03.01.25
Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
Na última Sessão de Sexta, referimo-nos a 'Os Dias do Fim' como um dos últimos filmes de acção a estrear em 1999, e, por conseguinte, no século XX e no Segundo Milénio; agora, duas semanas depois, recuamos cinco anos no tempo para relembrar o filme que teve a honra de 'fechar', em Portugal, o ano cinéfilo de 1994 (pelo menos em matéria de 'blockbusters) e que comemorou há cerca de dez dias o trigésimo aniversário da sua estreia nas salas de cinema nacionais. E a verdade é que, tal como 'Os Dias do Fim', o filme desta Sexta se saldou como uma desilusão, embora de forma totalmente diferente da película de Arnold Schwarzenegger - e bastante mais notória.
De facto, enquanto que 'Os Dias do FIm' foi 'apenas' um 'flop' de bilheteira pouco notável para uma estrela de acção oitentista em fase decadente da carreira, 'Street Fighter - A Batalha Final' quase acabou com a carreira já periclitante daquele que talvez seja o 'herói de acção' dos anos 80 e 90 mais próximo de Schwarzenegger - pelo menos em termos geográficos - e é hoje visto tanto como um dos mais famosos filmes 'tão maus que são bons' como como um dos melhores exemplos - a par de 'Super Mário' - de como NÃO converter uma propriedade interactiva para o grande ecrã. E a verdade é que, como no caso de 'Super Mário', do ano anterior, a receita-base tinha tudo para resultar, combinando um dos mais populares jogos de arcada, computador e consola com um dos mais populares actores entre a faixa etária que mais interesse tinha pelo mesmo; o facto de o resultado final quase parecer uma paródia de filmes do seu tipo não pode, portanto, ser considerado menos do que um falhanço em toda a linha por parte da equipa técnica, que parece ter-se esforçado ao máximo para errar em absolutamente TODOS os detalhes do material original.
Senão veja-se: 'Street Fighter - A Batalha Final' traz Jean-Claude Van Damme (um belga de sotaque pronunciado) no papel de Guile, um capitão da Força Aérea NORTE-AMERICANA, com direito a tatuagem da bandeira no braço (que talvez até fosse aceitável como nativo da Luisiana, fosse feita qualquer menção a esse facto no argumento) Chun-Li como repórter (ela que é agente da Interpol no jogo original), E. Honda como seu 'cameraman' (e interpretado por um actor samoano, talvez inspirando-se no Yokozuna da WWF), Dhalsim como cientista ao serviço de M. Bison (no original, é um místico indiano...parecido, mas não idêntico) e o próprio M. Bison como um esqueleto ambulante a bordo de uma cadeira voadora (e interpretado por um Raul Julia terminalmente doente, e que já não assistiria à estreia do filme, deixando assim a 'memética' actuação como temido ditador ASIÁTICO como seu último legado)!! Uma verdadeira 'comédia de erros', que se sobrepõe às poucas escolhas acertadas, como a excelente nomeação de Kylie Minogue para o papel de Cammy (se bem esta seja inglesa, e não australiana...mais uma vez parecido, mas não idêntico) e as acertadas referências visuais para personagens como Vega, Sagat ou Zangief, este utilizado como competente 'alívio cómico', constituindo um dos pontos altos do filme. Mesmo com estes (poucos) pontos positivos, no entanto, não deixa de ser estarrecedor como foi possível aos guionistas e realizador falhar em tão grande escala escala na adaptação do material original.
Raul Julia é responsável por muitos dos momentos mais memoráveis do filme.
Felizmente, pouco depois do lançamento desta desapontante adaptação, os fãs da franquia receberiam a tão desejada 'prenda', sob a forma de 'Street Fighter - O Filme', a magnífica adaptação em anime que é tudo o que 'A Batalha Final' não consegue ser: dinâmico, fiel ao material original e, sobretudo, muito divertido. Quanto à 'bomba' de Van Damme, a mesma é divertida por razões totalmente opostas, mas pouco recomendável a maiores de dez anos (seja nos tempos que correm ou na altura da estreia do filme) ou a quem queira ver uma adaptação genuinamente boa do seu jogo de luta favorito, saldando-se ainda hoje como um dos mais frustrantes e desapontantes filmes dos anos 90, que terá, sem dúvida, 'estragado o Natal' a muitos fãs esperançosos ao 'aterrar' nas salas de cinema dois dias antes da festividade em causa, há quase exactos trinta anos.