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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.10.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa era em que o desporto-rei se encontra mercantilizado ao extremo, com valores salariais e de transferência cada vez mais absurdos, é já praticamente impossível encontrar jogadores que, ao longo da carreira, apenas representem menos de uma mão-cheia de emblemas, por vezes ficando-se mesmo pelo clube do coração. Há três décadas, no entanto, o panorama era algo mais 'inocente', e muitos futebolistas deixavam, ainda, que o coração falasse mais alto, fidelizando-se às poucas agremiações nas quais faziam carreira. Já aqui abordámos alguns desses nomes, como foi o caso de Serifo, Kasongo, Litos ou Martelinho, e este Domingo Desportivo adicionamos mais um atleta a essa ilustre lista, na pessoa de Bruno Alexandre Vaza Ferreira, também por vezes conhecido apenas pelo seu apelido mais 'invulgar', Bruno Vaza.

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Com a camisola do primeiro dos seus dois clubes...

Nascido em Torres Vedras e formado no histórico clube local, o médio chegaria à equipa principal do mesmo ainda em finais dos anos 80, ainda como opção periférica. Não tardaria muito, no entanto, até o jogador mostrar o seu valor e se tornar peça-chave da equipa para a primeira época completa da década de 90, no decurso da qual contribuiu activamente para a primeira promoção do Torreense à então I Divisão em vinte e sete anos – curiosamente, sucedendo ao próprio pai, que fizera parte da última equipa torreense a conseguir a subida ao escalão principal, em 1964/65.

Tão-pouco perderia o médio preponderância durante as épocas passadas pelos rubro-celestes na 'Primeira'; antes pelo contrário, nas quatro épocas seguintes, apenas uma (a primeira no escalão principal) viu Vaza fazer menos de trinta jogos pela equipa da sua terra, tendo mesmo assim participado ainda em cerca de metade dos jogos do Torreense durante a referida temporada, e deixado a sua marca com dois golos. Nas temporadas subsequentes, o médio voltaria a agarrar a titularidade, tendo os seus números sido exactamente iguais para ambas: trinta e um jogos e dois golos em cada uma.

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...e com a do segundo.

A constância e qualidade exibicional demonstrada pelo médio não passavam, aliás, despercebidas, e foi com pesar que os adeptos torreenses viram o 'filho da terra' dar o 'salto' para um clube de maiores dimensões, rumando a Norte para representar aquele que viria a ser o segundo de apenas dois clubes representados por Vaza durante toda a sua carreira, no caso o Sporting de Braga, onde chegou a partilhar plantel com nomes como Eduardo, Quim, Ricardo Rocha, Miklos Feher, Carlitos (todos mais tarde do Benfica) Tiago ou Luís Filipe (que se notabilizaram no Sporting) ou ainda a eterna 'estrela' bracarense, Karoglan. Ali, o médio deu de imediato continuidade ao bom trabalho realizado no Oeste, justificando a sua contratação e afirmando-se como elemento importante do plantel alvirrubro a longo prazo. De facto, foram nada menos do que sete as temporadas passadas pelo médio no Minho, quase todas como titular quase indiscutível, tendo a sua contribuição esmorecido apenas já nos últimos meses do século XX, em que uma lesão grave o levou a registar apenas sete aparições pela equipa principal e uma pela equipa B. Após uma primeira época do Novo Milénio passada 'a zeros', o médio percebeu que era altura de regressar a 'casa', e foi com prazer, orgulho e satisfação que os adeptos do Torreense viram regressar uma das suas 'estrelas' noventistas, ainda bem a tempo de deixar o seu contributo nas campanhas, agora bem mais modestas, do clube do Oeste.

Infelizmente, o médio que pendurou a camisola no balneário do Estádio no final do Verão de 2001 não era, já, o mesmo que o deixara rumo a Braga alguns anos antes. A lesão contraída durante a estadia no Minho condicionava fortemente o jogador, impedindo-o de deixar o seu contributo como fazia em tempos passados, e tornando Bruno sobretudo num daqueles 'jogadores de balneário' cuja função é transmitir aos colegas a mística do clube. E ainda que esta fosse uma posição honrosa, não era manifestamente a mais desejável para um atleta de apenas trinta e um anos, e que normalmente teria ainda um par de épocas pela frente antes de 'pendurar as botas'; assim, e ainda a ressentir-se da lesão, Vaza viria mesmo a terminar a carreira de forma prematura no final da época 2001/2002, tendo vestido por apenas duas vezes a camisola que, em tempos, tão honrosamente representara. Um final triste para uma carreira que se pautou pelo profissionalismo, dedicação e verdadeiro 'amor à camisola', numa época em que essa expressão era já tão 'abusada'.

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Bruno Vaza na actualidade, em programa do Canal 11.

Ao contrário da maioria dos colegas a quem dedicamos espaço nestas páginas, Bruno Vaza não enveredou por cargos técnicos, nem tão-pouco ficou ligado à estrutura de qualquer dos seus dois clubes, tendo-se afastado por completo do mundo do futebol; o seu legado, no entanto, não se ficou por aí, já que o filho, Rodrigo Vaza (que chegou a passar pelas camadas jovens do Sporting) iniciou a carreira sénior com a mesma camisola do pai – a do clube da terra natal – antes de rumar aos Estados Unidos para prosseguir a carreira na Major League Soccer. Quanto a Bruno, é hoje um cidadão perfeitamente comum, que certamente terá, algures no decurso do seu quinquagésimo-quarto aniversário, recordado os tempos em que era Grande dos Pequenos na antiga I Divisão Portuguesa. Parabéns, e que conte ainda muitos.

21.07.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Qualquer fã de futebol que tenha crescido em Portugal nas duas últimas décadas do século XX recordará com especial carinho as icónicas cadernetas de cromos alusivas aos campeonatos nacionais da época, cada uma repleta de clubes históricos e caras que, através da sua presença ano após ano, acabavam por se tornar familiares e conhecidas. O jogador de que falamos este Domingo, no dia do seu quinquagésimo-oitavo aniversário, foi uma dessas caras, tendo ficado ligado, na mente dos jovens adeptos nacionais, a um dos mais históricos de todos os clubes nacionais, o carismático Sporting Club Farense.

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O jogador com a camisola com que se tornou sinónimo.

De facto, apesar de nascido na Margem Sul do Tejo e formado no Sporting, onde dava os primeiros toques logo no início da adolescência, Rui Pedro Rodrigues Eugénio (vulgarmente conhecido apenas pelo seu apelido) veria a sua carreira sénior ficar ligada a regiões consideravelmente mais a Sul, nomeadamente a terras algarvias – região onde, aliás, daria os primeiros passos como sénior, aos dezoito anos recém-completos, ao serviço do Olhanense. Seguir-se-ia uma experiência mais a Norte (no Recreio de Águeda) e outra na zona de Lisboa – onde representaria, durante duas épocas, o Estoril-Praia – mas o dealbar da época 1988-89 via o defesa lateral ingressar na agremiação com que haveria de se tornar sinónimo para muitos adeptos portugueses ao longo da década seguinte. Essa primeira passagem pelo Farense durou quatro épocas, em que Eugénio se afirmou como peça-chave quase indiscutível da equipa algarvia, realizando mais de cento e trinta jogos entre a então Segunda Divisão de Honra e o escalão principal – que, aliás, ajudaria a equipa a atingir logo na sua segunda época, a qual ficou também coroada pela presença no Jamor (embora como finalista derrotado) e, a nível pessoal, pelo nascimento do filho, Pedro.

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Cromo da Panini dos tempos da passagem pelo Braga....

Foi com o Farense ainda 'em alta', e com estatuto de titular quase indiscutível, que Eugénio abraçou a sua próxima aventura, desta feita no outro extremo do País, e trocando a camisola alvinegra do Farense pela alvirrubra do Sporting de Braga de Mladen Karoglan. A passagem para um clube de maior dimensão não assustou, no entanto, Eugénio, que rapidamente se afirmou como opção também nos arsenalistas, pelos quais viria a realizar setenta e cinco jogos ao longo das três épocas seguintes.

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...e da segunda passagem pelo Farense.

Em 1995, no entanto, surgiria a oportunidade de 'regressar a casa', que Eugénio não hesitaria em aproveitar; seria, pois, de braços abertos que a 'capital' do Algarve voltaria a acolher um jogador que lhes dera muitas alegrias num passado nada distante. E a verdade é que Eugénio retomaria funções no mesmo patamar em que as havia deixado, ou seja, como titular habitual – pelo menos durante a primeira época, já que na seguinte (de 1996/97) viria a perder o lugar, realizando apenas sete partidas em toda a campanha. A situação viria, no entanto, a ser corrigida na época seguinte, tendo Eugénio voltado a figurar como parte importante da equipa durante os dois anos seguintes, antes de se tornar novamente opção de recurso na sua última época nos 'leões' algarvios, já no dealbar do Novo Milénio.

Por esta altura, o 'peso' da idade já se começava a fazer sentir, e Eugénio iniciaria, gradualmente, uma transição para o futebol semi-profissional, 'despedindo-se' dos principais escalões nacionais com uma época como 'jogador de plantel' do Olhanense (num bonito 'fecho de círculo' da sua carreira profissional) antes de ingressar por duas épocas no modesto Sambrasense (embora algumas fontes dêem também conta de uma passagem pelo Valdevez). Seria nesse clube, e na condição de amador, que, no final da época 2002/2003, Eugénio viria a fechar definitivamente o seu ciclo enquanto jogador de campo, deixando o legado do seu nome nas mãos do filho, Pedro, à época ainda em idade de Iniciado, e parte das escolas do Farense - ele que viria a passar pelas Academias de Sporting e Benfica e, tal como o pai, a representar o clube alvinegro em duas ocasiões distintas, antes de rumar ao estrangeiro para jogar na Bulgária, Turquia e, actualmente, Cazaquistão. Já o Eugénio 'sénior' transitaria, com naturalidade, para cargos técnicos do clube a que ficara indelevelmente ligado, tendo exercido funções de adjunto durante duas épocas, e chegado mesmo a ser treinador interino dos algarvios na época 2006/2007.

Hoje afastado do Mundo do futebol, Eugénio continua, no entanto, a ser lembrado com carinho pelos adeptos farenses, que aprenderam a respeitar e apreciar o profissionalismo do lateral, um homem de valores e personalidade bem maiores do que a sua estatura de módicos 1,66 metros, e que bem merece esta singela homenagem no dia do seu aniversário. Parabéns, e que conte muitos.

10.03.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de, hoje em dia, militar na modesta Liga 3 (ao lado de outros históricos do futebol português, como Belenenses e Vitória de Setúbal) a União de Leiria sempre foi - historicamente e em particular em finais do século XX e inícios do seguinte – um dos emblemas-estandarte das divisões profissionais nacionais, daqueles que qualquer adepto da época nem sequer equacionava não ver nas páginas da tradicional caderneta anual da Panini. Por entre classificações honrosas (mas sem nunca 'tocar' nos 'grandes') e as habituais 'subidas e descidas' experienciadas por um clube da sua dimensão, o Leiria conseguia, ainda, revelar uma série de jogadores que, mais tarde, viriam a almejar a mais altos vôos, com destaque para Hélton (histórico guardião do Porto que teve na cidade do Lis a sua primeira experiência futebolística em Portugal) e para os prolíficos avançados Maciel e Derlei, este último 'destinado' a fazer História como um dos poucos jogadores a vestir a camisola de todos os três grandes, e a gozar de sucesso em todos os três.

Em meio a estas revelações, no entanto, o clube alvirrubro contava, também, com a sua quota parte de 'jogadores de clube', aqueles 'Grandes dos Pequenos' que se contenta(va)m com uma carreira estável e o estatuto de ídolo dos adeptos; e, no período em causa, um destes nomes foi o de um médio trasmontano que, durante mais de uma mão-cheia de épocas, assegurou a consistência defensiva no centro do terreno leiriense, e que comemora este Domingo cinco décadas de vida.

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O médio ao serviço do clube onde se notabilizou.

Proveniente do Académico de Viseu, onde se formara e onde tivera as primeiras experiências como futebolista sénior, Luís Miguel Silva Tavares, mais conhecido como Luís Vouzela, chegava a Leiria, no início da época 1995/96, já com créditos de jogador estabelecido, após duas temporadas como peça indispensável do emblema viseense. O 'salto' para um nível consideravelmente mais alto tão-pouco assustou o médio, que, das seis temporadas que passaria no clube do Lis, apenas em uma não conseguiria afirmar-se como indispensável (1997/98, em que apenas amealhou pouco mais de uma dezena de presenças), tendo, nas restantes, sido pedra basilar do meio-campo alvirrubro, sempre com cerca de trinta a trinta e cinco jogos ao longo de cada época. Neste período, o viseense chegou também a partilhar o relvado com nomes sonantes do futebol nacional, como os futuros ídolos portistas Derlei e Nuno Valente, a ex-estrela de Benfica e Porto Tiago, o guarda-redes Costinha, antigo mal amado de Sporting e FC Porto, ou o futuro treinador dos 'leões', Silas, outro 'histórico' do clube.

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Vouzela no Moreirense.

Curiosamente, este honroso e regular registo, bem como o apreço de que gozava junto dos adeptos leirienses, não resultou em vôos ainda mais altos para Luís Vouzela; pelo contrário, os passos seguintes do médio seriam 'para o lado', já que se transferiria para emblemas da mesma dimensão do Leiria, ou até um pouco menores. O que também não mudaria seria o estatuto do jogador dentro dos plantéis de Santa Clara (primeiro) e Moreirense (depois), clubes entre os quais dividiria as épocas entre 2002/2003 e 2004/2005, realizando entre quatro a cinco dezenas de jogos por cada um. O 'salto', no caso para o estrangeiro, ficaria adiado para o fim de uma única época ao serviço do Beira-Mar, também em bom plano, após a qual o médio assinaria pelo Olympiakos Nicosia, de Chipre – à época destino de 'férias pagas' para um sem-número de jogadores portugueses de nível médio.

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Ao serviço do Beira-Mar.

Durou pouco, no entanto, a 'viagem de férias' de Vouzela, que se veria de regresso ao futebol nacional no final dessa época de 2006-2007, após apenas uma dezena de partidas pelo emblema cipriota. O 'remédio' para relançar a carreira passou, assim, por nova descida de nível profissional, com as épocas seguintes a verem Vouzela representar clubes progressivamente mais modestos: Desportivo de Chaves (onde se chegou a cruzar com outro Grande dos Pequenos, Kasongo, na última época do congolês enquanto futebolista), Nelas, e Penalva do Castelo foram os seus destinos nas três temporadas seguintes, antes de 'regressar a casa' para duas épocas no clube que o vira despontar para o futebol, no decurso das quais sofreu uma lesão grave na perna.

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Com a camisola do Chaves.

Ao contrário do que seria de esperar, no entanto, não seria no Académico de Viseu que Vouzela viria a dar por encerrada a carreira, tendo o médio recuperado da referida lesão o suficiente para representar ainda, já com estatuto de veterano, por Nogueirense e Oliveira de Frades, onde viria a terminar o seu percurso, já com quarenta anos feitos.

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No 'seu' Académico de Viseu, já veterano.

Um exemplo de longevidade dentro das quatro linhas, que chegaria ainda a ter um 'gostinho' da carreira de treinador, ao orientar os modestos Campia e Santacruzense durante um par de jogos cada, nas épocas de 2017/18 e 2018/19, respectivamente. Desde então, Vouzela tem-se mantido afastado do Mundo do futebol, preferindo dedicar-se a outras actividades na sua 'reforma', e ser lembrado por aquilo que deu aos campeonatos portugueses nos seus tempos de mais jovem. Parabéns, e que conte muitos.

23.10.23

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 22 de Outubro de 2023.

NOTA: Por motivos de relevância temporal, este Domingo será Desportivo; regressaremos aos Domingos Divertidos na próxima semana.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O que determina a carreira de um desportista profissional? Esta é, certamente, a pergunta que se colocam muitos fãs dos mais diversos desportos ao verem um atleta com todos os atributos técnicos e mentais para ser 'gigante' notabilizar-se apenas num clube de menores dimensões, sem nunca conseguir dar o 'salto' para um patamar superior, ou, dando-o, 'estatelar-se' ao comprido, nunca passando de 'arraia miúda' entre outros desportistas ao seu nível. É inegável que a sorte tem papel determinante nesta trajectória, quase tanto como atributos como a ética, brio profissional e dedicação – e um dos melhores exemplos disso mesmo é o atleta de que falamos neste post, no dia exacto em que completaria sessenta anos de vida, não fosse a doença prolongada que o vitimou prematuramente ainda antes dos cinquenta anos de idade, em 2012.

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O jogador com a 'sua' camisola.

Falamos de Rashidi Yekini, um dos mais famosos e ilustres 'Grandes dos Pequenos' de sempre do futebol português, e que quase redifine o conceito deste termo, tal como o definimos nos primórdios deste 'post'. Isto porque, apesar de os seus anos áureos terem sido passados ao serviço de um emblema fora da esfera dos 'três grandes', o jogador foi condecorado, durante esse mesmo período, não só com a Bota de Ouro para o então Campeonato Nacional da Primeira Divisão como também com o título de maior goleador de sempre pela Selecção do seu país, a Nigéria, na qual era presença frequente ao lado de nomes como Jay Jay Okocha, Finidi George, Daniel Amokachi, Victor Ikpeba, e os também 'portugueses' Emmanuel Amunike e Peter Rufai, este último outro 'Grande dos Pequenos' que aqui terá, em breve, o seu espaço; coube-lhe, aliás, a honra de marcar o primeiro golo de sempre do seu país numa competição internacional sénior, ao abrir o marcador na vitória por 3-0 frente à Bulgária no Mundial de 1994, momento que também rendeu uma das imagens icónicas do torneio. Para além deste feito histórico, Yekini fez parte da equipa Olímpica da Nigéria para os Jogos Olímpicos de Seoul, em 1988, teve papel determinante na conquista da Taça das Nações Africanas desse mesmo ano (onde foi o melhor marcador), e voltaria a marcar presença, há pouco mais de vinte e cinco anos, no histórico França '98, já com quase três décadas e meia de vida, mas ainda com o pé bem 'afiado'.

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A imagem que correu Mundo em 1994.

Como, portanto, é que um jogador destes tem como ponto alto da carreira as quatro épocas em que se tornou ídolo sadino? Especialmente tendo em conta que, durante esse período, Yekini fez pleno uso do seu principal atributo – o 'faro' de golo - marcando mais de noventa tentos em cerca de cento e quinze jogos e superiorizando-se a qualquer dos avançados dos 'grandes' na época iniciada há exactos trinta anos, em que conquistaria o título de melhor marcador, com vinte e um golos – isto já depois de, na época anterior, ter ultrapassado a bitola de um golo por jogo, marcando trinta e quatro em trinta e duas partidas (!) numa temporada que veria o Vitória FC regressar ao principal escalão do futebol profissional luso. Qualquer jogador com este tipo de trajectória meteórica (mesmo tendo já vinte e sete anos) teria, normalmente, bilhete 'carimbado' para um dos 'grandes' nacionais, senão mesmo europeus

É, no entanto, precisamente neste ponto da carreira de Yekini que a sorte entra em jogo. Isto porque o avançado almejou, sim, dar esse 'salto' - não para um 'grande' nacional, mas directamente para o estrangeiro - mas o mesmo não lhe correu, de todo, de feição. Incompatibilidades com os colegas de equipa nos gregos do Olimpiacos encurtaram a estadia do nigeriano no clube helvético (onde, mesmo assim, conseguiu uma média de quase um golo por cada parte de futebol jogada, marcando seis em apenas quatro partidas!) e a época seguinte, apesar de passada num dos maiores campeonatos do Mundo (a La Liga) viu o atleta disputar apenas catorze partidas, e conseguir uns parcos três golos, em dezoito meses ao serviço do Sporting de Gijón – de longe a pior marca da carreira do avançado até então.

1336244637_extras_mosaico_noticia_1_g_0.jpgYekini no Gijón

Tudo 'chamava' Yekini para 'casa' – e foi, precisamente, para lá que o nigeriano regressou, 'saltando' a fronteira e ainda chegando a tempo de fazer, em seis meses, números semelhantes aos que conseguira em Espanha no ano e meio anterior. Era, no entanto, óbvio que o avançado já não era o mesmo (a idade também pesava...) e a segunda passagem de Yekini pelo Setúbal saldou-se em apenas seis meses, findos os quais o nigeriano rumou à Suíça, para, ao fim de quatro longos e agonizantes anos, fazer finalmente uma temporada ao seu nível, obtendo uma média de um golo a cada dois jogos ao serviço do Zurique – catorze em vinte e oito partidas.

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No Zurique, o jogador gozou de um 'segundo fôlego' na carreira.

A carreira do goleador parecia, assim, gozar de um segundo fôlego, apesar da provecta idade (pelo menos em termos futebolísticos), mas foi sol de pouca dura. Os anos seguintes viram o avançado 'saltar' de emblema inexpressivo em emblema inexpressivo, até um novo regresso (no caso ao Africa Sports, 'gigante' africano onde um jovem Yekini se notabilizara) lhe permitir explanar de novo a veia goleadora, marcando mais de cento e dez golos em cento e trinta partidas entre 1999 e 2002.

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Yekini voltaria, em final de carreira, ao clube onde primeiro se revelara.

A carreira, no entanto, não foi terminada nessa segunda 'casa', nem na portuguesa, mas sim no Julius Berger, do seu país natal, onde ainda foi a tempo de contribuir com dez golos nas trinta partidas em que participou – isto, claro, se não contarmos com a temporada que realizou ao serviço do também nigeriano Gateway, aos quarenta e um anos (!), marcando sete golos em vinte e cinco partidas na temporada de 2005. Sete anos depois, problemas de saúde física e mental vitimavam o homem que, mais de uma década após a sua morte e três depois do seu período áureo, naquele que seria o dia do seu sexagésimo aniversário, continua a ser lembrado como o maior goleador de sempre do seu país, ídolo eterno do Estádio do Bonfim, e exemplo 'acabado' tanto de 'Grande dos Pequenos' como de jogador que merecia mais do que conseguiu na sua carreira. Que descanse em paz.

 

12.02.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa semana em que o Sporting Clube de Braga está nas 'bocas do Mundo' por ter eliminado o Benfica da Taça de Portugal, nada melhor do que recordar um dos jogadores históricos da fase 'noventista' do clube nortenho. Não, não se trata da escolha óbvia, já que esse foi fazer História também no Benfica, na década seguinte, desqualificando-o da selecção para esta rubrica; falamos, antes, de um jogador que passou oito épocas em Portugal (seis delas em Braga) sem nunca ter querido 'dar o salto' para mais altos vôos – o ponta-de-lança Mladen Karoglan.

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O avançado com a camisola que o notabilizou.

Nome clássico dos Elifoots daqueles tempos (em que acabava, muitas vezes, a carimbar por si mesmo a subida de um clube da Quarta Divisão), Karoglan passou grande parte da sua carreira na sua Croácia natal, tendo a sua estreia como sénior tido lugar ainda no início da década de 80, pelo Hadjuk Split, onde havia feito a sua formação; sem espaço no 'grande' croata, no entanto, o jovem Karoglan teria uma única presença pelo clube, transferindo-se, logo na época seguinte, para o modesto Iskra Bugojno, onde passaria cinco épocas, com utilização apenas esporádica.

A paragem seguinte seria o também inexpressivo Dínamo Vinkovci, onde se estabeleceria finalmente como parte importante da equipa titular, justificando a transferência, logo no início da década de 90, para o NK Zagreb, onde passaria uma época, participando em quase todos os jogos e contribuindo com um golo. Uma marca escassa para um ponta-de-lança, mas que seria, ainda assim, suficiente para assegurar a Karoglan, então com 26 anos, a primeira (e única) aventura internacional - motivada, em grande parte, pela guerra então vivida na ex-Jugoslávia, conforme o avançado revelou numa entrevista anos depois.

O destino era Portugal, nomeadamente Chaves, onde o croata rapidamente se destacou pela boa química com o parceiro de ataque, o finlandês Kimmo Tarkkio, que lhe valeu a condição de titular quase indiscutível; no total, em duas épocas, o avançado realizou sessenta e duas partidas, contribuindo com dezassete golos, e deixando indicações suficientemente boas para suscitar um suposto interesse do FC Porto (que nunca se chegaria, no entanto, a concretizar) e lhe garantir a transferência para um clube do nível seguinte – no caso, o emblema onde se viria a tornar 'herói', e a terminar a carreira profissional.

Chegado a Braga no início da época 1993/94, Karoglan rapidamente se estabeleceria como pedra basilar da equipa principal, tal como já acontecera em Chaves, tornando-se muito acarinhado pelos adeptos locais ao longo das seis épocas que passou no emblema arsenalista, durante as quais partilhou o balneário com outros 'Grandes dos Pequenos', como Gamboa, bem como com futuros 'famosos' como Quim (o outro grande nome da História do clube) e Elpídio Silva. Partidas, essas, foram mais de duzentas, com cerca de sessenta e cinco golos apontados, tornando o avançado num dos melhores da História dos arsenalistas, e deixando-o com um total de oitenta e dois golos marcados em oito temporadas passadas nos campeonatos nacionais, dos quais apenas dez não foram obtidos em jogos da Primeira Divisão; uma marca que, mais uma vez, pode parecer escassa para um 'ponta-de-lança', mas que foi ainda assim suficiente – em conjunto com os restantes atributos técnicos do futebolista – para render a Karoglan o estatuto de nome lendário da Primeira Divisão nacional, e de 'grande' de um 'pequeno' que nem o era assim tanto, conforme viria a provar em anos subsequentes...

Karoglan em acção.

18.12.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Um dos principais axiomas do futebol jovem é que poucos são aqueles que, destacando-se ao nível da formação, chegarão também a brilhar ao mais alto nível; de facto, na maioria dos casos, ocorre precisamente o contrário, e um jovem que integra as selecções jovens do seu país de origem acaba por não almejar mais do que uma carreira honrosa, mas longe das 'luzes da ribalta' atingidas por outros seus colegas - ou seja, torna-se um 'grande dos pequenos'.

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Tal é, sem qualquer dúvida, o caso de Rui Óscar Neves de Sousa Viana, internacional e campeão europeu sub-18 por Portugal, mas cuja carreira nunca chegou verdadeiramente a 'descolar' da forma que tal início poderia fazer prever; ainda assim, o percurso do ex-defesa pelo futebol profissional foi suficientemente destacado para que, no fim-de-semana em que completa 47 anos de idade, valha a pena dedicar-lhe algumas linhas nesta nossa rubrica sobre os 'actores secundários' dos campeonatos nacionais de futebol dos anos 90.

Natural de Gondomar e formado no FC Porto - ao serviço do qual se sagraria internacional sub-18 e conquistaria o Europeu de 1994 do escalão - Rui Óscar começou por dar nas vistas no histórico União de Lamas, emblema pelo qual realizou a sua primeira época como sénior, contribuindo com um golo ao longo de dezassete partidas. Um início bastante comum para um jovem futebolista da época, mas que não deixou de valer a Rui Óscar a atenção de uma agremiação de maiores dimensões - no caso o Leça, que, naquela época 1995-96, competia ao nível da Primeira Divisão nacional. O defesa nortenho tornou-se assim, durante uma temporada, colega de outro jogador que abordámos nesta rubrica, Serifo, tendo sido presença assídua na equipa leceira, com um total de vinte e sete presenças, e feito por merecer a chamada às Selecções tanto de sub-20 como de sub-21, que representaria, respectivamente, no prestigiado Torneio de Toulon e na qualificação para o Europeu de Sub-21 de 1998.

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O cromo do jogador nos tempos do Leça

Deu-se, então, um 'salto' para Rui Óscar que quase o desqualificaria desta rubrica, tivesse o jogador ido além das duas partidas ao nível sénior pelo FC Porto; ficou-se, no entanto, por aí a contribuição do defesa para o campeonato dos Dragões da época 1996-97, não tendo sequer tido direito a sagrar-se campeão pelo clube que o formara. A temporada  após esta 'aventura' falhada veria, assim, o defesa integrar o plantel do primeiro de dois clubes pelos quais pode reclamar o estatuto de 'grande dos pequenos' - o Marítimo, onde permaneceria durante três épocas e se afirmaria como 'esteio', amealhando um total de oitenta e sete jogos e apontando dois golos.

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Rui Óscar no Marítimo

Apesar do sucesso desta 'aventura' insular, no entanto, o dealbar do novo milénio veria, ainda assim, o defesa regressar à sua zona de origem, ainda a tempo de celebrar a inusitada e inédita conquista do Campeonato Nacional da I Divisão por parte do outro grande clube da cidade do Porto, o Boavista, que negava assim ao Sporting aquilo que, se tivesse acontecido, viria a ser um bi-campeonato, e mais tarde um 'tri'.

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O defesa ao serviço do Boavista

A essa época histórica, seguir-se-iam mais três, durante as quais Rui Óscar marcaria assiduamente presença na equipa boavisteira, ao lado de nomes como Martelinho ou Fary - no total, foram setenta e uma as presenças do defesa ao serviço dos axadrezados entre 2000 (ano em que conseguiu, também, a sua única internacionalização sénior, pela equipa B de Portugal) e 2004, quando se mudou um pouco mais 'para baixo' para representar o futuro clube do ex-colega boavisteiro Fary, o Beira-Mar de Aveiro.

download.jpgÓscar no Beira-Mar

Correu, no entanto, menos bem esta última aventura do ex-internacional português, que somaria apenas três partidas pelos aurinegros, e acabaria mesmo por 'pendurar as botas' no final da temporada, com apenas trinta anos de idade, e com capacidade para, pelo menos, mais um punhado de épocas ao nível a que jogava. Ainda assim, há que respeitar a decisão de um jogador que, nas dez épocas que passou como profissional de futebol, conseguiu deixar a sua marca nos campeonatos profissionais de futebol portugueses de finais do século XX e inícios do XXI, e conquistar o seu lugar entre os verdadeiros 'grandes dos pequenos' existentes no seio dos mesmos. Parabéns, Rui Óscar - e que conte muitos!

13.11.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de grande parte da atenção de um adepto de futebol recair nos jogadores de campo, e sobretudo nos da metade ofensiva do terreno, a importância de uma presença e personalidade consistente e talentosa entre os postes não pode ser descurada – sobretudo se a mesma exibir, também, lealdade, brio profissional e genuína dedicação ao emblema que representa.

Serve esta introdução para falar de um nome que, apesar de nunca ter sido dos mais conhecidos ou recordados pelos adeptos portugueses, exibiu, enquanto jogador, todas essas características, afirmando-se como um verdadeiro e autêntico 'grande dos pequenos', e que celebra precisamente hoje, dia 13 de Novembro, o seu vigésimo-segundo aniversário. Falamos de Paulo Sérgio Rodrigues Firmino, comummente conhecido apenas pelos seus dois primeiros nomes, e que foi figura central do histórico Campomaiorense durante as épocas em que o emblema ribatejano militou na então chamada Primeira Divisão nacional.

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O guarda-redes no Beira-Mar, já em final de carreira.

Nascido no Barreiro, na Margem Sul do Rio Tejo, Paulo Sérgio iniciou a sua carreira sénior, não no emblema local, mas no 'vizinho' Vitória Futebol Clube, onde ingressaria na última época da década de 80, com apenas dezanove anos; a primeira oportunidade de alinhar pelo novo emblema demoraria ainda, no entanto, duas épocas a surgir, tendo o guardião efectuado os primeiros jogos pelos sadinos no decurso da época 1991/92, em que alinharia num total de vinte partidas. A época seguinte traria mais do mesmo (19 partidas, cerca de metade das que um clube das divisões superiores realiza no decurso de uma época) antes de Paulo Sérgio voltar a perder preponderância no histórico emblema setubalense, realizando apenas um total de nove partidas ao longo das duas épocas seguintes.

Sem espaço para jogar, foi com naturalidade que o guarda-redes procurou, logo na época seguinte, novas paragens, encontrando nova 'casa' em Campo Maior; também aqui, no entanto, a afirmação tardaria a chegar, tendo Paulo Sérgio acumulado apenas uma dezena de jogos durante a sua primeira época no novo emblema. Desta vez, no entanto, a situação viria a alterar-se logo na época seguinte, quando o ex-sadino se tornaria escolha principal para a baliza do Campomaiorense, posto de que não mais viria a largar mão durante as restantes seis épocas que passou na histórica agremiação; da época de 1996/97 até à sua saída para o Beira-Mar, em 2002/2003, o número mínimo de partidas que Paulo Sérgio amealharia durante uma época seria de dezasseis (na época 1998/99, em que foi suplente de Poleksic, outro histórico da Primeira Divisão da época) ficando este número, quase sempre, bem acima das duas dezenas nas restantes temporadas. Durante este período, o guardião teve, ainda, o privilégio de partilhar o balneário com nomes como Jimmy Floyd Hasselbaink (um dos mais notáveis 'Grande dos Pequenos'), Beto Severo, Isaías, Paulo Torres, Jordão, Isaías, Rogério Matias (outro jogador cuja carreira justifica a presença nesta secção) e outro verdadeiro histórico dos ribatejanos, o angolano Fernando Sousa.

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O jogador ao serviço do clube que o notabilizou.

Tendo em conta este historial, e a forma como acompanhara o clube durante a sua 'queda' da Primeira Divisão e eventual regresso aos escalões secundários, foi talvez com alguma surpresa que os adeptos viram Paulo Sérgio abandonar o Campomaiorense em favor do Beira-Mar, em 2003 – ainda a tempo de fazer uma época em 'alta' pelos aveirenses, alinhando em vinte e quatro das partidas disputadas nessa época, antes de seguir o percurso natural de um jogador em fase descendente de carreira, assumindo papéis de apoio primeiro no próprio Beira-Mar, (onde alinharia em apenas nove jogos no cômputo geral das duas épocas seguintes), depois no Pinhalnovense (onde ficaria uma temporada sem nunca sair do banco) e finalmente no Olivais e Moscavide, onde viria a terminar a carreira em campo - após apenas dois jogos em outras tantas épocas - antes de rumar ao vizinho Oriental, para assumir o cargo de treinador de guarda-redes. Um desfecho honroso para um nome que, apesar de não figurar entre os 'ilustres' da Primeira Divisão de finais do século XX, não deixa, no entanto, de ter desempenhado papel de relevo em alguns dos principais emblemas 'periféricos' da mesma, fazendo, assim, por merecer o epíteto de 'Grande dos Pequenos' - e esta pequena homenagem na data do seu aniversário. Parabéns, Paulo Sérgio - que conte muitos!

30.10.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O mercado africano foi, e continua a ser, um dos principais 'filões' de reforços para os clubes de segunda e terceira linha das diferentes divisões nacionais. Nos anos 90, esta tendência não era, de todo, diferente – pelo contrário, os países a Sul do Estreito de Gibraltar forneciam aos emblemas lusitanos jogadores como William AndemFary, Bambo, Serifo ou mesmo Eric Tinkler, entre outros 'históricos' daquela época de quem ainda viremos a falar, como o farense Hassan ou o moçambicano Chiquinho Conde.

A esse rol de nomes há, ainda, que juntar o do futebolista que abordamos neste 'post', um daqueles 'grandes' de um 'pequeno' ao nível dos supramencionados Serifo e Fary, ou ainda de nomes como Camberra, Gama, Martelinho ou Erwin Sánchez. Trata-se de Kabwe Kasongo, lateral congolês que, mesmo sem nunca ter passado por um dos três ou quatro principais emblemas do futebol português, é ainda assim conhecido de qualquer adepto que tenha acompanhado os campeonatos nacionais daquela época.

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O jogador ao serviço do clube pelo qual se notabilizou

Nascido em Kinshasa a 31 de Julho de 1970, Kasongo iniciou a carreira em modestos emblemas do seu país, com destaque para o perfeitamente desconhecido Lubumbashi Sport, por onde teve duas passagens e onde foi 'descoberto' (já com vinte e seis anos, o que o tornou uma revelação algo tardia pelos padrões do desporto-rei) pela 'velha glória' do Vitória de Guimarães, N'Dinga, e convidado a desenvolver uma carreira no continente europeu, especificamente em Portugal.

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O congolês ao serviço do Sporting da Covilhã.

No entanto, as dificuldades em se afirmar no plantel dos vimaraneses levariam o congolês a passar a sua primeira época no estrangeiro, não na Cidade-Berço, mas na Covilhã, onde o congolês foi peça importante do Sporting local durante a época de 1996-97, realizando vinte partidas e – apesar de não ter conseguido evitar a despromoção - dando nas vistas o suficiente para garantir a titularidade nos alvinegros logo na época seguinte, após a transferência do 'concorrente' Quim Berto para o Sporting.

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Kasongo no Guimarães

Durante a época seguinte, no entanto, e apesar de ter sido um dos esteios da defesa menos batida da Primeira Divisão no campeonato transacto, o lateral-esquerdo viu o habitual suplente Tito roubar-lhe a titularidade absoluta, tendo perdido preponderância no seio do plantel vimaranense. Assim, era sem grandes surpresas que, no mercado de Verão seguinte (o último do Segundo Milénio) os adeptos viam o congolês despedir-se do local de nascimento de D. Afonso Henriques para rumar à vizinha Chaves e ingressar no Desportivo local, então ainda nos escalões (muito) inferiores do futebol luso (em sentido contrário seguia o espanhol Carlos Alvarez, por quem o congolês serviria como 'moeda de troca'). Seria, igualmente, sem surpresas que o jogador se viria a tornar um dos 'nomes da casa' para o conjunto flaviense, ao serviço do qual colocou toda a sua experiência de Primeira Divisão, e com quem viria a terminar a carreira, em 2008, após um total de nove épocas (quase sempre com papel preponderante) e quase 230 partidas, ao longo das quais contribuiu com dois golos. Números que tornam o congolês – um daqueles 'tanques' bem típicos das equipas pequenas da época e que, após o término da actividade profissional, se dedicou à carreira de treinador, embora apenas em emblemas sem expressão – um verdadeiro 'grande' do 'pequeno' Chaves, bem como um nome sonante para quem seguia as competições portuguesas daquela era pré-futebol de topo.

02.10.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Desde que demos início a esta rubrica dedicada a celebrar jogadores cuja carreira se fez longe dos 'três grandes', e como figura maior de clubes mais pequenos, temos mencionado vários nomes que acabam por ficar associados a apenas um ou dois clubes em particular ao longo da sua carreira, mostrando um amor e dedicação à(s) camisola(s) pouco habitual num meio mercenário como é o do futebol. Agora, chega a altura de juntar mais um desses jogadores à lista que já inclui nomes como Serifo, Fary ou Martelinho, e de falar de um dos mais sonantes e influentes futebolistas a passar pelo histórico Rio Ave durante a década de 90.

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O jogador com a camisola com que se tornou sinónimo durante a década de 90

Nascido João Paulo Santiago Albuquerque, em Luanda, Angola, a 02 de Abril de 1974, este jogador viria – como tantos outros - a ficar conhecido nos meandros do futebol nacional por uma alcunha: Camberra. Foi sob esse nome que deu os seus primeiros passos, ainda com idade de juvenil – em outro histórico do futebol nacional, o Atlético CP, corria a época de 1989/90 – e seria por ele que se daria a conhecer nos campeonatos profissionais, duas épocas depois, ao serviço de ainda mais um emblema de enorme tradição, o Gil Vicente. E apesar de essa passagem pelo clube barcelense ter sido tão discreta quanto as anteriores por Atlético e Ovarense, até pela tenra idade do jogador, as suas oito exibições com a camisola dos gilistas foram, ainda assim, suficientes para despertar, o interesse do Rio Ave, que o contrataria no inicio da época 1992/93, quando Camberra contava, ainda, apenas dezoito anos.

Sem que qualquer das partes ainda o soubesse, iniciava-se nesse momento uma daquelas relações de sinergia que, cada vez mais, vão faltando no futebol moderno; no total, Camberra passaria seis épocas e meia no clube vilacondense, sempre como membro preponderante no coração do meio-campo dos alviverdes, cimentando o seu estatuto como um dos Grandes daquele Pequeno que contava, também, com outro nome ainda mais histórico em Vila do Conde que o de Gamboa: Augusto Gama, de quem paulatinamente também aqui falaremos.

Tão-pouco seria esse o último contacto de Camberra com um nome histórico no seio de um clube, já que a sua próxima aventura o levaria a cruzar-se com Serifo, nome maior do Leça, a quem o médio se juntaria na janela de transferências de Inverno da época 1997/98; precisamente um ano depois, e após trinta e duas partidas pelo seu novo clube, o angolano viria a aceitar o desafio de outro clube nortenho das divisões inferiores, no caso o Freamunde, onde passaria meia época, contribuindo com 17 aparições. O novo milénio veria, no entanto, o médio rumar ainda a outras paragens, tendo as últimas duas décadas da sua carreira sido passadas, respectivamente, com o Desportivo das Aves (27 partidas, 1 golo) e Famalicão (25 partidas) antes de o angolano pôr um ponto final na mesma, com apenas 28 anos.

Apesar do seu contributo para todos estes 'históricos' do desporto-rei nacional, no entanto, não restam dúvidas sobre qual o clube com o qual Camberra é mais frequentemente e imediatamente identificado: são mesmo as seis épocas e meia e quase 170 partidas do médio angolano ao serviço do Rio Ave que lhe outorgam o estatuto de verdadeiro Grande dos Pequenos, demonstrando enorme brio profissional e verdadeira dedicação ao clube vilacondense, e justificando a sua presença nesta nossa rubrica, ao lado de outros nomes tão históricos quanto ele próprio.

10.07.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

Na última edição desta rubrica, falámos de Serifo, jogador que desenvolveu toda a sua carreira profissional num único clube, o Leça; esta semana, toca a vez a um nome que, embora não tendo batido o recorde do guineense, mostrou a mesma dedicação a um único emblema – Joaquim Pereira da Silva, conhecido futebolisticamente pela alcunha de Martelinho, e que fica indelevelmente ligado à trajectória noventista do seu clube do coração, o Boavista.

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O jogador com a camisola de que se tornou sinónimo

De facto, grande parte da carreira do extremo foi passada nos axadrezados do Porto, onde ingressou ainda em idade de júnior, vindo do Feirense, e onde passou nada menos do que doze épocas - ainda que, nas duas primeiras, tenha sido alvo de empréstimos, a Marco e Aves, respectivamente. Tendo sido figura importante em ambas as equipas durante as respectivas temporadas (pelo Marco, fez 32 jogos e marcou quatro golos, enquanto que pelo Aves alinhou 33 vezes, contribuindo com seis golos) o ainda jovem jogador foi, no início da temporada 1995/96, reintegrado no plantel boavisteiro, o qual não voltaria a abandonar durante precisamente dez anos, durante os quais conquistaria (merecidamente) o estatuto de capitão e figura maior do conjunto nortenho, ainda mais do que nomes como William, Jimmy Hasselbaink, Erwin Sánches ou até Ricardo. No total, foram 189 jogos e 23 golos pelos axadrezados, dos quais trinta (e quatro golos) durante a época mais bem-sucedida da História recente do clube – foi, aliás, seu o único golo da vitória contra o Porto, que permitiu ao Boavista de 2000/2001 ultrapassar os rivais nortenhos e ocupar o topo da tabela, onde viriam a terminar a referida prova.

Terá, pois, sido com relativa surpresa que os adeptos axadrezados viram a sua figura de proa abandonar o clube no fim da época 2004/2005, para rumar aos amadores espanhóis do Portonovo, uma equipa de dimensão substancialmente menor do que o Boavista. A 'aventura' no estrangeiro duraria apenas um ano (durante o qual o médio logrou apenas 14 exibições), tendo Martelinho regressado a Portugal em 2006/2007 para ingressar, não no Boavista, mas no igualmente nortenho Penafiel; após apenas nove partidas ao longo de uma época, no entanto, o extremo voltaria a rumar a Espanha, para nova temporada no Portonovo, antes de efectuar nova mudança de rumo, 'pendurando as botas' como futebolista de campo para ingressar na equipa de futsal do Cidade de Lourosa.

Terminada essa aventura, o histórico do Boavista – então já com 34 anos - viria mesmo a assumir a reforma, fazendo, como tantos outros dos nomes que aqui focamos, a transição natural para a função de treinador, primeiro dos juniores de Feirense e Boavista (as mesmas equipas que o haviam lançado como profissional, quinze anos antes) e, mais tarde, das equipas sénior do Cesarense e Lourosa, pelo qual efectuou duas passagens, tendo a primeira rendido à equipa o título de campeão da AF Aveiro 2012-2013. Uma carreira indubitavelmente honrosa, e nada menos do que fascinante, mas cuja principal contribuição para o imaginário colectivo dos adeptos portugueses será mesmo o 'lugar cativo' que, durante várias épocas, o jogador teve no flanco direito do Boavista de Jaime Pacheco, pelo qual se afirmou como um verdadeiro 'Grande dos Pequenos'.

 

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