01.05.21
NOTA: Este post é correspondente a Sexta-feira, 30 de Abril de 2021.
Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
E para teminar a ‘Tarta-Semana’, nada melhor do que fazer uma breve retrospectiva dos filmes alusivos ao quarteto conhecido como Tartarugas Ninja – com especial ênfase, é claro, nos que saíram durante a época que nos concerne.
Destes, houve três, tendo o primeiro, inclusivamente, saído ainda antes da chegada da ‘febre’ a Portugal – o que poderá explicar o porquê de muitos ‘tarta-maníacos’ da época não terem qualquer memória dele. Tratava-se do criativamente intitulado ‘Tartarugas Ninja: O Filme’, lançado em 1990 e que contava com o talento vocal do então ainda popular Corey Feldman, que interpretava Donatello, bem como com um trabalho de fatos e marionetas a cargo da Creature Workshop, a então omnipresente companhia de Jim Henson, criador dos Marretas. (Henson viria, aliás, a morrer pouco depois da estreia deste filme, sendo este um dos últimos projectos que a companhia completou sob a sua supervisão directa.)
Capa do lançamento em DVD da aventura original
Em vista deste ‘pedigree’ dos animadores, não é de admirar que o trabalho de efeitos especiais empregue para dar vida âs Tartarugas e ao seu mestre, Splinter, seja de excelente qualidade, especialmente para a época; o que é, de facto, surpreendente é que o filme se leva bastante a sério enquanto produção de artes marciais, resistindo à tentação de ‘ancorar’ todo o seu interesse na novidade dos répteis praticantes de kung-fu, e tendo o cuidado de criar uma história que mantivesse o interesse dos espectadores. De facto, a história funciona tão bem que, se as Tartarugas fossem retiradas por completo de cena e substituídas por vulgares heróis humanos, o filme perderia muito pouco (ou quase nenhum) interesse! As Tartarugas são, neste caso, um mero ‘embelezamento’, a proverbial cereja no topo do bolo – algo que, um mero ano ou dois depois, seria já completamente impensável, como o prova o filme seguinte da trilogia. Quanto ao primeiro, apesar de decididamente datado (o tipo de produção cinematográfica que representa saiu de moda a partir de meados da década de 90, para não mais regressar) continua a ser uma bela maneira de passar uma hora e meia, mesmo para espectadores adultos – o que não deixa de ser admirável para um filme centrado em répteis antropomórficos com atitudes radicais.
(Nota, ainda, para a presença entre os actores de um ainda jovem e desconhecido Sam Rockwell, que aparece por alguns momentos no papel do líder de um gangue de ‘durões’ de rua.)
Infelizmente, e como mencionámos acima, o apelo (mais ou menos) ‘universal’ da primeira adaptação ‘live-action’ dos Tarta-Heróis não se manteria para o filme seguinte; ‘Tartarugas Ninja 2: O Segredo da Lama Verde’ (lançado apenas um ano após o original, mas já no auge da ‘Tarta-Mania’) é – decidida e declaradamente - um filme para crianças, com muito mais de Spielberg do que de John Woo. E nesse aspecto, funciona sem dùvida muitíssimo bem; tanto assim é que se tornou, durante algum tempo após o seu visionamento, o segundo filme favorito do autor deste blog, que, do alto dos seus seis anos, declarava ser o mesmo o melhor filme de sempre…a seguir a ‘Sozinho em Casa’, claro. (E falando nesse êxito do Natal de 1990, lá chegaremos, provavelmente na respectiva época do ano.)
Poster do segundo filme
Infelizmente – e, novamente, ao contrário do filme anterior - um espectador com mais de 13 anos encontrará muito poucos motivos de interesse nos 80 e muitos minutos que dura o filme. Isto porque ‘Turtles 2’ é já um produto puramente ‘corporate’, designado para roubar o máximo de dinheiro possível aos pais das crianças que constituem o público-alvo, mais do que para providenciar uma experiência consistente ou memorável. Ou seja, uma espécie de ‘fast-food’ cinematográfico, que deixa de parte aspectos bem cuidados no primeiro filme, como o enredo ou as coreografias de luta, em favor de aspectos que circunscrevem o seu interesse exclusivamente a um público infantil, como uma sobredose de dichotes ‘radicais’, cenas de acção em lojas de brinquedos e participações especiais de celebridades ‘da moda’ entre a juventude, como Vanilla Ice (que aparece aqui no auge de uma fama que cedo se viria a provar efémera.) O resultado é um produto muito, MUITO datado, que comete conscientemente todos os erros que o seu antecessor não cometeu, centrando todo o seu interesse no apelo dos ‘bonecos’ e respectivas ‘catchphrases’, e alienando assim quaisquer audiências periféricas que possam ter sido arrastadas para o cinema pelos mini-Tartafanáticos. Visto da perspectiva de um espectador adulto, este é daqueles filmes que nos fazem ter pena dos pais que se encontraram nesta situação ali por volta de 1991.
Mas se ‘O Segredo da Lama Verde’ ainda era divertido, pelo menos para a faixa etária a que se destinava, o mesmo não pode ser dito do seu sucessor. Lançado em 1993, e já sem o ‘input’ da equipa de Jim Henson ou de quaisquer nomes sonantes a nível dos actores, o fraquíssimo ‘Tartarugas Ninja 3’ é um dos poucos produtos mediáticos a merecer o escárnio que a Internet lhe passou a dirigir assim que se tornou aceitável gozar com aquilo de que se gostava na infância – com a ressalva de que, neste caso, nem quando se era criança o filme era grande coisa.
Há cartazes que mentem sobre a qualidade do filme, e depois há este...
Com um enredo que vê os nossos heróis viajarem até ao Japão feudal – fazendo jus à máxima de que quando os personagens viajam no tempo ou para o espaço, é sinal de que o ‘franchise’ está nas últimas – o filme optava por uma abordagem diametralmente oposta ao da segunda parte, tirando deliberadamente o foco das Tartarugas durante largos períodos, para o colocar nos personagens humanos que com eles interagiam. O problema é que esses mesmos humanos estavam longe do carisma de uma April O’Neil, Shredder ou Casey Jones, fazendo com que a ausência das Tartarugas fosse ainda mais notada por um público que estava lá precisamente por causa delas. O resultado foi um filme que nem mesmo a um público-alvo sedento de todo e qualquer produto com o nome das Tartarugas conseguiu agradar, e que acabaria por se afirmar como um golpe fatal no ‘franchise’ de filmes em acção real do quarteto, que se veria remetido a um limbo forçado durante quase exactamente duas décadas.
Poster do filme animado de 2007
Antes do ressurgimento dos Tarta-Heróis em filmes de ‘carne e osso’, no entanto, teria lugar uma experiência em animação CGI, lançada em 2007 e tendo como base o interesse renovado nos ‘heróis de meia casca’ suscitado pelo ‘reboot’ de 2003. Simplesmente intitulado ‘TMNT’, trata-se de um filme discreto, nem muito bom nem muito mau, sem grandes pretensões para além de avaliar o interesse do público, e de servir como episódio-piloto alargado para a segunda série ‘reboot’, exibida na Nickelodeon, e que iniciaria produção no mesmo ano. Ainda assim, conseguiu ser bem-sucedido o suficiente para manter vivo o interesse nas Tartarugas, e continuar a fazer mexer o fluxo de ‘merchandise’ iniciado pela série de 2003.
Esse interesse, aliás, continuou a mostrar-se vivo o suficiente para justificar uma segunda tentativa de criar um ‘franchise’ em acção real baseado nas Tartarugas Ninja. Ao contrário do que acontecera duas décadas antes, no entanto, este esforço começaria com o ‘pé esquerdo’, com o realizador Michael Bay a enfurecer grande parte dos fãs do grupo ao pretender mudar a origem do quarteto – em vez de tartarugas normais acidentalmente vítimas de mutação devido a contacto com uma substância radioactiva, os irmãos seriam agora extraterrestres oriundos de outro planeta (!!!!) Esta sugestão foi, previsivelmente, alvo de uma reacção como não se tornaria a ver até ser anunciado o ‘remake’ de ‘Os Caça-Fantasmas’ alguns anos depois, pelo que, aquando do lançamento do produto final, em 2012, a história da origem dos Tarta-Heróis se mantinha igual ao que sempre foi, com as únicas diferenças em relação ao cânone original a residirem no facto de os quatro serem agora os animais de estimação de uma jovem April O’Neil, a qual, por sua vez, é apresentada como sendo a filha do cientista responsável pela criação do Mutagen.
Poster do filme de Michael Bay
Quanto ao filme em si, este é na verdade bastante aborrecido – um facto que não deixa de ser paradoxal, tendo em conta que se trata de uma obra sobre répteis antropomórficos praticantes de artes marciais, dirigido pelo ‘mestre das explosões’ Michael Bay. O ponto alto de 'Tartarugas Ninja' (até o título é pouco inspirado...) são mesmo as personalidades dos heróis homónimos, as quais se mantêm fiéis às estabelecidas pela série animada de finais dos anos 80, embora alvo de um ‘update’ (Miguel Ângelo, por exemplo, é agora um adepto do hip-hop com vocabulário a condizer); no restante, no entanto, pode considerar-se ‘Tartarugas Ninja’ o segundo ‘franchise’ nostálgico estragado por Michael Bay, após a ainda pior tentativa de trazer os ‘Transformers’ para o mundo real, dez anos antes. E isto sem sequer falar do horrível novo 'look' das Tartarugas, mais próximo do Incrível Hulk do que de qualquer anterior encarnação do quarteto.
Felizmente, os Tarta-Heróis conseguiriam dar a volta por cima com aquele que é, à data de publicação deste post, o mais recente lançamento cinematográfico com o seu nome – o divertidíssimo ‘Para Fora das Sombras’, de 2017. Após a excessiva seriedade e tentativas de epicidade do filme de Bay (sim, o homem tentou transformar um filme das Tartarugas Ninja num épico ao estilo Marvel…)é refrescante assistir a uma produção que adopta precisamente a abordagem contrária, dando prioridade à diversão e acção ligeira que marcaram os dois primeiros filmes, no início dos anos 90.
Poster do divertido 'Para Fora das Sombras'
E o mínimo que se pode dizer é que se sai muitíssimo bem neste desiderato – de facto, a sensação que prevalece durante grande parte do filme é o de estarmos a ver um episódio alargado e em acção real da série de 1987. Os elementos estão lá todos, de April O’Neil a Shredder, Krang (SIM!) e os capangas Bebop e Rocksteady - os quais fazem, FINALMENTE, a sua estreia no grande ecrã, sendo este um dos grandes ‘selling points’ do ‘trailer’ do filme - passando pelos diálogos bem-humorados entre os quatro irmãos, os quais se mantêm gloriosamente iguais a si próprios (tirando, claro, os ‘designs’ horrorosos herdados do filme anterior). Destaque, ainda, para o aumento do protagonismo de Donatello e Miguel Ângelo, em detrimento do foco único na relação entre o líder Leonardo e o irascível ‘número dois’ Rafael, a qual se começava já a tornar cansativa após dois filmes.
No cômputo geral, ‘Para Fora das Sombras’ afirma-se como o melhor filme das Tartarugas Ninja desde o original (sim, a sério) e o único cujo visionamento se recomenda a fãs dos filmes originais dos anos 90; de facto, pode-se mesmo fingir que ‘Tartarugas Ninja 3’ nunca existiu, e usar o filme de 2017 como a terceira parte daquilo que será, então, uma trilogia quase perfeita de filmes de acção para toda a família.
E pronto – com esta retrospectiva, mais ou menos exaustiva, dos filmes das Tartarugas Ninja chegamos ao fim da nossa primeira semana temática aqui no Anos 90. Antes de devolvermos os quatro amantes de pizza esverdeados ao baú, no entanto, queremos saber – quais as vossas memórias destes filmes? Viram-nos? Gostaram? As nossas, já as saberão, se tiverem lido o post… Além disso, queremos também saber se gostaram desta semana temática. Podemos ‘repetir a dose’ com outros temas? Ou já deram por vocês a imitar James Rolfe e a gritar ‘COWABUNGA PIECE OF DOGSHIT’ com o aparecimento de cada novo post sobre os Tarta-Heróis? Partilhem o vosso ‘feedback’ nos comentários! Até lá, COWABUNGA, DUDES!