09.10.23
Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
Os anos 80 e 90 representaram o grande 'boom' da então chamada 'Japanimação' (hoje designada pelo seu nome correcto, 'anime') no nosso País. Apesar de o estilo em causa vir já sendo desenvolvido desde a década de 60, foi apenas já em finais do século XX que o mesmo almejou atravessar o Oceano e surgir pela primeira vez nas televisões lusas, através de séries tão icónicas quanto 'Fábulas da Floresta Verde', 'Cavaleiros do Zodíaco', 'Esquadrão Águia', 'Capitão Falcão' ou 'Tom Sawyer', além de co-produções japonesas com estúdios europeus, como 'As Aventuras do Bocas' ou 'O Panda Tao-Tao'. A calorosa recepção a estas primeiras investidas abriu, claro, caminho a muitas outras, e antes do final do Segundo Milénio, as crianças e jovens nacionais já consideravam o 'anime' parte do seu quotidiano, com programas como 'Navegantes da Lua', 'Samurai X' ou as três partes da saga 'Dragon Ball' a atingirem níveis de sucesso até então pouco habituais em Portugal.
Entre estas duas vagas, no entanto, situou-se um período em que a animação japonesa surgiu nas televisões portuguesas, sobretudo, 'dissimulada' sob a 'capa' de produções europeias e americanas; no entanto, até mesmo esses anos viram alguns 'desenhos japoneses' penetrar as grelhas dos quatro canais nacionais. Neste grupo, por entre 'As Histórias Mais Bonitas' e 'Noeli', surgia uma série de curtos episódios (com apenas cerca de dez minutos) sobre um estranho ente de outra dimensão que, qual Mary Poppins extraterrestre, descia dos céus com o seu guarda-chuva mágico para mudar a vida de um rapazinho sortudo.
Não, não se trata de 'Doraemon'; o gato cósmico estava ainda a quase uma década de encantar toda uma geração de crianças e jovens através da icónica dobragem espanhola do Canal Panda. A série de que falamos é mais recente (foi criada em finais dos anos 80, enquanto que 'Doraemon' remonta a meados da década anterior) mas, paradoxalmente, mais antiga para o público infanto-juvenil lusitano, que a conheceu há quase exactos trinta anos, quando foi transmitida na RTP em versão dobrada.
Falamos de 'Parasol Henbee', conhecido em Portugal pelo nome de 'Henbei', e cujas semelhanças com 'Doraemon' são tudo menos fortuitas, já que ambos os desenhos animados têm o mesmo criador – Motoo Abiko, ou 'Fujiko Fujio A', um dos membros da dupla de animadores Fujiko Fujio. Não fora esse elo de ligação e as assustadoras semelhanças entre ambas as séries podiam ser tomadas por plágio – as premissas de ambas são practicamente idênticas, o mesmo se passando com as duplas de protagonistas e situações vividas pelos mesmos; assim sendo, trata-se apenas de uma tentativa de replicar uma fórmula vencedora, que – apesar de menos memorável do que a série-base que lhe serve de inspiração – acaba por ser bem-sucedida, representando um 'prato cheio' para fãs de Doraemon, ou de séries ocidentais com conceitos semelhantes, como 'Ursinhos Carinhosos'.
E apesar de não ter 'pegado de estaca' como sucedeu com 'Doraemon', que forma parte importante da nostalgia de toda uma geração de jovens telespectadores portugueses, 'Henbei' é, ainda assim, recordado pela faixa ligeiramente mais velha de 'millennials' nacionais – quanto mais não seja, pelo seu épico tema de abertura, uma daquelas canções que merecia o mesmo nível de fama de 'Digimon', 'Dragon Ball' ou 'Tom Sawyer', mas que teve o 'azar' de fazer parte de uma série significativamente menos conhecida.
Quem conhece, já está a cantar...
Ainda assim, quanto mais não seja por esse elemento extremamente bem-sucedido, vale a pena recordar o 'parente pobre' de 'Doraemon' – e primeira experiência com animação japonesa para muitas crianças portuguesas – numa altura em que se assinalam trinta anos sobre a sua exibição única na televisão estatal nacional.