Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
O ano de 1998 pode ser considerado como assinalando o verdadeiro 'despontar' de Leonardo DiCaprio enquanto actor de 'primeira linha' em Hollywood; embora o bem-parecido jovem já contasse, à época, com alguns papéis dignos de nota (alguns, inclusivamente, aclamados pela crítica, como o do irmão do Gilbert Grape de Johnny Depp no filme homónimo) foi em finais de 1997 que o actor verdadeiramente 'explodiu' na cena cinematográfica, com a conquista do papel principal no mega-sucesso 'Titanic', ainda hoje uma das maiores receitas de bilheteira da História do cinema moderno.
Este novo estatuto trazia consigo, no entanto, um novo desafio: o de escolher entre a vertente de carreira como ídolo juvenil e a que conduzia ao reconhecimento como actor 'a sério'. A solução encontrada pelo jovem foi a de assumir uma posição de compromisso, não hesitando em fazer uso da sua aparência física para 'vender' filmes mas, ao mesmo tempo, entregando-se a projectos algo mais desafiantes do que as típicas comédias românticas que o 'rival' pelas afeições das jovens da época, Brad Pitt, vinha ainda fazendo. O primeiro desses projectos, que completa este fim-de-semana de Páscoa vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, foi uma adaptação de um romance de Alexandre Dumas, onde DiCaprio encabeçava um elenco recheado de estrelas do calibre de Gérard Dépardieu, Jeremy Irons ou John Malkovich.
Tratava-se de 'O Homem da Máscara de Ferro', obra do relativamente desconhecido Randall Wallace que chegava às salas portuguesas a 10 de Abril de 1998, e que trazia DiCaprio no papel do mítico prisioneiro francês do reinado de Luís XIV, o qual se vê a braços com os quatro famosos mosqueteiros do 'Rei Sol', aqui já bastante envelhecidos e interpretados com maestria por Irons, Malkovich, Dépardieu e Gabriel Byrne. Para crédito de DiCaprio, o mesmo não faz má figura frente a estes mestres da representação, conseguindo manter bem distintos os papéis do prisioneiro (conhecido apenas como Philippe) e do próprio Rei, seu irmão gémeo secreto. O resultado é um filme que, apesar de relativamente mal recebido pela crítica à época do seu lançamento, continua a afirmar-se como uma obra de qualidade um quarto de século após o seu lançamento, e que tem o mérito indelével de ter destronado 'Titanic' do seu hegemónico reino de seis meses sobre as bilheteiras norte-americanas. tendo-se assim DiCaprio 'substituído' a si mesmo no lugar cimeiro da tabela. Título bem merecedor, portanto, da distinção que lhe prestamos neste vigésimo-quinto aniversário do seu lançamento em Portugal, e que continua a constituir uma excelente opção para uma tarde ou noite de cinema em família.
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Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
Uma das principais características de qualquer propriedade intelectual de sucesso é a sua eventual expansão para meios, contextos e géneros diferentes daquele em que se originou – e, destes, um dos primeiros a ser explorado é o da Sétima Arte. Apesar de o rácio de sucessos ser, ainda, algoinconstante, é, já, dado quase adquirido que qualquer produto cultural de sucesso, sobretudo entre os mais jovens, terá inevitavelmente direito a um filme.
Esta tendência está, aliás, longe de ser nova ou recente, podendo que a realização de filmes alusivos a propriedades intelectuais de sucesso ser traçada, pelo menos, até inícios da segunda metade do século XX; nos anos 60 e 70, por exemplo, já era prática comum transformar em longa-metragem tudo aquilo de que os mais jovens gostassem.
Não é, pois, de admirar que um herói tão popular na Europa como Astérix tenha sido alvo de inúmeras adaptações cinematográficas, a primeira das quais meros anos depois da sua criação, em 1956, estando a mais recente planeada para lançamento algures neste ano de 2022; menos surpreendente ainda é o facto de a fase de 'renascimento'dapopularidade do guerreiro gaulês ter, também ela, visto serem lançados novos filmes alusivos às suas aventuras. É, precisamente, desses títulos que falaremos nas próximas linhas.
Foram dois os filmes de Astérix estreados em Portugal na década a que este blog diz respeito, ainda que o primeiro dos dois filmes não pertence, tecnicamente, a essa década, tendo sido produzido ainda bem dentro da anterior, em 1985; no entanto, o habitual (à época) atraso na chegada de produtos mediáticos a Portugal fez com que os jovens lusos apenas pudessem desfrutar da nova aventura do herói em 1990 – CINCO ANOS após a estreia na sua França natal! Um intervalo de tempo exagerado mesmo para os padrões daquele final do século XX, e que fez com que Portugal fosse mesmo o último país a receber o filme nas suas salas de cinema, tendo o mesmo, inclusivamente, ficado disponível APÓS o seu sucessor, 'Astérix Entre os Bretões'; como diz o ditado, no entanto, 'mais vale tarde do que nunca', e a verdade é que os fãs do irredutível gaulês acabaram mesmo por poder deliciar-se com aquele que é uma excelente adição à filmografia do personagem de Goscinny e Uderzo.
A anos-luz dos seus antecessores em termos técnicos (ou não se tivesse passado quase uma década desde o seu antecessor mais próximo) e tirando proveito dos recursos disponíveis à época, 'Astérix e a Surpresa de César' é, de todos os filmes animados de Astérix e Obélix, aquele que mais se assemelha a uma verdadeira longa-metragem, contando inclusivamente com uma memorável cena de acção durante uma corrida de quadrigas no Coliseu romano, que rende a imagem mais icónica do filme, e ilustração do cartaz. Baseado no álbum 'Astérix Legionário', o filme vê o irredutível duo alistar-se nas legiões de César, como forma de salvar Falbala, a beldade da aldeia, e o seu garboso namorado, Tragicomix, após o casal ser capturado pelos romanos; fica, assim, dado o mote para uma hora e meia das habituais confusões, zaragatas e tiradas de humor sarcástico típicas da obra de Goscinny e Uderzo, num filme que só perde mesmo para o seu antecessor directo - o hilariante 'Os Doze Trabalhos de Astérix', de 1976 - no cômputo geral da filmografia do gaulês, e que ainda dá ao Mundo uma daquelas 'malhas' pop tão 'de época' como irresistíveis, sob a forma da contagiante 'Astérix Est Là', interpretada pelo excêntrico 'herói de culto' da música oitentista francesa, Plastic Bertrand. Em suma, um filme animado acima da média para a época – especialmente tratando-se de uma produção europeia, e como tal, de menor orçamento – e que ainda hoje deverá fazer as delícias de qualquer jovem fã das BD's de Astérix e Obélix.
O tema principal do filme é, no mínimo, contagiante.
O mesmo, infelizmente, não se pode dizer do OUTRO filme alusivo aos personagens, estreado na 'outra ponta' da década, em 1999 (mesmo ano de outros dois 'desastres' cinematográficos, 'Guerra nas Estrelas Episódio I' e 'Wild Wild West'); isto porque, apesar do 'casting' absolutamente PERFEITO (Gerard Dépardieu como Obélix é uma daquelas escolhas tão óbvias que se tornam quase inevitáveis) e da novidade de ver os heróis gauleses em 'carne e osso', 'Astérix e Obélix Contra César' salda-se como um mero aglomerado de cenas retiradas de diferentes álbuns de Astérix e 'coladas com cuspo' por um argumento que tenta, sem sucesso, fundir várias aventuras do gaulês, com destaque para 'O Adivinho' e – novamente – 'Astérix Legionário'.
O resultado é uma espécie de 'Homem-Aranha 3' em formato de comédia francesa, com Depardieu, Christian Clavier – também ele perfeito como Astérix – e Roberto Benigni a tentarem desesperadamente transformar o pobre argumento em algo minimamente divertido, sem nunca verdadeiramente o conseguirem. Assim, a melhor forma de encarar este filme é como um 'ensaio geral' para a segunda película 'live-action' dos gauleses, 'Astérix e Obélix: Missão Cleópatra', obra diametralmente oposta a 'Contra César' em termos de qualidade, e que tira o máximo proveito da química inegável que Depardieu e Clavier haviam começado a desenvolver no primeiro filme. Já os aldeões voltariam a ter destaque no também excelente 'Astérix e Obélix: Ao Serviço de Sua Majestade', que – esse sim! - consegue fundir elementos de diversas aventuras sem com isso perder a coesão. Quanto a 'Contra César', e mesmo dando o desconto de algumas 'dores de crescimento' derivadas de ser a primeira tentativa, o mesmo é sem dúvida o pior filme alusivo aos heróis de Goscinny e Uderzo de sempre, não chegando sequer à fasquia de qualidade do fraquíssimo 'Astérix o Gaulês', a primeira aventura animada do personagem, realizada nos anos 60.
Dois filmes, portanto, que surgem em extremos opostos da filmografia do herói, sendo um legitimamente bem conseguido, enquanto o outro apenas justifica o visionamento na perspectiva 'tão mau que é bom'. Quanto à carreira cinematográfica de Astérix e Obélix, a mesma continua de vento em popa (mesmo depois dos problemas de Depardieu com o fisco francês) sendo de esperar que continuem a surgir novas aventuras (reais ou animadas) do duo em anos vindouros.