Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

10.06.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Já aqui falámos, em edições passadas, dos jogos de rua, tão populares entre as crianças do século XX, e que se vêm progressivamente perdendo na era dos telemóveis e redes sociais; e, no Portugal dos anos 90, um dos muitos por que qualquer grupo de 'putos' reunido na rua ou num jardim poderia optar era o chamado 'futebol humano'.

download.jpg

O jogo no programa 'Love on Top', da TVI.

Sem ter absolutamente nada a ver com qualquer tipo de futebol – seja de rua ou de campo – à excepção do objectivo final de marcar 'golo', chegando ao fim do 'meio-campo' adversário, este jogo é uma adaptação do americano 'freeze tag', e tem a particularidade de extravasar o mundo dos Sábados aos Saltos, sendo também um recurso extremamente popular e frequentemente utilizado pelos professores de Educação Física da época, a par dos jogos do 'Mata' e da 'Corrente', talvez as únicas outras actividades a marcar presença nos dois contextos. Ainda assim, e ao contrário do que normalmente sucede, o facto de ser utilizado como parte de uma disciplina da escola em nada diminuía o atractivo ou o 'factor diversão' deste jogo, que se manteve popular até os dispositivos digitais tomarem o lugar das brincadeiras nos recreios e tempos mortos portugueses.

As regras eram simples, e – como costuma suceder neste tipo de jogos – transmitidas quase 'por osmose' entre diferentes gerações de crianças; o objectivo, conforme mencionado no parágrafo anterior, passava por marcar 'golo', e para tal, era necessário passar por todos os jogadores da equipa adversária, cuja missão era tentar travar essas investidas, tocando no oponente. Caso esse desiderato fosse bem sucedido, o jogador que procurava o 'golo' tinha de ficar 'congelado' no sítio exacto onde houvera contacto, de braços abertos, e esperar que alguém da sua equipa o viesse 'libertar' ou 'salvar'; caso contrário, o 'golo' era válido, e o jogo recomeçava 'a meio campo', com as duas equipas alinhadas cada uma do seu lado.

Como não podia deixar de ser, este modelo de jogo dava azo a estratégias ao mesmo tempo inteligentes e anárquicas, em que alguns dos participantes de cada equipa se 'sacrificavam' para distrair a atenção dos adversários, permitindo aos colegas correr por fora e 'marcar um golo' limpo e relativamente fácil, ou em que todos os jogadores investiam simultaneamente, deixando o resultado nas mãos da sorte; longe de serem vistos como 'batota' ou criticados, estes estratagemas faziam parte do jogo, eram esperados, e apenas adicionavam à diversão, obrigando cada uma das equipas a tentar contrariá-los, num jogo que também se poderia facilmente ter chamado 'xadrez humano'.

Conforme referimos no início deste texto, jogos como o futebol humano vêm, progressivamente, perdendo preponderância nos recreios e Sábados aos Saltos das crianças e jovens portugueses, substituídos pelos vídeos de YouTube, Instagram e TikTok. Há, no entanto, que esperar que esta brincadeira não desapareça totalmente da 'consciência partilhada' infanto-juvenil, já que se trata(va) de um dos jogos de rua (ou de ginásio) mais divertidos de uma época repleta deles.

24.10.21

NOTA: Este post corresponde a Sábado, 23 de Outubro de 2021.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

images.jpg

Qualquer criança que interaja pelo menos uma vez com um grupo da sua faixa etária adquire conhecimentos e herda tradições que ninguém sabe muito bem de onde vieram, nem como foram perpetuados, mas que toda a gente sabe como funcionam; e nenhum exemplo ilustra melhor este fenómeno do que os jogos infantis, nomeadamente os disputados na rua, que se afirmam como verdadeiros estudos de caso no que toca à transmissão de conhecimentos adquiridos entre as crianças.

Quer o futebol de rua, nas suas diferentes permutações – 'baliza a baliza', 'toques'. 'todos contra todos', fintas, penalties – quer os jogos mais convencionais, como a 'Macaca', 'Mamã Dá Licença', 'Barra do Lenço', 'Estátuas', 'Macaquinho do Chinês', elástico, corda, futebol humano, apanhada ou escondidas, são brincadeiras que qualquer criança, de qualquer época, soube e sabe jogar, sem precisar de ser ensinada. Sim, as regras podem por vezes variar – levando a situações de algum desconforto quando se joga com um grupo diferente do habitual e as regras a que estamos habituados passam a ser consideradas 'batota' – mas a essência da brincadeira permanece a mesma, e é conhecida e compreendida sem ser necessária qualquer explicação.

No futebol, por exemplo, podem ou não valer 'bujas', mas o jogador mais fraco continua a ir à defesa, e o mais gordo à baliza; na apanhada ou escondidas, a récita a declamar à chegada ao 'coito' pode variar, mas a acção de bater com a mão no local designado antes de quem está a apanhar continua a dar ao jogador o direito de 'salvar todos', e iniciar uma nova ronda de jogo. Estas são convenções ancestrais, já observadas pelos nossos pais ou avós, e que continuarão certamente a ser observadas pelas gerações vindouras – isto, claro, se todas estas brincadeiras não se tornarem, entretanto, estritamente virtuais...

Seja qual for o futuro destes jogos, no entanto, restam algumas certezas; por um lado, que os mesmos se continuarão a afirmar como estudos de caso para a transmissão inata e oral de tradições e conhecimentos inatos, e por outro, que nada conseguirá apagar a memória de muitos bons momentos vividos em disputas renhidas de um ou vários dos mesmos, fosse durante o recreio, no bairro após a escola ou, sim, durante um Sábado aos Saltos...

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub