02.07.24
A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
Enquanto desporto mais popular a nível global, não é de admirar que o futebol tenha sido, desde o dealbar dos jogos de vídeo, um dos temas mais populares em torno dos quais centrar um título interactivo; e se, nos primórdios da tecnologia, se afirmava algo complicado transladar as emoções do desporto-rei para o ecrã da televisão ou computador, a acelerada evolução da tecnologia verificada a partir de meados da década de 80 permitiu uma aproximação gradualmente cada vez mais realista das partidas virtuais às verdadeiras, a qual prossegue em fluxo até aos dias de hoje. E se os jogos da viragem de Milénio não dispunham das tecnologias foto-realistas disponíveis hoje em dia, a verdade é que conseguiam já proporcionar uma experiência bastante fidedigna à realidade de um jogo de futebol, conseguindo assim conquistar os corações (e carteiras) dos adeptos do desporto-rei.
Não é, pois, de estranhar que a segunda metade dos anos 90 e primeira metade da década seguinte tenha assistido a uma época áurea para os jogos de futebol (e de desporto em geral), com múltiplas franquias a disputarem, de forma mais ou menos bem-sucedida, o 'trono' dividido por duas míticas séries, ambas 'em alta' até aos dias de hoje: 'FIFA', da EA Sports, e 'International Superstar Soccer', da Konami, que, já no Novo Milénio, adoptaria nova designação, ainda hoje vigente: 'Pro Evolution Soccer'. E se em termos de jogabilidade e realismo era esta última a clara vencedora, a 'rival' e 'co-monarca' tinha um considerável 'trunfo na manga' – nomeadamente, a licença oficial para produzir os jogos alusivos às competições internacionais de Selecções. De facto, desde o Mundial de 1994 que a companhia americana dispunha de autorização para criar os títulos oficiais de cada novo certame, um poder de que apenas uma vez não tiraram partido, quando permitiram que a licença oficial do Europeu de 1996 fosse atribuída à Gremlin, criadora da série 'terceira classificada' na 'guerra' do futebol interactivo dos anos 90, 'Actua Soccer', e que lançava um jogo muito semelhante aos da referida franquia.
Seria um erro que a Electronic Arts não voltaria a cometer, recuperando e cimentando a exclusividade ao longo das duas competições seguintes, cujos jogos ajudaram, também, a estabelecer a fórmula ainda hoje vigente para jogos alusivos a certames internacionais – nomeadamente, uma versão 'condensada' do título 'FIFA' do ano anterior, ao qual são removidos todos os aspectos relativos ao futebol de clubes e campeonatos nacionais, ficando o foco exclusivamente limitado à competição em causa. Foi assim, primeiro, com 'World Cup '98' – uma versão mais 'básica' e menos entusiasmante do excelente 'FIFA '98: Road to the World Cup' – e voltou a ser assim com o jogo oficial do Euro 2000, que se afirmava mais uma vez como um título da série 'FIFA' com menos equipas e opções.
Enquanto que o título oficial do França '98 era, em tudo, semelhante ao jogo 'principal' lançado no ano anterior, no entanto, 'UEFA Euro 2000' (lançado poucos meses antes do evento em causa, para PC e PlayStation) oferece uma particularidade interessante em relação a 'FIFA 2000', constituindo uma actualização gráfica considerável em relação ao mesmo, e posicionando-se como uma espécie de 'ponte' entre este e o título seguinte da série, 'FIFA 2001', que seria lançado ainda antes do final desse ano. Assim, e devido a este facto, o jogo em questão acaba por se afirmar como 'caso único' no contexto da série 'FIFA', não sendo visualmente idêntico nem ao seu antecessor, nem ao seu sucessor, ou a qualquer outro jogo da série.
Ficam-se por aí as 'novidades', no entanto, já que em termos de jogabilidade e sonoplastia, 'Euro 2000' é um típico título da EA Sports da época, com o habitual (e excelente) comentário de John Motson e Mark Lawrenson e o mesmo conjunto de acções simplistas que resultavam, nove em cada dez vezes, em golo. Edições posteriores introduziriam inovações às mecânicas da série, mas em 'Euro 2000', continua a bastar a habitual combinação de corrida, passe, drible, centro, e pressão rápida na tecla ou botão de remate para garantir o sucesso – embora, agora, em ritmo mais lento, já que o detalhe gráfico limitava a velocidade do jogo, sobretudo na versão para PC.
Por virtude desta falta de originalidade, 'Euro 2000' acaba por ser recomendado apenas a completistas, fãs da competição em causa, ou adeptos patriotas desejosos de 'corrigir' a História e levar a Selecção Nacional da fase Geração de Ouro à final do certame; quem apenas deseje disputar umas partidas de futebol 'sem compromisso' ficará, certamente, melhor 'servido' com qualquer dos dois 'FIFAs' próximos a este jogo, ou até com as edições de 1998 ou 1999 do jogo em causa. Ainda assim, em tempo de Europeu, seria um 'crime' não fazer menção ao jogo que ajudava a EA Sports a entrar no Novo Milénio da mesma forma que saíra do anterior – como força hegemónica no campo da simulação de futebol.