09.08.24
NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 8 de Agosto de 2024.
Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.
Hoje em dia, o monopólio da Olá sobre o mercado dos gelados portugueses é evidente e incontestado, sobretudo após a assimilação da Ben & Jerry's ao catálogo – antes a principal concorrente ao 'trono' da multinacional. Nos anos 90, no entanto, o referido campo de negócios apresentava-se bastante mais aberto, oferecendo condições bastante mais favoráveis ao aparecimento de concorrência – condições essas que acabariam por ser aproveitadas não por uma, mas por duas marcas, gerando uma 'luta a três' que, apesar de longe de ser equilibrada, dava ainda assim mais opções à juventude portuguesa no tocante a guloseimas congeladas, até por cada uma das três produtoras ter pelo menos uma característica que a demarcava das rivais.
No caso da Camy, por exemplo, o chocolate dos gelados era muito melhor que o da Olá – o que não surpreendia, já que a marca surgia obviamente ligada à Nestlé, bastando olhar para o logotipo que ambas utilizavam à época para perceber a conexão. Surpreendente era, portanto, apenas o facto de a Camy não ser tão conceituada entre a juventude portuguesa como a concorrente, dada a reputação (e consequente estatuto hegemónico) da Nestlé no campo dos doces e chocolates – apesar de a distribuição bem mais reduzida e localizada que a da concorrente não deixar de ter algum impacto neste campo. De facto, apesar de nada deixar a desejar à rival no tocante a qualidade, a Camy tinha uma presença muito mais esporádica do que esta nos cafés e praias de Portugal, nunca conseguindo por isso ultrapassar o seu estatuto de 'segunda classificada' – uma espécie de 'versão gelada' do Bimbocao, sendo a Olá o equivalente ao Bollycao nesta analogia. Ainda assim, para quem era 'conhecedor' de gelados, havia muito do que gostar no cartaz da Camy, a começar pelas deliciosas sanduíches geladas,bem melhores do que qualquer coisa que a hoje hegemónica concorrente alguma vez tenha apresentado nesse campo.
Se a Camy sofria de distribuição esporádica, no entanto, que dizer da Menorquina? Quase tão popular em Espanha como a própria Olá (ou Frigo, como é conhecida no país vizinho) a gelataria oriunda das Canárias e com origem na década de 40 encontrava-se, cinquenta anos depois, em processo de expansão internacional, mas a sua penetração no mercado nacional não era, ainda, suficiente para lhe permitir aspirar a algo mais que um distante terceiro lugar. Tal como no caso da Camy, no entanto, a gelataria espanhola apresentava pontos fortes bastante distintos para quem se dava ao trabalho de investigar, sendo a qualidade dos seus gelados, sobretudo dos recheios, também bastante superior ao da cada vez mais processada Olá.
No 'momento da verdade', no entanto, a ubiquidade e o 'marketing' falavam mais alto, garantindo à Olá o 'lugar de ouro' no pódio desta 'contenda' noventista. Prova disso, aliás, é que as duas concorrentes parecem ter ficado, definitivamente, para trás, com a Menorquina a 'voltar-se para dentro' e a focar-se no mercado espanhol, e a Nestlé a continuar a surgir da mesma forma esporádica que há trinta anos, cedendo cada vez mais terreno à Olá. Mas se as Gerações Z e Alfa já não deverão saber o que é ter várias marcas de gelado por onde escolher, os seus pais recordam bem uma época em que era possível optar por entre múltiplas fabricantes, cada uma com as suas 'especialidades', e deixar que fosse o gosto pessoal a decidir, não só o tipo de gelado, mas também a marca do mesmo...