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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Uma das grandes 'verdades implícitas' do futebol afirma que o melhor jogador das camadas jovens nem sempre será necessariamente o detentor da melhor carreira sénior; pelo contrário, na maior parte dos casos, uma mistura de falta de sorte, falta de oportunidade, imaturidade e factores externos acaba por condenar estes jovens a uma carreira não mais que honrosa, ou até mesmo ao 'esquecimento', bastando atentar nos famosos comentários de Cristiano Ronaldo sobre o colega de formação Fábio Paim para ter uma prova 'acabada' deste mesmo fenómeno.

Outro famoso exemplo, este cerca de uma década mais 'antigo', é o do jogador que recordamos este Domingo, apenas três dias após, aos cinquenta e dois anos, ter perdido a batalha contra a leucemia: um médio ofensivo (ou 'número dez') de consumado e reconhecido talento, Campeão do Mundo de sub-20 como parte da famosa 'Geração de Ouro', mas cuja carreira nunca logrou atingir os mesmos patamares das dos seus colegas de equipa na Selecção de Carlos Queiroz, incluindo a de um seu homónimo e colega de Selecção. Falamos de João Manuel de Oliveira Pinto, normalmente conhecido pelos seus dois apelidos, para o distinguir de dois homónimos contemporâneos: o histórico defesa-central do Porto com quem partilhava os dois nomes próprios, e o referido colega de posição na Selecção sub-20 de Lisboa '91, e futura estrela de Benfica e Sporting, João Vieira Pinto.

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O jogador ao serviço da Selecção

Formado nas então já célebres escolas do Sporting - onde foi campeão nacional de Juvenis e partihou o campo com nomes como Abel Xavier ou o futuro colega de Selecção Luís Figo - João Oliveira Pinto logrou vestir a camisola dos 'leões' apenas em uma ocasião, num jogo contra o Estoril a contar para a Taça de Honra de 1991/92, em que entrou como suplente, já na segunda parte; este efémero concretizar do sonho chegou já depois de um empréstimo ao Atlético lisboeta, então satélite do clube de Alvalade, onde o médio logrou realizar meras treze partidas antes do regresso a 'casa'.

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O cromo da Panini dos tempos do Gil Vicente (crédito da foto: Cromo Sem Caderneta)

Treze seria, também, o número de encontros que João Oliveira Pinto disputaria na temporada seguinte, já desvinculado do seu clube formador e efectivo no Vitória de Guimarães 'europeu' de Pedro Barbosa, Paulo Bento, Dimas, Quim Berto e Nuno Espírito Santo – apenas o primeiro de uma longa lista de clubes pelos quais o médio passaria nas nove temporadas subsequentes. Logo na época seguinte à passagem por Guimarães, por exemplo, Pinto ingressava no mesmo Estoril Praia que defrontara no seu único jogo com a 'listada' verde e branca, marcando presença em trinta e um jogos, contribuindo ainda com um golo.

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Com a camisola do Sporting de Braga.

Por sua vez, as boas exibições pelos 'canarinhos' valer-lhe-iam a transferência para o Gil Vicente, onde apenas na segunda época se lograria afirmar, com vinte e um jogos contra os quatorze de 1994/95, o suficiente para despertar o interesse do Braga de Quim e Karoglan. E se a primeira época na 'Pedreira' correu de feição, com vinte e seis presenças na equipa principal e um golo marcado, já a segunda veria o médio perder lugar no seio do plantel, figurando em apenas oito partidas no total da época. Estava, pois, na altura de novo 'salto', que levaria João Oliveira Pinto de um extremo ao outro do País, para assinar pelo Farense. Nova época em bom plano, com trinta e duas presenças no 'onze' e três golos (um recorde de carreira) suscitariam nova 'viagem', desta feita rumo às ilhas, para representar o Marítimo.

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O médio no Farense.

Na Madeira, o médio passaria duas épocas como elemento de 'rotação' (contribuindo, ainda assim, com vinte e quatro partidas e três golos) antes de, no final da primeira época completa do Novo Milénio, rumar à Académica, da então chamada Segunda Divisão de Honra. Apesar da temporada em relativamente bom plano, seria o primeiro de sucessivos 'passos atrás' na carreira, que veriam o outrora promissor médio passar de peça importante em históricos do escalão máximo do futebol nacional para reforço parcamente utilizado de clubes de ligas secundárias ou mesmo distritais, como o Imortal, Sesimbra, Amora (último clube onde se logrou impôr, com trinta presenças e dois golos na época 2003/04) e Alfarim, onde terminaria a carreira, já perto dos quarenta anos.

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João Pinto era, actualmente, dirigente do Sindicato dos Jogadores e delegado da FPF.

Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, João Oliveira Pinto não assumiu, após pendurar as botas, a carreira de treinador, embora se tivesse mantido ligado à Federação Portuguesa e Sindicato dos Jogadores do desporto do qual, em tempos, fora tido como uma das grandes esperanças, mas onde, fosse por que razão fosse, nunca se conseguira afirmar ao nível desejado. Ainda assim, a imagem que fica após a sua 'partida' é a de um jogador tenaz, talentoso, e a quem apenas faltou uma 'pontinha' de sorte para chegar a ser mais do que aquilo a que os britânicos se referem como um 'journeyman'; um caso, portanto, semelhante ao dos inúmeros outros jovens de que falávamos no início deste texto, e que deveria ser 'caso de estudo' para os mesmos nas Academias deste País, como símbolo de perserverança, esforço e ética profissional em prol da manutenção da carreira. Que descanse em paz.

10.12.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A História da Selecção Nacional Portuguesa, bem como dos três 'grandes' do País, está repleta de nomes sonantes, instantaneamente reconhecíveis para qualquer adepto nacional, e muitas vezes, também para os de fora de Portugal; no entanto, por 'detrás' dessas 'mega-estrelas', existe todo um contigente de outros jogadores que, sem terem tido carreiras ao nível dos seus compatriotas mais ilustres, não deixaram ainda assim de ter impacto no futebol português, tanto a nível interno como internacional. Uma dessas figuras é o homem de quem falamos este Domingo, por ocasião do seu quinquagésimo-quarto aniversário: um avançado suficientemente talentoso para ser opção principal para a linha frontal de um 'grande', mas cuja restante carreira se desenvolveu (quase) exclusivamente como Cara (Des)conhecida. Falamos de Paulo Lourenço Martins Alves, ou simplesmente Paulo Alves, o 'homem do Norte' que se viria a destacar um pouco mais a Sul, em meados dos anos 90.

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Com a camisola do clube ao qual o seu nome ficaria mais ligado, o Gil Vicente. (Crédito da foto: LastSticker.com)

Natural de Vila Real, região na qual iniciou a sua formação, Paulo Alves chegava à idade sénior como mais um dos inúmeros jovens das escolas de um 'grande' (no caso, o Futebol Clube do Porto) sem espaço no plantel principal, e, como tal, forçado a procurar opções alternativas para a sua carreira. Para o jovem Paulo, a solução encontrada foi o ingresso no Gil Vicente, histórico da região Norte onde o avançado principiaria a explanar o seu talento, conseguindo afirmar-se primeiro como opção válida e, mais tarde, como primeira escolha no plantel dos gilistas. O início da década de 90 assistiria, assim, à melhor das três épocas de Alves em Barcelos, com dez golos obtidos em trinta e oito partidas – isto já depois de ter sido Campeão do Mundo de sub-20, em 1989, ao lado de vários jogadores que se viriam a tornar históricos na Selecção Nacional AA ao longo das duas décadas seguintes, como parte da famosa 'Geração de Ouro'.

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Com a malha das Quinas.

Apenas na época de 1991/92 se assistiria, pois, a nova 'mudança de ares' por parte de Paulo Alves, que transitaria para outro histórico nortenho, o Tirsense, onde passaria uma época, jogando ao lado de outro ex-formando do FC Porto quase exactamente dois anos mais velho, Agostinho Caetano, que celebrou também este fim-de-semana o seu quinquagésimo-sexto aniversário. Em Santo Tirso, Alves conseguiria oito golos em trinta e três jogos, sendo sempre opção principal, e impressionando o suficiente para conseguir, na época seguinte, a transferência para o Marítimo, onde passaria a época e meia seguintes.

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Ao serviço dos insulares do Marítimo. (Crédito da foto: Cromo dos Cromos)

Num ambiente marcadamente diferente daquele a que estava habituado, Alves não deixaria, ainda assim, de se afirmar como escolha recorrente na equipa, tendo as suas exibições justificado nova transferência, há quase exactos trinta anos, no defeso de Inverno da temporada 1993/94. O avançado regressava, pois, ao 'seu' norte, para representar o Braga, mas seria 'sol de pouca dura', tendo Alves almejado apenas quatro presenças pelos arsenalistas antes de regressar ao Marítimo, onde faria a melhor época da sua carreira até então, conseguindo dezassete golos em pouco mais de quarenta exibições, e afirmando-se como peça fulcral dos verderrubros insulares.

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No Sporting, o maior clube que representou na sua carreira sénior.

Seria, precisamente, a sua impressionante prestação ao longo da época 1994/95 que valeria a Paulo Alves o primeiro grande 'salto' da carreira, ao ser contratado pelo Sporting. As três épocas seguintes veriam, pois, o avançado alinhar com a 'listada' verde e branca (com excepção de um breve empréstimo ao West Ham, de Inglaterra, que assinalaria a primeira experiência internacional do jogador) quase sempre como opção principal, e conseguindo médias bastante razoáveis de golos, tornando-se assim um dos nomes mais lembrados do ataque leonino da década de 90. As suas boas prestações ao serviço dos 'Leões' suscitariam, também, a sua convocatória para os Jogos Olímpicos de Atlanta '96, bem como o interesse de novo clube internacional – no caso o Bastia, de França, para o qual Paulo Alves se transferiria no início da época 1998/99.

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Durante a aventura em França.

Tal como a primeira 'aventura' internacional do jogador, no entanto, também esta teria curta duração, tendo o avançado regressado a Portugal ainda antes da viragem do Milénio, agora para um patamar bastante mais modesto, ao serviço de outro histórico nacional, o União de Leiria, onde passaria as duas épocas seguintes; o final de carreira, esse, viria a dar-se no mesmo sítio onde a trajectória de Alves havia começado – em Barcelos, onde surgia em 2001/02, com o estatuto de 'veterano famoso', e onde continuaria a 'dar cartas' durante as quatro épocas seguintes, até ao pendurar das botas, no final da temporada 2004/2005, quando contava já trinta e cinco anos.

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Durante um jogo do União de Leiria.

Foi também sem surpresas que os adeptos gilistas viram o seu 'ídolo' enveredar pela carreira de treinador dentro do próprio clube, onde passaria duas épocas antes de regressar à sua 'casa' anterior, o União de Leiria. Seguir-se-ia uma passagem pelo Vizela e uma fugaz nomeação como Seleccionador Nacional sub-20, antes de Alves voltar a Barcelos, para mais quatro épocas - o último período de estabilidade naquela que se viria a tornar uma carreira 'papa-léguas', que veria Alves passar por todos os escalões do futebol nacional e treinar clubes no Irão e Arábia Saudita, além de regressar mais uma vez ao Gil Vicente, para meia temporada, em 2017/2018. O mais recente projecto de Alves foi, no entanto, o Moreirense, que orientou na campanha transacta, na Liga Sagres, provando ter tanta qualidade enquanto treinador como teve dentro das quatro linhas, como Cara (Des)conhecida ou nome algo mais digno de nota. Parabéns, e que conte muitos.

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Na função de treinador.

27.05.23

NOTA: Por motivos de relevância temática, este Sábado será de Saídas, e não de Saltos.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Apesar da sua rica História de descobertas e desbravamento de Mundos, Portugal não se tem, em épocas mais recentes, notabilizado pela 'exportação' de talentos (à excepção de nomes óbvios como Cristiano Ronaldo ou Salvador Sobral) nem por quaisquer feitos particularmente notáveis no campo da inovação ou internacionalização. Uma das poucas excepções a este paradigma – senão mesmo a única – teve lugar há quase exactamente vinte e cinco anos, e conseguiu, durante três meses e meio entre o final da Primavera e o início do Verão, colocar os olhos do Mundo em Portugal – e também, naturalmente, atrair visitantes de todos os cantos do Mundo.

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Falamos, é claro, da Expo '98, que já há um ano aqui abordámos, aquando dos vinte e quatro anos da sua abertura, mas cujo vigésimo-quinto aniversário também não podíamos deixar de assinalar, até por se tratar de um daqueles números que, sem serem 'redondos', não deixam ainda assim de ser marcantes.

Inaugurada a 22 de Maio de 1998 – tendo, portanto, atingido o referido marco na passada Segunda-feira – a última exposição mundial do século gozou de enorme sucesso entre o público, não só dentro de portas como internacionalmente, tendo sido consensualmente considerado um certame bem organizado, e capaz de lidar com as inevitáveis filas que se formavam, diariamente, à saída de pavilhões como o de Macau (com a sua recriação de um jardim chinês), de Portugal, da Realidade Virtual (onde só os mais 'valentes', pacientes ou sortudos conseguiam entrar, tal era o tempo de espera) ou do Conhecimento, alojado na infra-estrutura mais tarde conhecida como Pavilhão Atlântico, MEO Arena, e (actualmente) Altice Arena.

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O Pavilhão da Realidade Virtual atraía as maiores filas, devido ao seu bem conseguido espectáculo audio-visual.

Estava aí, aliás, um dos grandes trunfos da Expo '98, nomeadamente em relação à sua antecessora, organizada pelo país vizinho seis anos antes – enquanto que a área delimitada para a exposição de Sevilha '92 se encontrava ainda, à época, ao abandono, a Expo portuguesa viria, após o encerramento do certame, a contribuir com inúmeras infra-estruturas para a malha urbana portuguesa, a esmagadora maioria das quais se encontra, ainda hoje, activa e a uso: além da Altice Arena, locais como a Gare do Oriente (e respectiva estação de Metro), o 'shopping' Vasco da Gama, o Oceanário ou o próprio espaço da exposição em si – hoje chamado Parque das Nações – fazem parte do quotidiano de qualquer lisboeta, num exemplo admirável (e raro) de integração urbana.

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A Gare do Oriente, um dos vários contributos da exposição para a malha urbana lisboeta.

Esse está, no entanto, longe de ter sido o único triunfo da Expo '98 - embora se afirme como o principal legado da mesma; a par da Fundação Gil e da respectiva Casa, situada no bairro de Alvalade, em Lisboa - a exposição em si oferecia muito que ver aos visitantes (ainda que a preços algo 'inflacionados') com atractivos que iam bem além dos cinco ou seis pavilhões 'da moda', e se estendiam a restaurantes tematizados aos diversos países (como o lendário restaurante americano, com as suas fatias de 'pizza' do comprimento de um antebraço) e a periódicos eventos, normalmente com lugar na Praça Sony, com o seu ecrã gigante (que servia, também, como um excelente ponto de referência a quem se procurasse orientar durante as visitas); de concertos à exibição de jogos do Mundial de França, foram muitos, e bem marcantes, os tipos de evento de que os visitantes da Expo puderam disfrutar, caso se encontrassem no recinto à data e hora certa, claro está.

No cômputo geral, foi um Verão inteiro de grande animação, em que o certame foi local de visita praticamente obrigatória, fosse com a família ou com a escola, e em que o tema dos oceanos e dos Descobrimentos foi utilizado para, sob o auspício do simpático Gil, mascote da exposição, e da namorada Docas (duas ondas antropomórficas cujos nomes evocam, precisamente, as viagens maritimas da época Renascentista portuguesa) promover a multi-culturalidade, a interacção com outras culturas, e ainda conceitos como a ecologia e a protecção dos recursos naturais.

A vinte e cinco anos de distância, além das memórias, fica a certeza de um momento áureo na História moderna portuguesa, que afirmou este País de brandos costumes à beira-mar plantado como tão bom organizador de eventos (ou melhor) que muitos dos seus congéneres de maior projecção internacional – uma fama que o País viria, aliás, a cimentar meia-dúzia de anos depois, já no Novo Milénio, aquando do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, um evento para o qual talvez não tivesse sido considerado não fosse o estrondoso sucesso do certame que ora completa um quarto de século. Por essas e outras razões, vale bem a pena recordar o evento que demorou a 'sair do chão', foi alvo de muitas piadas e chacota à época, mas conseguiu calar todas as dúvidas, e afirmar-se como um dos mais importantes momentos da História portuguesa contemporânea.

 

21.05.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Quando se fala em marcos da História de Portugal na década de 90, há um evento que, de imediato, se sobrepõe à maioria dos acontecimentos concorrentes: a Expo '98. Aquele que foi, até pouco antes da inauguração, considerado um projecto megalómano e pouco exequível (e transformou o nome de António Mega Ferreira num remate de anedota) acabou por se traduzir numa Feira Mundial notavelmente bem sucedida, tendo inclusivamente superado a antecessora Expo '92, organizada pela vizinha Espanha.

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Subordinada ao tema 'Oceanos: Uma Herança Para o Futuro', a Feira Mundial portuguesa abriu há exactos 24 anos – a 21 de Maio de 1998 – no antigo hidroporto hoje conhecido como Parque das Nações, em Lisboa, tendo-se de imediato afirmado como um estrondoso sucesso junto do público jovem, por razões mais do que evidentes; a Expo oferecia muitos e variados pontos de interesse para os jovens, fossem eles o espectáculo audio-visual do Pavilhão do Conhecimento, o Pavilhão da Realidade Virtual (consistentemente 'dono' de uma das maiores filas do certame), o muito badalado Pavilhão de Macau, também alvo de filas constantes para ver a sua réplica de um jardim chinês, ou simplesmente as fatias de pizza ao estilo americano, cada uma do tamanho de meia pizza 'normal' portuguesa. As próprias mascotes – Gil e Docas, duas ondas do mar antropomorfizadas – estavam desenhadas à medida para agradar a esta demografia, a quem o 'merchandising' alusivo às mesmas muito agradava; isto para não falar do desafio de 'preencher' o passaporte com carimbos do máximo de países possível, uma tentativa declarada (e relativamente bem sucedida) por parte da organização para assegurar que os países com menor expressão ou menos 'truques na manga' de entre os 143 presentes não ficavam esquecidos.

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Gil e Docas, as memoráveis mascotes do evento.

Não se ficavam por aí os atractivos da Expo, no entanto; a Feira dispunha, ainda, de um ecrã gigante, onde muita gente viu os jogos do não menos lendário Mundial de futebol de França, de um aquário de vida marinha (o famoso Oceanário) e de um espaço comercial adjacente, o famoso 'shopping' Vasco da Gama, ainda hoje existente e em franca concorrência com o pioneiro Colombo, situado no outro extremo da cidade.

De facto, são ainda hoje várias e de significativa monta as alterações trazidas pelo evento à cidade de Lisboa, a começar pelo espaço: ao contrário do que acontecera com a referida Expo '92, cujo terreno ainda hoje se encontra vago e sem utilização todos os edifícios e estruturas construídos para a exposição mundial portuguesa eram alvo de um pré-acordo de reaproveitamento no final da exposição, precisamente para evitar uma situação semelhante à do certame espanhol. O resultado foi o referido Parque das Nações, hoje a área escolhido por várias companhias para instalação das respectivas sedes (todas as operadoras móveis, por exemplo, lá 'residem') bem como a localização de infra-estruturas como a Gare do Oriente, importante pólo de transportes da zona, a Altice Arena (antes MEO Arena, antes ainda Pavilhão Atlântico e, durante a exposição, Pavilhão da Utopia), a 'realojada' Feira Internacional de Lisboa (vulgo FIL) ou os referidos Oceanário e Shopping Vasco da Gama; Vasco da Gama foi, também, o nome da nova ponte construída sobre o Tejo, entre a zona Oriente de Lisboa e o Montijo, e inaugurada com uma feijoada comunitária da qual algum dia aqui falaremos.

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O Parque das Nações, ainda hoje um dos principais pólos da cidade de Lisboa, foi um dos vários legados deixados pela Expo '98 na capital portuguesa.

Por fim, o simpático Gil continua 'vivo' na imaginação dos lisboetas como embaixador da Fundação com o seu nome, que apoia crianças em risco, encontrando-se a última das suas estátuas situada à entrada da respectiva Casa, situada no bairro de Alvalade, no centro de Lisboa. Uma influência, portanto, que transcendeu o próprio evento, mudando indelevelmente a 'face' e estrutura da capital portuguesa muito para lá do apoteótico e recordista espectáculo de fogo de artifício de 30 de Setembro de 1998 – o que é mais do que se pode dizer sobre o impacto da exposição de 1992 sobre a cidade de Sevilha.

A Expo '98 foi, pois – ou, pelo menos, pareceu a quem a visitou em idade mais 'influenciável', individualmente ou com a escola – um retumbante sucesso a todos os níveis, com tanto para ver e fazer que um só dia nunca chegava; de facto, o jovem médio português da época terá visitado a feira pelo menos duas a três vezes, por forma a experienciar tudo o que a mesma oferecia. As memórias, essas, perduram quase um quarto de século depois, não sendo de prever que este evento verdadeiramente único se venha, tão depressa, a apagar da memória colectiva nacional, para a qual ainda é (ou deveria ser) motivo de enorme orgulho.

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