07.06.22
A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
O final da década de 90 e o início do novo milénio foram palco da primeira grande revolução internáutica, à medida que o serviço transicionava do seu propósito meramente informativo para uma vertente de partilha de ficheiros dos mais diversos tipos. O surgimento dos motores de pesquisa apenas veio potenciar ainda mais este fenómeno, passando os referidos recursos a constituir a principal forma de pesquisar tanto por inovações como os emuladores – que transformavam videojogos de consola em ficheiros para PC – como por simples ficheiros áudio ou vídeo para reproduzir em programas como o QuickTime ou o Windows Media Player.
Escusado será dizer que, à medida que se processava esta evolução, os seus propósitos se iam tornando cada vez menos inocentes, podendo esta era da informática ser identificada como, senão o berço, pelo menos a popularização da 'pirataria' caseira. Livres das barreiras físicas e geográficas que antes os separavam, milhões de utilizadores cibernéticos estabeleceram uma espécie de rede de 'tape-trading' virtual, disponibilizando 'online' as suas músicas ou vídeos favoritos para que outros os pudessem, também, experienciar.
Naturalmente, não tardou até que este processo se profissionalizasse, e migrasse das páginas pessoais pejadas de GIFs e esquemas de cores berrantes para plataformas mais estruturadas e expansivas; surgiam, assim, os primeiros 'softwares' de partilha de ficheiros, oficialmente conhecidos como 'peer to peer' (ou P2P) e cujos nomes (Limewire, eMule, Kazaa, Napster) são suficientes para provocar um acesso de nostalgia a qualquer ex-jovem da viragem do milénio.
Os principais serviços P2P da época
Apesar de muito longe das possibilidades que se verificariam meros anos depois (as músicas tinham de ser baixadas separadamente, por exemplo, e a qualidade sonora era maioritariamente pobre) estes serviços representaram, para a maioria dessa geração, o primeiro contacto com formatos como o mp3, bem como um significativo 'expandir de horizontes' a nível mediático, já que deixava de ser necessário investir na compra de álbuns, 'singles', CD-ROM ou qualquer outro tipo de formato físico.
Para muitos, esta imagem representa a adolescência em um ecrã
Apesar de (naturalmente) popular entre os mais novos, no entanto, este tipo de serviços era tudo menos consensual; as grandes companhias mediáticas, em particular, moveram quase imediatamente uma 'guerra' contra aquilo que anteviam ser plataformas capazes de lhes reduzir as vendas (e o lucro), conquistando mesmo o apoio de alguns artistas – sendo o exemplo mais famoso o de Lars Ulrich, baterista dos lendários Metallica, que, em 1999, moveu um processo altamente mediatizado contra o Napster, plataforma criada por um jovem de apenas 19 anos de idade, e que o veterano músico acusava (com algum fundamento, diga-se) de distribuição ilegal da música do seu grupo.
No entanto, apesar do poder que detinham, estas corporações e artistas ficaram, invariavelmente, na fotografia como os 'maus da fita', que pretendiam barrar o livre acesso a ficheiros de índole cultural e criativa por motivações exclusivamente económicas; não obstante essa percepção fomentada pelo público jovem, no entanto, a verdade é que os seus esforços não caíram em saco roto, tendo mesmo conseguido forçar o Napster a declarar falência, logo no dealbar do novo milénio.
Melhor sorte tiveram as restantes plataformas, que se conseguiram 'aguentar à tona' mais alguns anos antes de sucumbirem ao processo de obsolescência natural que afecta todo e qualquer programa de 'software'; aos poucos, as soluções 'peer to peer' foram dando lugar aos 'sites' de 'torrents', depois aos repositórios ao estilo Megaupload, até a Internet 2.0 vir, finalmente, liberalizar de forma semi-legal a partilha deste tipo de conteúdos. Ainda assim, existe todo um contingente de ex-adolescentes para quem grande parte das memórias dos tempos do secundário consistem em aceder a um qualquer Limewire ou eMule para 'sacar' a última música do momento e a partilhar com os amigos...