16.01.22
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.
Um dos maiores paradoxos do futebol, quer actualmente quer em décadas transactas, prende-se com o facto de, por vezes, jogadores que se revelam como talentos invulgares terem de passar incontáveis temporadas em situação de empréstimo durante os seus anos formativos. É claro que, por vezes, existem nomes que contrariam esta tendência, principalmente desde o dealbar do futebol moderno – basta lembrarmo-nos de Luís Figo, João Moutinho, Renato Sanches, Francisco Conceição ou, claro, Cristiano Ronaldo – mas, para cada um destes exemplos, continua a haver um sem-fim de nomes que deixam os adeptos a pensar em como é possível que os clubes não tenham visto, de imediato, o potencial dos jogadores – nomes como Deco, Miguel Veloso, João Palhinha, ou o homem de que falamos hoje, Rui Costa.
Produto das escolinhas do Benfica, e considerado pela lenda Eusébio como grande promessa para o futuro, Rui Manuel César Costa parecia, à entrada para a sua primeira época como sénior, no dealbar da década de 90, uma escolha natural para a promoção ao plantel principal do clube onde crescera para o futebol – especialmente tendo em conta que o médio tinha feito parte da Selecção portuguesa que havia conquistado o título de campeão mundial de sub-20, em Riade, no ano transacto. Terá, portanto, sido com alguma surpresa que os adeptos benfiquistas viram a jovem promessa de 18 anos rumar ao Grupo Desportivo de Fafe, num dos tais empréstimos por uma época que indicam que, apesar de o clube principal ainda contar com o jogador para o futuro, existem primeiro algumas arestas a lapidar.
Foto de arquivo que mostra Rui Costa integrado no plantel do Fafe, aqui em treino (Crédito da foto: MaisFutebol)
E o mínimo que se pode dizer é que Rui Costa alisou definitivamente quaisquer 'cantos' pontiagudos que ainda pudessem existir durante a sua temporada na equipa nortenha em 1990-91, tendo-se afirmado como parte indiscutível da equipa (entre aulas de código e visitar ao clube de vídeo, foram 38 jogos, tendo o médio ainda contribuído com seis golos) e crescido o suficiente como futebolista para, aquando do seu regresso à casa-mãe (já com o título de Campeão Mundial de Sub-21, obtido novamente em Riade e no qual Rui Costa teve papel decisivo, ao marcar o 'penalty' que decidiu a final) ser integrado nos trabalhos da equipa principal, da qual apenas sairia para protagonizar uma das primeiras grandes transferências do futebol português moderno, ao rumar à Fiorentina, de Itália, em contra de 1 milhão e 200 mil escudos, o equivalente actual a seis milhões de euros. Pelo caminho ficavam uma Taça de Portugal, ganha ao Boavista por 5-2 em 1992/93, o título máximo de campeão nacional, obtido na época seguinte, sob o comando do não menos lendário Toni, e uma dupla de meio-campo ainda hoje tida pelos adeptos benfiquistas como uma das melhores de sempre, ao lado de João Vieira Pinto.
De Fafe, Rui Costa 'voaria' para a ribalta do futebol mundial (Crédito da foto: FotoArte/MaisFutebol)
No futuro estava, claro, mais de uma década em Itália, ao serviço da Fiorentina e AC Milão, que lhe valeria a alcunha de 'Il Maestro', outros tantos anos como 'motor' de uma Selecção Portuguesa 'movida' a Geração de Ouro, e, finalmente, um regresso ao Benfica, que acolheu de braços abertos o seu filho pródigo e, após o término natural da carreira deste, o integrou nos quadros do clube que o formara para o futebol, onde ainda hoje milita. Prova concreta de que a previsão de Eusébio, quase quatro décadas antes, estava correcta, e de que Rui Costa era mesmo um dos 'especiais' do futebol moderno – mesmo que esse talento tenha, por uma época pelo menos, andado perdido nos 'batatais' da Segunda Divisão nacional de inícios dos anos 90...