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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

01.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A psique humana, com as suas diversas 'nuances' e desvios, sempre serviu como uma das melhores fontes para material artístico – fosse ele literário, musical ou cinematográfico – não tendo o final do século XX sido, de todo, excepção a esta regra. Antes pelo contrário, só no mundo do cinema, a última década do Segundo Milénio viu serem produzidos uma série de clássicos dentro do género do 'thriller' psicológico, de 'Se7en – Sete Pecados Mortais' a 'Clube de Combate'. 'Conhece Joe Black?' ou ao filme que abordamos nesta Sessão de Sexta, no final da semana em que se comemoram os vinte e cinco anos da sua estreia nas salas de cinema portuguesas, a 28 de Janeiro de 2000.

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Com a sua complexa e difícil temática em torno da obsessão e de outros impulsos menos desejáveis do subconsciente humano, 'Beleza Americana' está longe de ser o tipo de filme que apele à juventude, normalmente mais virada para tramas de acção, ficção científica ou comédia; no entanto, a presença da bela Mira Sorvino – à época em alta entre a demografia juvenil, após a sua participação em 'American Pie – A Primeira Vez' – como parte de uma dupla de protagonistas adolescentes levou muitos menores de idade às salas de cinema para ver a longa-metragem de estreia do hoje conceituado Sam Mendes, acabando os mesmos por ter uma experiência, quiçá, algo distinta do esperado.

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Mira Sorvino e Kevin Spacey na cena mais icónica do filme.

Ainda assim, apesar da primeira impressão algo 'enganosa', qualquer pessoa que tenha visto 'Beleza Americana' terá pouco que apontar à reputação do filme, que merece largamente os elogios críticos que então lhe foram dispensados, bem como os galardões que amealhou – a saber, três Globos de Ouro (incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento) e nada menos do que seis Óscares, incluindo as três categorias principais – Melhor Filme, Actor e Actriz – e ainda as relativas à cinematografia, música e edição de imagem, o que, na era pré-'Senhor dos Anéis', representava um consenso e domínio crítico poucas vezes visto em tais cerimónias.

Não é, pois, de espantar que a película de Mendes se tenha rapidamente afirmado como um dos muitos 'clássicos' estreados num dos melhores anos da História do cinema moderno – um estatuto que continua a merecer mesmo após um quarto de século, e um sem-número de mudanças no paradigma cinematográfico, talvez pela ausência de efeitos especiais e outros 'truques' que acelerem o seu envelhecimento, ou talvez apenas pela qualidade de execução que apresenta em todos os seus aspectos. Um candidato mais que merecedor, portanto, a uma das nossas 'celebrações' retrospectivas, poucos dias após o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nacional.

19.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

'Eu vejo pessoas mortas.' Nos primeiros meses do Século XXI e do Terceiro Milénio, esta frase (ou alguma variação da mesma) era praticamente inescapável, sendo reproduzida, referenciada ou parodiada nos mais diversos meios e veículos de comunicação, sobretudo os de índole humorística, podendo facilmente inserir-se no restrito grupo de elementos mediáticos que constituíam 'memes' mais de uma década antes de esse termo ser criado ou penetrar na cultura popular. No entanto, toda esta exposição mediática acabava por constituir uma 'faca de dois gumes', já que o foco exclusivo nessa única linha de diálogo acabava por quase eclipsar a criação mediática da qual era proveniente – nomeadamente, um dos maiores (e melhores) filmes da viragem do Milénio.

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Estreado nas salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos (a 14 de Janeiro de 2000, menos de duas semanas após o início do novo ano, século e Milénio), 'O Sexto Sentido' conseguia a proeza de fazer da sua estrela principal o elemento menos falado e elogiado da sua produção, recaindo as atenções quase exclusivamente nos dois nomes que ajudou a lançar, a saber, o realizador indo-americano M. Night Shyamalan e a 'mini-estrela' Haley Joel Osment, então com apenas onze anos, cuja personagem (uma criança com poderes psíquicos) era responsável pela famosa linha que ainda hoje simboliza o filme. E a verdade é que, ainda mais do que Bruce Willis (o referido actor principal, aqui em interpretação incaracteristicamente subtil e cheia de 'nuances') ambos estes nomes mereciam plenamente a aclamação de que eram alvo, o primeiro pela realização acima da média e inesperada conclusão do argumento, e o segundo por uma prestação muito acima da de outros actores da sua idade, ficando famosa a comparação entre esta sua actuação e a de Jake Lloyd como Anakin Skywalker em 'Guerra das Estrelas Episódio I – A Ameaça Fantasma', alguns meses antes. E embora ambos ficassem aquém do seu potencial em termos de carreira - com Shyamalan a revelar rapidamente ter apenas um único truque na manga (as conclusões cada vez menos inesperadas) e Osment a deixar o Mundo do cinema poucos anos depois, ainda adolescente - neste seu filme de estreia em particular, ambos pareciam ter pela frente futuros auspiciosos nas suas respectivas profissões.

Foi, portanto, sem surpresas que o público cinéfilo (português e não só) viu 'O Sexto Sentido' tornar-se num dos maiores sucessos daquele primeiro ano do 'novo calendário', e inscrever o seu nome na História do cinema como um dos 'clássicos modernos' do género 'thriller' psicológico. E ainda que, hoje em dia, o mesmo seja lembrado sobretudo graças 'àquela' frase (e às suas incontáveis paródias) não restam dúvidas de que se trata mesmo de um filme acima da média, merecedor de toda a atenção que mereceu aquando do seu lançamento, e também da homenagem que ora lhe prestamos, no final da semana em que se celebra um exacto quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

03.01.25

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Na última Sessão de Sexta, referimo-nos a 'Os Dias do Fim' como um dos últimos filmes de acção a estrear em 1999, e, por conseguinte, no século XX e no Segundo Milénio; agora, duas semanas depois, recuamos cinco anos no tempo para relembrar o filme que teve a honra de 'fechar', em Portugal, o ano cinéfilo de 1994 (pelo menos em matéria de 'blockbusters) e que comemorou há cerca de dez dias o trigésimo aniversário da sua estreia nas salas de cinema nacionais. E a verdade é que, tal como 'Os Dias do Fim', o filme desta Sexta se saldou como uma desilusão, embora de forma totalmente diferente da película de Arnold Schwarzenegger - e bastante mais notória.

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De facto, enquanto que 'Os Dias do FIm' foi 'apenas' um 'flop' de bilheteira pouco notável para uma estrela de acção oitentista em fase decadente da carreira, 'Street Fighter - A Batalha Final' quase acabou com a carreira já periclitante daquele que talvez seja o 'herói de acção' dos anos 80 e 90 mais próximo de Schwarzenegger - pelo menos em termos geográficos - e é hoje visto tanto como um dos mais famosos filmes 'tão maus que são bons' como como um dos melhores exemplos - a par de 'Super Mário' - de como NÃO converter uma propriedade interactiva para o grande ecrã. E a verdade é que, como no caso de 'Super Mário', do ano anterior, a receita-base tinha tudo para resultar, combinando um dos mais populares jogos de arcada, computador e consola com um dos mais populares actores entre a faixa etária que mais interesse tinha pelo mesmo; o facto de o resultado final quase parecer uma paródia de filmes do seu tipo não pode, portanto, ser considerado menos do que um falhanço em toda a linha por parte da equipa técnica, que parece ter-se esforçado ao máximo para errar em absolutamente TODOS os detalhes do material original.

Senão veja-se: 'Street Fighter - A Batalha Final' traz Jean-Claude Van Damme (um belga de sotaque pronunciado) no papel de Guile, um capitão da Força Aérea NORTE-AMERICANA, com direito a tatuagem da bandeira no braço (que talvez até fosse aceitável como nativo da Luisiana, fosse feita qualquer menção a esse facto no argumento) Chun-Li como repórter (ela que é agente da Interpol no jogo original), E. Honda como seu 'cameraman' (e interpretado por um actor samoano, talvez inspirando-se no Yokozuna da WWF), Dhalsim como cientista ao serviço de M. Bison (no original, é um místico indiano...parecido, mas não idêntico) e o próprio M. Bison como um esqueleto ambulante a bordo de uma cadeira voadora (e interpretado por um Raul Julia terminalmente doente, e que já não assistiria à estreia do filme, deixando assim a 'memética' actuação como temido ditador ASIÁTICO como seu último legado)!! Uma verdadeira 'comédia de erros', que se sobrepõe às poucas escolhas acertadas, como a excelente nomeação de Kylie Minogue para o papel de Cammy (se bem esta seja inglesa, e não australiana...mais uma vez parecido, mas não idêntico) e as acertadas referências visuais para personagens como Vega, Sagat ou Zangief, este utilizado como competente 'alívio cómico', constituindo um dos pontos altos do filme. Mesmo com estes (poucos) pontos positivos, no entanto, não deixa de ser estarrecedor como foi possível aos guionistas e realizador falhar em tão grande escala escala na adaptação do material original.

Raul Julia é responsável por muitos dos momentos mais memoráveis do filme.

Felizmente, pouco depois do lançamento desta desapontante adaptação, os fãs da franquia receberiam a tão desejada 'prenda', sob a forma de 'Street Fighter - O Filme', a magnífica adaptação em anime que é tudo o que 'A Batalha Final' não consegue ser: dinâmico, fiel ao material original e, sobretudo, muito divertido. Quanto à 'bomba' de Van Damme, a mesma é divertida por razões totalmente opostas, mas pouco recomendável a maiores de dez anos (seja nos tempos que correm ou na altura da estreia do filme) ou a quem queira ver uma adaptação genuinamente boa do seu jogo de luta favorito, saldando-se ainda hoje como um dos mais frustrantes e desapontantes filmes dos anos 90, que terá, sem dúvida, 'estragado o Natal' a muitos fãs esperançosos ao 'aterrar' nas salas de cinema dois dias antes da festividade em causa, há quase exactos trinta anos.

06.12.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos estilos cinematográficos que mais floresceu durante os anos 80 foi a comédia adolescente debochada, exemplificada por franquias como 'Porky's', 'A República dos Cucos' ou 'A Vingança dos Nerds'. Com a entrada para a última década do século XX, no entanto, tais filmes caíram em desuso, tendo o ramo da comédia sido deixado para obras de teor mais familiar ou romântico, e o segmento adolescente a privilegiar a acção e a ficção científica. Tal paradigma viria novamente a mudar, no entanto, à entrada para o Novo Milénio, quando um filme do género julgado morto conseguiu almejar niveis estratosféricos de sucesso, e relançar o gosto do público jovem por comédias centradas em peripécias semi-sexuais. É a esse filme, sobre cuja estreia nacional se celebram dentro de poucos dias os vinte e cinco anos, que dedicamos esta Sessão de Sexta. Falamos de 'Comédia Adolescente Que Pode Ser Feita Por Menos de Dez Mil Dólares, Que Quem Ler Nos Estúdios Provavelmente Vai Detestar, Mas Que Eu Acho Que Vocês Vão Adorar', mais tarde conhecida como 'East Grand Rapids High' e 'East Grand Falls High', mas que 'viria ao mundo' com o nome de 'American Pie – A Primeira Vez'.

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Um projecto pessoal do argumentista Adam Herz, realizado pelos então ainda desconhecidos irmãos Weitz, Chris e Paul. Chegado às salas lusitanas a 10 de Dezembro de 1999 (a tempo de destoar consideravelmente do restante cartaz natalício daquele ano), o filme contava com um elenco composto tanto por nomes desconhecidos, e que ajudou a lançar (como Jason Biggs e Seann William Scott) como com actores e actrizes já um pouco mais veteranos, como Mena Suvari (então já com 'Beleza Americana' no currículo), Alyson Hannigan (já sobejamente conhecida como a Willow de 'Buffy, Caçadora de Vampiros') ou Shannon Elizabeth. No entanto, com excepção de Suvari e Hannigan, mesmo os actores mais conhecidos são, sobretudo, lembrados pelos personagens que interpretaram nesta obra e nas suas diversas sequelas, tão icónicos foram os mesmos para a juventude das gerações 'X' e 'millennial'.

De facto, 'American Pie' (tal como a sua primeira sequela) é uma verdadeira 'mina de ouro' de dichotes, graçolas e momentos de comédia impagáveis - a 'situação' do protagonista Jim com uma cassette de vídeo, a famosa 'meia' do mesmo, as tiradas de pinga-amor do lendário 'Shermanator', a analogia que originou o título da franquia, toda e qualquer fala dita pelo personagem de Seann William Scott (o lendário Steve Stifler) e, claro, as famosas histórias sobre o campo de férias para músicos e a não menos famosa definição do termo 'MILF', o qual viria mesmo a incorporar o léxico corrente após a estreia do filme. Sim, 'American Pie' é tão icónico que ajudou a adicionar uma palavra, senão ao dicionário, pelo menos ao léxico anglo-saxónico – uma proeza de que poucos outros filmes se podem legitimamente orgulhar.

Dois dos mais icónicos momentos do filme.

Mais do que qualquer momento individual, no entanto, a força do filme está na forma como consegue retratar, embora de forma deliberadamente exagerada, experiências com que o seu jovem público-alvo facilmente se identifica – algo em que os filmes desse período da viragem de Milénio eram exímios. De facto, esse elemento foi tão determinante no sucesso de 'American Pie' (enquanto filme e enquanto franquia) como as referidas cenas e tiradas, as quais não se teriam espalhado da mesma forma se o filme não tivesse tido o nível de sucesso que almejou. De igual modo, sem essa conexão ao seu público-alvo, é de duvidar que a obra de Herz e dos irmãos Weitz tivesse conseguido dar azo a nada menos que seis sequelas (embora três das quais em formato 'directo-a-vídeo') e influenciado tantos 'seguidores' nos anos subsequentes, muito poucos dos quais capazes de recuperar o espirito da mesma. E ainda que o 'American Pie' original, bem como a sua primeira sequela, lançada já nos primeiros anos do Novo Milénio, possam e tenham sido entretanto reavaliados como 'problemáticos', os mesmos continuam, no entanto, a constituir parte icónica das memórias de adolescência de grande parte da geração 'millennial' ocidental (não sendo Portugal excepção a essa regra) pelo que esta pequena homenagem, por ocasião do vigésimo-quinto aniversário da chegada ao nosso País do primeiro filme da franquia, se afigura totalmente justificada.

22.11.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os últimos anos do século XX foram palco de uma das periódicas, mas nem sempre perceptíveis mudanças de paradigma no tocante a filmes dirigidos a um público alargado, que viu os 'blockbusters' leves e divertidos e dramalhões sisudos de meados da década darem, progressivamente, lugar a filmes que amalgamavam os dois géneros, conseguindo a proeza de ser declaradamente comerciais e, ao mesmo tempo, ter alguma substância, além de apresentarem um tom consideravelmente mais sério do que muitos dos seus antecessores. Este novo paradigma ficava muitíssimo bem ilustrado em filmes como 'Matrix', 'Equilibrium', 'O Projecto Blair Witch', 'O Sexto Sentido', 'Homem Na Lua' ou o filme de que falamos neste post, sobre cuja estreia em Portugal se comemoraram há cerca de dez dias os vinte e cinco anos; e porque essa data coincidiu com a pausa para 'recarregar baterias' deste nosso 'blog', nada melhor do que aproveitar esta oportunidade para rectificar esse erro, e falar de 'Clube de Combate'.

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Ainda hoje conceituado e desanimadoramente actual, o clássico de David Fincher – baseado num não menos clássico livro do autor de culto Chuck Palahniuk – 'aterrava' nas salas de cinema a 12 de Novembro de 1999, a tempo de injectar uma dose considerável de psicose e trauma psicológico ao normalmente 'leve' mercado cinematográfico de Natal. Com os papéis principais divididos entre Edward Norton – do não menos perturbante 'América Proibida' – e Brad Pitt – em plena fase de afirmação como actor 'sério', após a excelente prestação em 'Seven – Sete Pecados Mortais' – com a 'ajuda' da especialista em personagens psicologicamente desequilibradas, Helena Bonham Carter, o filme afirmava-se desde logo como desafiante devido à longa duração. De facto, numa época em que a maioria dos filmes se cingia ainda à marca das duas horas, Fincher 'esticava' a história de Tyler Durden, do seu 'comparsa' no titular Clube de Luta (do qual nunca se sabe o nome) e da disfuncional namorada deste, Marla Singer, a quase duas horas e meia, as quais permitiam explorar cada recôndito das psicoses dos três personagens, a caminho de uma das mais clássicas 'reviravoltas' da História do cinema, poucos meses antes de 'O Sexto Sentido' ter definido o novo padrão para as mesmas.

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O icónico duo de protagonistas do filme.

O resultado é um filme declaradamente e propositalmente pesado, mas cuja exploração de problemas psicológicos, violência explícita (geradora, à época, de enorme controvérsia) e 'frases de efeito' marcantes não podiam deixar de agradar ao sector mais velho da geração 'millennial' (bem como aos 'X' mais novos), os quais acorreram aos cinemas naquele mês de Novembro, para ajudar a tornar o filme de Fincher num sucesso de bilheteiras tão grande em Portugal como o fôra no resto do Mundo, e fazer dele um dos filmes mais memoráveis de um ano já de si recheado de êxitos que se viriam a afirmar mais ou menos intemporais. E ainda que 'Clube de Combate' talvez não seja o maior destes – 1999 foi, afinal de contas, o ano de lançamento de 'Matrix', 'O Projecto Blair Witch', 'O Sexto Sentido', 'American Pie' ou 'Notting Hill', entre outros – o filme de David Fincher merece ainda assim, sem qualquer dúvida, um lugar nesse panteão, como uma das obras contemporâneas que melhor balanceia a seriedade do cinema independente com elementos de 'blockbuster', na única época da História da Sétima Arte em que essa combinação poderia almejar sucesso generalizado.

11.10.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos a gozar de uma 'idade de ouro' nos últimos anos do século XX e inícios do seguinte, um dos mais notáveis foram as comédias adolescentes, quer na vertente mais 'javarda' (de que é epítome 'American Pie – A Primeira Vez', que em breve aqui terá o seu espaço) quer na mais leve e romântica, a exemplo de 'Ela É Demais'. Escusado será dizer que estes dois géneros dividiam o seu público-alvo praticamente a meio, com o primeiro - de enredos e piadas centrados nos inuendos sexuais e funções corporais - a apelar sobretudo à parcela masculina, e o segundo – com a pitada de drama decorrente das relações interpessoais dos personagens – a cativar sobretudo as jovens do sexo feminino. Tal dicotomia resultava, por sua vez, em inúmeros debates à porta do cinema, ou no sofá durante uma Sessão de Sexta, normalmente ganhos pelas raparigas, que assim sujeitavam os namorados ou familiares masculinos a duas horas de Freddie Prinze Jr ou outro galã semelhante.

De quando em vez, no entanto, surgia um filme que - por balancear as duas vertentes ou simplesmente 'suavizar' o romance – acabava por encontrar consenso entre os dois sexos. Destes, o melhor exemplo talvez seja uma película que acaba de celebrar, há cerca de um mês, um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal, e que continua a ser dos títulos mais respeitados dentro do género da comédia romântica para adolescentes; nada melhor, pois, do que elencar as Coisas Que Odiamos (ou antes, Amamos) sobre o mesmo.

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Chegado às salas de cinema portuguesas a 3 de Setembro de 1999, 'Dez Coisas Que Odeio Em Ti' insere-se na breve e bizarra fornada de adaptações de peças de Shakespeare a um formato contemporâneo e juvenil, que também deu ao Mundo filmes como 'Esquece...E Siga' (baseado em 'Sonho de Uma Noite de Verão') ou a adaptação 'mafiosa' de 'Romeu + Julieta' por Baz Luhrmann, esta em registo mais dramático. No caso de 'Dez Coisas...', a peça-base é 'A Fera Amansada', da qual o filme mantém o enredo-base, centrado num rapaz que deve arranjar um pretendente para a irmã da jovem em que está interessado, sob pena de não poder estabelecer uma relação romântica com a mesma. Aqui, esse papel cabe a Joseph Gordon-Levitt - hoje um actor conceituado mas, à época, ainda conhecido sobretudo como o Tommy de 'Terceiro Calhau a Contar do Sol' – com a então musa das 'rom-coms' Julia Stiles no papel da irmã 'megera' e um jovem bem-parecido e talentoso de nome Heath Ledger como o 'escolhido' para a procurar seduzir. Juntamente com Gabrielle Union (no papel da melhor amiga de Bianca, a jovem pretendida pelo protagonista) os três ajudam a elevar o filme acima da comum das comédias românticas, com excelentes prestações que mantêm o espectador cativo até ao inevitável desfecho final ao som dos Letters to Cleo (que contribuem com várias das suas músicas para a banda sonora do filme).

Também a favor de 'Dez Coisas...' está o seu guião, que mistura os habituais momentos típicos de qualquer comédia romântica adolescente com um sentido de humor algo mais 'politicamente incorrecto', bem ilustrado na cena em que Heath Ledger não só faz um 'figurão' como quase causa um incidente na sua escola com a escolha infeliz de uma letra de Aerosmith como 'canção de amor'. A própria Bianca, por quem o Cameron de Gordon-Levitt nutre a paixão que precipita o restante argumento, é retratada como algo superficial e falha em inteligência, por oposição à irmã, mais sarcástica, ponderada, e definitivamente 'não como as restantes raparigas'.

Estes pequenos e inesperados toques ajudam a alargar o apelo do filme, transformando-o numa das poucas 'rom-coms' que muitos rapazes não só não se importavam de ver, como viam com activo prazer, como era o caso com o autor deste 'blog'. E apesar de o filme ter algumas vertentes 'problemáticas' nos dias que correm, o mesmo continua, ainda assim, a constituir uma excelente Sessão de Sexta 'a dois' (ou mesmo a 'solo'), bem como uma óptima maneira de 'apresentar' Shakespeare aos jovens de forma 'encoberta' e num formato que lhes seja apelativo. Razões mais que suficientes para assinalarmos, ainda que tardiamente, o quarto de século desta obra-prima da comédia romântica, em que nem sequer uma coisa conseguimos encontrar para odiar, quanto mais dez...

27.09.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos a viver um bom momento nos anos 80 e 90, o cinema de acção talvez seja, a par da animação, aquele que mais e melhores trabalhos viu serem lançados durante o referido período; aquela foi, afinal, a época áurea dos heróis musculados, a realizarem feitos impossíveis sem mais do que um par de arranhões e um penteado ligeiramente desfeito, que constituíam o equivalente da altura aos super-heróis de hoje. A par destes 'nacos de carne' e dos seus respectivos épicos de violência, no entanto, a era em causa via também surgir, no seio do cinema de acção, outro tipo de herói, menos bem preparado para a sua função e, muitas vezes, com uma aura de 'cidadão comum' que apenas tornava as suas façanhas ainda mais impressionantes, do simples polícia Axel Foley de 'O Caça-Polícias' ao John McClain da série 'Assalto'. A essa lista há, ainda, que juntar um personagem com o qual a maioria dos portugueses tomava contacto há quase exactos trinta anos, e cujo filme adquiriria a merecida reputação de clássico 'menor' da acção noventista.

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Falamos de Jack Traven, o especialista em desarme de bombas vivido por Keanu Reeves em 'Speed – Perigo a Alta Velocidade', o grande êxito do 'regresso às aulas' de 1994. Estreado nas salas de cinema lusitanas a 9 de Setembro desse ano, o filme do estreante Jan de Bont (que se viria a tornar um especialista reconhecido do género, responsável por filmes como 'Twister – Tornado', e 'Lara Croft – Tomb Raider', além da sequela do próprio 'Speed') rapidamente se tornava assunto dos primeiros recreios do novo ano lectivo, pela premissa original, ritmo frenético, sonoplastia impressionante (que lhe valeria um Óscar na cerimónia desse ano) e, claro, muitos tiros, explosões e 'malabarismos' diversos, além da presença de dois actores principais então em alta, Reeves (no seu período de transição entre galã adolescente com veia cómica e herói de acção consagrado) e Sandra Bullock, vinda de 'Homem Demolidor' no ano anterior, e prestes a iniciar a fase hegemónica de uma carreira lendária. Juntamente com Dennis Hopper (no papel do vilão, como já sucedera em 'Super Mário') e Jeff Daniels, os dois garantiam um nível de representação mais do que razoável, sobretudo para um filme de acção.

Era no argumento, no entanto, que 'Speed' brilhava. A ideia de um autocarro armadilhado que deve ser mantido a uma determinada velocidade era tão simples quanto criativa, conseguindo manter o espectador de respiração presa ao longo de toda a duração do filme - sobretudo por constituir uma premissa significativamente mais realista do que a da normal película de acção da época – e, embora o resultado final nunca estivesse em dúvida, proporcionar uma experiência cinematográfica entusiasmante e satisfatória. Foi, pois, sem surpresas que o filme rapidamente se tornou um dos dez mais lucrativos de 1994, surgindo em oitavo lugar de uma lista encabeçada pelos titãs 'Forrest Gump' e 'O Rei Leão'; mais surpreendente é, talvez, o facto de 'Speed' continuar a desfrutar de uma boa reputação tanto entre os fãs de filmes de acção como junto da crítica, algo de que poucos filmes da mesma época se podem gabar.

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Este alinhamento de circunstâncias era, claro está, propício à realização de uma sequela, e era com naturalidade que, três anos após o original, os cinéfilos viam chegar às salas 'Speed 2: Perigo a Bordo' (no original, 'Cruise Control'), pronto a ser um dos grandes êxitos veranis de 1997. A verdade, no entanto, é que a premissa da série não resulta da mesma forma quando transposta para um barco (um meio de transporte conhecido pela sua POUCA velocidade) factor que, aliado à substituição pouco feliz de Reeves por Jason Patric, fazia da sequela uma experiência significativamente inferior à do filme original. Nem as presenças de Jan de Bont novamente ao 'leme' (passe o trocadilho), de Bullock novamente como co-heroína, e do sempre competente Willem Dafoe foram suficientes para evitar que 'Speed 2' recebesse duras críticas, tanto da imprensa como dos próprios espectadores, e viesse a merecer um lugar na lista de piores sequelas de sempre, bem como em algumas listas dos piores filmes de acção de sempre.

Felizmente, tanto o realizador como os actores da referida 'bomba' (passe, novamente, o trocadilho) viriam a 'sobreviver' ao desastre, o qual tão-pouco beliscaria a reputação do original como representante de uma nova 'vertente' de filmes de acção, menos 'bombástica' e violenta e mais centrada no 'suspense', a qual viria a grassar durante as duas épocas seguintes, até ser sumariamente 'aniquilada' pelo 'assalto' dos super-heróis, não ao arranha-céus ou ao aeroporto, mas aos grandes ecrãs do Mundo civilizado. Ainda assim, trinta anos volvidos sobre a sua estreia, um filme como 'Speed' serve, quanto mais não seja, como lembrete de que é possível fazer cinema de acção sem heróis musculosos em uniformes justos ou efeitos CGI topo de gama, desde que se exerça alguma criatividade e imaginação...

02.08.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A adaptação de desenhos animados episódicos em filmes de 'acção real' é, hoje em dia, um dos esteios da produção infanto-juvenil em Hollywood; no entanto, as raízes desta prática remetem a finais do século XX, época que viu surgirem as primeiras tentativas de trazer personagens animados para o mundo real. E se, hoje em dia, a prática vigente é colocar o próprio boneco, criado em CGI, no meio de actores de 'carne e osso', de modo a salientar as diferenças entre os dois, os anos 80, 90 e 2000 tinham uma abordagem algo diferente, em que os personagens em si surgiam como pessoas reais, interpretadas por actores invariavelmente bem caracterizados, de forma a que se assemelhassem aos seus 'equivalentes' animados.

Curiosamente, muitas das adaptações desta primeira fase centravam-se sobre propriedades intelectuais já, à época, com várias décadas de existência, mas que continuavam a gozar de relativa relevância e sucesso entre as crianças e jovens, fosse por conta das repetidas transmissões dos episódios na televisão ou por via de uma associação a outro meio, como o da banda desenhada. Entre os numerosos exemplos 'de época' deste paradigma incluem-se Dennis o Pimentinha, Riquinho, e os personagens cujos filmes abordamos nesta publicação, a poucos dias do trigésimo e vigésimo-quarto aniversários das suas estreias em Portugal: as famílias pré-históricas mais famosas de sempre, Fred e Wilma Flintstone e Barney e Betty Rubble.

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Chegado às salas de cinema portuguesas a 5 de Agosto de 1994, o simplesmente intitulado 'Os Flintstones' cativava de imediato os inúmeros jovens lusos que vinham, há vários anos, seguindo as aventuras animadas dos personagens titulares em programas como 'Oh! Hanna-Barbera'. Para esta demografia, era nada menos do que entusiasmante ver Fred, Wilma, Barney, Betty e restantes habitantes de Bedrock em versões de 'carne e osso' mais do que fiéis às animadas, com um elenco aparentemente escolhido a dedo e perfeitamente caracterizado. E dizemos 'aparentemente' porque, acredite-se ou não, Rick Moranis (que É Barney Rubble, capturando na perfeição os trejeitos e até a voz deste) não foi a primeira escolha do realizador Brian Levant, que queria Danny DeVito no papel – uma escolha que faria sentido do ponto de vista da estrutura física, mas que, no restante, ficaria bem mais distante do Barney animado do que a versão de Moranis.

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O elenco do primeiro filme recriava na perfeição os seus equivalentes animados.

O actor de 'Querida, Encolhi Os Miúdos!' encontra-se, aliás, em excelente companhia, em meio a um elenco de luxo no tocante a comédia em meados da década de 90. A escolha de John Goodman como Fred Flintstone é lógica a pontos de ser óbvia, dadas as parecenças físicas e vocais naturais entre o actor e o personagem, enquanto Rosie O'Donnell e Elizabeth Perkins vivem quase na perfeição a leviana Betty Rubble e a paciente Wilma Flinstone. A completar o elenco surgem ainda Elizabeth Taylor, no papel de sogra de Fred, Kyle McLachlan como o vilão, uma jovem e lindíssim Hale Berry (no papel de uma secretária de nome...Sharon Stone) e, claro, os BC-52's, ou seja, os B-52's 'trajados a rigor' em roupas pré-históricas, que se encarregam de criar uma versão bem 'gingada' do icónico tema da série, ajudando a criar o ambiente vivido em Bedrock.

Como qualquer boa adaptação de desenho animado, no entanto (e este primeiro filme dos Flintstones insere-se nessa categoria) a película não se contenta em recriar os personagens em 'carne e osso', introduzindo-os numa trama suficientemente complexa para durar perto de duas horas, sem no entanto ficar longe das histórias dos episódios; e se Dennis, o Pimentinha se via a braços com um bandido, Fred, Barney e companhia enfrentam um executivo sem escrúpulos que pretende reduzir o número de empregados da pedreira onde Fred trabalha, bem 'desviar' fundos dos cofres do patrão, Mr. Slate – usando o pouco perspicaz patriarca como 'bode expiatório'. Uma história que abre espaço tanto aos momentos cómicos pelos quais a série é conhecida, como a outros mais dramáticos, sobretudo ligados às situações financeiras e sociais de Fred, Wilma e respectivos vizinhos e amigos, os quais acabam de adoptar uma criança.

Conforme já demos a entender, o resultado desta mistura de ingredientes é uma das melhores adaptações de sempre de um desenho animado ao grande ecrã, totalmente fiel ao espírito da série original, com excelentes interpretações e caracterização, e uma banda sonora 'gingada', bem merecedora de ser lembrada por alturas do seu trigésimo aniversário, e que deixava a base perfeita a partir da qual criar uma sequela...ou talvez não.

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Isto porque 'Os Flintstones em Viva Rock Vegas', lançado em Portugal a 4 de Agosto de 2000, quase exactamente seis anos depois do original, é unanimemente considerado um péssimo filme, com orçamento muito mais reduzido, e já sem o envolvimento de Steven Spielberg (que, enquanto produtor, muito ajudara ao 'clima' e recursos à disposição do filme original) ou de qualquer dos actores de 1994. De regresso, portanto, apenas Brian Levant, que colmatava a ausência de Goodman, Moranis e restantes 'estrelas' com a aposta num formato de prequela. 'Viva Rock Vegas' segue, pois, as aventuras dos quatro personagens na sua visita à cidade titular, na época em que ainda eram jovens e solteiros, procurando mostrar a génese dos dois casais principais.

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As versões jovens dos dois casais protagonistas.

A presença de um dos irmãos Baldwin (Stephen, que interpreta Barney) e do muito acarinhado extraterrestre, The Great Gazoo, não ajuda, no entanto, a disfarçar as carências do filme, o qual, conforme mencionado, fica muito aquém do original em todos os aspectos, sendo ainda hoje alvo de acintosas críticas. Apesar de inicialmente entusiástico, o público infanto-juvenil também não se deixou 'levar' na cantiga de Levant, e o filme acabou por se revelar um fracasso de bilheteira, terminando prematuramente com aquela que poderia ter sido uma interessante franquia cinematográfica.

Apesar deste final pouco feliz, no entanto, Fred, Barney, Betty e Wilma afirmaram-se, ainda assim, como protagonistas de um dos melhores e mais divertidos filmes da primeira vaga de adaptações animadas, e que continua, ainda hoje, a ser uma proposta bem divertida para uma Sessão de Sexta em família – desde que, claro está, não se cometa o erro de o 'emparelhar' com a sequela...

 

 

06.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 05 de Julho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já aqui anteriormente referimos o final dos anos 80 e início da década de 90 como, talvez, a era em que se fizeram maiores e mais concertados esforços para sensibilizar a juventude mundial para questões ecológicas. Alvo de campanhas municipais ou até nacionais um pouco por todo o Mundo, não é de admirar que a referida temática tenha, também, inspirado um sem-número de filmes e séries infantis na mesma época. E apesar de a esmagadora maioria destes se inserir no campo da animação, talvez por ser mais fácil veicular tal mensagem sem as restrições impostas pela realidade, não tardou até que também os produtores de filmes de acção real principiassem a explorar este filão, dando origem a nova série de clássicos infanto-juvenis para ver e rever durante uma Sessão de Sexta em família, um dos quais comemorou recentemente três décadas sobre a sua estreia em Portugal. E por, nessa ocasião, estarmos 'distraídos' com outras temáticas, deixamos aqui, agora, e ainda que com algum atraso, a justa homenagem a um filme que marcou a infância de muitos 'millennials', portugueses e não só, e fez parte de muitas colecções de VHS em anos subsequentes.

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O icónico cartaz do filme

Falamos de 'Libertem Willy', um dos muitos sucessos infanto-juvenis lançados pela Warner Brothers em inícios dos anos 90, e que chegava às salas de cinema lusitanas a 17 de Junho de 1994, quase um ano após a sua estreia nos EUA (como, aliás, era habitual à época) mas ainda a tempo de obter tanto sucesso em solo nacional como no resto do Mundo. Mais sério e sóbrio do que os antecessores 'Beethoven' (de 1992) e 'Dennis, O Pimentinha' (também de 1993), o filme conseguia ainda assim cativar o jovem público através de uma história simples, mas plena de impacto, e veiculada de uma forma que apenas parece levemente condescendente quando vista por um prisma adulto – ou seja, perfeita para a demografia a que a película se destina.

O centro nevrálgico da referida história segue, aliás, uma fórmula já bem testada, e inspiradora de clássicos de décadas passadas, como 'Old Yeller' ou 'Kes' – nomeadamente, a relação entre um jovem pré-adolescente e um animal. No caso, a metade humana da equação é Jesse (interpretado por Jason James Richter, um dos muitos proto-ídolos adolescentes da época) um rapaz de doze anos cuja infância algo atribulada encontra novo sentido após entrar em contacto com Willy, uma baleia-orca protagonista do espectáculo principal de um parque aquático. À medida que a relação entre ambos se aprofunda – incentivada pela treinadora de Willy, Rae, vivida por Lori Petty – Jesse resolve devolver o seu novo amigo ao mar onde nasceu e pertence, 'recrutando' a referida funcionária do parque, entre outros 'voluntários à força' para o ajudar na sua missão. E embora o fim esteja sempre longe de qualquer dúvida, é fácil 'embarcar' na aventura em si ao lado de Jesse, algo que o público infantil não hesitou em fazer, tornando o filme num retumbante sucesso e inscrevendo-o no vasto panteão de filmes de família memoráveis daquela década.

Curiosamente, no entanto – e também algo ironicamente, tendo em conta a sua mensagem – 'Libertem Willy' gerou tanto interesse pela sua história e aspectos técnicos como pelas condições em que era mantida a sua 'estrela' animal, Keiko. Com o movimento de libertação de golfinhos e orcas em pleno andamento à época de lançamento do filme – a mesma iniciativa que, anos depois, teria repercussões em Portugal, através da controvérsia em torno do Zoomarine – não tardaram a surgir reportagens acusatórias, que denunciavam o cativeiro da orca amestrada, cuja falta de espaço e água demasiado quente e clorídica haviam resultado em problemas físicos e de saúde. Não foi, pois, de admirar que, em consequência do filme, tenham sido postos em marcha esforços para 'Libertar Willy' (ou antes, Keiko), os quais viriam a render frutos quase uma década depois, quando, já no Novo Milénio, o animal foi – tal como a congénere fictícia que interpretava – liberto no mar, após mais de duas décadas de vida em cativeiro. Uma controvérsia de que o filme jamais se libertaria (passe o trocadilho), mas que acabou por ter um final feliz, e não beliscar a reputação da obra em si.

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A primeira sequela de Willy, lançada em 1995...

A liberdade de Keiko não deixou, no entanto, de se repercutir directamente nas duas sequelas a que o filme, previsivelmente, daria origem nos anos imediatamente subsequentes ao seu lançamento. Efectivamente, tanto 'Libertem Willy 2' como a terceira parte (subtitulada 'O Resgate') substituíam uma orca verdadeira por um boneco animatrónico, ao estilo do 'Tubarão' de Spielberg, evitando assim novas controvérsias em torno da crueldade animal. No restante, no entanto, ambos os filmes procuravam oferecer uma experiência ao nível do original, com a ajuda da maioria do elenco original.

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...e a segunda, de 1997.

De facto, ao contrário do que acontecia com as sequelas dos referidos 'Dennis o Pimentinha' ou 'Beethoven', ambas as continuações das aventuras de Jesse e Willy contam com os actores originais de regresso aos seus papéis do primeiro filme, algo que ajuda a credibilizar ambas as sequelas. Também os enredos de ambos os filmes mostram algum cuidado, com a segunda parte (de 1995) a prender-se com a tentativa de reunir Willy com a sua nova família após um derrame de petróleo no oceano e a terceira, de 1997 a ver Jesse e os seus aliados a contas com um grupo de baleeiros que procuram capturar Willy. Apesar de bem conseguidas, no entanto, nenhuma das duas sequelas logrou almejar o sucesso do original, com o 'falhanço' do terceiro a ditar o fim da franquia centrada na baleia-orca mais famosa do cinema...

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A inesperada terceira sequela, lançada em 2010

...pelo menos até, em plena 'febre' dos 'remakes', a Warner Brothers decidir trazer de volta Willy, numa quarta parte lançada directamente para o mercado DVD. Naturalmente, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' já não conta com qualquer dos actores de década e meia antes, entretanto já envelhecidos, e introduz uma nova protagonista, Kirra, uma jovem australiana que percorre o mesmo trajecto emocional do antecessor Jesse quando uma orca fica presa no parque aquático pertencente ao seu avô. Uma história já algo 'batida', mas bem-sucedida na principal função de um 'remake', a de apresentar a trama original a toda uma nova demografia; para quem viu o filme de 1993, no entanto, o principal motivo de interesse será mesmo a localização do filme, que se passa agora na África do Sul, derivando assim das habituais paisagens norte-americanas e dando um toque de exotismo ao filme. De resto, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' é um típico filme para crianças directo para DVD, com tudo o que isso implica.

Felizmente, e ao contrário de outras franquias infanto-juvenis, 'Libertem Willy' soube onde 'parar', tendo saído de cena com relativa dignidade e sem conspurcar o espírito do original com infindáveis sequelas cada vez mais tolas e infantis, e menos imbuídas do mesmo. E apesar de, enquanto franquia, não ter gozado do sucesso esperado, a série da Warner Brothers não deixou, ainda assim, de oferecer às crianças noventistas pelo menos um clássico imorredouro das Sessões de Sexta ou de fim-de-semana – o que, só por si, quase justifica a existência de todo o resto da franquia, e a torna digna de ser recordada, quase exactas três décadas após as crianças portuguesas da época terem tido, pela primeira vez, contacto com o filme original.

22.06.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 21 de Junho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas últimas semanas, temos virado o foco de vários 'posts' do nosso blog para as séries animadas noventistas da Walt Disney, a maioria das quais foi transmitida em Portugal no icónico 'Clube Disney', da RTP. Como seria de esperar, cada um desses programas deu, também, azo a vários produtos e produções a eles alusivos, de que são exemplo os jogos de vídeo ou os álbuns de banda desenhada; assim, não é de todo surpreendente que, ao longo das duas décadas seguintes, tenham também sido realizadas várias longas-metragens com os personagens dessas séries como protagonistas principais. Destas, chegaram a Portugal três, duas ainda nos anos 90 e com direito a lançamento nas salas de cinema, e a terceira já no Novo Milénio, em formato directo-a-vídeo. É sobre esse trio que se debruçará o nosso 'post' de hoje.

O primeiro dos três filmes em análise, e primeiro filme alusivo às personagens de uma das séries em causa, foi 'DuckTales O Filme – O Tesouro da Lâmpada Perdida', muita vezes abreviado como apenas 'DuckTales: O Filme' e que trazia como protagonistas o Tio Patinhas e os seus sobrinhos-netos, bem como os restantes personagens do núcleo duro de 'Novas Aventuras Disney', o nome inexplicavelmente escolhido para 'DuckTales' em terras lusas.

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Produzido pelos estúdios Toon Disney em 1990, e estreado em Portugal na Primavera seguinte, na habitual versão dobrada em brasileiro, o 'filme' mais não era do que um episódio de duração dupla da série em causa (com cerca de uma hora de duração, por oposição aos habituais vinte a trinta minutos) lançado no cinema como forma de capitalizar sobre a popularidade da série e dos personagens. Resumi-lo a tal estatuto seria, no entanto, algo redutor, e também injusto para com a sua qualidade, já que, sem ser uma obra-prima ao nível dos filmes a que a Disney ia habituando os seus fãs à época, trata-se ainda assim de uma produção honrosa e bastante divertida, sobretudo para quem já tem familiaridade com os personagens.

Com referências explícitas a 'Salteadores da Arca Perdida' (no cartaz) e à história de Aladino (dois anos antes de a companhia avançar para uma adaptação oficial da mesma) a pseudo-longa metragem vê Patinhas e os Sobrinhos (e Sobrinha) desenterrarem uma lâmpada maravilhosa que contém dentro o espírito de um jovem génio, o qual, apesar dos milhares de anos de existência, é ainda, essencialmente, uma criança. Imediatamente afeiçoados ao novo amigo, cabe então ao grupo de heróis protegê-lo de vilões locais sem escrúpulos, que pretendem utilizar a lâmpada para fins tipicamente egoístas. Uma trama sem nada de particularmente novo ou original, mas que serve perfeitamente os fins a que se destina, e consegue entreter tanto os mais novos como até espectadores mais velhos – um feito notável, em tratando-se de um filme infantil sem grandes pretensões e de (relativamente) baixo orçamento.

Se 'DuckTales: O Filme' representou um bom começo, no entanto, o mesmo foi superado em todos os aspectos pelo 'outro' filme baseado em séries da Disney Afternoon. Lançado em Portugal no Verão de 1996, concretamente a 12 de Julho, 'Pateta: O Filme' é um 'clássico esquecido' da época áurea da Disney, que consegue compensar a falta de orçamento com uma trama bem engendrada e plena de momentos memoráveis, aos quais ajuda também a excelente dobragem portuguesa a que o filme teve direito, esta já realizada em solo nacional, por oposição ao outro lado do Atlântico.

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Tendo por base a série 'A Pandilha do Pateta', a única aparição do icónico Pateta no grande ecrã centra-se na relação conflituosa entre o mesmo e o filho, Max, aqui alguns anos mais velho do que na série original, e já em plena crise de adolescência. (Mal) aconselhado pelo eterno 'melhor inimigo' Bafo-de-Onça, Pateta procura então criar laços com o jovem da mesma forma que o seu pai tinha feito com o próprio Pateta: através de uma viagem de carro pelos Estados Unidos, com o objectivo de ir pescar. Quando Max 'inventa' uma mentira para impressionar a colega de turma de quem gosta, no entanto, os objectivos de pai e filho colidem de forma tão tocante quanto hilariante, dando azo a pouco mais de setenta minutos de peripécias, que incluem um encontro com o Pé-Grande e uma subida ao palco de um concerto, onde Pateta acaba, acidentalmente, por se tornar o centro das atenções. O resultado é um filme que merecia mais atenção, e cujos aspectos técnicos podem ter acabado por o prejudicar nesse aspecto.

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Se o 'Pateta: O Filme' original era mais que merecedor do lançamento em sala, no entanto, o mesmo não se pode dizer da sequela 'Radicalmente Pateta', lançada directamente em VHS nos primeiros meses do Novo Milénio. Apesar de uma história bastante aceitável, que vê clivar-se novamente o fosso geracional entre Pateta e Max (este agora um universitário fanático do 'skate') toda a componente técnica 'tresanda' a directo-a-vídeo, com animação muito menos fluida do que no original e um todo bem menos memorável, apesar de perfeitamente capaz de 'matar' uma hora durante uma tarde 'preguiçosa' de fim-de-semana, especialmente para fãs de Pateta.

Além destes três filmes, a única outra série a ter honras de longa-metragem foi 'Recreio', um dos baluartes da segunda fase do Clube Disney, que viu serem lançados três filmes já no século XXI; na mesma época, saíram também vários pseudo-filmes que mais não eram do que compilações de episódios falhados para séries alusivas a 'Tarzan' ou 'Atlantis', bem como duas longas-metragens directamente ligadas ao universo da série de 'Lilo e Stitch', uma das quais constituía mesmo o grande final da dita-cuja. Todos estes filmes extravasam, no entanto, a linha temporal deste 'blog' (além de nem todos terem sido lançados em Portugal) pelo que o presente 'post' se cingirá mesmo aos três acima descritos, os quais, apesar de algumas falhas aparentes, se afirmam ainda hoje como excelentes exemplos de como realizar uma longa-metragem baseada numa série, bem como formas perfeitamente viáveis de entreter crianças e adolescentes durante cerca de uma hora.

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