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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

19.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Para a maioria das crianças e jovens dos anos 80 e 90, Robin Williams é conhecido, sobretudo, pelos seus dotes cómicos, ombreando com nomes como Eddie Murphy, Tim Allen, Rowan Atkinson ou Jim Carrey no panteão de grandes actores de comédia da época; para os espectadores mais velhos, no entanto, o malogrado actor era, também, famoso pela sua versatilidade, sendo capaz de interpretar de forma convincente (embora sempre imbuída da sua fisicalidade e dramatismo propositadamente exagerados) papéis mais 'sérios'. A própria filmografia do actor demonstra explicitamente essa dicotomia, com filmes como 'Papá Para Sempre', 'Flubber – O Professor Distraído' ou a versão original do 'Aladdin' da Disney a serem contrapostos com magníficas interpretações dramáticas em obras como 'Bom Dia Vietname', 'O Bom Rebelde', ou o filme que inspira esta Sessão extra, por ocasião do trigésimo-quarto aniversário da sua estreia em Portugal.

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De facto, apesar de tecnicamente o post da passada Quinta-feira servir 'função dupla' como Sexta com Style, não poderíamos deixar de aproveitar a ocasião de falar de um dos filmes mais marcantes do início dos anos 90, no exacto dia em que, no primeiro mês da nova década, o mesmo surgia nos cinemas lusitanos, dando-nos, assim, a 'desculpa' perfeita para o incluirmos neste nosso 'blog'. Falamos de 'O Clube dos Poetas Mortos', clássico do género dramático que, fosse no cinema ou, mais tarde, através do mercado de vídeo, teve impacto directo sobre pelo menos duas gerações de cinéfilos, pela sua bem conseguida mistura de drama 'para chorar' com elementos relativos ao processo de amadurecimento, com que o público-alvo facilmente se conseguia identificar.

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O ´professor' e 'alunos' nos quais se centra o filme.

Guiado por uma magnífica interpretação de Williams como o novo professor de Literatura de uma escola privada norte-americana determinado a fazer 'sair da casca' os seus alunos, o filme conta, ainda, com 'performances' de alto nível por parte dos jovens actores que compõem a turma, com destaque para um jovem Ethan Hawke e para Robert Sean Leonard, futura 'cara conhecida' de várias séries de televisão. E apesar de o tempo se ter encarregue de tornar certas falas e cenas 'meméticas' ao ponto de quase parecerem paródias, a verdade é que é difícil negar a qualidade de escrita e interpretação das mesmas, e do filme em geral, e a validade da sua mensagem – embora, neste último caso, seja fácil a um espectador mais experiente oferecer contrapontos a várias das ideias do filme. Para o público-alvo, no entanto, as mensagens de auto-determinação, auto-descoberta e rejeição do destino por outros traçado terão sido por demais eficazes, explicando o estatuto de culto de que o filme continua a gozar.

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A cena mais icónica do filme.

Acima de tudo, o filme de Peter Weir faz parte daquele contingente de obras cinematográficas que se recusa a 'envelhecer', podendo tão facilmente ter sido rodado no ano transacto como três décadas antes - como foi o caso – e que, por isso, continuam a constituir uma excelente experiência fílmica, mesmo para a geração habituada a efeitos especiais mirabolantes e ritmos de acção frenéticos. Isto porque, conforme acima notámos, as mensagens transmitidas pela obra continuam a afirmar-se como universais, o que, aliado ao excelente elenco, poderá fazer com que a geração digital levante o olhar do TikTok durante duas horas, e se delicie com uma Sessão de Sexta ainda hoje acima da média - teoria que pode ser testada seguindo este link...

22.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar da sua riqueza narrativa e textual, e de fazerem parte do imaginário da maioria das crianças ocidentais, as histórias da Bíblia apenas esporadicamente têm servido de base a criações mediáticas para crianças, continuando a grande maioria dos exemplos de adaptações tanto do Novo como do Velho Testamento a apontar a um público adulto ou, no limite, familiar. Àparte a ocasional série ou filme animado de baixo orçamento baseado numa única história, o único exemplo verdadeiramente relevante de uma adaptação bíblica declaradamente infanto-juvenil celebrou no início desta semana exactos vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, a 18 de Dezembro de 1998, e continua a ser lembrado como um dos melhores filmes 'para crianças' de finais do século XX, tendo contribuído, em larga medida, para cimentar a Dreamworks como concorrente da Walt Disney no mercado da animação.

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Falamos, claro está, de 'O Príncipe do Egipto', um dos últimos filmes 'tradicionalmente' animados do catálogo da companhia (que, poucos meses antes, dera o primeiro 'salto' total para o 3D, com o lançamento de 'Antz - Formiga Z') e unanimemente considerado um dos seus melhores, pela sua cuidada junção e curação de aspectos narrativos e artísticos em prol de um todo de elevadíssima qualidade, que aperfeiçoava o que o antecessor 'O Caminho Para El Dorado' estabelecera dois anos antes.

Propondo-se narrar a lendária história de Moisés, o profeta que, segundo a Bíblia, fez abrir o Mar Vermelho e permitiu a fuga de milhares de judeus do Egipto, o filme dá, no entanto, quase igual atenção ao irmão adoptivo do protagonista, o titular Príncipe (ou Faraó) Ramsés. Toda a primeira parte do filme se centra em mostrar a dinâmica fraternal entre ambos, com Moisés a comportar-se como o típico herdeiro de um soberano, em camaradagem com Ramsés; apenas após descobrir a verdade sobre as suas origens se começa a ver a transformação no protagonista, e, como consequência, na sua relação com o irmão adoptivo. A grande 'proeza' do filme é conseguir que, nesta fase, nenhum dos dois irmãos surja como vilão declarado, sendo fácil compreender os pontos de vista e sentimentos de ambos, e cabendo ao espectador decidir com quem alinhar as suas simpatias; ainda que seja Moisés quem é codificado como o herói, a vilania de Ramsés apenas se manifesta no terceiro acto, quando o mesmo leva a cabo a famosa perseguição a bebés. O resultado é um filme mais interessado no aspecto humano da narrativa do que na grandiosidade dos antigos épicos bíblicos, ainda que este aspecto não se encontre em falta, com a Dreamworks a fazer excelente uso não só das capacidades dos seus animadores como também dos melhores recursos CGI disponíveis à época.

Não é, pois, de surpreender que 'O Príncipe do Egipto' se tenha traduzido num enorme sucesso entre o seu público-alvo, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo, sendo que a versão nacional contava, ainda, com uma excelente dobragem, na linha das realizadas para os filmes da Disney da mesma época. Foi, portanto, também com naturalidade que a obra foi capaz de reter a percepção crítica, tanto por parte do público como da imprensa, ao longo das duas décadas e meia seguintes, tendo a sua 'fama' sobrevivido, mesmo, à 'passagem' de gerações - um feito notável para qualquer filme de finais do século XX. É, pois, mais que merecida esta homenagem, na semana em que se celebra um quarto de século sobre a estreia de um dos últimos grandes épicos infantis do século XX.

A versão em Português de uma das cenas icónicas do filme.

16.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 15 de Dezembro de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O facto de, hoje em dia, quase todos os filmes surgirem em cinemas um pouco por todo o globo ao mesmo tempo, em estreia mundial, pode fazer esquecer que, nos anos 90, passava-se precisamente o contrário, podendo a mesma película estrea em dois países adjacentes com várias semanas ou até meses de atraso. Na maioria dos casos, esta 'décalage' não ultrapassava alguns dias, mas chegava a haver casos extremos em que certos filmes estreavam em determinadas regiões com intervalos absurdos - como no caso de 'Sozinho em Casa', que, em Portugal, estreou quase exactamente um ano após o seu aparecimento nos EUA. E embora esse mesmo filme tenha, ainda assim, surgido na época natalícia, pese embora o atraso, outros havia que o fenómeno em causa 'empurrava' para alturas descabidas e algo aleatórias, retirando-lhe parte da potencial audiência que pudesse ter tido interesse na época certa do ano. Foi o caso do filme abordado nesta Sessão de Sexta, o qual, apesar de ter completado na semana que ora finda trinta anos sobre a sua estreia, seria muito mais adequado para exibição em finais de Outubro ou inícios de Novembro, na época do Halloween.

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Falamos de 'A Família Addams 2', ou 'Addams Family Values', sequela da popular película de 1991 sobre uma família algo 'monstruosa', a qual, por sua vez, adaptava a banda desenhada de Charles Addams, E a verdade é que, talvez previsivelmente, muitos dos elementos que garantiram o sucesso dessa primeira empreitada voltam a surgir neste segundo filme, do icónico elenco com Raul Julia, Anjelica Huston, Christopher Lloyd ou Christina Ricci à atmosfera declaradamente arrepiante em que os seus personagens desenvolvem as suas vida - uma receita que funcionaria ainda melhor não tivesse o filme estreado em plena 'marcha' para o Natal, já longe do clima de abóboras, morcegos e casas assombradas dos dois meses anteriores. Sob as iluminações com motivos de Pais Natais, velinhas e bolas para a árvore, a família titular do filme parecia mais deslocada do que assustadora, sendo este daqueles casos em que um intervalo algo excessivo para colocar o filme em sala terá impedido a facturação de uma parcela significativa de receitas.

Ainda assim, quem se deu ao trabalho de ir ver o filme naquela 'recta final' do ano de 1993 certamente não terá ficado desapontado, já que, conforme acima referido, o filme oferece 'mais do mesmo' ao nível do humor, interpretações e mesmo história, além de adicionar mais um nome de talento ao elenco, no caso Joan Cusack, no papel da noiva 'interesseira' (e assassina) do Fester Addams de Christopher Lloyd. As diferenças ficam por conta de um tom mais negro e menos abertamente cómico, que torna 'Família Addams 2' um filme mais 'adulto' do que o seu antecessor, e que o ajudou a ser melhor recebido pela crítica do que este, embora o desempenho em bilheteira tenha sido inferior. No entanto, numa época da História em que o visionamento de um filme não fica confinado ou limitado pela presença do mesmo em sala ou na televisão, 'Addams 2' encaixa muito melhor como filme de Halloween, em formato de 'maratona' com o primeiro e com os dois 'remakes' animados, numa estratégia que permite ignorar o facto de esta sequela ter estreado no nosso País no incongruente mês de Dezembro...

17.11.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos géneros cinematográficos e televisivos mais frequentemente associados com os anos 90 é o do humor escatológico e politicamente incorrecto. Se, nos anos 80, Hollywood se tinha tornado obcecada com as experiências recreativas e sensuais de personagens adolescentes, na década seguinte, foram as funções corporais que mais foco tiveram nas suas produções, algumas das quais herdavam moldes oitentistas e os actualizavam com ainda mais piadas, literalmente, porcas (como 'American Pie – A Primeira Vez') enquanto que outros aplicavam essa fórmula a géneros, à primeira vista, incompatíveis com o mesmo, como as comédias românticas.

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O filme desta Sexta como parte da colecção de VHS da TV Guia, já no século XXI.

Talvez o mais famoso e bem-conseguido exemplo desta última categoria estreava em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos (no penúltimo dia de Outubro de 1998) e viria a afirmar-se como um sucesso não só durante a sua exibição original como também em décadas subsequentes, nas quais continuou em alta rotação no mercado de vídeo e DVD, bem como na televisão, e reteve a sua relevância no contexto de conversas sobre cinema. Falamos de 'Doidos Por Mary', o filme mais conhecido por incluir uma cena em que, durante um jantar romântico, a personagem principal aplica o que pensa ser gel no cabelo, passando as cenas seguintes com um penteado tão estranho como icónico.

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A cena que imortalizou e catapultou a película dos irmãos Farrelly.

Há, no entanto, mais atractivos do que apenas uma piada bem conseguida no filme dos irmãos Farrelly, eles próprios mestres do estilo escatológico, ou 'gross-out'. Isto porque, em meio a todas as piadas sobre fluidos usados de forma mais do que indevida, o filme traz uma mensagem até algo feminista, em que os personagens mais abertamente misóginos ou machistas (ou mesmo apenas falsos) são prontamente desmascarados, e sofrem as consequências pelas suas acções, sendo o personagem mais genuíno e honesto, ainda que menos atraente ou atractivo (o Ted de Ben Stiller), o escolhido pela titular Mary, um dos papéis mais icónicos da lindíssima Cameron Diaz, uma beldade sem medo de gozar consigo própria, como bem o comprova a cena acima descrita.

É, precisamente, esse balanço entre piadas hilariantemente absurdas (nem todas escatológicas – também há aqui alguns óptimos diálogos) e uma vertente mais honestamente sentimental que ajuda a tornar 'Doidos Por Mary' um clássico num campo sobrepovoado, mas em que a maioria dos filmes têm dificuldade em gerir esta dicotomia; como tal, e ainda que nem tudo tenha 'envelhecido' bem no filme dos Farrelly, o mesmo continua a ser uma excelente escolha para ver com os amigos ou familiares, acompanhado de bebidas e aperitivos, ou mesmo como Sessão de Sexta em conjunto com um parceiro com tanto sentido de humor quanto a personagem feminina – pela qual é bem possível que fiquem, também eles, 'Doidos'...

 

26.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 25 de Agosto de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje em dia, o nome de Quentin Tarantino é sinónimo de um certo e determinado tipo de cinema, pleno de referências à cultura 'pop', diálogos inteligentes e cheios de palavras incomuns, humor negro e, muitas vezes, doses cavalares de 'molho de tomate'. Mas se, hoje em dia, o cinema do realizador (com todos os elementos supracitados) faz parte das referências de qualquer cinéfilo, em Maio de 1993, o mesmo era um ilustre desconhecido - pelo menos para os jovens lusitanos, que se preparavam (sem o saber) para tomar contacto com a sua primeira obra-prima.

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Terceiro filme do realizador (embora seja o primeiro de maior expressão, e considerado por muitos como a sua verdadeira estreia), 'Cães Danados' ('Reservoir Dogs', no original) traz já todos os elementos supracitados, bem como outros típicos de Tarantino (como a 'ponta' do próprio realizador numa das cenas), tendo sido responsável por os implementar e apresentar ao grande público. E se, em trabalhos subsequentes, QT se desdobraria em arroubos de história, aqui, o argumento não pode ser mais simples: todo o filme se passa num único local, um armazém abandonado, e se centra num único grupo de seis homens, ali refugiados após um assalto mal-sucedido. Sem saberem nada uns sobre os outros, além dos nomes de código referentes a cores, os mesmos acabam, ainda assim, por desenvolver relações interpessoais de cariz tragicómico, num resultado final que fica entre a comédia negra e a vertente mais sarcástica dos filmes de crime (ao estilo Guy Ritchie).

Alicerçado nas excelentes exibições de Harvey Keitel, Steve Buscemi, Tim Roth e Michael Madsen, 'Cães Danados' não tardou a ganhar renome como um dos filmes mais sangrentos até então filmados, e também como uma descontrução dos filmes de crimes, semelhante à sua inspiração directa, 'The Killing', de Stanley Kubrick. O seu sucesso contribuiu também, em larga medida, para estabelecer o nome de Tarantino como jovem realizador a ter em conta, um estatuto que seria cimentado pelo seu trabalho seguinte, o lendário 'Pulp Fiction', lançado em 1994. 'Cães Danados' é, no entanto, muito mais do que apenas um 'ensaio geral' para esse filme, e continua a merecer os elogios de que é alvo, mesmo após completadas três décadas sobre a sua chegada a Portugal.

16.06.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Na última edição desta rubrica, falámos de 'Eu, Tina', o filme biográfico sobre a diva da pop e soul noventista Tina Turner; nada mais adequado, portanto, do que dar, agora, atenção ao filme protagonizado pela sua principal rival (ou aprendiz, se preferirmos) e que se tornou um dos maiores sucessos dos anos de 1992 e 1993 um pouco por todo o Mundo, incluindo em Portugal.

Falamos de 'O Guarda-Costas', o drama romântico que colocava lado a lado Kevin Costner e Whitney Houston, e cuja banda-sonora, composta exclusivamente por músicas interpretadas por esta última, incluindo o mega-êxito 'I Will Always Love You', foi o disco mais vendido em Portugal há exactos trinta anos. E a verdade é que a oportunidade de ver e ouvir Whitney cantar alguns dos seus grandes 'hits' talvez tenha sido uma das razões para o sucesso de um filme que, de outro modo, se limita a seguir (ainda que competentemente) um dos guiões-padrão do estilo: aquele em que duas pessoas forçadas a colaborar num contexto profissional acabam por se apaixonar.

Neste caso, o par romântico é formado pela cantora de Houston, a típica diva mandona e de mau-humor, e pelo seu guarda-costas, interpretado por Kevin Costner, então numa 'mó de cima' que seria abruptamente terminada pelo fracasso de 'Waterworld', menos de dois anos depois. Apesar de nunca ter sido grande actor, Costner era (é) dotado de um carisma e de uma aura de 'pessoa normal' que o tornavam perfeito para filmes deste tipo, em que o objectivo era fazer com que o público simpatizasse com os personagens; e, a julgar pela receita de bilheteira deste mega-sucesso, a fórmula resultou em pleno nesta instância.

Outro ponto a favor de 'O Guarda-Costas', aos olhos do público da altura, talvez tenha sido o próprio género em que se inseria; os anos 90 foram uma época cinematograficamente propensa a romances de índole clássica (como bem o comprova o maior sucesso de bilheteira de toda a década, e um dos maiores de sempre, 'Titanic') e este filme constitui um exemplo acima da média dessa sub-categoria, pelo que não terá deixado de atrair a sua quota-parte de adolescentes românticas, casalinhos apaixonados, e espectadores mais velhos em busca de uma história em moldes clássicos – no fundo, a mesma audiência de outro clássico do início da década, 'Pretty Woman - Um Sonho de Mulher' (do qual também aqui, paulatinamente, falaremos).

Fossem quais fossem os motivos por detrás do seu sucesso, no entanto, a verdade é que 'O Guarda-Costas' se saldou mesmo como um dos filmes mais lucrativos de 1993, ajudando a projectar ainda mais a fama já considerável de Whitney Houston. Curiosamente, no entanto, esta primeira experiência não levou a mais papéis por parte da cantora, que se dedicaria sobretudo à música durante a sua restante carreira (do 'destino' de Costner, já falámos neste mesmo texto). Ainda assim, uma primeira 'aventura' com este grau de sucesso terá sido mais do que suficiente para satisfazer Whitney, já que ajudou a reforçar o facto de o seu nome ter suficiente poder de atracção para levar, por si só, milhões de espectadores ao cinema um pouco por todo o Mundo, incluindo em Portugal, e tornar o seu filme um dos maiores sucessos do período em que foi lançado. Nada mau, para um romance perfeitamente formulaico...

05.05.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de as mais diferentes formas de ficção se continuarem a centrar na ideia de que os sonhos se podem tornar realidade, na vida real, tal raramente acontece, sendo que, na maioria dos casos, até os esforços mais aturados se revelam inglórios. Talvez seja por isso que, quando um caso destes tem, efectivamente, lugar, o mesmo se revele tão satisfatório para o chamado 'grande público' – e um dos principais exemplos deste fenómeno surgiu em finais dos anos 90, quando um guião escrito de forma independente por dois actores conseguiu ir de rejeitado a mega-sucesso de bilheteira.

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Falamos de 'O Bom Rebelde' ('Good Will Hunting', no original), um dos vulgarmente chamados 'projectos de paixão' para Matt Damon e Ben Affleck, dois nomes, à época, já estabelecidos, mas ainda longe do estrelato de que mais tarde viriam a gozar. Os dois actores, ainda hoje melhores amigos, viram o guião que haviam passado a primeira metade da década a escrever (a partir de uma ideia que Damon tivera ainda durante o curso de Cinema em Harvard) ser rejeitado por praticamente todos os estúdios de Hollywood (incluindo uma 'mudança de ideias' por parte da Castle Rock Entertainment), forçando-os a usar os seus 'conhecimentos' dentro da indústria – no caso, o realizador independente de culto, Kevin Smith – para fazer chegar o trabalho à Miramax.

Contra todas as expectativas, a companhia dos irmãos Weinstein aprovou mesmo o guião, bem como a proposta de Damon e Affleck para que eles próprios ocupassem os papéis principais, e não tardou até que os dois actores se encontrassem em posição de escolher um realizador para o seu filme – um cargo que acabaria por caber a Gus Van Sant, depois de o próprio Smith ter rejeitado essa incumbência. Mais, os dois jovens actores veriam ser adicionado ao elenco um nome de vulto do cinema da altura – nada mais, nada menos do que Robin Williams, que regressava assim aos papéis dramáticos para interpretar o psicanalista do titular Will Hunting, o contínuo do MIT que descobre, quase por acaso, ser sobredotado para a Matemática, um facto que virá a mudar a sua vida.

Ainda hoje aclamado como um dos grandes filmes não só dos anos 90 como da era moderna, 'O Bom Rebelde' consegue a proeza de não cair em nenhuma das 'armadilhas' que a presença de alguns dos nomes envolvidos poderia suscitar: não se trata de um filme pretensioso, como os que Gus Van Sant costuma realizar, nem lamechas, pese embora a presença de Robin Williams, e até mesmo Affleck se encontra em 'dia sim' em termos de representação, sendo este um dos seus melhores papéis da sua já longa carreira. A soma de todas estas partes resulta num filme que (pouco mais de vinte e cinco anos após a sua estreia em Portugal, em Março de 1998) continua a valer mesmo a pena ver, e a justificar a aclamação crítica que lhe foi dedicada, tanto à época como em anos subsequentes. Em suma, um 'conto de fadas real' com final feliz - tanto para os dois actores e argumentistas, que conseguiram fazer 'sair do chão' o projecto a que haviam dedicado parte da juventude, como para os cinéfilos, que se viram, naquela Primavera de 1998, brindados com um excelente e justamente premiado drama.

21.04.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 80 e 90 viram nascer diversos novos sub-géneros cinematográficos, quer dirigidos a um público adulto, quer às crianças e jovens; e, destes, um dos mais prolíficos e bem-sucedidos foi o chamado 'slasher movie' – aquele género de filme em que um assassino mascarado persegue indefesas vítimas adolescentes, por motivos normalmente revelados no fim do filme.

Tendo em 'Halloween', de 1979, a sua obra-génese, este género dominou as salas de cinema tanto na década seguinte (em que títulos como 'Sexta-Feira 13', 'Pesadelo em Elm Street' ou o próprio 'Halloween' geraram séries de sequelas aparentemente intermináveis) como nos anos 90, quando uma semi-paródia do género intitulada 'Gritos' ajudou, ironicamente, a despertar o interesse de toda uma nova geração por este estilo de filme. Como consequência (previsível, diga-se de passagem) o público jovem assistiu, durante a década seguinte, ao aparecimento de uma verdadeira 'torrente' de filmes de terror nestes moldes, alguns dos quais viriam a fazer tanto sucesso quanto 'Gritos', e a gerar tantas sequelas (como a série 'Destino Final') mas cuja grande maioria não almejava a ser mais do que entretenimento descartável, destinado a gerar uns 'cobres' no imediato, mas sem pretensões a clássico do género.

O filme de que falamos esta semana – e que celebrou recentemente o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nas salas lusas – ficas lgures entre estas duas vertentes: o seu estatuto de 'primeiro seguidor' de 'Gritos' confere-lhe alguma distinção e memorabilidade extra por comparação com produtos posteriores, mas a obra em si rendeu, à época, uma única sequela, não tendo chegado aos píncaros de popularidade gozados pela franquia rival, e sendo hoje, sobretudo, lembrado como um dos vários filmes parodiados no primeiro 'Um Susto de Filme', alguns anos depois.

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Falamos de 'Sei o Que Fizeste no Verão Passado', estreado 'por cá' na Primavera (a 3 de Abril de 1998) e que trazia nos papéis principais os então ícones da cultura adolescente Sarah Michelle Gellar (a eterna protagonista de 'Buffy, a Caçadora de Vampiros', e que também marcaria presença na primeira sequela de 'Gritos', lançada no mesmo ano), Jennifer Love Hewitt, Ryan Phillippe e o 'bonitão' Freddie Prinze Jr. Um elenco feito 'à medida' para levar o público-alvo às salas de cinema, e que se encontrava bem escudado pela experiente Anne Heche, no papel da irmã do homem atropelado pelos quatro jovens protagonistas durante um passeio de carro, e que volta para se vingar dos mesmos da maneira mais extrema possível.

Este elenco de jovens (e não tão jovens) talentos é, aliás, crucial para credibilizar um filme que, a nível de guião, pouco ou nada acresce ao género, traduzindo-se essencialmente na habitual hora e meia de pessoas bonitas a gritar enquanto tentam fugir de um assassino, e a tomar todas as habituais decisões erradas que resultam na sua inevitável morte (à exepção, claro está, do casalinho principal.) Ou seja, exactamente a mesma fórmula que informara as obras originais do género, quinze a vinte anos antes, e que já na altura era parodiada de forma mais ou menos 'brutal' pelo referido 'Gritos 2', e mais tarde por 'Um Susto de Filme', já no Novo Milénio – algo que até nem é de estranhar, dado a inspiração do filme ter vindo de um livro publicado em 1973, anos ANTES do primeiro filme do género ser concebido.

Ainda assim, talvez pelo factor 'novidade' para o público jovem da altura (que não conhecia, necessariamente, os referidos pioneiros do género) o filme conseguiu suplantar esta falta de originalidade e afirmar-se como um relativo sucesso de bilheteira, capaz de gerar uma 'pegada cultural' suficiente para justificar uma sequela no ano seguinte.

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Com o óbvio título de 'Ainda Sei o Que Fizeste o Verão Passado', este segundo (e último) capítulo traz novamente Love Hewitt e Prinze Jr na pele do casal principal, aos quais se juntam outros nomes culturalmente relevantes para os jovens da altura, como Brandy, Mekhi Phifer e Matthew Settle. Desta feita, a trama desenrola-se num cenário paradisíaco – que irá, claro, tornar-se de pesadelo para o grupo de protagonistas, e sobretudo para a Julie de Hewitt, de quem o assassino pretende vingar-se após os eventos do primeiro filme. Uma sequela que – mais uma vez – adopta uma fórmula típica, sem grandes inovações ou novidades, mas que conseguiu ainda assim ser um sucesso de bilheteira.

É, portanto, pouco claro porque é que 'Sei o Que Fizeste...' foi incapaz de se tornar numa franquia a nível de 'Gritos', 'Destino Final' ou de qualquer das séries originais do género 'slasher'; ainda assim, quem era de uma certa idade em 1997 certamente terá pelo menos algumas memórias deste filme, cuja relevância (à época, mais do que actualmente) lhe confere o merecido direito a uma menção nesta nossa rubrica ao quarto de século da sua estreia em Portugal.

24.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os filmes de animação de finais do século XX tendiam a estar associados a um de três nomes: por um lado, o da tradicional e decana Walt Disney, então a atravessar um 'renascimento' que lhe viria a render um segundo estado de graça, por outro o da 'estreante' Pixar e, apenas um meio passo atrás, o do realizador Don Bluth, o qual, em parceria com a Amblin Entertainment de Steven Spielberg, deixaria um legado de 'clássicos' de animação modernos. E apesar de a melhor fase do criador ter tido lugar entre meados da década de 80 e inícios da seguinte – quando produziu obras-primas como 'Fievel, Um Conto Americano' (e respectiva sequela), 'Em Busca do Vale Encantado' e 'Todos os Cães Merecem o Céu' – os últimos anos do século XX ainda veriam ser lançado pelo menos mais um clássico com o nome de Bluth à cabeça: 'Anastasia', uma versão ficcionalizada, bem ao estilo da concorrente Disney, da história verídica de Anastasia Romanoff, czarina russa que, reza a lenda, terá sobrevivido ao atentado que vitimou a sua família em 1917.

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Considerado hoje como o filme que marcou o regresso à forma do realizador norte-americano após obras menos conseguidas como 'Um Duende no Parque', 'Hubie, o Pinguim' ou a sequela de 'O Segredo de Nimh', a animação estreou em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos, tendo chegado aos cinemas nacionais a 27 de Março de 1998, e conseguido boa aceitação entre o público infanto-juvenil nacional, apesar (ou talvez por causa) das semelhanças com as obras que a Disney vinha, à época, lançando anualmente. E se é verdade que o filme contém muitos dos elementos que se tornaram sinónimos com as animações da companhia do Rato Mickey – da protagonista que deseja mais da vida ao par romântico 'atrevido' e bem-parecido, sem esquecer os alivios cómicos, o vilão de traços angulares e, claro, as canções - nem por isso o mesmo deixa de ser um exemplo extremamente bem conseguido de um filme de família, capaz de maravilhar e até assustar o público-alvo (muito por conta do vilão Rasputin, uma daquelas criações que a equipa de animadores da Disney talvez desejasse ter concebido) sem descurar o público mais adulto – uma dicotomia que os melhores filmes animados e de família tendem a valorizar, e a saber balancear.

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O núcleo central de personagens do filme era bastante bem conseguido, com destaque para o pérfido vilão, Rasputin.

Talvez por isso 'Anastasia' se tenha tornado um dos 'clássicos menores' da animação dos anos 90, que, sem chegar ao nível de notabilidade de um 'Aladino' ou 'O Rei Leão', não deixa ainda assim de fazer parte das memórias nostálgicas de muitas crianças – portuguesas e não só. E a verdade é que tanto a animação quanto a história do filme 'envelheceram' marcadamente bem, afirmando-se como perfeitamente aceitáveis (e até acima da média) mesmo um quarto de século após o seu lançamento, e fazendo de 'Anastasia', ainda hoje, uma excelente proposta para um fim-de-semana chuvoso em família, em frente à televisão – quem sabe, como comemoração da data marcante que ora se assinala...?

10.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre todos os géneros de cinema, a comédia foi – a par dos filmes de acção – aquele que mais 'nomes sonantes' teve durante a década de 90, tendo actores como Jim Carrey, Robin Williams, Eddie Murphy e Will Smith - entre muitos outros - feito as delícias dos jovens daquele tempo, e deixado para a posteridade uma filmografia repleta de obras memoráveis para qualquer 'puto' de finais do século XX.

Nem só os 'rapazes' tinham direito a brilhar, no entanto, e a década a que este blog diz respeito revelou, também, uma congénere feminina para os nomes anteriormente citados, na pessoa de Whoopi Goldberg. Com o seu icónico e inconfundível visual, voz rouca, e capacidade de ser tão expressiva e exagerada como Carrey e tão emocionalmente sincera como Williams, a actriz afro-americana viveu um autêntico estado de graça em finais dos anos 80 e inícios dos 90, em que o seu nome num cartaz era suficiente para suscitar interesse num filme; e ainda que nem todas as escolhas de Goldberg tenham sido as mais acertadas (longe disso), dois dos seus filmes pareceram expressamente escritos com a actriz em mente, e são hoje universalmente aclamados como 'tesouros' nostálgicos.

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Falamos da duologia 'Do Cabaré Para o Convento' (no original, 'Sister Act'), cujo primeiro filme celebrou recentemente o trigésimo aniversário da sua estreia em Portugal, a 28 de Janeiro de 1993. E porque, nessa semana, preferimos falar dos filmes de James Bond, rectificamos agora o nosso lapso, debruçando-nos não só sobre esse trabalho, como também sobre a sua sequela, potencialmente ainda mais reconhecida e bem-amada pela geração noventista.

Ambos os filmes vêem Whoopi encarnar a mesma personagem, uma cantora de cabaré que, devido a peripécias várias, se vê obrigada a fazer-se passar por freira, sob o nome de Irmã Mary Clarence. Escusado será dizer que a vida espartana de um convento pouco ou nada combina com a extrovertida Dolores (o nome verdadeiro da personagem) que – no primeiro filme - rapidamente tenta 'animar' um pouco as hostes através de mudanças no repertório do coro. Como não podia deixar de ser, estas mudanças são veementemente recusadas pela Madre Superiora e restantes responsáveis do convento, mas (também previsivelmente) Dolores acaba por fazer valer a sua vontade e ganhar a confiança de todas as residentes do convento.

Já a sequela vê as Irmãs tornarem-se professora numa escola de bairro social, plena de alunos difíceis (entre os quais uma jovem Lauryn Hill, mais tarde membro dos lendários Fugees), que Dolores deverá tentar conquistar através da música e do canto, numa espécie de versão comédica de filmes como “Mentes Perigosas” e “Escritores da Liberdade” - ambos, curiosamente, posteriores à obra de Whoopi! E se o original rendera alguns bons momentos sem, no entanto, se destacar particularmente em nenhum aspecto, este segundo filme traz uma cena final absolutamente icónica, em que a turma de Dolores/Mary Clarence participa numa competição de coros, e tem um desempenho por demais memorável. Só por isso, a sequela já supera o original; no entanto, este não é o seu único argumento, sendo que a 'parte 2' conta, também, com melhor argumento e uma série de bons desempenhos por parte dos jovens actores que interpretam os alunos, com óbvio destaque para Hill no papel de Rita, uma jovem cujos pais não aprovam o sonho de uma carreira musical.

Em suma, sem serem tão icónicos, histórica e culturalmente relevantes ou até memoráveis como alguns dos outros filmes de que vimos falando nesta rubrica, os dois 'Do Cabaré Para o Convento' não deixam, ainda assim, de constituir escolhas perfeitamente válidas para uma 'sessão dupla' de cinema em casa ao fim-de-semana, continuando a 'aguentar-se' tão bem no mundo do celulóide actual como no de há trinta anos atrás; e ainda que Whoopi Goldberg tenha, no entrementes, perdido muita da preponderância que então tinha em Hollywood, o seu legado mantém-se ainda assim vivo, em grande parte devido a estes dois filmes, que continuam a atrair gerações de novos fãs de todas as idades até aos dias de hoje.

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