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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Ao longo dos tempos, poucos são os desportistas que merecem o rótulo de 'génios'; nomes como Messi, Ronaldo, Figo, Maradona ou Pelé aparecem, no máximo, uma ou duas vezes por geração. No entanto, o patamar logo abaixo está repleto de atletas que, sem serem foras-de-série, se afirmam como muito acima da média, e conseguem construir carreiras a condizer. No caso do futebol português, um desses atletas é o homem de quem falamos neste post, no fim-de-semana em que acaba de completar cinquenta e dois anos de idade.

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JVP na Selecção

Natural do Porto, seria, no entanto, na capital portuguesa que João Manuel Vieira Pinto viria a fazer carreira, afirmando-se, em momentos distintos, como uma das principais figuras dos dois 'grandes' lisboetas - de facto, um dos aspectos mais curiosos da sua carreira é o facto de o único 'grande' a nunca ter representado ser o da sua cidade-natal, que o recusou aquando de um treino de captação, ainda em idade de formação. Foi, pois, no outro grande clube da cidade, que o jovem médio-ofensivo - descrito pelo seleccionador nacional de sub-20, Carlos Queiroz, como 'loirinho e magrinho' - se começou pela primeira vez a destacar pelo seu fino toque de bola e qualidade de passe, corriam ainda os últimos anos da década de 80.

Com apenas dezassete anos, é natural que o jovem não 'pegasse imediatamente de estaca' na equipa do Boavista, mas ainda assim, os dezassete jogos que realizou pela formação axadrezada (marcando quatro golos) foram suficientes para que o mundo futebolístico internacional pusesse os olhos naquele jovem mais do que promissor - especialmente depois de este ter sido peça fulcral na conquista do bi-campeonato do Mundo sub-20 por parte da Geração de Ouro, em 1989 e 1991.

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No estádio que o consagraria, ao serviço da Selecção de sub-20, em 1991.

Aquando desta segunda conquista, aliás, o jovem gozava já de experiência internacional, enquanto parte da equipa de reservas do 'gigante' Atlético de Madrid, pela qal realizaria trinta jogos durante a primeira época completa dos anos 90, contribuindo com nove golos. Sem espaço nos 'colchoneros', o jovem seria, no entanto, 'devolvido à precedência' na temporada seguinte, que passaria a reafirmar-se como estrela do clube que o revelara, que ajudaria mesmo a conquistar a Taça de Portugal de 1991-92, contra o rival nortenho que, em tempos, o havia rejeitado. Previsivelmente, as suas exibições ao longo da referida temporada não tardaram a atrair novamente a atenção de um clube maior, mas, desta vez, a proposta veio de 'dentro de portas' - concretamente, do Benfica, clube com o qual ficaria associado durante a meia década seguinte.

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Durante a breve passagem pelo Atlético de Madrid, em inícios da década de 90

De facto, foi nos 'encarnados' de Lisboa que João Vieira Pinto verdadeiramente atingiu e cimentou o estatuto histórico de que gozou durante os últimos anos do século XX. Mesmo após um 'susto' que quase ameaçou terminar-lhe com a carreira (um pneumotórax contraído durante um jogo de qualificação para o Mundial de 1994) o eterno 'Menino de Ouro' benfiquista continuou a afirmar-se, época após época, como um dos melhores jogadores portugueses da sua geração, atingindo o estatuto de capitão e referência da equipa, bem como de ídolo incontestado dos adeptos. No total, foram mais de duzentos e vinte os jogos de 'JVP' de águia ao peito, entre os quais se contam exibições tão históricas quanto a do famoso 'derby' lisboeta de 1994, em que dizimou quase por si só o eterno rival do Benfica. Tal era a importância do '8' para o jogo dos encarnados, aliás, que o mesmo viria, inclusivamente, a assinar um contrato vitalício com o clube, em finais da década, já depois de ter sido um dos poucos pontos altos 'daquela' equipa orientada por Graeme Souness.

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Com a camisola que o tornaria famoso.

Tendo tudo isto em conta, terá sido com pasmo, choque e até fúria justificada que os adeptos benfiquistas viram o seu símbolo ser, na 'virada' do Milénio, dispensado a custo zero pelo então presidente Vale e Azevedo, e prontamente realizar a viagem até ao outro lado da Segunda Circular para reforçar o rival - isto já depois de ter sido, enquanto jogador livre, uma das figuras da honrosa campanha portuguesa no Euro 2000.

O crucial golo que cimentou a vitória de Portugal sobre a Inglaterra, no Euro 2000.

Para piorar ainda mais a situação, na sua segunda época de verde e branco, João Pinto conseguiria o feito que sempre lhe escapara em seis anos de Benfica, sagrando-se Campeão Nacional de 2001-2002, naquele que seria o segundo título do Sporting em três épocas. Seguiram-se mais duas épocas, sempre como figura fulcral dos 'Leões', pelos quais realizaria cerca de cento e quinze jogos, marcando quase seis dezenas e meia de golos e servindo como 'assistente' para nomes como Mário Jardel, Marius Niculae e até um jovem extremo madeirense de talento fora do vulgar, de nome próprio Cristiano...

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Ao serviço do Sporting.

Este 'segundo estado de graça' de João Pinto não ficou, no entanto, imune a algumas controvérsias - a maior das quais custaria a Portugal uma vitória importante no Mundial de 2002, na Coreia e Japão, palco do famoso murro de JVP ao árbitro espanhol Ángel Sánchez, após o mesmo lhe ter mostrado o cartão vermelho, que resultaria na suspensão do avançado de jogos internacionais por um período de seis meses. Também bem conhecida era a sua animosidade em relação a Paulinho Santos - a qual era, aliás, reciprocada pelo belicoso ícone da fase 'sarrafeira' do Futebol Clube do Porto.

O momento que terminaria a carreira internacional de João Pinto.

Estes incidentes não deixaram de afectar mentalmente o jogador que, após o término da carreira internacional e duas épocas medianas no Sporting, se veria novamente na condição de jogador livre, e de volta a 'casa', envergando pela terceira vez a camisola axadrezada, desta vez enquanto jogador experiente e 'patrão' da equipa. Esta terceira incursão de Pinto pelo clube que o revelara saldar-se-ia em pouco menos de setenta jogos em duas épocas, com mais onze golos a juntar ao seu pecúlio pessoal.

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No regresso ao Boavista.

Seria um fim de carreira digno para um dos pilares da 'Geração de Ouro', no clube que o ajudara a lançar, mas JVP optaria por realizar, ainda, mais uma época ao mais alto nível, ao serviço do Sporting de Braga, onde viria a encerrar definitivamente actividades após uma época e meia como titular quase indiscutível.

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No Braga.

Apesar de ainda ter realizado testes junto do Toronto FC, clube canadiano então na Major League Soccer, o eterno '8' da Selecção viria mesmo a 'pendurar as botas' em Fevereiro de 2008, transitando mais tarde para cargos de dirigente no seio da Federação Portuguesa de Futebol. Não terminava aí, no entanto, o legado da família Pinto no mundo do futebol, já que o jogador deixava um 'herdeiro', Tiago, defesa-esquerdo formado no Sporting e que continua a prosseguir uma carreira honrosa até aos dias de hoje, jogando actualmente pelo Ankaragucu, da Turquia.

Quanto ao pai, uma análise global à sua carreira deixa a imagem de um jogador que, sem nunca ter vingado a nível internacional ou mundial, não deixou de ter uma carreira extraordinária 'dentro de portas' e enquanto esteio da Selecção Nacional, reunindo muitas vezes o consenso até junto de adeptos rivais dos clubes que representava - entre eles este que vos escreve, nos tempos em que o médio ofensivo actuava no Benfica. Fica aqui, pois, a nossa singela e sentida homenagem a um dos melhores jogadores que tivemos o prazer de ver jogar; parabéns, JVP, e obrigado por tudo.

Talvez o momento áureo da carreira de João Pinto.

06.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A figura é familiar para qualquer adepto que tenha acompanhado os Campeonatos Nacionais de futebol de inícios da década de 90, e também para quem tenha tido interesse no campeonato italiano da segunda metade da mesma década e inícios da seguinte: um 'centralão' de expressão plácida e cabelo à 'roqueiro' dos anos 80, que, assim soava o apito, se tornava verdadeiramente intratável, servindo como esteio defensivo não só dos clubes por onde passou como também da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro', com a qual participou em três Campeonatos Europeus (em 1996, 2000 e 2004) e um Mundial, de má memória, em 2002. Falamos, claro está, de Fernando Manuel Silva Couto, autêntica 'lenda' do FC Porto que, ao lado de nomes como Jorge Costa e Aloísio, garantia solidez no sector mais recuado dos 'Dragões' de inícios da década.

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Fernando Couto, ainda adolescente, com a camisola que o notabilizaria.

O que poucos saberão (ou se recordarão) é que Fernando Couto não ficou imune ao habitual processo de empréstimos comum a quase todos os jovens jogadores de um clube 'grande'. Apesar de se ter destacado o suficiente nas camadas jovens do Espinho e Lusitânia de Lourosa para despertar o interesse do Porto, e de ter sido, por uma vez, aposta 'de banco' de Tomislav Ivic na época 1987-88 (ainda em idade de júnior), o jovem Fernando rapidamente se veria 'enviado' para outras paragens, como forma de amadurecer e desenvolver o seu promissor futebol. Ou seja, até um jogador tão famoso e talentoso como Fernando Couto foi, a dado ponto da sua carreira, uma Cara (Des)conhecida em clubes menores do panorama futebolístico nacional.

No caso do central, foram duas as 'paragens' nesta fase da sua carreira, com resultados diametralmente opostos; no Famalicão, realizaria apenas uma partida durante a época 1988-89 (algo que não o impediu de alinhar ao lado de nomes como Rui Costa e João Vieira Pinto no Campeonato do Mundo de sub-20, em Riade, que Portugal viria mesmo a conquistar), enquanto que na Académica, seria figura importante, alinhando em vinte e quatro partidas e contribuindo mesmo com dois golos no decurso da época 1989-90, na qual amealhou também sete presenças na Selecção Nacional Sub-21. Pode, pois, dizer-se que foi enquanto membro do plantel dos 'Estudantes' que Couto verdadeiramente se afirmou como um talento a ter em conta – algo que não passou despercebido aos responsáveis do Futebol Clube do Porto, que o reintegrariam no plantel no início da época seguinte, desta vez de forma permanente.

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O jogador na Académica, ao lado de Abel Silva, seu companheiro na Selecção Sub-20 que conquistara o Mundial de Riade no Verão de 1989.

O resto da história é bem conhecido: quatro épocas de alto nível ao serviço do Porto, coroadas com seis títulos, que o tornariam peça indiscutível da Selecção Nacional portuguesa levariam à mudança para o campeonato italiano, onde faria mais uma excelente época ao serviço do Parma, ajudando à conquista da Taça UEFA por parte dos italianos. Na segunda época, teria menos proeminência, mas faria, ainda assim, o bastante para assegurar um contrato com o Barcelona de Romário, onde faria mais uma época de alto nível e (apesar de menos utilizado após a chegada de Louis Van Gaal) adicionaria uma Taça dos Vencedores das Taças ao seu palmarés, em 1996-97.

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Couto no Barcelona.

Na época seguinte, dar-se-ia a maior mudança da sua carreira, no caso o regresso ao Calcio para ser ídolo da Lazio, clube com o qual é mais frequentemente associado e onde permaneceria até ao final da época 2003-04, criando uma relação com clube e adeptos que apenas uma disputa salarial viria a quebrar.

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Na Lazio, onde passou a maior parcela da sua carreira e onde se tornou ídolo dos adeptos.

O resultado desse desentendimento seria um regresso ao Parma, onde, aos trinta e cinco anos, Couto provaria que ainda tinha muito para dar ao futebol, realizando mais duas épocas de grande nível antes de 'perder gás' na terceira, a de 2007-08, que acabaria também por ser a sua última,depois de já se ter 'despedido' da Selecção quatro anos antes, após ter 'passado o testemunho' a Ricardo Carvalho durante o Euro 2004. Uma saída em alta, portanto, para um dos mais históricos jogadores portugueses de sempre – e que torna ainda mais difícil acreditar que, em tempos, o mesmo tenha andado 'perdido' em empréstimos por esse Portugal afora.

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Com a camisola do Parma.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos futebolistas que abordamos nesta rubrica, Fernando Couto nunca escolheu enveredar pela carreira de treinador, preferindo ser recordado, acima de tudo, pelo seu legado em campo – algo que procurámos, precisamente, fazer nas breves linhas deste 'post', como forma de homenagear um dos melhores defesas centrais portugueses de sempre na semana em que completou cinquenta e quatro anos. Parabéns, Fernando, e obrigado por tudo.

04.12.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa altura em que um treinador português é notícia no seu país natal por ter batido a selecção do mesmo, num jogo em que esta era favorita, nada melhor do que recordar os anos mais 'obscuros' da sua carreira de futebolista.

Falamos, é claro, de Paulo Jorge Gomes Bento, hoje seleccionador da Coreia do Sul, mas mais conhecido por ter treinado o Sporting Clube de Portugal durante alguns dos seus melhores anos no início do Milénio, altura em que se notabilizou pela sua peculiar cadência ao falar em conferências de imprensa. Muito antes disso, no entanto – uma década antes, para ser mais preciso – já o lisboeta se havia notabilizado dentro dos relvados, como peça importante das estratégias de ambos os rivais de Lisboa durante os anos 90 e inícios de 2000.

O que muitos adeptos menos atentos tendem a esquecer, no entanto, é que, muito antes de envergar a águia benfiquista ou o leão do Sporting, Paulo Bento já se havia destacado numa série de equipas de menor dimensão, entre elas dois históricos das divisões profissionais portuguesas: o Estrela da Amadora, por quem alinhou nas duas primeiras épocas da década de 90, realizando um total de trinta e sete partidas e celebrando a conquista de uma Taça de Portugal, e o Vitória de Guimarães, onde passou três anos (vários deles ao lado do também futuro 'seleccionável' e seu colega nos 'leões', Pedro Barbosa) e onde foi peça fulcral, realizando perto de cem partidas e contribuindo com treze golos – presumivelmente, o tipo de desempenho que terá chamado a atenção do clube da Luz, para onde se transferia no início da época 1994-95 (a tempo de participar 'naquele' derby) e da Selecção Nacional do início da fase Geração de Ouro, pela qual realizaria os primeiros jogos logo em 1992. Para trás ficava, ainda, o Futebol Benfica, outro histórico do futebol luso, onde Bento faria a primeira época como sénior (após passar os anos formativos no extinto Académico de Alvalade e ainda no Palmense) realizando vinte partidas e marcando dois golos.

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O jogador ao serviço de Estrela da Amadora e Guimarães, as duas equipas onde se notabilizou

Apesar do início auspicioso, no entanto, pode dizer-se que foi após a passagem para o Benfica que a carreira de Paulo Bento verdadeiramente 'descolou', tendo o médio defensivo ganho lugar preponderante (embora não cativo) na 'águia' de meados da década, realizando perto de cinquenta jogos e marcando dois golos antes de 'agarrar' a oportunidade internacional oferecida pelo Oviedo. No total, foram quatro épocas no país vizinho, durante as quais o português se afirmou como peça fulcral da equipa espanhola, realizando mais de cento e trinta jogos e marcando quatro golos ao longo da sua estadia na La Liga.

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Bento nos tempos do Benfica e Oviedo, respectivamente

Assim, foi sem surpresas que os adeptos portugueses (e a sua Lisboa natal) acolheram de volta o médio, pouco depois da viragem do Milénio, e agora do outro lado da Segunda Circular lisboeta, onde realizaria quatro épocas de verde e branco, uma das quais veria o clube lisboeta conseguir o seu segundo título em três temporadas, e atingir uma histórica 'dobradinha' sob a alçada do romeno Lazlo Boloni.

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O médio nos 'leões'.

Alvalade continuaria, aliás, a ser a 'casa' do médio mesmo depois de 'penduradas as botas' em 2004, tendo Bento transitado directamente para as funções de treinador da equipa de juniores leonina e, uma época depois, da equipa principal, função que desempenharia durante quatro anos, sempre com resultados extremamente consistentes; assim, e apesar dos atritos que marcaram o final da sua estadia em Alvalade, o treinador continua a ser tido como um dos melhores a passar pelo Sporting nas últimas décadas, a par de Boloni, Augusto Inácio ou Jorge Jesus.

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Bento na transição para treinador, ao serviço do Sporting.

Após a saída do Sporting, a carreira de treinador de Bento daria o 'salto' máximo, vindo o mesmo a ser contratado para o cargo de seleccionador nacional português, que assumiu durante a fase de preparação para o Euro 2012 e que viria a deixar seis anos depois, logo no início da qualificação para o Euro 2016. Após este revés, o português tornar-se-ia um de muitos a explorar as oportunidades oferecidas pelo campeonato brasileiro (o chamado Brasileirão), tomando as rédeas do Cruzeiro – cargo que viria a ocupar apenas por alguns meses, antes de regressar à Europa para treinar o Olimpiacos da época 2016-17. A temporada seguinte vê-lo-ia rumar à China, para treinar o Chongqing Lifang, da liga chinesa (outro destino habitual para treinadores portugueses) antes de ser convidado a treinar a Coreia do Sul, selecção que comanda desde 2018 e com quem agora faz História no Mundial do Qatar. Apenas mais um ponto alto numa carreira recheada deles, e que pode parecer quase inacreditável ter começado num clube como o Futebol Benfica, e que faz do médio uma das mais notáveis Caras (Des)conhecidas do futebol português...

22.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 21 de Agosto de 2022.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

Apesar de o mundo do futebol ser dos que mais exalta os seus 'craques', nem todos os jogadores mais memoráveis da História do desporto-rei foram, necessariamente, sobredotados ou prodígios de talento; muitos deles destacaram-se por outras qualidades, como a raça, a entrega, a dedicação a um determinado clube, a aparência bizarra ou original, ou simplesmente a longevidade no seio de uma determinada liga. O homem de quem vamos, nas próximas linhas, traçar um esboço de carreira faz, precisamente, parte deste segundo lote - apesar de ter chegado a ser internacional portuguêm em plena era da Geração de Ouro e a jogar no Real Madrid, dificilmente será recordado como um portento técnico; quaisquer memórias positivas a ele associadas terão, precisamente, a ver com os factores acima elencados, em particular a sua dedicação a um clube específico do campeonato português.

Falamos de Carlos Secretário, eterno defesa-direito do FC Porto da fase hegemónica, e que dedicou ao emblema nortenho nove das suas quinze épocas como profissional de futebol - mais de metade do total da sua carreira - apenas entrecortadas por uma passagem algo 'desastrada' pelo referido Real Madrid, por quem não conseguiu almejar mais do que treze jogos antes de voltar à 'casa de partida', para mais seis épocas. Conforme é apanágio desta secção, no entanto, não é nessas épocas ao mais alto nível que nos focaremos; pelo contrário, neste post, contaremos a história futebolística de Secretário enquanto foi uma Cara (Des)conhecida do panorama desportivo português.

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O defesa ao serviço da Selecção das Quinas, em 1999

Nascido em S. João da Madeira a 12 de Maio de 1970, foi, com naturalidade, no clube local que o jovem Secretário iniciou a sua formação futebolística, já relativamente tarde, aos 14 anos; os quatro anos que mediariam até à sua estreia como sénior veriam, ainda, o lateral passar pelas academias de Sporting e Porto, iniciando-se aí, aos dezassete anos, a relação do atleta com a agremiação azul e branca. A estreia como profissional, no entanto, dar-se-ia não no seio do clube das Antas, mas (ainda) mais a Norte, em Barcelos, onde um Secretário de apenas dezoito anos amealharia vinte e nove jogos e dois golos ao serviço do clube local, o Gil Vicente.

De Barcelos, o atleta rumaria, na época seguinte, a Penafiel, onde permaneceria por duas épocas, afirmando-se como presença quase indiscutível na equipa; no total, foram sessenta e quatro jogos com a camisola dos penafidelenses, com mais dois golos a juntar à conta pessoal do defesa. Nas duas épocas seguintes, ao serviço do Famalicão e Braga, respectivamente, o defesa conseguiria a proeza de totalizar números exactamente iguais, terminando cada uma das épocas com exactamente trinta e uma exibições e...dois golos!

Seria aqui, no final da época 1992-93 (e já como internacional sub-21 por Portugal) que Secretário chegaria, finalmente, à sua casa (quase) definitiva, onde viria a 'morar' por duas vezes: primeiro entre 1993 e 1996, contabilizando 86 jogos e mantendo a sua média de dois golos por época (num total de seis) e depois entre 1998 e 2004, período durante o qual alinharia praticamente cento e trinta vezes pelo clube das Antas, ainda que sem qualquer golo. Pelo meio, ficavam a referida (e azarada) passagem pelo campeonato espanhol, e umas nada despiciendas trinta e cinco internacionalizações AA, com duas competições internacionais disputadas ao serviço das Quinas (os Campeonatos Europeus de 1996 e 2000) e um golo marcado.

Apesar do seu longo e honroso vínculo ao FC Porto, no entanto, não seria nas Antas que Secretário viria a terminar carreira; ao invés, a última época do futebolista seria disputada ao serviço do Maia, tendo o lateral alinhado por vinte e quatro vezes com a camisola do clube dos arredores do Porto. Seria, aliás, também no Maia que Secretário iniciaria a sua nova carreira, a de treinador, que o veria passar por diversos clubes amadores e semi-profissionais dos campeonatos português (Lousada, Arouca, Salgueiros 08 e Cesarense) e francês (Lusitanos Saint-Maur e Créteil Lusitanos, clube que actualmente orienta); e apesar de não ter tanto 'brilho' como a sua carreira de jogador, esta nova etapa do ex-internacional português não deixa de ser honrada e honrosa, merecendo tanto respeito quanto foi atribuído à sua profissão passada. Numa altura em que o ex-defesa enfrenta problemas de saúde - tendo, por esse motivo, sido homenageado no último 'derby' entre Sporting e Porto - não queríamos, pois, deixar de homenagear o ex-atleta, a quem enviamos também votos de rápidas melhoras, e de que a carreira de treinador venha a ser tão notável como a de jogador profissional.

07.08.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

Há duas semanas, falámos aqui de Aloísio, lenda do Futebol Clube do Porto; pois bem, o brasileiro teve participação activa num evento que, por lapso, acabámos por não abordar no final da época futebolística passada, mas que, pelo seu carácter histórico, merece que esse erro seja rectificado – o inédito (e ainda hoje recordista) pentacampeonato conquistado pelo Futebol Clube do Porto há pouco mais de vinte e três anos, no final da última época completa do século XX.

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Corolário da fase hegemónica que o clube do Norte vivera durante a década de 90 (embora anos vindouros viessem a revelar que tal domínio se devia a mais que apenas qualidade dentro das quatro linhas) o 'penta' do Porto veio, conforme acima referimos, estabelecer um novo recorde de conquistas de campeonatos, destronando o tetracampeonato conquistado pelo Sporting durante os anos 50, e que se mantivera intacto durante quase cinco décadas; curiosamente, seria também o Sporting a impedir o Porto de expandir ainda mais este recorde, com a conquista do seu primeiro campeonato em dezoito anos, logo na década seguinte. Nada que minimize ou trivialize o recorde do Porto, o qual se mantém vigente até aos dias de hoje.

Orientada pelo hoje Seleccionador Nacional e ainda 'engenheiro do penta', Fernando Santos, a equipa pentacampeã pelo Futebol Clube do Porto centrava-se (como, aliás, as quatro anteriores) numa das figuras maiores do desporto-rei em Portugal – Mário Jardel, avançado famosamente prolífico e que, nesta época, estabeleceria o primeiro de três recordes pessoais de golos por época, o último dos quais (42 golos, pelo Sporting, na época 2001/2002) ainda hoje vigente; no caso da época do 'penta', seriam 36 os golos na conta pessoal do avançado, cujo prodigioso e mortífero jogo aéreo chegou, à época, a inspirar estribilhos de Rui Veloso e Carlos Tê.

Como qualquer adepto certamente saberá, no entanto, mesmo o melhor jogador, sozinho, dificilmente faz milagres, pelo que não chegava ao Porto ter um Jardel na frente – era necessário construir uma equipa forte de uma ponta à outra; felizmente para os nortenhos, Fernando Santos tinha matéria-prima de primeira qualidade à disposição, contando 'aquela' equipa do Porto com o com nomes instantaneamente reconhecíveis para qualquer adepto da altura, muitos já com largos anos de 'casa' e parte integrante da chamada Geração de Ouro do futebol português - casos de Vítor Baía (ainda a alguns anos de dar hipóteses a qualquer concorrente), Jorge Costa, Paulinho Santos, Secretário, Peixe ou Capucho - que dividiam espaço no balneário com os não menos marcantes Chippo, João Manuel Pinto, Doriva, Deco, Panduru, Rui Barros, Folha, Fehér (ainda longe da tragédia que acabaria com a sua promissora carreira) e Mielcarski, além da eterna dupla Zahovic/Drulovic, do referido Aloísio e de um jovem central de 21 anos, com enorme margem de progressão, chamado Ricardo Carvalho.

É claro que até as melhores equipas não podem deixar de ter aqueles jogadores que se podem considerar – no mínimo – estar no sítio certo no momento certo, e este Porto não era excepção, com elementos como Quinzinho, Chaínho (uma daquelas contratações aos 'pequenos' que acabam por não se afirmar) Butorovic ou o lendário Esquerdinha a serem bafejados pela sorte; no entanto, estas acabavam por ser excepções à norma numa equipa com um nível médio impressionante, cuja vantagem de seis pontos sobre o segundo classificado, o então 'quarto grande' Boavista, indica que, mesmo sem os hoje famosos 'jogos de bastidores', os nortenhos teriam sido perfeitamente capazes de revalidar o título por mais um ano.

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A parte mais negativa da época? Este 'magnífico' equipamento alternativo...

Mesmo com os factos que viriam à luz em épocas subsequentes, no entanto, o pentacampeonato do Futebol Clube do Porto não deixa de ser uma marca bonita e honrosa, que ajudou o clube a fechar em grande não só a década de 90, como o século XX e o Segundo Milénio, e serviu de trampolim para futuras aventuras hegemónicas na Europa, sob o comando de José Mourinho – motivos mais que suficientes para que façamos dela o tema de mais um Domingo Desportivo.

12.06.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

De entre os muitos nomes sonantes a alinhar pela equipa do Sporting Clube de Portugal durante as décadas de 90 e 2000, um em particular consegue a proeza de reunir o respeito e consenso dos adeptos e de, ao mesmo tempo, ser muito menos discutido ou mesmo mencionado do que a maioria dos seus colegas ao longo dos dez (!) anos que passou de leão ao peito, mesmo tendo-se sagrado campeão por duas vezes ao longo desse período, e envergado a braçadeira de capitão durante muitas dessas temporadas.

Falamos, é claro, de Pedro Alexandre dos Santos Barbosa – vulgarmente conhecido apenas pelo primeiro e último nome – o 'falso lento' de farripas sobre a testa que dinamizou a ala esquerda do ataque dos 'leões' durante uma das suas melhores fases, sem nunca parecer sair da 'primeira velocidade'. Um ícone do Sporting Clube de Portugal (onde, aliás, terminou carreira, vindo, em épocas subsequentes, a tornar-se director desportivo) o médio-esquerdo contabilizou, ao longo do seu tempo no clube lisboeta, mais de trezentos jogos, tendo contribuído com 41 golos e sido pedra basilar dos dois títulos conquistados pelo clube nos primeiros anos do novo milénio – uma marca que, aliada à genuína dedicação que sempre mostrou ao clube, lhe valeram o referido estatuto entre os adeptos.

O que muitos desses mesmos adeptos não saberão – ou não se lembrarão – é que, antes de chegar ao Sporting, Pedro Barbosa havia já sido peça basilar de outros dois clubes, um dos quais um 'histórico' da Primeira Divisão portuguesa. De facto, após completar a formação na Academia do Futebol Clube do Porto, o natural de Gondomar iniciaria a sua carreira sénior ao serviço do Freamunde, então na chamada II Divisão de Honra, clube pelo qual alinharia por duas épocas (de 1989 a 1991), totalizando 55 partidas e 13 golos.

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Pedro, como era então conhecido (terceiro a contar da esquerda na fila de cima) ao serviço do Freamunde

Números bem interessantes para um jovem nos seus primeiros anos de sénior, e que lhe valeriam, no inicio da época 1991/92, o 'salto' para a Primeira Divisão do futebol nacional, para representar o Vitória de Guimarães, pelo qual faria, com apenas vinte e um anos, o primeiro dos mais de cem jogos que contabilizaria pelo clube da cidade-berço ao longo de quatro épocas, marcando ainda vinte golos.

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O médio ao serviço do Guimarães

As suas boas prestações, e a importância que assumia no jogo da equipa alvinegra, despertaram o interesse do 'grande' de Lisboa, que o contrataria no início da época de 1995/96...e o resto é história, já relatada no início deste 'post'; dez anos como titular quase indiscutivel do clube de Alvalade, ao longo dos quais conseguiria ainda contabilizar vinte e duas internacionalizações, embora apenas como 'coadjuvante' das verdadeiras 'estrelas' da Geração de Ouro em competições como o Euro 96 e o malfadado Mundial da Coreia/Japão, em 2002.

Em suma, apesar de o seu nome ficar indelevelmente ligado ao Sporting Clube de Portugal, até mesmo Pedro Barbosa chegou, em tempos, a ser uma 'Cara (Des)conhecida', apenas mais um jovem promissor que facilmente se poderia ter perdido nos meandros dos campeonatos profissionais da altura; o facto de ter conseguido (e merecido) atingir o auge de carreira de que desfrutou não deixa de ser um testamento, não só ao seu talento, mas à atitude consumadamente profissional que demonstrava, e que fez (e faz) dele um dos grandes nomes do futebol português moderno.

27.03.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

O que têm em comum nomes como João Vieira Pinto, Nuno Gomes, Ricardo ou Bosingwa? Para além de terem sido alguns dos melhores jogadores nacionais de finais do século XX e inícios do XXI, todos eles emergiram do mesmo clube, um verdadeiro 'viveiro de talentos' durante a última década do Segundo Milénio: o Boavista.

Sim, o Boavista – o histórico 'segundo grande' da cidade do Porto que - antes de produzir um dos primeiros choques desportivos do novo milénio ao vencer, de forma totalmente inesperada, o Campeonato Nacional da Primeira Divisão, na primeira época completa do século XXI – se afirmava como 'incubadora' de jovens futebolistas talentosos, que se 'mostravam' na equipa principal antes de, invariavelmente, partirem para mais altos vôos.

Destes, talvez o mais notável tenha sido um jovem loiro e de baixa estatura, descrito pelo então Seleccionador Nacional sub-20, Carlos Queiroz, como tímido e de falas mansas, mas que dentro de campo se afirmava como um líder, graças à sua técnica apurada, raça, classe e talento.

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João Pinto, aqui ao serviço do clube pelo qual se celebrizou

Falamos, claro, de João Vieira Pinto, cujas duas primeiras passagens pela equipa principal do clube onde se formara (em 1988-89, ainda com idade júnior, e novamente em 1991-92, já depois da revalidação do título mundial de sub-20 e de uma bem-sucedida temporada em Espanha) se saldaram num total de 51 jogos e 12 golos – números bem distantes dos que viria a conseguir mais tarde, enquanto estrela absoluta e campeão por ambos os rivais da capital, mas já indicativos do talento que 'morava' naquele corpo franzino. Melhor, mesmo após a afirmação, JVP nunca esqueceu as suas origens, regressando uma terceira vez ao Boavista, já em final de carreira, mas ainda a tempo de fazer duas épocas em grande nível, contribuindo com 57 jogos e 11 golos, uma marca muito semelhante às que conseguira enquanto jovem talento dos axadrezados. E embora não tenha terminado carreira na casa que o viu nascer (foi mais acima, em Braga) o talentoso avançado continua, ainda assim, a merecer o seu estatuto como lenda do clube nortenho.

Mas embora João Pinto seja a 'estrela' mais imediatamente associada ao Boavista, existiu outro nome cuja carreira rivaliza com a do franzino criativo, tendo partido da mesma casa-mãe: Nuno Miguel Soares Pereira Ribeiro, mundialmente conhecido pelo seu apelido-alcunha, Nuno Gomes.

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Tendo, como JVP, feito a sua formação no clube axadrezado, o avançado chegou a alinhar na equipa principal do clube do Bessa durante três épocas – nas quais participou em 79 jogos, marcando 23 golos – antes de chamar a atenção do Benfica, clube com o qual é inevitavelmente (e merecidamente) associado, e do qual se tornaria histórico. Pelos encarnados, foram quase 300 partidas ao longo de 12 épocas (divididas em duas passagens, separadas por uma aventura de duas épocas em Itália, ao serviço da Fiorentina) que lhe valeriam lugar cativo na Selecção Nacional portuguesa, pela qual marcou golos importantes e memoráveis em competições como o Euro 2000 (cinco golos, incluindo um 'bis' à Turquia e o golo da confirmação da 'remontada' e vitória contra a Inglaterra) ou Euro 2004, onde marcou o golo da vitória sobre a Espanha. E embora a sua carreira tenha terminado de forma discreta – com passagens por Braga e Inglaterra, no Blackburn Rovers – é difícil negar a Nuno Gomes o estatuto de segundo maior nome alguma vez saído das escolas do Boavista.

E se os dois primeiros dessa restrita lista são avançados, o terceiro joga no extremo exactamente oposto do campo – à baliza.

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Já terão adivinhado tratar-se de Ricardo, o futuro guarda-redes titular do Sporting e da Selecção Nacional, que começou a carreira profissional como suplente do eterno William Andem, histórico máximo do clube durante a década de 90, com quem se bateria pela titularidade durante as sete épocas seguintes. E apesar de William ser o nome mais associado com a baliza do Boavista durante o referido período, seria com Ricardo entre os postes que a agremiação do Bessa conquistaria o referido campeonato, em 2000-2001.

O resto da história é bem conhecido, tendo o atleta cuja carreira se iniciara no modesto Montijo granjeado um lugar na mesma Selecção Nacional onde figuravam Nuno Gomes e João Vieira Pinto, bem como uma transferência para os 'leões' de Lisboa, ao serviço dos quais disputaria quase 120 partidas, ao longo de quatro anos. Do Sporting, saiu para o Betis, onde apenas se conseguiu afirmar na primeira das três épocas que passou com o clube, naquilo que se pode considerar uma aposta, infelizmente, gorada; a partir desse ponto, a carreira do guardião entrou em ciclo descendente, tendo terminado de forma ainda mais discreta que a de Nuno Gomes, com passagens anónimas pelo Leicester City, de Inglaterra, Vitória de Setúbal e Olhanense, onde viria a 'pendurar as botas' em 2014, tendo já granjeado um merecido estatuto como um dos melhores guardiões portugueses da era moderna, e mais um talento a emergir do relvado do Bessa.

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Já no novo milénio, o Boavista veria, ainda, um último produto das suas escolas noventistas despontar para o mundo do futebol: José Bosingwa, lateral-direito que se viria a tornar indiscutível do 'vizinho' FC Porto, bem como da Selecção Nacional pós-Geração de Ouro, antes de emigrar para o estrangeiro, primeiro para Inglaterra (onde continuaria a brilhar de azul, e sob a tutela de José Mourinho, agora ao serviço do Chelsea), depois para a Escócia, para representar o Q. P. R., e finalmente para a Turquia, onde terminaria a carreira após três épocas no Trabzonspor. E embora a sua passagem pelo clube axadrezado tenha sido bem mais discreta do que a dos nomes anteriormente mencionados, o lateral merece, ainda assim, uma referência quando o assunto são talentos saídos da 'fábrica' do Bessa durante a década de 90.

E embora a hegemonia do Boavista neste particular não tenha sobrevivido à viragem do milénio, uma coisa é certa: o clube axadrezado pode, com toda a legitimidade, gabar-se de ter, durante os últimos anos do século XX, produzido e oferecido ao futebol mundial um naipe de grandes nomes, que honrarariam subsequentemente o nome do seu clube formador numa miríade de grandes palcos, tanto nacionais como internacionais.

16.01.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Um dos maiores paradoxos do futebol, quer actualmente quer em décadas transactas, prende-se com o facto de, por vezes, jogadores que se revelam como talentos invulgares terem de passar incontáveis temporadas em situação de empréstimo durante os seus anos formativos. É claro que, por vezes, existem nomes que contrariam esta tendência, principalmente desde o dealbar do futebol moderno – basta lembrarmo-nos de Luís Figo, João Moutinho, Renato Sanches, Francisco Conceição ou, claro, Cristiano Ronaldo – mas, para cada um destes exemplos, continua a haver um sem-fim de nomes que deixam os adeptos a pensar em como é possível que os clubes não tenham visto, de imediato, o potencial dos jogadores – nomes como Deco, Miguel Veloso, João Palhinha, ou o homem de que falamos hoje, Rui Costa.

Produto das escolinhas do Benfica, e considerado pela lenda Eusébio como grande promessa para o futuro, Rui Manuel César Costa parecia, à entrada para a sua primeira época como sénior, no dealbar da década de 90, uma escolha natural para a promoção ao plantel principal do clube onde crescera para o futebol – especialmente tendo em conta que o médio tinha feito parte da Selecção portuguesa que havia conquistado o título de campeão mundial de sub-20, em Riade, no ano transacto. Terá, portanto, sido com alguma surpresa que os adeptos benfiquistas viram a jovem promessa de 18 anos rumar ao Grupo Desportivo de Fafe, num dos tais empréstimos por uma época que indicam que, apesar de o clube principal ainda contar com o jogador para o futuro, existem primeiro algumas arestas a lapidar.

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Foto de arquivo que mostra Rui Costa integrado no plantel do Fafe, aqui em treino (Crédito da foto: MaisFutebol)

E o mínimo que se pode dizer é que Rui Costa alisou definitivamente quaisquer 'cantos' pontiagudos que ainda pudessem existir durante a sua temporada na equipa nortenha em 1990-91, tendo-se afirmado como parte indiscutível da equipa (entre aulas de código e visitar ao clube de vídeo, foram 38 jogos, tendo o médio ainda contribuído com seis golos) e crescido o suficiente como futebolista para, aquando do seu regresso à casa-mãe (já com o título de Campeão Mundial de Sub-21, obtido novamente em Riade e no qual Rui Costa teve papel decisivo, ao marcar o 'penalty' que decidiu a final) ser integrado nos trabalhos da equipa principal, da qual apenas sairia para protagonizar uma das primeiras grandes transferências do futebol português moderno, ao rumar à Fiorentina, de Itália, em contra de 1 milhão e 200 mil escudos, o equivalente actual a seis milhões de euros. Pelo caminho ficavam uma Taça de Portugal, ganha ao Boavista por 5-2 em 1992/93, o título máximo de campeão nacional, obtido na época seguinte, sob o comando do não menos lendário Toni, e uma dupla de meio-campo ainda hoje tida pelos adeptos benfiquistas como uma das melhores de sempre, ao lado de João Vieira Pinto.

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De Fafe, Rui Costa 'voaria' para a ribalta do futebol mundial (Crédito da foto: FotoArte/MaisFutebol)

No futuro estava, claro, mais de uma década em Itália, ao serviço da Fiorentina e AC Milão, que lhe valeria a alcunha de 'Il Maestro', outros tantos anos como 'motor' de uma Selecção Portuguesa 'movida' a Geração de Ouro, e, finalmente, um regresso ao Benfica, que acolheu de braços abertos o seu filho pródigo e, após o término natural da carreira deste, o integrou nos quadros do clube que o formara para o futebol, onde ainda hoje milita. Prova concreta de que a previsão de Eusébio, quase quatro décadas antes, estava correcta, e de que Rui Costa era mesmo um dos 'especiais' do futebol moderno – mesmo que esse talento tenha, por uma época pelo menos, andado perdido nos 'batatais' da Segunda Divisão nacional de inícios dos anos 90...

11.04.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

NOTA: Este post foi alvo de algumas alterações, após feedback do leitor Paulo Próspero, a quem agradecemos as correcções.

E que melhor maneira de dar seguimento a esta rubrica do que falando da melhor equipa  de que a Seleção Nacional portuguesa alguma vez desfrutou, e que teve o seu auge precisamente durante os anos 90?

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Dois dos expoentes máximos do futebol português das décadas de 90 e 2000

Sim, hoje vamos falar da mítica ‘Geração de Ouro’, o grupo de jogadores que se sagrou bi-campeão nacional de sub-21, e mais tarde guiou a Seleção das Quinas a algumas das suas melhores prestações de sempre em campeonatos internacionais, culminando naquela célebre e amarga final do Euro 2004, em pleno Estádio da Luz, depois de mais uma enorme campanha.

Mas comecemos por onde se deve, ou seja, pelo início. Início esse que se deu em Riade, Arábia Saudita, palco do Campeonato Mundial de Juniores de 1989. Foi nesse local, durante o verão do último ano da década de 80, que Luís Figo, Rui Costa, João Vieira Pinto, Paulo Sousa, Jorge Costa, Paulo Madeira e Fernando Couto jogariam pela primeira vez juntos, ao lado de nomes menos conhecidos ou ‘esquecidos’ como Cao, Valido, Gil ou Toni. E o resultado desta junção de talentos não podia ter sido melhor – o grupo não só conquistou o campeonato naquele ano, como viria a revalidar a façanha dois anos depois, em território nacional, e com a equipa já acrescida de nomes como Abel Xavier ou Rui Bento. Bicampeões mundiais antes dos 21 anos, portanto – uma façanha de que apenas as melhores equipas do Mundo (e de sempre) se podem gabar.

Mas a beleza da história da Geração de Ouro é que, conforme indicámos no parágrafo anterior, este duplo triunfo constituiria apenas o início da sua caminhada. Durante os 15 anos seguintes, este mesmo grupo de jogadores daria mais ao país do que qualquer outro da era pré-Cristiano Ronaldo, e faria história tanto em competições internacionais como de clubes. Pelo caminho, alguns nomes ficariam para trás – João Oliveira Pinto, Paulo Torres, Bizarro – e outros se juntariam ao grupo-base, casos de Vítor Baía, Dimas, Rui Jorge, Pauleta, Deco ou o próprio CR7. A base, no entanto, não se alteraria, tendo todos ou alguns dos nomes citados acima estado presentes em todas as convocatórias da Seleção Nacional entre o Euro '96 e o Campeonato Europeu realizado em Portugal dez anos depois.

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A equipa portuguesa no Mundial de 2002

Nesse espaço de sensivelmente uma década, este mesmo grupo iria do melhor (aquela campanha do Euro 2000, fadada a acabar num golpe de azar depois de um esforço hercúleo de todo o grupo, ou a do Euro 2004, gorada por duas desatenções defensivas) ao pior (a vergonhosa campanha de 2002, na Coreia e Japão, ‘coroada’ pelo famoso murro desferido por João Vieira Pinto ao árbitro da partida com a Coreia do Sul), sempre com os níveis de apoio dos adeptos bem em alta. Aquela era, de facto, uma Seleção Nacional que valia a pena apoiar, e que dava gosto ver jogar, ficando na memória dos adeptos mais jovens durante a década de 90 as eliminatórias de grupos marcadas por ‘cabazes’ regulares ao Liechtenstein (o nosso ‘saco de treino’ preferido), Luxemburgo e outras seleções a que, hoje em dia, a equipa se vê e deseja para ganhar. Nessa época, menos que 4-0 a esse tipo de seleções era derrota, e normalmente os jogos acabavam com resultados mais perto dos dez golos de diferença do que do um ou dois normais em confrontos internacionais.

Já contra equipas do mesmo nível ou acima, os jogos eram, previsivelmente, bastante mais renhidos, mas mesmo assim, a equipa fazia boa figura, ficando na memória a reviravolta contra a Inglaterra, no jogo de abertura do grupo A do Euro 2000, ou a malfadada meia-final contra a França, em que uma mão de Abel Xavier no prolongamento ditou o adeus - isto já para não falar do Ricardo a defender penalties de Beckham e companhia sem luvas, em 2004. Estes momentos de triunfal brilhantismo quase ajudam a esquecer ‘borrões’ como os de 2002 – em que Portugal fez uma fase de grupos paupérrima contra adversários mais do que acessíveis – ou de 1996, em que um golo do benfiquista Poborsky, mais tarde do Manchester United, ditaria o afastamento nos quartos de final. Qualquer que fosse o resultado, no entanto, uma coisa era certa – qualquer campanha de Portugal constituía uma verdadeira ‘montanha-russa’ emocional, o que tornava os jogos da equipa ainda mais entusiasmantes.

21 anos depois, ainda emociona...

Claro que haverá quem diga que a equipa de 2016 era melhor – até porque conseguiu o que a Geração de Ouro nunca chegou a conseguir. No entanto, para quem prefere os ‘quases’ com espetáculo do que as conquistas com sorte e serviços mínimos, aquele grupo de jogadores continua a ser irrepetível – uma espécie de ‘dream team’ do Manchester United, mas em versão internacional. E que saudades deixam aqueles ‘passeios’ de 8-0 consecutivos nas fases de apuramento, em vez do constante ‘suar’ (e somar, no sentido de fazer contas) das trajetórias actuais…

E vocês? Que memórias retêm da Geração de Ouro do futebol português? Quem era o vosso jogador favorito? Aqui por casa, e apesar da afiliação clubística ‘contrária’, a preferência sempre foi para o ‘génio’ baixote, João Vieira Pinto… Concordam? Discordam? Façam-se ouvir nos comentários. E até lá, gritem Portugal!

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