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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.09.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O mercado de produções filmográficas tem, desde o advento do 'cinema em casa', estado tradicionalmente dividido em dois grandes grupos: o dos filmes que chegam às salas de cinema, e o dos que se ficam pelo lançamento directamente em vídeo, DVD ou Blu-Ray. O cinema infantil não é excepção, antes pelo contrário – esta categoria conta, se possível, com mais filmes 'directos para vídeo' do que qualquer género dirigido a adultos, quase todos eles episódios alargados de séries populares, 'imitações' baratas dos filmes dos grandes estúdios, ou sequelas falhadas para franquias em tempos populares. No entanto, o mercado em causa conta ainda com uma quarta categoria, mais rara, mas significativa o suficiente para merecer atenção: a dos filmes que, por uma razão ou outra, nunca chegam a estrear em sala, apesar de exibirem qualidade suficiente para tal.

Nos anos 90, a principal afectada por este tipo de prática era a Warner Brothers, que para cada filme que chegava aos cinemas via outros dois irem directamente para o mercado caseiro, apesar de, muitas vezes, nada ficarem a dever aos lançados no grande ecrã. Um dos melhores exemplos desta tendência tinha lugar há exactos vinte e cinco anos, quando o mercado caseiro nacional via ser lançado um filme da companhia, realizado no ano anterior, mas que nunca chegara a passar pelas salas de cinema, e cujo destino aparentemente trágico lhe viria, no entanto, a outorgar inesperado sucesso.

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A caixa do VHS lançado em Portugal.

Lançado em Portugal na dobragem brasileira habitual à época (sem que haja registo de uma versão original), 'Gatos Não Sabem Dançar' nada fica a dever, pelo menos ao nível visual, ao grande lançamento da Warner naquele ano, 'A Espada Mágica'; e se as músicas e mesmo a história são menos memoráveis do que as daquele filme, a verdade é que as aventuras de Danny, o gato aspirante a artista de Hollywood, não deixam de ter o seu mérito como forma de ocupar uma hora e meia, e apresentam a qualidade esperada de um estúdio especialista em animação, como era a Warner - até porque o filme possui um subtexto que, sem interferir na experiência das crianças, agrada também aos adultos, visto tratar-se de uma homenagem muito pouco velada aos velhos musicais de Hollywood. Dos cenários extravagantes às complexas coreografias, passando pela mimada e sádica estrela infantil (que parece irmã mais velha do Bebé Herman, do clássico da Disney 'Quem Tramou Roger Rabbit') tudo remete à era em que Frank Sinatra, Judy Garland e outros nomes semelhantes dominavam as preferências do público cinematográfico mundial.

Esta declarada homenagem, a animação cuidada, e os números musicais a cargo de Randy Newman (ele mesmo, de 'Toy Story') não foram, no entanto, suficientes para prevenir o fracasso de 'Gatos Não Sabem Dançar' nos seus EUA natais, onde o filme sofreu de falta de promoção, resultante num desempenho muito abaixo do esperado. Talvez tenha sido essa a razão para o filme nunca ter sido lançado em sala no nosso País, mas a verdade é que o seu aparecimento em vídeo acabou, até, por ser benéfico para uma obra que, vista em sala, correria o risco de ser rapidamente esquecida – algo que nunca aconteceria sendo a mesma alvo de visualização semanal no ecrã caseiro. Assim, a estratégia de marketing 'acidental' da Warner Bros acabou por tornar o filme numa memória afectiva da infãncia de muitos portugueses, os quais, ao ler este texto, já estarão potencialmente a recordar alguns dos momentos mais marcantes do filme, e a planear uma 'Sessão da Tarde' em que o possam mostrar aos filhos- Para esses, aqui fica o 'link' para uma playlist do filme completo no YouTube, tal e como surgia em Portugal no Verão de 1998; para os restantes, vale a homenagem a assinalar os vinte e cinco anos de um filme que parecia 'nado-morto', mas que acabou por deixar uma marca maior do que inicialmente se esperava.

19.03.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui referimos anteriormente que a revolução tecnológica dos anos 80 e 90 nem sempre se fez sentir apenas a um nível 'macro'; pelo contrário, as décadas em causa trouxeram igualmente uma série de novas possibilidades quase imperceptíveis, mas que viriam mudar para sempre o panorama social ocidental, nos mais diversos campos e das mais diversas formas. Como um dos principais beneficiados pelas novas tecnologias emergentes, o sector dos brinquedos não poderia, evidentemente, ficar imune a estas tendências, e os últimos vinte anos do século XX ficaram marcados por uma evolução gradual mas inegável dos brinquedos 'auto-suficientes', que, pouco a pouco, iam deixando para trás os mecanismos de corda como principal sistema propulsor, e adoptando um novo interface baseado em motores a pilhas.

De facto, da década de 80 em diante, começou a notar-se entre os fabricantes de brinquedos uma notória tendência para adicionar funcionalidades electrónicas em tantos produtos quantos possível, a fim de poder apregoar mais um atractivo aliciante à venda. Das bonecas subitamente falantes aos carros ou pistas com telecomando ou auto-suficientes, macacos tocadores de pratos, flores 'dançarinas', jogos de mesa ou armas com luz e som, foram inúmeros os tipos de brinquedo que se viram 'incrementados' com funcionalidades electrónicas durante essa década e a seguinte, tendo a globalização das pilhas e o decréscimo do custo das partes tecnológicas ajudado a acelerar a produção em massa destes tipos de produtos, invariavelmente produzidos praticamente sem custos em países como a China.

Este fenómeno, por sua vez, ajudou a que os referidos brinquedos chegassem a retalhistas que, alguns anos antes, dificilmente teriam conseguido arcar com os custos de importação, passando a ser vistos menos frequentemente em lojas de brinquedos 'finas' e cada vez mais em drogarias de bairro, lojas dos 'trezentos', máquinas de brindes, ou até a serem vendidos por comerciantes de legalidade duvidosa em plena rua.

Neste último caso em particular, havia um brinquedo que se destacava por sobre todos os outros, e que qualquer jovem dos anos 80 ou 90 terá certamente tido a dado ponto da sua infância: os cãezinhos (e gatinhos) de peluche que andavam e emitiam sons.

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Extremamente fáceis de encontrar numa qualquer 'lojeca' de bairro ou até sobre uma lona na rua, estes animais a pilhas faziam parte daquele lote de brinquedos suficientemente barato para poder constituir uma prenda 'casual' durante um passeio ao centro da cidade (à semelhança dos balões ou das bolas de sabão) e, ao mesmo tempo, divertido e resistente quanto bastasse para entreter uma criança não só no próprio dia, mas durante um período mais alargado.

Normalmente produzidos para se assemelharem a 'cocker spaniels' ou caniches (embora também fosse comum ver gatos ou 'huskies') estes brinquedos tinham uma funcionalidade simples, mas capaz de produzir largos momentos de diversão, sendo capazes tanto de andar como de se sentar, altura em que emitiam uma série de ladridos (ou miados), antes de retomarem a sua marcha; um processo fascinante para qualquer criança, e que tinha o atractivo adicional de servir para confundir e assustar os congéneres 'de carne e osso' dos pequenos animais – e quem nunca tenha activado um destes brinquedos em proximidade ao seu cão ou gato, e gozado a reacção dos mesmos, que atire a primeira pedra.

Tal como tantos outros brinquedos de que falamos nesta rubrica, também estes animais electrónicos acabaram por, ao longo dos anos, se afirmar como demasiado simplistas para agradar à 'geração iPad', acabando por perder preponderância e praticamente se extinguir do imaginário infantil de inícios do século XXI; hoje em dia, os brinquedos vendidos na rua são outros (com destaque para os famosos 'fidget spinners') e, apesar de estes simpáticos peluches 'animados' continuarem disponíveis nos habituais retalhistas grossistas (além de lojas como a Amazon e o eBay) dificilmente serão suficientes para 'encher as medidas' às crianças actuais. Quem ainda tiver o seu (ou UM dos seus, dado que a criança média portuguesa tendia a ter vários ao longo da sua vida) pode, no entanto, tentar 'apresentá-lo' aos seus filhos ou familiares mais novos; quem sabe os mesmos os apreciem o suficiente para fazer estes brinquedos – como tantos outros desta mesma época – voltar a estar na 'moda'...

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