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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

18.02.22

NOTA: Este post corresponde a Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2022.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

NOTA: Este post não pretende promover qualquer ideologia religiosa, destinando-se, tão-somente, a recordar uma publicação que, coincidentalmente, tem ligações a determinada fé. 

Embora as escolas públicas sejam (ou devam ser) um espaço onde as crianças são livres de desenvolver as suas próprias ideologias sociais e religiosas, tal não impediu que, nos anos 90, houvesse uma tentativa de fazer com que as crianças portuguesas compreendessem, especificamente, a religião católica, nomeadamente através das aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, que muitas escolas primárias incluíam no seu horário lectivo semanal; verdade seja dita, no entanto, aquelas horas semanais tendiam, muitas vezes, a focar assuntos que se podiam considerar do foro laico – como era o caso da cidadania, do respeito ao próximo ou da problemática da liberdade 'versus' libertinagem, por exemplo – e que era importante incutir nas crianças logo a partir de tenra idade, seguissem elas ou não a religião cristã e católica.

Era precisamente este princípio – ensinar princípios, não só cristãos como de sociabilidade geral, de forma descomprometida e divertida – que informava, na mesma época, uma publicação oriunda do Brasil, e disponível em Portugal exclusivamente através de assinatura, normalmente contraída, precisamente, em ambiente escolar: a famosa revista Nosso Amiguinho.

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Edição de  Novembro de 1986 da revista, distribuído numa escola primária de Lisboa cerca de meia década depois, como 'amostra grátis' durante uma campanha de angariação de assinaturas

Concebida em 1952 pelo editor Miguel J. Malty, a revista vem, desde então, sendo ininterruptamente publicada pela Casa Publicadora Brasileira, uma editora ligada à Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma das fés mais populares naquele país. No total, são já setenta anos em que (à parte as habituais adaptações ao correr dos tempos, como a passagem de uma para várias cores) a revista manteve, grosso modo, o mesmo formato – uma mistura de banda desenhada, passatempos, receitas, curiosidades e, claro, transmissão de valores morais, éticos e comportamentais associados à religião em causa,. No papel de anfitriões (e, muitas vezes, receptores) neste processo de aprendizagem encontrava-se a Turma do Noguinho, um conjunto de personagens infantis criados em 1972 pelo então editor Ivn Schimidt e pelo desenhador uruguaio Heber Pintos que pretendia ser a resposta religiosa a outras 'turmas' super-populares da banda desenhada secular brasileira da época, como a da Mônica, dos Trapalhões ou do Menino Maluquinho. E apesar de os conteúdos da Nosso Amiguinho não terem (obviamente) o elemento humorístico e politicamente incorrecto que fazia com que esses trabalhos fossem tão apreciados pelo público-alvo, a verdade é que os mesmos conseguiram suficiente popularidade junto do mesmo para manter a revista no mercado durante as referidas sete décadas.

Na verdade, mesmo para quem não é Adventista de Sétimo Dia, a revista lê-se (ou, pelo menos, lia-se, nos anos 90) extremamente bem, embora os seus conteúdos não escapem – nem queiram escapar – àquele tom levemente moralista demais, que pode (e poderá) ter levado alguns a torcer o nariz à revista, tanto à época como nos dias de hoje. O preço da assinatura (que chegava a ser mais cara do que a de algumas revistas equivalentes do mercado secular) terá sido o outro principal entrave à expansão da revista no mercado português, onde penetrou em 1986, e onde permanece firme (ainda que apenas num pequeno nicho, conforme descrito acima) até aos dias de hoje.

De facto, a Nosso Amiguinho continua, hoje, a seguir 'de vento em popa', tendo actualmente o atractivo adicional de poder ser assinada directamente online, sem recurso ao mediador escolar, e continuando a oferecer a pais afectos à religião em causa (e a outros a quem a declarada afiliação religiosa não incomode) um meio de transmitir aos seus filhos em idade escolar básica mensagens e conceitos importantes, de uma forma divertida – isto, claro, se tiverem dinheiro para a assinatura...

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