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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.07.24

NOTA: Este 'post' é correspondente a Sábado, 20 de Julho de 2024.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Ao longo das últimas semanas, temos aqui vindo a falar da estranha vaga de popularidade de que os personagens criados por William Hanna e Joseph Barbera gozaram durante as décadas de 90 e 2000, com inúmeros jogos de vídeo e uma mão-cheia de longas-metragens (animadas e de acção real) a eles alusivos a surgirem no mercado mundial durante este período. Em Portugal, grande parte desta popularidade devia-se ao programa 'Oh! Hanna-Barbera', da RTP, que 'reapresentara' as famílias Flintstone e Jetson, os jovens detectives de 'Scooby-Doo', o gato Manda-Chuva e o urso Zé Colmeia a toda uma nova geração de crianças, através do sempre popular formato de um programa de auditório centrado em torno das séries de desenhos animados dos mesmos. E dado o interesse pela vida pré-histórica que também voltava a ressurgir entre as crianças e jovens da altura (mesmo antes do lançamento do revolucionário 'Parque Jurássico') não foi de admirar que os Flintstones – habitantes da Idade da Pedra que teriam, em 1994, direito ao seu próprio filme de acção real – se contassem entre os personagens mais populares do grupo acima descrito, a par dos aparentemente perenes Freddy, Daphne, Velma, Shaggy e respectivo animal de estimação, Scooby-Doo.

Serve este enquadramento para explicar a existência da exposição 'Aldeia dos Flintstones', organizada pelo Jardim Zoológico de Lisboa e que, apesar de ter 'falhado' a estreia do filme da família homónima por quase um ano e meio (sendo inaugurada no Natal de 1995, quando a longa-metragem saíra no Verão do ano anterior) ainda conseguiu atrair a grande maioria dos jovens residentes na Grande Lisboa, com a sua recriação fiel da cidade de Bedrock, a que Fred e Wilma Flintstone e Barney e Betty Rubble chamavam lar.

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(Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos, site detentor das únicas fotos alusivas a uma exposição algo Esquecida pela Net)

Com recurso a manequins e cenários-modelos (além de alguns 'bonecos' dos próprios protagonistas) os responsáveis da exposição conseguiam transformar a tenda-pavilhão temporária do Zoo (que já fora palco de memoráveis exposições sobre dinossauros e mamíferos pré-históricos em anos anteriores) numa vila pseudo-pré-histórica, cheia de réplicas 'monolíticas' de objectos reais, precisamente como acontecia no desenho animado original, criando um ambiente de fantasia que não podia deixar de ser um sucesso junto da demografia-alvo. A escolha das férias do Natal como época para inauguração da exposição também não foi, de todo, deixada ao acaso, já que a realização do evento neste período do ano assegurava um elevado fluxo de jovens visitantes, temporariamente livres das obrigações da escola e prontos a fazerem uma visita a Bedrock entre uma volta de teleférico e o espectáculo da tarde na Baía dos Golfinhos.

Curiosamente, a Aldeia dos Flintstones foi uma das últimas exposições do seu tipo realizadas pelo Jardim Zoológico, o qual rapidamente voltaria a concentrar-se na sua proposta principal – a de apresentar espécies animais mais ou menos exóticas. Ainda assim, quando analisada em conjunto com as suas congéneres da mesma época, a recriação da cidade de Bedrock ajuda a revelar o potencial que este tipo de evento demonstrava em finais do século XX, e a reforçar a ideia de que os Flintstones, tal como os demais personagens de Hanna-Barbera, tinham ainda consideráveis 'pernas para andar' junto da geração jovem portuguesa da época.

20.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 19 de Julho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já aqui por várias vezes referimos a existência de videojogos licenciados como a grande marca de sucesso de qualquer franquia infanto-juvenil de finais do século XX; no entanto, existe outro indicador, apenas ligeiramente abaixo desse, que denota que uma propriedade intelectual tem tracção junto do público-alvo – o lançamento de um filme de longa-metragem com os seus personagens. As criações de Hanna-Barbera, que viviam, nos anos 90, um surpreendente 'segundo fôlego', não foram diferentes nesse aspecto, tendo a referida década e o início da seguinte visto serem lançados uma série de filmes alusivos aos mais diversos grupos de personagens criados pela dupla em meados do século XX.

De facto, dos principais núcleos saídos da imaginação de William e Joe, apenas um não teve, até à data, direito a adaptação para longa-metragem – a futurista família Jetson. Dos restantes, dois protagonizariam filmes ainda nos anos 90, e outros dois na década seguinte, entre 2000 e 2010. E se estes últimos ficam, já, fora do âmbito deste nosso blog, os dois primeiros merecem ser recordados, por terem sido (de uma forma ou de outra) marcos do cinema infanto-juvenil de finais do século XX. De um deles, falaremos na próxima Sessão de Sexta, que sairá dias antes de se comemorar o trigésimo aniversário do seu lançamento em Portugal; este post será, pois, dedicado a relembrar o outro, que atingiu há cerca de três semanas esse mesmo marco. E por, nessa altura, termos escolhido falar de 'Libertem Willy', outro clássico do cinema infantil da época, nada melhor do que celebrarmos agora, ainda que tardiamente, essa efeméride – ainda que, à altura do seu lançamento, o referido filme se tenha revelado largamente desapontante.

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Até mesmo o cartaz prometia algo que os fãs queriam ver, mas que ficava muito longe do que o filme apresentava.

Isto porque 'Tom e Jerry: O Filme' (que chegava às salas portuguesas a 1 de Julho de 1994, com quase dois anos de atraso sobre os seus EUA natais, num dos piores casos de 'décalage' cultural da época) cometia o erro simples, honesto, mas irreparável de tentar ser aquilo que não era, e que ninguém queria que fosse – nomeadamente, um típico filme infantil, com a clássica estrutura criada e implementada pela Walt Disney. De facto, ao pensar num filme protagonizado pelo gato e rato mais famosos da televisão (e ainda com a popularidade em alta, graças à repetição dos episódios clássicos nos diversos canais abertos e de TV Cabo portugueses, e de séries como 'Tom and Jerry Kids') a maioria dos fãs imaginaria uma hora e meia de caos, numa espécie de versão alargada das velhas curtas dos anos 40 e 50, por oposição a um filme em que Tom e Jerry falam (!), travam amizade (!!) e defendem uma jovem orfã de parentes malvados (!!!).

Sim, 'Tom e Jerry: O Filme' pouco mais é do que uma versão mal disfarçada do primeiro filme de Bernardo e Bianca (à época já com duas décadas de vida) que revela um total e perfeitamente estarrecedor desconhecimento da dupla de personagens sobre a qual supostamente se centra, e que, precisamente por esse facto, não logrou convencer o jovem público, que antecipava humor violento e pastelão – uma premissa que talvez não 'segurasse' um filme de noventa minutos, mas que poderia ser utilizada para, pelo menos, ancorar uma história característica da dupla e coerente com as suas aventuras passadas, talvez com Tom a ter de proteger a casa onde ambos vivem, ou de percorrer a cidade para evitar uma situação lesante para a sua pessoa. Estes são apenas dois dos muitos argumentos que se poderiam criar em torno de Tom e Jerry sem os descaracterizar completamente, e sem ter de recorrer a mais palavras do que as poucas ocasionalmente proferidas por Tom – dois factores que, inevitavelmente, teriam resultado num muito melhor filme do que o apresentado pela Hanna-Barbera. Pior – a primeira cena do filme apresenta precisamente aquilo que os fãs esperavam, elevando-lhes as expectativas com uma clássica (e hilariante) perseguição para depois os defraudar apresentando algo totalmente incaracterístico.

Em suma, apesar da boa animação e do orçamento razoável para a época, 'Tom e Jerry: O Filme' dá um gigantesco 'tiro no pé', conseguindo algo que parecia quase impossível: desperdiçar a premissa fácil e lucrativa de um filme centrado na dupla titular. Por esse motivo, e ao contrário da maioria dos filmes que passam nestas nossas Sessões, o mesmo apenas deve ser mostrado às novas gerações como exemplo do que NÃO fazer ao criar um filme licenciado, dado por pais que ainda lembram vivamente a desilusão que sentiram ao sair do cinema naquele Verão de 1994. Para esse efeito, fica abaixo o 'link' para o filme completo, em versão original; vejam por vossa própria conta e risco...

18.07.24

NOTA: Este 'post' é correspondente a Terça-feira, 16 de Julho de 2024.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Já aqui anteriormente abordámos a invulgar longevidade e popularidade dos personagens da companhia de animação Hanna-Barbera junto do público infanto-juvenil contemporâneo; de facto, os 'bonecos' criados por William Hanna e Joe Barbera nos anos 60 mostraram-se capazes de se manter relevantes ao longo de (até à data) seis décadas completas, tendo mesmo gozado de um 'segundo fôlego' de popularidade durante aquela que talvez tenha sido a década mais cínica e irreverente da História moderna – e, por conseguinte, a antítese do que a maioria dos personagens da dupla representam. Uma das provas físicas mais 'visíveis' desse mesmo estatuto junto dos jovens 'X' e 'millennial' é o absurdo volume de videojogos alusivos e dedicados a cada uma das principais franquias da companhia – um sinal inequívoco de que algo almejou tracção junto do público jovem.

Efectivamente, a quantidade de os títulos lançados durante os dez últimos anos do século XX torna impossível seguir o habitual formato desta rubrica, que passa normalmente por um breve resumo de cada jogo acompanhado de imagens ou vídeos do mesmo. Assim, esta Terça Tecnológica operará de forma ligeiramente diferente, oferecendo uma perspectiva mais alargada sobre o que os jovens fãs de Hanna-Barbera tinham ao seu dispôr durante uma das grandes 'épocas áureas' do entretenimento electrónico.

Tendo em conta o período em questão, não é de surpreender que a esmagadora maioria destes títulos se insira no formato de acção em plataformas em plano bi-dimensional e de perspectiva lateral, o género quase sinónimo com jogos licenciados durante a era dos 8 e 16 bits. Scooby-Doo, os Flintstones, os Jetsons, Zé Colmeia e Tom e Jerry contam, cada um, com uma mão-cheia de jogos deste estilo lançados para todas as consolas e computadores pessoais da época, o que demonstra bem a natureza hercúlea de os tentar detalhar a todos; assim, optámos, neste 'post' por focar apenas os títulos que oferecem algo distinto em relação a esta fórmula – já que, apesar de poucos, os mesmos não deixam ainda assim de existir.

É o caso, por exemplo, dos primeiros jogos dos Jetsons, lançados no início da década de 90 para os computadores pessoais da época – IBM, Amiga, Amstrad CPC e Commodore 64. Por oposição aos típicos saltos e tiros, 'The Jetsons: The Videogame' sugere um formato mais próximo das colecções de mini-jogos que viriam a singrar no mercado Windows anos depois, com o jogador a ser desafiado a cumprir uma série de tarefas para cada um dos membros da família. Já 'George Jetson and the Legend of Robotopia' e 'By George! In  Trouble Again' são aventuras à base de texto, com o jogador a clicar nas opções que prefere à medida que a história se desenrola, ao estilo dos clássicos livros de 'Aventuras Fantásticas' ou 'Dungeons and Dragons'. Dois conceitos que podem parecer algo enfadonho nesta era do hiper-realismo, mas que 'enchiam as medidas' dos jogadores mais estratégicos e intelectuais de inícios dos 'noventa'.

Outro exemplo de algo fora dos padrões de um jogo licenciado é 'Scooby-Doo! Mystery of the Fun Park Phantom', lançado para PC nos últimos meses do Segundo Milénio, e que se insere num estilo então 'em alta' entre o público-alvo – a aventura gráfica 'point and click'. Na pele dos diferentes membros do grupo principal (excepto, curiosamente, o próprio Scooby-Doo, aqui remetido a um papel de coadjuvante) os jogadores perambulam pelo parque de diversões titular, para tentar resolver o mistério em causa através da recolha de pistas e pedaços de armadilhas destinadas a aprisionar o Fantasma do Parque de Diversões. Resta saber se é possível separar o quinteto, enviando Velma, Freddy e Daphne para um lado, enquanto Shaggy e Scooby vão para o outro, dando inevitavelmente 'de caras' com o titular espectro. No ano seguinte, o mesmo grupo viria ainda a protagonizar uma aventura 3D para Nintendo 64, 'Scooby-Doo: Classic Creep Capers' embora a mesma se tenha 'perdido' em meio a muitos outros jogos semelhantes e mais bem conseguidos, ou com licenças mais apelativas.

Talvez o exemplo mais radical da utilização de uma licença Hanna-Barbera para algo distinto lançado durante a época em causa (se não contarmos com os jogos baseados no filme dos Flintstones, que de diferente têm apenas a aparência dos protagonistas principais) é 'Flintstones Bedrock Bowling', lançado no Verão de 2000 para PC e PlayStation e que, ao contrário do que o nome indica, é um jogo...de corridas - ou, mais concretamente, daquele tipo de nível bem típico dos jogos licenciados da era 32-bits, que vê o personagem correr ou deslizar por um trajecto pré-definido, procurando evitar obstáculos e recolher itens. E embora um jogo inteiro nesses parâmetros se possa tornar cansativo muito rapidamente, a verdade é que a proposta não deixa, ainda assim, de ser original q.b., e diferente de quase tudo o que na altura se lançava para computador ou consola.

Para finalizar, e já nos últimos meses do primeiro ano do Novo Milénio, foram lançados, para Nintendo 64 e PlayStation, dois jogos de premissa idêntica e com a mesma licença, Tom e Jerry. Tanto 'House Trap' (da PlayStation) como 'Fists of Furry' (na Nintendo) são jogos de luta tri-dimensionais, em que os eternos inimigos se tentam magoar mutuamente com objectos localizados ao redor de sua casa, proporcionando talvez a experiência mais próxima a uma das suas clássicas 'curtas' que seria possível recriar em formato digital.

É, pois, fácil de ver que, embora a maioria dos criadores recorresse à fórmula fácil e testada, havia ainda quem tentasse inovar dentro do campo dos jogos licenciados, e aliar os personagens de Hanna-Barbera a outros formatos que não apenas o de plataformas – empreitada que, aliás, se verifica ainda nos dias de hoje, não tendo os personagens em causa 'abrandado o ritmo' desde o nascimento dos videojogos. Apenas mais uma prova (como se ainda fosse necessário) da absurda longevidade e poder de renovação destes personagens, não só no formato televisivo ou cinematográfico, mas também no campo do entretenimento interactivo.

15.07.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

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Num mercado infanto-juvenil em que a duração média do interesse de uma franquia se salda num par de anos, conseguir manter a relevância e reconhecimento ao longo de mais de meio século não pode deixar de ser visto como uma proeza; à laia de contexto, franquias tão consensuais como Pokémon, Harry Potter ou Os Simpsons existem há pouco mais de metade desse tempo, e até mesmo O Senhor dos Anéis precisou de um 'tratamento revitalizante' por parte de Hollywood e de um realizador ambicioso e com paixão pelo projecto. E, no entanto, duas séries animadas de orçamento relativamente baixo criadas em inícios dos anos 60 (!!) conseguiram a façanha de cativar, até à data, nada menos do que quatro gerações de crianças, para quem os seus protagonistas continuam a ser instantaneamente reconhecíveis; juntem-se a esta lista outras duas que lograram manter-se relevantes por cerca de metade desse tempo, e torna-se notório que a frequentemente criticada Hanna-Barbera soube criar e explorar uma receita de enorme sucesso.

Portugal não foi, de todo, excepção ao paradigma acima delineado, tendo as famílias Flintstone e Jetson, o gato 'boa-vida' Top Cat (ou Manda-Chuva) e o icónico grupo de jovens detectives com o seu cão Grand Danois falante (além de personagens como Zé Colméia e Catatau ou Pepe Legal e o seu ajudante Babalu) conhecido sucesso imediato aquando da sua primeira chegada a Portugal, quando ainda eram relativamente contemporâneos. Nessa ocasião, os populares personagens surgiam ainda com as vozes dos talentosos artistas de dobragem da lendária companhia brasileira Herbert Richards; o regresso aos televisores nacionais, no entanto (um quarto de século depois, e novamente na RTP, nomeadamente no programa 'Oh! Hanna-Barbera') era feito com as vozes originais e com recurso a legendas, numa altura em que apenas um número relativamente reduzido de séries tinha 'honras' de dobragem nacional. Nada que impedisse o sucesso dos dois Freds (Flintstone e Jones) e respectivos familiares e amigos, da família futurista encabeçada por George Jetson ou dos gatos do beco, que prontamente conquistaram a nova audiência, tal como havia acontecido com a anterior e haveria ainda (pelo menos no caso de Scooby-Doo) de acontecer com a seguinte.

De realçar que, além de serem 'atracções principais' do referido programa, os personagens de Hanna-Barbera surgiam ainda nas televisões portuguesas por meio de uma série de episódios especiais transmitidos em ocasiões 'de festa' (com destaque para 'O Natal de Zé Colmeia' e para o filme que via George Jetson e Fred Flintstone encontrarem-se pela primeira vez cara a cara) e ainda como forma de 'encher' cinco ou dez minutos de 'tempo morto', sendo Zé Colmeia, Pepe Legal e Dom Pixote (além do icónico duo de Tom e Jerry) os personagens mais frequentemente utilizados para este tipo de função. Mais tarde, já depois da saída do ar de 'Oh! Hanna-Barbera', foram ainda transmitidas na RTP duas das quatro tentativas de literal infantilização dos personagens levadas a cabo pela companhia, talvez como forma de competir com 'Tiny Toons' e 'Muppet Babies'; no entanto, nem 'Os Filhos dos Flintstones' nem os de Tom e Jerry ('Yo Yogi!' e 'A Pup Named Scooby-Doo', as duas outras séries do estilo, ficavam de fora das escolhas da RTP) conseguiram o mesmo sucesso dos seus 'progenitores', sendo a 'malha' de abertura da segunda série mencionada o elemento mais memorável de qualquer das duas.

As versões clássicas e adultas, essas, continuariam 'de vento em popa', muito por conta das transmissões no Cartoon Network inglês (canal inserido no pacote TV Cabo) e das adaptações cinematográficas em acção real de que as duas franquias mais populares da companhia gozariam em anos subsequentes (uma das quais em breve aqui terá o seu espaço); e se, hoje, haverá menos quem identifique Manda-Chuva ou George Jetson, os Flintstones e Scooby-Doo continuam a afirmar-se como ícones verdadeiramente intemporais da animação tradicional, e a cativar mesmo os corações empedernidos da cínica Geração Z – prova, como se tal ainda fosse necessário, do sucesso da fórmula e personagens criados por William e Joe em meados do século passado.

09.07.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui por várias vezes nos referimos aos anos 90 como a época áurea para os programas televisivos infantis que apostavam numa mistura de desenhos animados e entretenimento, e comandados por apresentadores jovens, carismáticos e dinâmicos o suficiente para 'entreter' tanto as crianças e jovens presentes em estúdio como os muitos espectadores que assistiam a partir de casa. De facto, embora este género seja, hoje em dia, lembrado sobretudo pelo icónico e incontornável duo do 'Buereré' (da SIC) e 'Batatoon' (da TVI), existiram, durante a década em causa, vários outros exemplos bem-sucedidos do formato, alguns dos quais já aqui abordados, como é o caso de 'A Hora do Lecas', 'Os Segredos do Mimix', 'A Casa do Tio Carlos' ou 'Clube Disney'. A essa lista, há agora que juntar um programa contemporâneo deste último, e que constituía uma espécie de 'irmão gémeo' do mesmo, tendo sido exibido pela mesma emissora (a então hegemónica RTP) na mesma época (inícios dos anos 90), com as únicas diferenças dignas de nota a serem a produtora de conteúdos em foco e a própria longevidade do programa.

De facto, enquanto o 'Clube Disney' atravessaria a totalidade da década de 90, chegando mesmo a penetrar no Novo Milénio, e viveria várias fases distintas, tanto em termos de conteúdo como de grafismo, 'Oh! Hanna-Barbera' duraria pouco mais de um ano, tendo saído do ar ainda antes do final de 1992 – um paradigma que não deixa de ser algo estranho, dadas as vastas e intencionais semelhanças entre os dois programas. Senão, veja-se: ambos apostavam no formato acima delineado, com público ao vivo e apresentadores que não se limitavam a introduzir cada novo desenho animado, mas também dinamizavam os segmentos interinos, que compreendiam uma mistura de jogos e actividades, números musicais a cargo de grupos convidados, e espaços onde eram lidas cartas e mostradas 'obras de arte' dos jovens espectadores. 'Oh! Hanna-Barbera' ganhava mesmo ao seu congénere no tocante à presença de mascotes em estúdio, estando Fred Flintstone ou Manda-Chuva sempre disponíveis para dançar ou 'fazer claque' em conjunto com os jovens escolhidos para visitar o programa, algo de que o 'Clube Disney' nunca se pudera gabar.

Também a selecção de desenhos animados era razoavelmente equilibrada no que toca à popularidade junto do público-alvo, sendo que 'Oh! Hanna-Barbera' contrapunha os desenhos mais modernos e 'excitantes' da Disney com os clássicos e intemporais 'Flintstones', 'Jetsons' e 'Manda-Chuva', todos, à época, ainda suficientemente 'na berra' para fazer frente a Donald, Pateta e restantes personagens do 'rival'. Quem ganhava com esta pseudo-'guerra' eram, claro, os espectadores, que viam assim ser-lhes dirigidos dois espaços infanto-juvenis de enorme qualidade na mesma semana, a juntar a todos os outros concursos, séries e blocos de desenhos animados com que a fabulosa grelha de televisão portuguesa de primórdios dos anos 90 os brindava. E, ainda que menos longevo do que o seu congénere das 'orelhas de Mickey', não é de duvidar que 'Oh! Hanna-Barbera' seja tão calorosamente lembrado como aquele por quem, naqueles idos de 1991, se sentava frente à televisão para desfrutar de um par de horas de animação, nos dois sentidos da palavra. Quem tiver feito parte dessa demografia, pode encontrar abaixo alguns excertos do programa, para recordar e 'matar saudades' daqueles bons tempos de infância, em que a televisão parecia 'feita à medida' para quem era jovem...

19.05.21

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

E se da última vez falámos de um título tão obscuro que apenas gerou alguns resultados numa pesquisa do Google, esta semana falamos de uma série de publicações que verdadeiramente justificam o epíteto de Esquecidos Pela Net; três conjuntos de revistas de BD que, entre elas, e depois de busca MUITO exaustiva, geraram TRÊS resultados em motores de pesquisa (dois no OLX e um no eBay de ESPANHA…) Caros leitores, bem-vindos ao post que quase não teve imagens; hoje, recordamos as revistas aos quadradinhos ‘feitas em Portugal’ dos personagens de Hanna-Barbera.

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Um de apenas dois números da revista dos Flintstones disponíveis online...

Sim, deste lado também não percebemos porque é que estas revistas são TÃO obscuras, quando tratam de personagens que todos conhecemos e estimamos, como Zé Colmeia ou os Flintstones. Mas a verdade é que, ao pesquisar por estes títulos, a esmagadora maioria dos resultados faz referência às edições brasileiras dessas mesmas publicações, as quais também chegaram a ser importadas para Portugal à época (por aqui, por exemplo, tínhamos pelo menos um número da versão brasileira de ‘Manda-Chuva’.) Não fosse pelo facto de nós próprios termos tido vários números das séries portuguesas, juraríamos ter sonhado com a existência das mesmas - e sim, se tivéssemos tido os referidos números ‘à mão’, este post teria sido ilustrado com fotografias do nosso próprio acervo. No entanto, e como a foto acima prova, estas publicações existiram mesmo, ainda que por um período de tempo muito mais breve do que qualquer das outras revistas de que temos vindo a falar, e infinitamente menor do que o das congéneres brasileiras, o que pode explicar o ‘esquecimento’ por parte do grande público.

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...e a ÚNICA imagem da revista 'Zé Colmeia'

Lançadas no início dos anos 90 para tentar aproveitar o sucesso do programa ‘Oh! Hanna Barbera’, que passava as versões em desenho animado destes e outros heróis, as três revistas (uma delas com o mesmo nome do programa, e dedicada a histórias de personagens que não ‘coubessem’ nas outras duas) apresentavam basicamente as mesmas histórias das edições internacionais, mas com traduções em Português ‘de Portugal’ – essencialmente, uma repetição da estratégia que já rendera dividendos à Abril aquando da adaptação das várias revistas Disney. No entanto, ao contrário dos 'gibis' oriundos do ultramar (que eram perfeitamente vulgares e iguais a quaisquer outros) estas revistas tinham lombada 'grossa' -semelhante à das revistas do Pateta ou Mônica - e papel lustroso, de qualidade superior ao dos títulos supra-citados.

No entanto, a boa apresentação e razoável adaptação do material não foi suficiente para garantir a longevidade destas revistas. Talvez por os personagens dizerem menos aos entusiastas de BD, ou talvez por as versões em desenho animado serem mesmo consideradas melhores, o público infantil não se mostrou tão interessado nos quadradinhos da Oh! Hanna-Barbera como no programa, o que fez com que, inevitavelmente, estes títulos acabassem mesmo por desaparecer sem grande alarido quando o mesmo saiu do ar…

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O único outro vestígio remanescente da existência destas revistas

Mesmo assim, vale a pena recordar mais uma série de livros aos quadradinhos Esquecidos Pela Net, mas que fizeram – ainda que fugazmente – a alegria das crianças portuguesas durante aquela década mágica de 90. Contaram-se entre essas crianças? Tinham alguma destas revistas? Partilhem nos comentários, para sabermos que não fomos os únicos a ler isto…

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