenta do que se previa, a morte anunciada da imprensa escrita às mãos da Internet concretiza-se cada ve mais com cada ano que passa; de facto, basta olhar para a selecção de jornais e revistas expostos em qualquer quiosque ou tabacaria portuguesa para perceber que – não obstante a presença de alguns títulos clássicos e aparentemente perenes – a oferta, e sobretudo a variedade, deste sector decresceram dramaticamente nas últimas duas décadas. Enquanto que em inícios do século XX o mercado era, ainda, suficientemente significativo para justificar revistas para demografias específicas ou especializadas em áreas tão díspares quanto a música, os videojogos e até alguns desportos de nicho, hoje em dia, os poucos títulos que sobrevivem são, ou generalistas, ou de cariz informativo e educacional, ou ainda 'clássicos' moribundos e longe do brilho de outros tempos (qualquer criança dos anos 90 sentirá profunda tristeza ao ver no que se tornou a TV Guia, por exemplo...)

jornais.jpg

Este fenómeno é ainda mais notório no campo da imprensa informativa, onde a 'postura Astérix' de 'clássicos dos clássicos' como o Diário e Jornal de Notícias, o Público, o Expresso ou o Correio da Manhã (que, tal como o pequeno guerreiro gaulês, vão resistindo ainda e sempre ao invasor) e a permanência de 'novatos' como o 'i' e o 'Sol' apenas serve para disfarçar parcialmente o desaparecimento de outros tantos títulos que qualquer cidadão português daquele tempo dava como dados adquiridos ao entrar numa banca de jornais ou tabacaria.

De facto, ainda que pouco notória (ou notável) no contexto quotidiano, a falta de periódicos como o 'Tal & Qual', 'A Capital', o 'Independente', o semanário 'Se7e', o 'pasquim' 'O Crime' (além do bombástico '24Horas', criado no decorrer dessa mesma década, e que por isso mesmo terá, em breve, direito a 'post' próprio nesta rubrica) faz-se sentir assim que se pára para pensar na variedade de títulos de distribuição nacional generalizada que o público português costumava ter à sua disposição - e isto ainda antes de falar de jornais regionais ou títulos especializados como o 'Ocasião' e o 'Blitz', ambos também entretanto extintos. Um reflexo dos tempos cada vez mais digitalizados que se vivem, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo, mas que não deixa de dar que pensar, e de ser até levemente deprimente para quem (como o autor deste blog) em tempos almejou fazer carreira no sector da imprensa escrita.

Por isso mesmo, e pelas memórias que proporcionaram a toda uma geração (mesmo quando não se concordava, necessariamente, com o seu conteúdo ou afiliações) fazemos questão de aqui deixar uma curta mas sentida homenagem aos jornais desaparecidos que marcaram a infância e juventude dos 'putos' de finais do século XX - quanto mais não fosse por os mesmos os verem quando iam comprar cromos, guloseimas ou bandas desenhadas...

05.01.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Numa edição passada desta rubrica falámos dos classificados, esse passatempo tão querido das crianças e adolescentes da era pré-digital; pois bem, que melhor maneira de passar uns bons bocados com este tipo de conteúdo do que comprar um jornal quase exclusivamente dedicado aos mesmos?

logo-ocasião.png

Falamos do Ocasião, o lendário repositório de classificados 'disfarçado' de publicação periódica que servia, simultaneamente, de ferramenta essencial para quem procurava comprar e vender artigos ou serviços, e de veículo para a imaginação dos mais novos, que podiam 'sonhar' com aquela consola pouco usada e a preço convidativo ou – quando mais velhos – com as 'meninas privadas' que eram apanágio de qualquer secção de classificados que se prezasse naqueles anos pré-Internet.

E a verdade é que o âmbito declaradamente limitado do jornal não era entrave ao seu sucesso, sendo que o Ocasião passaria, ao longo da sua vida, dos modestos 6000 exemplares e 1700 anúncios de 1994 aos mais de 33.000 exemplares e outros tantos anúncios quinze anos depois – prova de que um conceito baseado em algo tão imortal quanto a necessidade de vender artigos em segunda mão não podia senão encontrar sucesso entre o seu público-alvo.

O fim do Ocasião chegou, assim, não por um qualquer declínio de interesse por parte do público, mas antes devido à transição para um formato digital, efectivada em 2012, ano em que o periódico pôs cobro à sua edição física; nos dez anos desde então decorrentes, também a versão em 'site' viria a findar, suplantado e substituído por plataformas como o OLX, deixando o título, outrora de referência entre certos sectores da sociedade portuguesa, efectivamente extinto, e perpetuado apenas pela memória daqueles que, a cada nova edição, se deixavam 'perder' naquele verdadeiro 'mundo' de classificados de todos os tipos e carizes...

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