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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.09.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O mercado de produções filmográficas tem, desde o advento do 'cinema em casa', estado tradicionalmente dividido em dois grandes grupos: o dos filmes que chegam às salas de cinema, e o dos que se ficam pelo lançamento directamente em vídeo, DVD ou Blu-Ray. O cinema infantil não é excepção, antes pelo contrário – esta categoria conta, se possível, com mais filmes 'directos para vídeo' do que qualquer género dirigido a adultos, quase todos eles episódios alargados de séries populares, 'imitações' baratas dos filmes dos grandes estúdios, ou sequelas falhadas para franquias em tempos populares. No entanto, o mercado em causa conta ainda com uma quarta categoria, mais rara, mas significativa o suficiente para merecer atenção: a dos filmes que, por uma razão ou outra, nunca chegam a estrear em sala, apesar de exibirem qualidade suficiente para tal.

Nos anos 90, a principal afectada por este tipo de prática era a Warner Brothers, que para cada filme que chegava aos cinemas via outros dois irem directamente para o mercado caseiro, apesar de, muitas vezes, nada ficarem a dever aos lançados no grande ecrã. Um dos melhores exemplos desta tendência tinha lugar há exactos vinte e cinco anos, quando o mercado caseiro nacional via ser lançado um filme da companhia, realizado no ano anterior, mas que nunca chegara a passar pelas salas de cinema, e cujo destino aparentemente trágico lhe viria, no entanto, a outorgar inesperado sucesso.

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A caixa do VHS lançado em Portugal.

Lançado em Portugal na dobragem brasileira habitual à época (sem que haja registo de uma versão original), 'Gatos Não Sabem Dançar' nada fica a dever, pelo menos ao nível visual, ao grande lançamento da Warner naquele ano, 'A Espada Mágica'; e se as músicas e mesmo a história são menos memoráveis do que as daquele filme, a verdade é que as aventuras de Danny, o gato aspirante a artista de Hollywood, não deixam de ter o seu mérito como forma de ocupar uma hora e meia, e apresentam a qualidade esperada de um estúdio especialista em animação, como era a Warner - até porque o filme possui um subtexto que, sem interferir na experiência das crianças, agrada também aos adultos, visto tratar-se de uma homenagem muito pouco velada aos velhos musicais de Hollywood. Dos cenários extravagantes às complexas coreografias, passando pela mimada e sádica estrela infantil (que parece irmã mais velha do Bebé Herman, do clássico da Disney 'Quem Tramou Roger Rabbit') tudo remete à era em que Frank Sinatra, Judy Garland e outros nomes semelhantes dominavam as preferências do público cinematográfico mundial.

Esta declarada homenagem, a animação cuidada, e os números musicais a cargo de Randy Newman (ele mesmo, de 'Toy Story') não foram, no entanto, suficientes para prevenir o fracasso de 'Gatos Não Sabem Dançar' nos seus EUA natais, onde o filme sofreu de falta de promoção, resultante num desempenho muito abaixo do esperado. Talvez tenha sido essa a razão para o filme nunca ter sido lançado em sala no nosso País, mas a verdade é que o seu aparecimento em vídeo acabou, até, por ser benéfico para uma obra que, vista em sala, correria o risco de ser rapidamente esquecida – algo que nunca aconteceria sendo a mesma alvo de visualização semanal no ecrã caseiro. Assim, a estratégia de marketing 'acidental' da Warner Bros acabou por tornar o filme numa memória afectiva da infãncia de muitos portugueses, os quais, ao ler este texto, já estarão potencialmente a recordar alguns dos momentos mais marcantes do filme, e a planear uma 'Sessão da Tarde' em que o possam mostrar aos filhos- Para esses, aqui fica o 'link' para uma playlist do filme completo no YouTube, tal e como surgia em Portugal no Verão de 1998; para os restantes, vale a homenagem a assinalar os vinte e cinco anos de um filme que parecia 'nado-morto', mas que acabou por deixar uma marca maior do que inicialmente se esperava.

13.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 11 de Agosto de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcante.

A transformação de propriedades intelectuais infanto-juvenis em filmes ou séries com actores de 'carne e osso' não era já, mesmo nos anos 90, nada de particularnente novo; pelo contrário, as duas décadas anteriores haviam já visto serem realizados filmes alusivos a criações como Super-Homem ou He-Man, e a própria década em causa já tinha, nos seus primeiros anos, acolhido filmes de Batman e das Tartarugas Ninja. Assim, foi sem grandes surpresas que, em 1993, os jovens de todo o Mundo viram chegar às salas de cinema mais uma adaptação deste tipo, no caso alusiva às aventuras do jovem 'terrorista' Dennis, o Pimentinha, cujo desenho animado continuava a ser visto por milhares de crianças naquele Portugal de fim de século.

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Estreado há quase exactos trinta anos, a 13 de Agosto de 1993, o filme da Warner Bros. trazia o jovem Mason Gamble (mais um dos muitos 'aspirantes a Macaulay Culkin' surgidos na sequência do sucesso de 'Sozinho em Casa') no papel do personagem principal, e o veterano da comédia Walter Matthau como o sofredor vizinho Sr. Wilson, o qual surgia com um pouco de cabelo a mais em relação à sua versão desenhada, mas de outra forma perfeitamente caracterizado. A este duo-charneira juntava-se, ainda, outro nome fulcral do cinema de humor da época, Christopher Lloyd, no papel de um vagabundo com quem Dennis se vê envolvido no desenrolar da trama, além de Lea Thompson e de uma jovem Natasha Lyonne, ainda a meia década do sucesso com 'American Pie'. Em conjunto, estes nomes são garantia de actuações de qualidade (o jovem Gamble dá boa conta de si ao lado dos actores veteranos que o rodeiam) e rendem bons momentos individuais, que qualquer fã da série ou da banda desenhada que a inspirou certamente reconhecerá.

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Dennis e os amigos, em 'carne e osso'.

Pena é, pois, que a trama seja pouco adequada ao estilo de Dennis e companhia, cujas aventuras tendem a ter um teor mais corriqueiro e de vida quotidiana; apesar de ser compreensível o esforço por criar uma história que prendesse o interesse durante noventa minutos (e que envolvesse bandidos, claro, ou não fosse essa a fórmula do mega-êxito de Chris Columbus) neste caso, essa abordagem acaba mesmo por trabalhar contra o filme - um problema que afectou também outras obras do mesmo período, como 'Tom e Jerry - O Filme'. Isto porque a maioria dos espectadores interessados num filme de Dennis, o Pimentinha, certamente prefeririam algo mais próximo aos enredos do desenho animado e respectiva BD, com Dennis a 'torturar' involuntariamente o pobre Sr. Wilson, a discutir com a pomposa e convencida Margaret, ou a arranjar sarilhos juntamente com o inseparável amigo Joey e o carismático cão Ruff - todos os quais surgem no filme perfeitamente caracterizados, mas apenas por breves momentos, sendo a maioria da película passada só com Dennis e o vagabundo de Lloyd, o que deixa a sensação de oportunidade perdida. Assim, tal como sucederia com 'Tom e Jerry' no ano seguinte, os primeiros momentos do filme acabam por ser os melhores, já que mostram, precisamente, o que o público-alvo esperava ver de uma longa-metragem deste tipo; quanto aos restantes noventa minutos, configuram um bom filme para crianças (ou não tivesse tido a intervenção de John Hughes) mas que acaba por ficar aquém do seu potencial.

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Ainda assim, o primeiro filme do Pimentinha conseguiu fazer sucesso suficiente para justificar a inevitável sequela exclusiva para o mercado de vídeo, cinco anos depois. Intitulada 'Dennis o Pimentinha Ataca de Novo', este segundo filme já não trazia quaisquer das estrelas envolvidas no original, nem mesmo Gamble. No seu lugar surge o desconhecido Justin Cooper (curiosamente, da mesma idade de Gamble, e como tal, igualmente 'velho' para interpretar o menino de cinco anos), ao lado de nomes consagrados da comédia americana como Don Rickles (a voz do Sr. Cabeça de Batata em 'Toy Story', aqui como o muito semelhante Sr. Wilson), Betty White (uma das célebres 'Golden Girls') ou o então 'na berra' Carrot Top, um daqueles comediantes frenéticos na linha Jim Carrey que o público americano da altura parecia adorar. A história, essa, continua na linha do original, com Dennis a tentar evitar que o igualmente travesso avô materno seja enganado por dois burlões que prometem a 'fonte da juventude'; o resultado é precisamente como se possa imaginar, com a agravante de o filme mal chegar à marca dos setenta minutos, o mínimo exigido para poder ser considerado uma longa-metragem. Não admira, pois, que esta segunda aventura não tenha jamais visto o interior de uma sala de cinema, e tenha feito todo o seu dinheiro no mercado VHS (onde, em Portugal, foi lançado em versão dobrada, tal como sucedera com o original.)

À distância de três décadas e um quarto de século, respectivamente, qualquer dos dois filmes do Pimentinha está longe de poder ser considerado um clássico infantil dos anos 90, uma década mais que prolífera nesse particular; ainda assim, ambos poderão, ainda, constituir boas escolhas para ocupar os mais pequenos durante uma tarde de chuva em casa, já que exibem todas as características que a referida demografia procura num filme, e provocarão certamente algumas gargalhadas. Nenhum deles é, no entanto, daqueles filmes de que o público mais 'crescido' poderá desfrutar juntamente com os mais novos; tratam-se, estritamente, de filmes para crianças, e qualquer adulto dará certamente por si a cabecear logo nos primeiros minutos de qualquer um deles...

28.07.23

NOTA: Por motivos de relevância, esta Sexta será também de cinema. Voltaremos a falar de moda na próxima semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O Verão foi, e continua a ser, tradicionalmente uma 'época alta' no que toca a estreias de filmes, sobretudo 'blockbusters' e películas destinadas a um público mais jovem, tendo, inclusivamente, sido um dos dois períodos do ano, juntamente com o Natal, em que era expectável um novo lançamento por parte da Disney; e, tendo os anos 90 sido um dos períodos áureos do cinema infanto-juvenil (com a própria Disney, por exemplo, em plena 'Renascença'), não é de estranhar que os últimos dias de Julho tivessem, tanto há trinta anos como há um quarto de século, visto chegar ao nosso País filmes capazes de entusiasmar o público mais jovem, e que se tornariam clássicos nostálgicos para os hoje adultos da geração 'millennial'.

De facto, os dias 30 e 31 de Julho tanto de 1993 como de 1998 assinalaram a estreia nacional de nada menos do que três longas-metragens hoje recordadas com carinho pelos portugueses na casa dos trinta a quarenta anos, duas delas explicitamente destinadas a um público infantil, e a terceira um potencial alvo para o tradicional visionamento 'às escondidas', com amigos ou depois de os pais já terem ido para a cama.

Começando pelo 'início' – isto é, pelo filme mais antigo dos três – o dia 30 de Julho de 1993 via chegar às salas lusas 'Ferngully', filme de Don Bluth que, em Portugal, receberia o incompreensivelmente longo sub-título de 'As Aventuras de Zak e Krysta na Floresta Tropical'. Lançada no auge da era de ouro da sensibilização para a ecologia, a longa-metragem conta com uma mensagem de protecção da natureza, envolta na habitual história de um humano comum 'puxado' para um reino mágico que deve ajudar a proteger - neste caso, o das fadas protectoras da 'última floresta tropical', que se encontra ameaçada por madeireiros.

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Com o padrão de qualidade habitual de Bluth, e talentos vocais de qualidade (entre eles Robin Williams, então em estado de graça após a sua interpretação do Génio em 'Aladdin', do ano anterior, e que ainda em 1993 faria outro clássico, 'Papá Para Sempre') o filme divide, hoje em dia, opiniões, com muitos críticos a apontarem para a mensagem do filme e para o número musical do personagem de Williams, Batty - que interpreta um 'rap' bem ao estilo da década então em curso - como pontos negativos. Para quem lá esteve em 1993, no entanto - a duas semanas de completar oito anos, 'impante' e ufano por ter conseguido bilhetes para a ante-estreia – nada disso era minimamente relevante, e 'Zak e Krysta' pareceu um excelente filme; ou seja, para o público-alvo, menos preocupado com questões de detalhe, esta foi, e provavelmente continuará a ser, uma excelente forma de passar uma hora e meia com uma animação de qualidade, a qual fez sucesso suficiente para, inclusivamente, dar azo a uma sequela, esta sem qualquer repercussão em Portugal.

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Um dia após a estreia da última obra de Bluth, a 31 de Julho, chegava ao nosso País um futuro 'clássico' dos canais de filmes a cabo: 'O Último Grande Herói', uma comédia de acção que via Arnold Schwarzenegger fazer um papel bem 'meta-textual', interpretando o personagem titular, o típico herói musculado da época, que se vê a braços com um jovem espectador que, graças a um bilhete mágico, consegue entrar no filme, e se vê envolto na trama do mesmo. Os dois membros deste insólito par têm, assim, de trabalhar juntos para travar o vilão, aliando a força e armamaento de Arnie ao conhecimento sobre estereótipos e fórmulas cinematográficas do seu jovem coadjuvante.

E é, precisamente, a química entre os 'músculos de Bruxelas' e o jovem Austin O'Brien que rende os momentos mais divertidos deste filme, como aquele em que o Danny Madigan de O'Brien menciona, jocosamente, o facto de todos os números de telefone do filme começarem por 555, o indicativo tradicionalmente usado por Hollywood neste tipo de situações. Apesar de não ser uma obra-prima intemporal (o único filme de Arnie qualificado para essa categoria continua a ser 'O Predador') trata-se de uma longa-metragem bem divertida, que doseia bem o humor e a acção (à maneira de antecessores como 'O Caça-Polícias' e de sucessores como 'Hora de Ponta'), sabe explorar a veia cómica de Schwarzenegger, e conta com uma banda sonora à altura, povoada por nomes como AC/DC, Alice in Chains, Def Leppard, Queensryche, Aerosmith, Anthrax ou Cypress Hill, entre outros.

Exactos cinco anos após a literal explosão de Arnie nos cinemas nacionais, estreava em Portugal outro filme teoricamente para um público mais 'maduro', mas que muitas crianças terão, decerto, visto em anos subsequentes, no contexto do 'home video' – aqui, por exemplo, viu-se aos cerca de treze ou catorze anos, na noite de cinema da colónia de férias.

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Falamos de 'O Enigma do Horizonte' (no original, 'Event Horizon') um excelente filme de ficção científica encabeçado por Laurence Fishburne (em 'ensaios' para 'Matrix', dois anos depois), Sam Neill e Jason Isaacs e realizado pelo hoje conceituado Paul W. S. Anderson. Com uma história algo semelhante à de 'Alien – O Oitavo Passageiro' (em que uma equipa de salvamento espacial fica presa numa nave abandonada, à mercê de uma força sinistra) o filme é notável, sobretudo, pelos efeitos especiais, de entre os quais se destaca o 'rio' de sangue a descer um dos corredores da nave – imagem que deixou boquiaberto aquele adolescente de finais do Segundo Milénio, sentado em colchões no chão da sala principal de uma colónia de férias presencial na Margem Sul do Tejo. Mesmo para um público mais adulto e exigente, no entanto, este filme continua a ser uma boa proposta para uma noite mais escura e chuvosa, de preferência em boa companhia...

Em suma: em apenas dois dias de dois anos distintos, o público infanto-juvenil português viu surgirem nas telas nacionais três excelentes filmes (mais ou menos) apropriados à sua faixa etária, e que ainda hoje são conceituados dentro dos seus respectivos estilos – uma coincidência, sem dúvida, digna de nota nas páginas deste 'nosso' Portugal Anos 90, numa altura em que se assinalam aniversários marcantes sobre as estreias de todos os três.

21.07.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os filmes 'de animais' sempre foram um dos géneros mais populares (e, como tal, lucrativos) do chamado 'cinema de família'; afinal, quem não gosta de passar uma hora e meia a ver patuscas criaturas livrarem-se de todo o tipo de peripécias? Não é, pois, de estranhar que este 'filão' tenha, tradicionalmente, sido bastante explorado por Hollywood ao longo das décadas, ainda que de formas algo diferentes: se em meados do século XX, os filmes tendiam a ser mais bucólicos e centrados nas façanhas dos animais em si, à medida que os anos avançaram, esta tendência inverteu-se, dando lugar à grande vaga de filmes com 'animais falantes' (ou quase) de finais do século. No entanto, apesar das diferenças, estas duas 'fases' do cinema 'de animais' têm, pelo menos, um elemento em comum: um filme em que dois cães e uma gata atravessam zonas rurais dos Estados Unidos na senda para se reunirem com os donos.

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De facto, 'Regresso a Casa' (no original, 'Homeward Bound: The Incredible Journey') acaba por ser o exemplo perfeito da mudança de sensibilidades entre as décadas de 60 e 90; isto porque se o filme de que é 'remake' – 'A Incrível Jornada', de 1963 – se focava mais nas façanhas dos três animais protagonistas e na beleza das zonas rurais da Califórnia, já a 'actualização' três décadas mais nova (e que celebra este fim-de-semana exactos trinta anos sobre a sua chegada a Portugal) aposta todas as suas 'fichas' nas piadas incessantemente 'debitadas' pelos actores de 'primeira linha' contratados para dar voz ao trio de personagens principais.

Reside, aliás, aí a principal diferença entre os dois filmes, já que os dois cães e gato de 1963 eram mudos, sendo as suas aventuras narradas por um elemento externo, enquanto que o Chance, Shadow e Sassy de 1993 relatam (de forma constante) as suas próprias aventuras, pelas vozes de, respectivamente, Michael J. Fox (inconfundível, mas aqui numa prestação frenética mais ao estilo Jack Black ou Robin Williams), Don Ameche e Sally Field, de 'Papá Para Sempre' e 'Matilda, a Espalha-Brasas'. E se Ameche consegue transmitir a dignidade necessária ao seu golden retriever sénior, e Field faz o mesmo quanto ao sarcasmo da adequadamente chamada Sassy (Atrevida), Fox é absolutamente insuportável no papel do jovem buldogue americano (que, no original, era um bull terrier) encarregue de carregar o arco dramático secundário da história, em que aprende a respeitar os seus companheiros e a amar os humanos que os acolhem – uma adição perfeitamente desnecessária a um filme onde as motivações e conflitos ficam já de si evidentes na própria premissa.

Também desnecessários são elementos como a relação das crianças com o novo padrasto, ou uma sequência de 'pastelão' passada num canil que parece só existir porque 'Sozinho em Casa' popularizara este género. Isto porque, na sua essência, o 'Regresso a Casa' de 1963 quer ser precisamente o mesmo que o seu antecessor – um filme de família tocante sobre um acontecimento naturalmente emotivo, ao estilo de um 'Voando P'ra Casa' mas com toques de comédia; e a verdade é que, a espaços, consegue mesmo atingir esse desiderato, nomeadamente nas cenas retiradas do primeiro filme, como a luta com uma mãe ursa ou a famosa cena em que a gata é apanhada pela corrente do rio. Pena, pois, que estes bons momentos sejam minimizados pelas CONSTANTES (e fraquinhas) 'piadolas', que nada acrescentam ao todo, e que tornam os primeiros minutos, em particular, praticamente inassistíveis.

Ainda assim, e apesar destes defeitos, 'Regresso a Casa' fez sucesso suficiente junto de crítica e público para justificar uma sequela, numa época em que qualquer filme para crianças tinha de ter, pelo menos, uma continuação. Lançado três anos após o original, 'Regresso a Casa II: Perdidos em São Francisco' traz 'mais do mesmo', mas agora em ambiente urbano, por oposição às florestas e montanhas do primeiro filme – e, curiosamente, na mesma cidade para a qual a família vai em lua-de-mel no primeiro filme, suscitando a necessidade de deixar para trás os animais...

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Como costuma suceder com este tipo de filme, no entanto, a segunda parte ficou aquém da primeira em termos de recepção, o que – a juntar às mudanças no panorama dos filmes infantis na ponta final do século XX – ditou o final prematuro do que, de outra forma, seria certamente uma franquia ao estilo 'Beethoven' ou 'Air Bud'.

Hoje, trinta anos após a sua estreia e vinte e sete após a sequela, 'Regresso a Casa' parece uma espécie de 'cápsula do tempo' para o início dos anos 90, tendo muito mais em comum com contemporâneos como 'Libertem Willy', 'Paulie', 'Querida, Encolhi Os Miúdos' ou o supramencionado 'Voando P'ra Casa' do que com obras como 'À Dúzia É Mais Barato', que representariam o protótipo do cinema infantil a partir de 1997 ou 98. Ainda assim, para quem se queira distanciar do humor mais 'vulgaróide' dessas obras (e tenha tolerância para um Michael J. Fox em 'modo Jim Carrey', requisito essencial para sequer pensar em abordar esta duologia) estes dois filmes continuam a constituir uma forma tolerável de passar uma tarde de chuva em família, especialmente quando combinados com o seu excelente antecessor, em formato 'Sessão Tripla', de forma a 'educar' a geração mais nova no que toca a bons filmes para a sua faixa etária...

30.06.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de ser a rainha inquestionável das longas-metragens infantis dos anos 90, a Disney não deixava de ter, na ponta final do século XX, 'concorrência' à altura neste campo – nomeadamente, da parte da Amblin Entertainment, de Spielberg e Don Bluth (sua concorrnte desde a década transacta), da recém-criada Dreamworks (que 'agitava as águas' com o excelente 'O Príncipe do Egipto'), e da Warner Brothers, que fazia por essa altura as suas primeiras tentativas de se estabelecer como criadora de filmes animados de grande orçamento. E apesar de este desiderato não ter sido inteiramente bem sucedido (no Novo Milénio, a companhia seria conhecida, sobretudo, com produtora de filmes animados com os super-heróis da DC, destinados ao mercado de vídeo e DVD) a divisão de animação da Warner não deixou de produzir pelo menos duas longas-metragens de considerável sucesso junto do público alvo. Da primeira, 'Space Jam', já aqui falámos anteriormente; agora, num fim-de-semana em que se assinalam os vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, chega a altura de dedicarmos algumas linhas à outra.

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Capa do lançamento em DVD do filme.

Lançado nas salas de cinema lusitanas a 3 de Julho de 1998, 'A Espada Mágica' ('Quest for Camelot', no original) não disfarça as suas intenções de rivalizar com a Disney, que, nesse mesmo ano, lançaria o fabuloso épico de guerra 'Mulan'; pelo contrário, das personagens à história, formato musical e até ambientação, tudo neste filme é uma tentativa declarada de replicar a fórmula que, à época, tantos dividendos vinha rendendo à multi-nacional californiana. Senão veja-se: a trama segue uma humilde jovem camponesa da Inglaterra Arturiana, Kayley, que sonha ser cavaleira, mas encontra resistência por parte da sua família e comunidade, até um ataque à quinta da sua família por parte de um Cavaleiro da Távola Redonda renegado lhe dar a oportunidade de se tornar a heroína que sempre sonhou ser, e salvar não só a sua família, como todo o reino, tendo como aliados um eremita cego residente na floresta e um dragão de duas cabeças com as vozes de um elemento dos Monty Python e do Senhor Cabeça-de-Batata de 'Toy Story'. Junte-se a isto a presença de um vilão totalmente 'angular', cuja silhueta lembra tanto Radcliffe, de 'Pocahontas', como Jafar e até Frollo, e que conta com os habituais asseclas de teor cómico, e os vários interlúdios musicais (incluindo, claro, um logo na abertura do filme) e 'A Espada Mágica' quase podia fazer parte da lista de sucessos do chamado 'Renascimento Disney'.

Verdade seja dita, no entanto, esta 'cópia' é feita de forma bastante bem sucedida, ficando longe das produções barateiras que, no mesmo período, 'inundavam' o mercado caseiro com variações sobre os temas dos filmes da companhia do Rato Mickey, como forma de facturar sem grande esforço; pelo contrário, o orçamento disponível para este filme é evidente em todos os aspectos do mesmo, com um elenco original repleto de celebridades, personagens e canções cuidadas e memoráveis e até o uso ocasional de tecnologia CGI, como na cena inicial em torno da Távola Redonda.

A única pecha do filme acaba, assim, por ser o seu carácter declaradamente derivativo, o qual ajudou, ainda assim, a atrair às salas de cinema o público familiar (numa época em que era quase obrigatório ir ver cada novo filme de animação lançado em sala) mas rendeu postumamente ao filme o escárnio da Internet, para quem 'A Espada Mágica' se tornou - a par de 'As Aventuras de Zack e Chrysta na Floresta Tropical', outro filme que aqui terá paulatinamente o seu espaço – um dos alvos de crítica mais fáceis de toda a cultura nostálgica.

Quem não tenha tanto interesse em dissecar cada minúcia de um filme para criar interesse e provocar risos, no entanto, certamente achará que não era caso para tanto; 'A Espada Mágica' era, e continua a ser, um filme infantil perfeitamente aceitável (até acima da média) e envelheceu apenas um pouco menos bem do que os clássicos intemporais sugeridos na mesma época pela Disney. Como tal, aos vinte e cinco anos da sua estreia em Portugal, a grande aposta da Warner Brothers para fazer frente à 'casa' do Rato Mickey merece bem o mesmo tipo de homenagem que, logo nos primórdios deste nosso 'blog', prestámos aos referidos filmes, continuando a constituir uma excelente adição à ´rotação' de filmes infantis de qualquer lar de família nacional.

24.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os filmes de animação de finais do século XX tendiam a estar associados a um de três nomes: por um lado, o da tradicional e decana Walt Disney, então a atravessar um 'renascimento' que lhe viria a render um segundo estado de graça, por outro o da 'estreante' Pixar e, apenas um meio passo atrás, o do realizador Don Bluth, o qual, em parceria com a Amblin Entertainment de Steven Spielberg, deixaria um legado de 'clássicos' de animação modernos. E apesar de a melhor fase do criador ter tido lugar entre meados da década de 80 e inícios da seguinte – quando produziu obras-primas como 'Fievel, Um Conto Americano' (e respectiva sequela), 'Em Busca do Vale Encantado' e 'Todos os Cães Merecem o Céu' – os últimos anos do século XX ainda veriam ser lançado pelo menos mais um clássico com o nome de Bluth à cabeça: 'Anastasia', uma versão ficcionalizada, bem ao estilo da concorrente Disney, da história verídica de Anastasia Romanoff, czarina russa que, reza a lenda, terá sobrevivido ao atentado que vitimou a sua família em 1917.

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Considerado hoje como o filme que marcou o regresso à forma do realizador norte-americano após obras menos conseguidas como 'Um Duende no Parque', 'Hubie, o Pinguim' ou a sequela de 'O Segredo de Nimh', a animação estreou em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos, tendo chegado aos cinemas nacionais a 27 de Março de 1998, e conseguido boa aceitação entre o público infanto-juvenil nacional, apesar (ou talvez por causa) das semelhanças com as obras que a Disney vinha, à época, lançando anualmente. E se é verdade que o filme contém muitos dos elementos que se tornaram sinónimos com as animações da companhia do Rato Mickey – da protagonista que deseja mais da vida ao par romântico 'atrevido' e bem-parecido, sem esquecer os alivios cómicos, o vilão de traços angulares e, claro, as canções - nem por isso o mesmo deixa de ser um exemplo extremamente bem conseguido de um filme de família, capaz de maravilhar e até assustar o público-alvo (muito por conta do vilão Rasputin, uma daquelas criações que a equipa de animadores da Disney talvez desejasse ter concebido) sem descurar o público mais adulto – uma dicotomia que os melhores filmes animados e de família tendem a valorizar, e a saber balancear.

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O núcleo central de personagens do filme era bastante bem conseguido, com destaque para o pérfido vilão, Rasputin.

Talvez por isso 'Anastasia' se tenha tornado um dos 'clássicos menores' da animação dos anos 90, que, sem chegar ao nível de notabilidade de um 'Aladino' ou 'O Rei Leão', não deixa ainda assim de fazer parte das memórias nostálgicas de muitas crianças – portuguesas e não só. E a verdade é que tanto a animação quanto a história do filme 'envelheceram' marcadamente bem, afirmando-se como perfeitamente aceitáveis (e até acima da média) mesmo um quarto de século após o seu lançamento, e fazendo de 'Anastasia', ainda hoje, uma excelente proposta para um fim-de-semana chuvoso em família, em frente à televisão – quem sabe, como comemoração da data marcante que ora se assinala...?

10.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre todos os géneros de cinema, a comédia foi – a par dos filmes de acção – aquele que mais 'nomes sonantes' teve durante a década de 90, tendo actores como Jim Carrey, Robin Williams, Eddie Murphy e Will Smith - entre muitos outros - feito as delícias dos jovens daquele tempo, e deixado para a posteridade uma filmografia repleta de obras memoráveis para qualquer 'puto' de finais do século XX.

Nem só os 'rapazes' tinham direito a brilhar, no entanto, e a década a que este blog diz respeito revelou, também, uma congénere feminina para os nomes anteriormente citados, na pessoa de Whoopi Goldberg. Com o seu icónico e inconfundível visual, voz rouca, e capacidade de ser tão expressiva e exagerada como Carrey e tão emocionalmente sincera como Williams, a actriz afro-americana viveu um autêntico estado de graça em finais dos anos 80 e inícios dos 90, em que o seu nome num cartaz era suficiente para suscitar interesse num filme; e ainda que nem todas as escolhas de Goldberg tenham sido as mais acertadas (longe disso), dois dos seus filmes pareceram expressamente escritos com a actriz em mente, e são hoje universalmente aclamados como 'tesouros' nostálgicos.

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Falamos da duologia 'Do Cabaré Para o Convento' (no original, 'Sister Act'), cujo primeiro filme celebrou recentemente o trigésimo aniversário da sua estreia em Portugal, a 28 de Janeiro de 1993. E porque, nessa semana, preferimos falar dos filmes de James Bond, rectificamos agora o nosso lapso, debruçando-nos não só sobre esse trabalho, como também sobre a sua sequela, potencialmente ainda mais reconhecida e bem-amada pela geração noventista.

Ambos os filmes vêem Whoopi encarnar a mesma personagem, uma cantora de cabaré que, devido a peripécias várias, se vê obrigada a fazer-se passar por freira, sob o nome de Irmã Mary Clarence. Escusado será dizer que a vida espartana de um convento pouco ou nada combina com a extrovertida Dolores (o nome verdadeiro da personagem) que – no primeiro filme - rapidamente tenta 'animar' um pouco as hostes através de mudanças no repertório do coro. Como não podia deixar de ser, estas mudanças são veementemente recusadas pela Madre Superiora e restantes responsáveis do convento, mas (também previsivelmente) Dolores acaba por fazer valer a sua vontade e ganhar a confiança de todas as residentes do convento.

Já a sequela vê as Irmãs tornarem-se professora numa escola de bairro social, plena de alunos difíceis (entre os quais uma jovem Lauryn Hill, mais tarde membro dos lendários Fugees), que Dolores deverá tentar conquistar através da música e do canto, numa espécie de versão comédica de filmes como “Mentes Perigosas” e “Escritores da Liberdade” - ambos, curiosamente, posteriores à obra de Whoopi! E se o original rendera alguns bons momentos sem, no entanto, se destacar particularmente em nenhum aspecto, este segundo filme traz uma cena final absolutamente icónica, em que a turma de Dolores/Mary Clarence participa numa competição de coros, e tem um desempenho por demais memorável. Só por isso, a sequela já supera o original; no entanto, este não é o seu único argumento, sendo que a 'parte 2' conta, também, com melhor argumento e uma série de bons desempenhos por parte dos jovens actores que interpretam os alunos, com óbvio destaque para Hill no papel de Rita, uma jovem cujos pais não aprovam o sonho de uma carreira musical.

Em suma, sem serem tão icónicos, histórica e culturalmente relevantes ou até memoráveis como alguns dos outros filmes de que vimos falando nesta rubrica, os dois 'Do Cabaré Para o Convento' não deixam, ainda assim, de constituir escolhas perfeitamente válidas para uma 'sessão dupla' de cinema em casa ao fim-de-semana, continuando a 'aguentar-se' tão bem no mundo do celulóide actual como no de há trinta anos atrás; e ainda que Whoopi Goldberg tenha, no entrementes, perdido muita da preponderância que então tinha em Hollywood, o seu legado mantém-se ainda assim vivo, em grande parte devido a estes dois filmes, que continuam a atrair gerações de novos fãs de todas as idades até aos dias de hoje.

30.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Durante o mês de Dezembro, temos feito uso dos 'posts' de Sexta-feira para recordar alguns filmes marcantes estreados em Portugal durante esse mês, em diversos pontos dos anos 90; nesta última Sexta-feira do ano - e apesar de a época natalícia já se encontrar oficialmente encerrada e de os pensamentos de grande parte dos nossos leitores estarem já nos preparativos do Reveillon de Ano Novo - manteremos esse padrão, e aproveitaremos para recordar um último filme de Natal da época, no caso o 'remake' de 'Milagre em Manhattan', de 1994.

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Produzido quase cinco décadas após o original (estreado em 1947, e também originalmente intitulado 'Miracle on 34th Street', mas que em Portugal recebeu o título 'De Ilusão Também Se Vive') e chegado aos cinemas nacionais a 16 de Dezembro de 1994 (quase exactamente dois anos após a estreia em Portugal de 'Sozinho em Casa 2', e dois anos antes da de 'O Tesouro de Natal'), o filme traz como principal atractivo para as crianças a presença, no papel principal, da pequena Mara Wilson, actriz que atravessava à época o 'estado de graça' da sua carreira, após a sua auspiciosa estreia em 'Papá Para Sempre', do ano anterior, e que viria também a viver a popular personagem infantil Matilda, dois anos depois; já os adultos tinham no veterano Richard Attenborough, conhecido pelos mais jovens como John Hammond, o milionário excêntrico de 'Parque Jurássico' e aqui coadjuvante da menina, a garantia de uma prestação de qualidade, que lhes mantivesse o interesse até ao final do filme e os impedisse de adormecer em pleno cinema. Juntos, os dois actores são responsáveis por 'aguentar' a grande maioria do filme, auxiliados aqui e ali por Elizabeth Perkins, no papel de Dorey Walker, mãe da pequena Susan, vivida por Wilson.

O resultado é um filme que, sem deslumbrar nem entrar para a História do cinema, cumpre com distinção a sua missão de ser um filme de Natal acima da média e capaz de agradar a toda a família, conseguindo mesmo a proeza de constituir um 'remake' bem conseguido de um clássico intemporal, ainda que sem chegar ao patamar de qualidade do mesmo. Ainda assim, haveria decerto, à época, opções muito piores para passar uma tarde em família no cinema - ou, em anos subsequentes, frente à televisão; como tal, e numa altura em que os serviços de 'streaming' permitem fácil acesso a uma enorme variedade de filmes (de que este não é excepção) nada melhor para as tardes chuvosas que se avizinham do que abrir o Disney + e prolongar por mais uns dias a atmosfera natalícia, enquanto, ao mesmo tempo, se mostra às novas gerações que os filmes de Natal noventistas não se resumem apenas ao inevitável 'Sozinho em Casa'...

23.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de a principal vertente da sua fama ter surgido no contexto do cinema de acção - do qual foi um dos grandes heróis durante os anos 80 e 90, tendo participado numa série de filmes marcantes do género - Arnold Schwarzenegger atravessou, no início e meados da última década do século XX, uma fase em que se tentou, também, afirmar como actor de comédia, tirando proveito do seu aguçado 'timing' cómico; e a verdade é que esta experiência, apesar de nem sempre totalmente bem conseguida, não deixou de render pelo menos um verdadeiro clássico, no excelente 'Um Polícia no Jardim-Escola', lançado logo em 1990. E apesar de os filmes seguintes do actor no mesmo registo - como 'Júnior' ou 'O Último Grande Herói' - não terem conseguido o mesmo sucesso, 'Arnie' viria, ainda, a contribuir para mais um filme de culto entre a juventude dos anos 90, bem como entre os fãs dos filmes de Natal. É desse filme, que completou esta semana vinte e seis anos sobre a sua estreia em Portugal, que falaremos nesta última Sexta de Sucessos antes da Consoada.

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Trata-se de 'O Tesouro de Natal' ('Jingle All The Way' de seu título original) estreado em terras lusas a 20 de Dezembro de 1996, numa altura em que a imagem de Schwarzenegger era, ainda, suficiente para 'vender' filmes por si só. E a verdade é que, sem 'Arnie', este filme talvez nem tivesse adquirido o estatuto de 'meme' 'tão mau que é bom' de que hoje goza, já que é das 'caretas' e dichotes de efeito do actor que advêm os momenos mais memoráveis da película, ficando as intervenções sem graça do insuportável Sinbad e restantes tentativas falhadas de fazer rir a audiência algo 'esquecidas' por comparação.

Schwarzenegger é responsável por muitos dos melhores momentos do filme.

Tal como existe, e longe de ser um bom filme ou merecer o estatuto de clássico da época natalícia gozado por filmes como 'Gremlins', 'O Estranho Mundo de Jack' ou o binómio 'Sozinho em Casa', 'O Tesouro de Natal' vale o visionamento apenas pela exibição tresloucada de 'Arnie', ao estilo das que tornam, hoje, conhecido Nicolas Cage, mas bastante mais intencional, e que transforma uma comédia de Natal comercial e medíocre em algo ainda hoje lembrado - ainda que ironicamente - por toda a geração que a ela assistiu há um quarto de século.

17.12.22

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2022.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

No primeiro Natal do Anos 90, há quase exactamente um ano, fizemos questão de recordar aquele que continua a ser, possivelmente, o maior clássico de Natal da geração de finais do século XX, o imortal e perene 'Sozinho em Casa'; agora, doze meses volvidos e no fim-de-semana em que se celebram trinta anos sobre a sua estreia em Portugal, chega a altura de recordar a primeira e mais famosa sequela do filme de Chris Columbus.

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Produzido e lançado nos EUA em Novembro-Dezembro de 1991, 'Sozinho em Casa 2: Perdido em Nova Iorque' demoraria, como o original, quase um ano a atravessar o Atlântico, surgindo nas salas de cinema portuguesas apenas a 18 de Dezembro de 1992, ainda mais que a tempo de cativar os jovens fãs do original e de capitalizar sobre a popularidade da mini-estrela Macaulay Culkin, que surge novamente no papel que o revelou ao Mundo: o de Kevin McAllister, filho mais novo de uma família numerosa e com uma certa tendência para o ignorar, ou, pior, esquecer-se dele. E se no primeiro filme Kevin havia sido deixado para trás aquando de uma viagem de férias, desta vez, é durante a visita da família à cidade de Nova Iorque que o engenhoso mas ingénuo jovem se separa da família, vendo-se obrigado a tentar encontrá-la ao mesmo tempo que procura escapar às maquinações dos bandidos de Daniel Stern e Joe Pesci, que se procuram vingar dele pelos eventos do primeiro filme; pelo meio ficam interacções com Donald Trump (sim, interpretado pelo próprio), 'visitas guiadas' cinematográficas às principais atracções da Nova Iorque natalícia de princípios dos anos 90 e, claro, aquela mistura de humor e sentimento que caracteriza qualquer bom filme de Natal, e que fizera do primeiro filme o tremendo sucesso que foi.

Infelizmente, apesar de a 'fórmula' ser mais ou menos a mesma, bem como o realizador e elenco, 'Sozinho em Casa 2' dá razão à máxima que diz que as sequelas nunca são tão boas como os originais, nunca chegando a ser um clássico ao nível do original. Talvez seja a ausência das armadilhas caseiras que proporcionavam todos os bons momentos do primeiro filme, ou talvez a ambição demasiada em colocar Kevin a deambular pela gigantesca 'Big Apple' - o certo é que falta mesmo a esta primeira sequela aquele 'pózinho secreto' que lhe permitisse ombrear com o seu antecessor. Ainda assim, em vista do que se seguiria - e da maioria das comédias de Natal infantis estreadas desde então (como os insuportáveis 'Grinch' e 'Elf - O Falso Duende') 'Sozinho em Casa 2' não deixa de ser uma película acima da média, e capaz de proporcionar algumas gargalhadas aos mais novos numa tarde de cinema em família - desde que, claro, se faça questão de exibir também, na mesma sessão, o primeiro filme. E, para facilitar, deixamos abaixo o 'link' de YouTube para o filme completo...

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