04.09.24
NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 04 de Setembro de 2024.
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Há três décadas atrás, a televisão portuguesa estava longe do cariz formatado, homogéneo e algo anónimo de que se reveste hoje em dia. De facto, enquanto que a programação actual dos vários canais é semelhante ao ponto de os mesmos se confundirem, em meados da década de 90, cada um dos apenas quatro canais disponíveis tinha uma personalidade bem distinta, e bastante mais margem de manobra no tocante a apostas para a grelha de programação, sobretudo no caso das recém-nascidas emissoras privadas, que não tinham de obedecer aos mesmos padrões da estatal RTP; e escusado será dizer que tanto a SIC quanto a TVI tiraram o máximo proveito desta liberdade, apostando em vários conceitos, no mínimo, inusitados, como o mega-popular 'Jogo do Ganso' da 'Quatro'. No entanto, até a mais arriscada destas apostas parece perfeitamente normal ao lado daquele que talvez seja o programa mais delirante e tresloucado a alguma vez passar na televisão portuguesa, um verdadeiro 'sonho psicadélico' composto de provas mirabolantes disputadas por concorrentes frenéticos, um literal vilão de ficção e comentários que mais se aproximavam a números de 'stand-up comedy'.
Falamos, claro está, de 'Nunca Digas Banzai', o histriónico nome escolhido para o misto de concurso e filme de acção japonês originalmente baptizado 'Takeshi's Castle', em honra do seu ideólogo e actor principal, a estrela de cinema nipónica Takeshi Kitano, sobre cuja estreia em Portugal se celebram este ano exactas três décadas. De facto, seria apenas quatro anos após a sua conclusão no seu Japão natal, e oito após a sua estreia, que a 'loucura' de Takeshi 'aterraria' em Portugal, onde teria honras de exibição nas tardes de Sábado da SIC (embora originalmente estivesse incluído no bloco da manhã, o 'Sábado Mágico') e de locução por parte de João Carlos Vaz (também narrador do homólogo 'Gladiadores Americanos') e José Carlos Malato, então ainda um relativo desconhecido nos meandros da televisão portuguesa, e cujos improvisos formaram grande parte da personalidade da versão portuguesa do programa, sendo hoje um dos elementos mais lembrados e nostálgicos para quem assistia ao mesmo.
E como diz o ditado, 'mais vale tarde que nunca', já que 'Nunca Digas Banzai' compensaria a sua chegada tardia aos écrãs nacionais com o seu retumbante sucesso, devido em parte precisamente à locução de Malato, cujas hilariantes observações combinavam na perfeição com o caos frenético da própria competição, uma espécie de versão hiper-exagerada dos 'Jogos Sem Fronteiras' ou do referido 'Gladiadores Americanos', em que largas dezenas de concorrentes se 'matavam' em provas físicas cada uma mais extrema do que a seguinte, na esperança de conseguir chegar ao confronto final com o malvado Conde Takeshi - dono do castelo que dava o título original ao programa, e interpretado pelo seu criador – e ganhar o grande prémio de um milhão de ienes (cerca de 6300 euros actuais). A natureza extrema das provas, aliada a algumas 'batotas' por parte de Takeshi, assegurava, no entanto, a raridade de tal feito, apenas por nove vezes almejado em todo o ciclo de vida do programa.
Mesmo sem 'finais felizes', no entanto, os episódios de 'Nunca Digas Banzai' ofereciam entretenimento suficiente para saciar até o mais hiperactivo dos espectadores noventistas, com o seu misto de provas inenarráveis e disputadas a ritmo frenético, e comentários 'a condizer', com destaque para as famosas denominações dos vilõess como 'Fuji-moto', 'Fuji-carro' e 'Fuji-lambreta', em trocadilhos que, hoje, poderiam ser considerados controversos, mas que, à época, divertiam o público maioritariamente jovem que reservava parte da sua tarde de Sábado para ver japoneses anónimos cair de plataformas para dentro de piscinas, enquanto dois comentadores ao mais puro estilo luta-livre lhes atribuem nomes de celebridades para os distinguir uns dos outros. Um conceito que apenas poderia ter nascido e sido transmitido na era de 'liberdade televisiva' vivida em finais do século XX, à qual toda uma geração de portugueses (e não só) tem a agradecer alguns dos melhores e mais memoráveis programas de sempre da televisão portuguesa, dos quais 'Nunca Digas Banzai' faz, definitivamente, parte. E caso este 'post' tenha 'activado' a nostalgia a algum dos nossos leitores, abaixo fica um episódio completo, que reflecte bem a loucura que grassava neste lendário concurso nipónico.