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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

01.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A psique humana, com as suas diversas 'nuances' e desvios, sempre serviu como uma das melhores fontes para material artístico – fosse ele literário, musical ou cinematográfico – não tendo o final do século XX sido, de todo, excepção a esta regra. Antes pelo contrário, só no mundo do cinema, a última década do Segundo Milénio viu serem produzidos uma série de clássicos dentro do género do 'thriller' psicológico, de 'Se7en – Sete Pecados Mortais' a 'Clube de Combate'. 'Conhece Joe Black?' ou ao filme que abordamos nesta Sessão de Sexta, no final da semana em que se comemoram os vinte e cinco anos da sua estreia nas salas de cinema portuguesas, a 28 de Janeiro de 2000.

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Com a sua complexa e difícil temática em torno da obsessão e de outros impulsos menos desejáveis do subconsciente humano, 'Beleza Americana' está longe de ser o tipo de filme que apele à juventude, normalmente mais virada para tramas de acção, ficção científica ou comédia; no entanto, a presença da bela Mira Sorvino – à época em alta entre a demografia juvenil, após a sua participação em 'American Pie – A Primeira Vez' – como parte de uma dupla de protagonistas adolescentes levou muitos menores de idade às salas de cinema para ver a longa-metragem de estreia do hoje conceituado Sam Mendes, acabando os mesmos por ter uma experiência, quiçá, algo distinta do esperado.

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Mira Sorvino e Kevin Spacey na cena mais icónica do filme.

Ainda assim, apesar da primeira impressão algo 'enganosa', qualquer pessoa que tenha visto 'Beleza Americana' terá pouco que apontar à reputação do filme, que merece largamente os elogios críticos que então lhe foram dispensados, bem como os galardões que amealhou – a saber, três Globos de Ouro (incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento) e nada menos do que seis Óscares, incluindo as três categorias principais – Melhor Filme, Actor e Actriz – e ainda as relativas à cinematografia, música e edição de imagem, o que, na era pré-'Senhor dos Anéis', representava um consenso e domínio crítico poucas vezes visto em tais cerimónias.

Não é, pois, de espantar que a película de Mendes se tenha rapidamente afirmado como um dos muitos 'clássicos' estreados num dos melhores anos da História do cinema moderno – um estatuto que continua a merecer mesmo após um quarto de século, e um sem-número de mudanças no paradigma cinematográfico, talvez pela ausência de efeitos especiais e outros 'truques' que acelerem o seu envelhecimento, ou talvez apenas pela qualidade de execução que apresenta em todos os seus aspectos. Um candidato mais que merecedor, portanto, a uma das nossas 'celebrações' retrospectivas, poucos dias após o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nacional.

19.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

'Eu vejo pessoas mortas.' Nos primeiros meses do Século XXI e do Terceiro Milénio, esta frase (ou alguma variação da mesma) era praticamente inescapável, sendo reproduzida, referenciada ou parodiada nos mais diversos meios e veículos de comunicação, sobretudo os de índole humorística, podendo facilmente inserir-se no restrito grupo de elementos mediáticos que constituíam 'memes' mais de uma década antes de esse termo ser criado ou penetrar na cultura popular. No entanto, toda esta exposição mediática acabava por constituir uma 'faca de dois gumes', já que o foco exclusivo nessa única linha de diálogo acabava por quase eclipsar a criação mediática da qual era proveniente – nomeadamente, um dos maiores (e melhores) filmes da viragem do Milénio.

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Estreado nas salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos (a 14 de Janeiro de 2000, menos de duas semanas após o início do novo ano, século e Milénio), 'O Sexto Sentido' conseguia a proeza de fazer da sua estrela principal o elemento menos falado e elogiado da sua produção, recaindo as atenções quase exclusivamente nos dois nomes que ajudou a lançar, a saber, o realizador indo-americano M. Night Shyamalan e a 'mini-estrela' Haley Joel Osment, então com apenas onze anos, cuja personagem (uma criança com poderes psíquicos) era responsável pela famosa linha que ainda hoje simboliza o filme. E a verdade é que, ainda mais do que Bruce Willis (o referido actor principal, aqui em interpretação incaracteristicamente subtil e cheia de 'nuances') ambos estes nomes mereciam plenamente a aclamação de que eram alvo, o primeiro pela realização acima da média e inesperada conclusão do argumento, e o segundo por uma prestação muito acima da de outros actores da sua idade, ficando famosa a comparação entre esta sua actuação e a de Jake Lloyd como Anakin Skywalker em 'Guerra das Estrelas Episódio I – A Ameaça Fantasma', alguns meses antes. E embora ambos ficassem aquém do seu potencial em termos de carreira - com Shyamalan a revelar rapidamente ter apenas um único truque na manga (as conclusões cada vez menos inesperadas) e Osment a deixar o Mundo do cinema poucos anos depois, ainda adolescente - neste seu filme de estreia em particular, ambos pareciam ter pela frente futuros auspiciosos nas suas respectivas profissões.

Foi, portanto, sem surpresas que o público cinéfilo (português e não só) viu 'O Sexto Sentido' tornar-se num dos maiores sucessos daquele primeiro ano do 'novo calendário', e inscrever o seu nome na História do cinema como um dos 'clássicos modernos' do género 'thriller' psicológico. E ainda que, hoje em dia, o mesmo seja lembrado sobretudo graças 'àquela' frase (e às suas incontáveis paródias) não restam dúvidas de que se trata mesmo de um filme acima da média, merecedor de toda a atenção que mereceu aquando do seu lançamento, e também da homenagem que ora lhe prestamos, no final da semana em que se celebra um exacto quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

03.01.25

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Na última Sessão de Sexta, referimo-nos a 'Os Dias do Fim' como um dos últimos filmes de acção a estrear em 1999, e, por conseguinte, no século XX e no Segundo Milénio; agora, duas semanas depois, recuamos cinco anos no tempo para relembrar o filme que teve a honra de 'fechar', em Portugal, o ano cinéfilo de 1994 (pelo menos em matéria de 'blockbusters) e que comemorou há cerca de dez dias o trigésimo aniversário da sua estreia nas salas de cinema nacionais. E a verdade é que, tal como 'Os Dias do Fim', o filme desta Sexta se saldou como uma desilusão, embora de forma totalmente diferente da película de Arnold Schwarzenegger - e bastante mais notória.

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De facto, enquanto que 'Os Dias do FIm' foi 'apenas' um 'flop' de bilheteira pouco notável para uma estrela de acção oitentista em fase decadente da carreira, 'Street Fighter - A Batalha Final' quase acabou com a carreira já periclitante daquele que talvez seja o 'herói de acção' dos anos 80 e 90 mais próximo de Schwarzenegger - pelo menos em termos geográficos - e é hoje visto tanto como um dos mais famosos filmes 'tão maus que são bons' como como um dos melhores exemplos - a par de 'Super Mário' - de como NÃO converter uma propriedade interactiva para o grande ecrã. E a verdade é que, como no caso de 'Super Mário', do ano anterior, a receita-base tinha tudo para resultar, combinando um dos mais populares jogos de arcada, computador e consola com um dos mais populares actores entre a faixa etária que mais interesse tinha pelo mesmo; o facto de o resultado final quase parecer uma paródia de filmes do seu tipo não pode, portanto, ser considerado menos do que um falhanço em toda a linha por parte da equipa técnica, que parece ter-se esforçado ao máximo para errar em absolutamente TODOS os detalhes do material original.

Senão veja-se: 'Street Fighter - A Batalha Final' traz Jean-Claude Van Damme (um belga de sotaque pronunciado) no papel de Guile, um capitão da Força Aérea NORTE-AMERICANA, com direito a tatuagem da bandeira no braço (que talvez até fosse aceitável como nativo da Luisiana, fosse feita qualquer menção a esse facto no argumento) Chun-Li como repórter (ela que é agente da Interpol no jogo original), E. Honda como seu 'cameraman' (e interpretado por um actor samoano, talvez inspirando-se no Yokozuna da WWF), Dhalsim como cientista ao serviço de M. Bison (no original, é um místico indiano...parecido, mas não idêntico) e o próprio M. Bison como um esqueleto ambulante a bordo de uma cadeira voadora (e interpretado por um Raul Julia terminalmente doente, e que já não assistiria à estreia do filme, deixando assim a 'memética' actuação como temido ditador ASIÁTICO como seu último legado)!! Uma verdadeira 'comédia de erros', que se sobrepõe às poucas escolhas acertadas, como a excelente nomeação de Kylie Minogue para o papel de Cammy (se bem esta seja inglesa, e não australiana...mais uma vez parecido, mas não idêntico) e as acertadas referências visuais para personagens como Vega, Sagat ou Zangief, este utilizado como competente 'alívio cómico', constituindo um dos pontos altos do filme. Mesmo com estes (poucos) pontos positivos, no entanto, não deixa de ser estarrecedor como foi possível aos guionistas e realizador falhar em tão grande escala escala na adaptação do material original.

Raul Julia é responsável por muitos dos momentos mais memoráveis do filme.

Felizmente, pouco depois do lançamento desta desapontante adaptação, os fãs da franquia receberiam a tão desejada 'prenda', sob a forma de 'Street Fighter - O Filme', a magnífica adaptação em anime que é tudo o que 'A Batalha Final' não consegue ser: dinâmico, fiel ao material original e, sobretudo, muito divertido. Quanto à 'bomba' de Van Damme, a mesma é divertida por razões totalmente opostas, mas pouco recomendável a maiores de dez anos (seja nos tempos que correm ou na altura da estreia do filme) ou a quem queira ver uma adaptação genuinamente boa do seu jogo de luta favorito, saldando-se ainda hoje como um dos mais frustrantes e desapontantes filmes dos anos 90, que terá, sem dúvida, 'estragado o Natal' a muitos fãs esperançosos ao 'aterrar' nas salas de cinema dois dias antes da festividade em causa, há quase exactos trinta anos.

06.12.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos estilos cinematográficos que mais floresceu durante os anos 80 foi a comédia adolescente debochada, exemplificada por franquias como 'Porky's', 'A República dos Cucos' ou 'A Vingança dos Nerds'. Com a entrada para a última década do século XX, no entanto, tais filmes caíram em desuso, tendo o ramo da comédia sido deixado para obras de teor mais familiar ou romântico, e o segmento adolescente a privilegiar a acção e a ficção científica. Tal paradigma viria novamente a mudar, no entanto, à entrada para o Novo Milénio, quando um filme do género julgado morto conseguiu almejar niveis estratosféricos de sucesso, e relançar o gosto do público jovem por comédias centradas em peripécias semi-sexuais. É a esse filme, sobre cuja estreia nacional se celebram dentro de poucos dias os vinte e cinco anos, que dedicamos esta Sessão de Sexta. Falamos de 'Comédia Adolescente Que Pode Ser Feita Por Menos de Dez Mil Dólares, Que Quem Ler Nos Estúdios Provavelmente Vai Detestar, Mas Que Eu Acho Que Vocês Vão Adorar', mais tarde conhecida como 'East Grand Rapids High' e 'East Grand Falls High', mas que 'viria ao mundo' com o nome de 'American Pie – A Primeira Vez'.

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Um projecto pessoal do argumentista Adam Herz, realizado pelos então ainda desconhecidos irmãos Weitz, Chris e Paul. Chegado às salas lusitanas a 10 de Dezembro de 1999 (a tempo de destoar consideravelmente do restante cartaz natalício daquele ano), o filme contava com um elenco composto tanto por nomes desconhecidos, e que ajudou a lançar (como Jason Biggs e Seann William Scott) como com actores e actrizes já um pouco mais veteranos, como Mena Suvari (então já com 'Beleza Americana' no currículo), Alyson Hannigan (já sobejamente conhecida como a Willow de 'Buffy, Caçadora de Vampiros') ou Shannon Elizabeth. No entanto, com excepção de Suvari e Hannigan, mesmo os actores mais conhecidos são, sobretudo, lembrados pelos personagens que interpretaram nesta obra e nas suas diversas sequelas, tão icónicos foram os mesmos para a juventude das gerações 'X' e 'millennial'.

De facto, 'American Pie' (tal como a sua primeira sequela) é uma verdadeira 'mina de ouro' de dichotes, graçolas e momentos de comédia impagáveis - a 'situação' do protagonista Jim com uma cassette de vídeo, a famosa 'meia' do mesmo, as tiradas de pinga-amor do lendário 'Shermanator', a analogia que originou o título da franquia, toda e qualquer fala dita pelo personagem de Seann William Scott (o lendário Steve Stifler) e, claro, as famosas histórias sobre o campo de férias para músicos e a não menos famosa definição do termo 'MILF', o qual viria mesmo a incorporar o léxico corrente após a estreia do filme. Sim, 'American Pie' é tão icónico que ajudou a adicionar uma palavra, senão ao dicionário, pelo menos ao léxico anglo-saxónico – uma proeza de que poucos outros filmes se podem legitimamente orgulhar.

Dois dos mais icónicos momentos do filme.

Mais do que qualquer momento individual, no entanto, a força do filme está na forma como consegue retratar, embora de forma deliberadamente exagerada, experiências com que o seu jovem público-alvo facilmente se identifica – algo em que os filmes desse período da viragem de Milénio eram exímios. De facto, esse elemento foi tão determinante no sucesso de 'American Pie' (enquanto filme e enquanto franquia) como as referidas cenas e tiradas, as quais não se teriam espalhado da mesma forma se o filme não tivesse tido o nível de sucesso que almejou. De igual modo, sem essa conexão ao seu público-alvo, é de duvidar que a obra de Herz e dos irmãos Weitz tivesse conseguido dar azo a nada menos que seis sequelas (embora três das quais em formato 'directo-a-vídeo') e influenciado tantos 'seguidores' nos anos subsequentes, muito poucos dos quais capazes de recuperar o espirito da mesma. E ainda que o 'American Pie' original, bem como a sua primeira sequela, lançada já nos primeiros anos do Novo Milénio, possam e tenham sido entretanto reavaliados como 'problemáticos', os mesmos continuam, no entanto, a constituir parte icónica das memórias de adolescência de grande parte da geração 'millennial' ocidental (não sendo Portugal excepção a essa regra) pelo que esta pequena homenagem, por ocasião do vigésimo-quinto aniversário da chegada ao nosso País do primeiro filme da franquia, se afigura totalmente justificada.

22.11.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os últimos anos do século XX foram palco de uma das periódicas, mas nem sempre perceptíveis mudanças de paradigma no tocante a filmes dirigidos a um público alargado, que viu os 'blockbusters' leves e divertidos e dramalhões sisudos de meados da década darem, progressivamente, lugar a filmes que amalgamavam os dois géneros, conseguindo a proeza de ser declaradamente comerciais e, ao mesmo tempo, ter alguma substância, além de apresentarem um tom consideravelmente mais sério do que muitos dos seus antecessores. Este novo paradigma ficava muitíssimo bem ilustrado em filmes como 'Matrix', 'Equilibrium', 'O Projecto Blair Witch', 'O Sexto Sentido', 'Homem Na Lua' ou o filme de que falamos neste post, sobre cuja estreia em Portugal se comemoraram há cerca de dez dias os vinte e cinco anos; e porque essa data coincidiu com a pausa para 'recarregar baterias' deste nosso 'blog', nada melhor do que aproveitar esta oportunidade para rectificar esse erro, e falar de 'Clube de Combate'.

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Ainda hoje conceituado e desanimadoramente actual, o clássico de David Fincher – baseado num não menos clássico livro do autor de culto Chuck Palahniuk – 'aterrava' nas salas de cinema a 12 de Novembro de 1999, a tempo de injectar uma dose considerável de psicose e trauma psicológico ao normalmente 'leve' mercado cinematográfico de Natal. Com os papéis principais divididos entre Edward Norton – do não menos perturbante 'América Proibida' – e Brad Pitt – em plena fase de afirmação como actor 'sério', após a excelente prestação em 'Seven – Sete Pecados Mortais' – com a 'ajuda' da especialista em personagens psicologicamente desequilibradas, Helena Bonham Carter, o filme afirmava-se desde logo como desafiante devido à longa duração. De facto, numa época em que a maioria dos filmes se cingia ainda à marca das duas horas, Fincher 'esticava' a história de Tyler Durden, do seu 'comparsa' no titular Clube de Luta (do qual nunca se sabe o nome) e da disfuncional namorada deste, Marla Singer, a quase duas horas e meia, as quais permitiam explorar cada recôndito das psicoses dos três personagens, a caminho de uma das mais clássicas 'reviravoltas' da História do cinema, poucos meses antes de 'O Sexto Sentido' ter definido o novo padrão para as mesmas.

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O icónico duo de protagonistas do filme.

O resultado é um filme declaradamente e propositalmente pesado, mas cuja exploração de problemas psicológicos, violência explícita (geradora, à época, de enorme controvérsia) e 'frases de efeito' marcantes não podiam deixar de agradar ao sector mais velho da geração 'millennial' (bem como aos 'X' mais novos), os quais acorreram aos cinemas naquele mês de Novembro, para ajudar a tornar o filme de Fincher num sucesso de bilheteiras tão grande em Portugal como o fôra no resto do Mundo, e fazer dele um dos filmes mais memoráveis de um ano já de si recheado de êxitos que se viriam a afirmar mais ou menos intemporais. E ainda que 'Clube de Combate' talvez não seja o maior destes – 1999 foi, afinal de contas, o ano de lançamento de 'Matrix', 'O Projecto Blair Witch', 'O Sexto Sentido', 'American Pie' ou 'Notting Hill', entre outros – o filme de David Fincher merece ainda assim, sem qualquer dúvida, um lugar nesse panteão, como uma das obras contemporâneas que melhor balanceia a seriedade do cinema independente com elementos de 'blockbuster', na única época da História da Sétima Arte em que essa combinação poderia almejar sucesso generalizado.

06.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 05 de Julho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já aqui anteriormente referimos o final dos anos 80 e início da década de 90 como, talvez, a era em que se fizeram maiores e mais concertados esforços para sensibilizar a juventude mundial para questões ecológicas. Alvo de campanhas municipais ou até nacionais um pouco por todo o Mundo, não é de admirar que a referida temática tenha, também, inspirado um sem-número de filmes e séries infantis na mesma época. E apesar de a esmagadora maioria destes se inserir no campo da animação, talvez por ser mais fácil veicular tal mensagem sem as restrições impostas pela realidade, não tardou até que também os produtores de filmes de acção real principiassem a explorar este filão, dando origem a nova série de clássicos infanto-juvenis para ver e rever durante uma Sessão de Sexta em família, um dos quais comemorou recentemente três décadas sobre a sua estreia em Portugal. E por, nessa ocasião, estarmos 'distraídos' com outras temáticas, deixamos aqui, agora, e ainda que com algum atraso, a justa homenagem a um filme que marcou a infância de muitos 'millennials', portugueses e não só, e fez parte de muitas colecções de VHS em anos subsequentes.

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O icónico cartaz do filme

Falamos de 'Libertem Willy', um dos muitos sucessos infanto-juvenis lançados pela Warner Brothers em inícios dos anos 90, e que chegava às salas de cinema lusitanas a 17 de Junho de 1994, quase um ano após a sua estreia nos EUA (como, aliás, era habitual à época) mas ainda a tempo de obter tanto sucesso em solo nacional como no resto do Mundo. Mais sério e sóbrio do que os antecessores 'Beethoven' (de 1992) e 'Dennis, O Pimentinha' (também de 1993), o filme conseguia ainda assim cativar o jovem público através de uma história simples, mas plena de impacto, e veiculada de uma forma que apenas parece levemente condescendente quando vista por um prisma adulto – ou seja, perfeita para a demografia a que a película se destina.

O centro nevrálgico da referida história segue, aliás, uma fórmula já bem testada, e inspiradora de clássicos de décadas passadas, como 'Old Yeller' ou 'Kes' – nomeadamente, a relação entre um jovem pré-adolescente e um animal. No caso, a metade humana da equação é Jesse (interpretado por Jason James Richter, um dos muitos proto-ídolos adolescentes da época) um rapaz de doze anos cuja infância algo atribulada encontra novo sentido após entrar em contacto com Willy, uma baleia-orca protagonista do espectáculo principal de um parque aquático. À medida que a relação entre ambos se aprofunda – incentivada pela treinadora de Willy, Rae, vivida por Lori Petty – Jesse resolve devolver o seu novo amigo ao mar onde nasceu e pertence, 'recrutando' a referida funcionária do parque, entre outros 'voluntários à força' para o ajudar na sua missão. E embora o fim esteja sempre longe de qualquer dúvida, é fácil 'embarcar' na aventura em si ao lado de Jesse, algo que o público infantil não hesitou em fazer, tornando o filme num retumbante sucesso e inscrevendo-o no vasto panteão de filmes de família memoráveis daquela década.

Curiosamente, no entanto – e também algo ironicamente, tendo em conta a sua mensagem – 'Libertem Willy' gerou tanto interesse pela sua história e aspectos técnicos como pelas condições em que era mantida a sua 'estrela' animal, Keiko. Com o movimento de libertação de golfinhos e orcas em pleno andamento à época de lançamento do filme – a mesma iniciativa que, anos depois, teria repercussões em Portugal, através da controvérsia em torno do Zoomarine – não tardaram a surgir reportagens acusatórias, que denunciavam o cativeiro da orca amestrada, cuja falta de espaço e água demasiado quente e clorídica haviam resultado em problemas físicos e de saúde. Não foi, pois, de admirar que, em consequência do filme, tenham sido postos em marcha esforços para 'Libertar Willy' (ou antes, Keiko), os quais viriam a render frutos quase uma década depois, quando, já no Novo Milénio, o animal foi – tal como a congénere fictícia que interpretava – liberto no mar, após mais de duas décadas de vida em cativeiro. Uma controvérsia de que o filme jamais se libertaria (passe o trocadilho), mas que acabou por ter um final feliz, e não beliscar a reputação da obra em si.

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A primeira sequela de Willy, lançada em 1995...

A liberdade de Keiko não deixou, no entanto, de se repercutir directamente nas duas sequelas a que o filme, previsivelmente, daria origem nos anos imediatamente subsequentes ao seu lançamento. Efectivamente, tanto 'Libertem Willy 2' como a terceira parte (subtitulada 'O Resgate') substituíam uma orca verdadeira por um boneco animatrónico, ao estilo do 'Tubarão' de Spielberg, evitando assim novas controvérsias em torno da crueldade animal. No restante, no entanto, ambos os filmes procuravam oferecer uma experiência ao nível do original, com a ajuda da maioria do elenco original.

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...e a segunda, de 1997.

De facto, ao contrário do que acontecia com as sequelas dos referidos 'Dennis o Pimentinha' ou 'Beethoven', ambas as continuações das aventuras de Jesse e Willy contam com os actores originais de regresso aos seus papéis do primeiro filme, algo que ajuda a credibilizar ambas as sequelas. Também os enredos de ambos os filmes mostram algum cuidado, com a segunda parte (de 1995) a prender-se com a tentativa de reunir Willy com a sua nova família após um derrame de petróleo no oceano e a terceira, de 1997 a ver Jesse e os seus aliados a contas com um grupo de baleeiros que procuram capturar Willy. Apesar de bem conseguidas, no entanto, nenhuma das duas sequelas logrou almejar o sucesso do original, com o 'falhanço' do terceiro a ditar o fim da franquia centrada na baleia-orca mais famosa do cinema...

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A inesperada terceira sequela, lançada em 2010

...pelo menos até, em plena 'febre' dos 'remakes', a Warner Brothers decidir trazer de volta Willy, numa quarta parte lançada directamente para o mercado DVD. Naturalmente, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' já não conta com qualquer dos actores de década e meia antes, entretanto já envelhecidos, e introduz uma nova protagonista, Kirra, uma jovem australiana que percorre o mesmo trajecto emocional do antecessor Jesse quando uma orca fica presa no parque aquático pertencente ao seu avô. Uma história já algo 'batida', mas bem-sucedida na principal função de um 'remake', a de apresentar a trama original a toda uma nova demografia; para quem viu o filme de 1993, no entanto, o principal motivo de interesse será mesmo a localização do filme, que se passa agora na África do Sul, derivando assim das habituais paisagens norte-americanas e dando um toque de exotismo ao filme. De resto, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' é um típico filme para crianças directo para DVD, com tudo o que isso implica.

Felizmente, e ao contrário de outras franquias infanto-juvenis, 'Libertem Willy' soube onde 'parar', tendo saído de cena com relativa dignidade e sem conspurcar o espírito do original com infindáveis sequelas cada vez mais tolas e infantis, e menos imbuídas do mesmo. E apesar de, enquanto franquia, não ter gozado do sucesso esperado, a série da Warner Brothers não deixou, ainda assim, de oferecer às crianças noventistas pelo menos um clássico imorredouro das Sessões de Sexta ou de fim-de-semana – o que, só por si, quase justifica a existência de todo o resto da franquia, e a torna digna de ser recordada, quase exactas três décadas após as crianças portuguesas da época terem tido, pela primeira vez, contacto com o filme original.

17.05.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Qualquer fã de cinema reconhece que os diferentes estilos e géneros inerentes à Sétima Arte têm, por sua vez, dentro de si uma miríade de sub-géneros, cada um com parâmetros e estereótipos bem definidos (como, aliás, acontece também com as artes concomitantes, como a música e a literatura). O género do crime, por exemplo, tem desde os anos 90 uma popular e vincada sub-categoria, focada não tanto nos 'gangsters' e máfias clássicas, mas em bandidos mais modernos, com tanta lábia como mira para disparar, cujas vidas se entrelaçam de alguma forma durante noventa minutos ou duas horas, com resultados invariavelmente divertidos para os fãs do género. E se, em solo norte-americano, o mestre deste sub-estilo se chama Quentin Tarantino, do lado europeu, um nome se agiganta como incontornável dentro do mesmo: Guy Ritchie, o britânico que, há quase exactos vinte e cinco anos, se apresentava aos cinéfilos portugueses através da sua primeira – e imediatamente icónica – obra.

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Realizado e produzido ainda em 1998, 'Um Mal Nunca Vem Só' (um daqueles títulos traduzidos inexplicáveis para um filme que se chama, no original, 'Lock, Stock and Two Smoking Barrels') era vítima do 'atraso cultural' habitual em produtos mediáticos da época, acabando por 'amarar' em solo lusitano apenas vários meses após o lançamento no seu Reino Unido natal, no caso a 14 de Maio de 1999. Foi nessa data que os fãs nacionais ficaram, pela primeira vez, a conhecer o estilo hiperactivo, estilizado e movido a diálogos jocosos que, já no Milénio seguinte, seria 'revisto e melhorado' em filmes como 'Snatch – Porcos e Diamantes', 'Rock'n'Rolla: A Quadrilha' ou 'Revolver'. Muitos dos 'actores fetiche' de Ritchie também fazem aqui a sua estreia, casos de Vinnie Jones e da futura estrela de acção Jason Statham, aqui marcadamente mais 'magricelas' e com a oportunidade de demonstrar os seus dotes como actor – sim, Jason Statham sabe representar, e bem! Já a trama desenrola-se no habitual 'rebuliço' também característico de Richie, que, a páginas tantas, faz até o cinéfilo mais persistente deixar de tentar perceber o que se passa, resignando-se a desfrutar dos excelentes diálogos e cenas de acção. Em suma, um compêndio do que viriam a ser os 'clichés' das obras do realizador britânico, de cuja junção resulta um dos melhores filmes de crime do cinema moderno.

De facto, um quarto de século volvido sobre a sua estreia em Portugal (e ligeiramente mais do que isso sobre o seu lançamento original) 'Um Mal Nunca Vem Só' continua a oferecer uma experiência tão prazerosa e entusiasmante como naquele dia de Maio de 1999 em que pela primeira vez chegou às salas lusas, e a servir de inspiração para inúmeros 'imitadores', nenhum dos quais chega aos níveis de qualidade aqui almejados por Richie. Razões mais que suficientes, pois, para dedicarmos esta homenagem à obra de estreia do britânico, quando a mesma atinge tão destacado marco em solo português.

19.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Para a maioria das crianças e jovens dos anos 80 e 90, Robin Williams é conhecido, sobretudo, pelos seus dotes cómicos, ombreando com nomes como Eddie Murphy, Tim Allen, Rowan Atkinson ou Jim Carrey no panteão de grandes actores de comédia da época; para os espectadores mais velhos, no entanto, o malogrado actor era, também, famoso pela sua versatilidade, sendo capaz de interpretar de forma convincente (embora sempre imbuída da sua fisicalidade e dramatismo propositadamente exagerados) papéis mais 'sérios'. A própria filmografia do actor demonstra explicitamente essa dicotomia, com filmes como 'Papá Para Sempre', 'Flubber – O Professor Distraído' ou a versão original do 'Aladdin' da Disney a serem contrapostos com magníficas interpretações dramáticas em obras como 'Bom Dia Vietname', 'O Bom Rebelde', ou o filme que inspira esta Sessão extra, por ocasião do trigésimo-quarto aniversário da sua estreia em Portugal.

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De facto, apesar de tecnicamente o post da passada Quinta-feira servir 'função dupla' como Sexta com Style, não poderíamos deixar de aproveitar a ocasião de falar de um dos filmes mais marcantes do início dos anos 90, no exacto dia em que, no primeiro mês da nova década, o mesmo surgia nos cinemas lusitanos, dando-nos, assim, a 'desculpa' perfeita para o incluirmos neste nosso 'blog'. Falamos de 'O Clube dos Poetas Mortos', clássico do género dramático que, fosse no cinema ou, mais tarde, através do mercado de vídeo, teve impacto directo sobre pelo menos duas gerações de cinéfilos, pela sua bem conseguida mistura de drama 'para chorar' com elementos relativos ao processo de amadurecimento, com que o público-alvo facilmente se conseguia identificar.

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O ´professor' e 'alunos' nos quais se centra o filme.

Guiado por uma magnífica interpretação de Williams como o novo professor de Literatura de uma escola privada norte-americana determinado a fazer 'sair da casca' os seus alunos, o filme conta, ainda, com 'performances' de alto nível por parte dos jovens actores que compõem a turma, com destaque para um jovem Ethan Hawke e para Robert Sean Leonard, futura 'cara conhecida' de várias séries de televisão. E apesar de o tempo se ter encarregue de tornar certas falas e cenas 'meméticas' ao ponto de quase parecerem paródias, a verdade é que é difícil negar a qualidade de escrita e interpretação das mesmas, e do filme em geral, e a validade da sua mensagem – embora, neste último caso, seja fácil a um espectador mais experiente oferecer contrapontos a várias das ideias do filme. Para o público-alvo, no entanto, as mensagens de auto-determinação, auto-descoberta e rejeição do destino por outros traçado terão sido por demais eficazes, explicando o estatuto de culto de que o filme continua a gozar.

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A cena mais icónica do filme.

Acima de tudo, o filme de Peter Weir faz parte daquele contingente de obras cinematográficas que se recusa a 'envelhecer', podendo tão facilmente ter sido rodado no ano transacto como três décadas antes - como foi o caso – e que, por isso, continuam a constituir uma excelente experiência fílmica, mesmo para a geração habituada a efeitos especiais mirabolantes e ritmos de acção frenéticos. Isto porque, conforme acima notámos, as mensagens transmitidas pela obra continuam a afirmar-se como universais, o que, aliado ao excelente elenco, poderá fazer com que a geração digital levante o olhar do TikTok durante duas horas, e se delicie com uma Sessão de Sexta ainda hoje acima da média - teoria que pode ser testada seguindo este link...

22.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar da sua riqueza narrativa e textual, e de fazerem parte do imaginário da maioria das crianças ocidentais, as histórias da Bíblia apenas esporadicamente têm servido de base a criações mediáticas para crianças, continuando a grande maioria dos exemplos de adaptações tanto do Novo como do Velho Testamento a apontar a um público adulto ou, no limite, familiar. Àparte a ocasional série ou filme animado de baixo orçamento baseado numa única história, o único exemplo verdadeiramente relevante de uma adaptação bíblica declaradamente infanto-juvenil celebrou no início desta semana exactos vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, a 18 de Dezembro de 1998, e continua a ser lembrado como um dos melhores filmes 'para crianças' de finais do século XX, tendo contribuído, em larga medida, para cimentar a Dreamworks como concorrente da Walt Disney no mercado da animação.

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Falamos, claro está, de 'O Príncipe do Egipto', um dos últimos filmes 'tradicionalmente' animados do catálogo da companhia (que, poucos meses antes, dera o primeiro 'salto' total para o 3D, com o lançamento de 'Antz - Formiga Z') e unanimemente considerado um dos seus melhores, pela sua cuidada junção e curação de aspectos narrativos e artísticos em prol de um todo de elevadíssima qualidade, que aperfeiçoava o que o antecessor 'O Caminho Para El Dorado' estabelecera dois anos antes.

Propondo-se narrar a lendária história de Moisés, o profeta que, segundo a Bíblia, fez abrir o Mar Vermelho e permitiu a fuga de milhares de judeus do Egipto, o filme dá, no entanto, quase igual atenção ao irmão adoptivo do protagonista, o titular Príncipe (ou Faraó) Ramsés. Toda a primeira parte do filme se centra em mostrar a dinâmica fraternal entre ambos, com Moisés a comportar-se como o típico herdeiro de um soberano, em camaradagem com Ramsés; apenas após descobrir a verdade sobre as suas origens se começa a ver a transformação no protagonista, e, como consequência, na sua relação com o irmão adoptivo. A grande 'proeza' do filme é conseguir que, nesta fase, nenhum dos dois irmãos surja como vilão declarado, sendo fácil compreender os pontos de vista e sentimentos de ambos, e cabendo ao espectador decidir com quem alinhar as suas simpatias; ainda que seja Moisés quem é codificado como o herói, a vilania de Ramsés apenas se manifesta no terceiro acto, quando o mesmo leva a cabo a famosa perseguição a bebés. O resultado é um filme mais interessado no aspecto humano da narrativa do que na grandiosidade dos antigos épicos bíblicos, ainda que este aspecto não se encontre em falta, com a Dreamworks a fazer excelente uso não só das capacidades dos seus animadores como também dos melhores recursos CGI disponíveis à época.

Não é, pois, de surpreender que 'O Príncipe do Egipto' se tenha traduzido num enorme sucesso entre o seu público-alvo, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo, sendo que a versão nacional contava, ainda, com uma excelente dobragem, na linha das realizadas para os filmes da Disney da mesma época. Foi, portanto, também com naturalidade que a obra foi capaz de reter a percepção crítica, tanto por parte do público como da imprensa, ao longo das duas décadas e meia seguintes, tendo a sua 'fama' sobrevivido, mesmo, à 'passagem' de gerações - um feito notável para qualquer filme de finais do século XX. É, pois, mais que merecida esta homenagem, na semana em que se celebra um quarto de século sobre a estreia de um dos últimos grandes épicos infantis do século XX.

A versão em Português de uma das cenas icónicas do filme.

17.11.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos géneros cinematográficos e televisivos mais frequentemente associados com os anos 90 é o do humor escatológico e politicamente incorrecto. Se, nos anos 80, Hollywood se tinha tornado obcecada com as experiências recreativas e sensuais de personagens adolescentes, na década seguinte, foram as funções corporais que mais foco tiveram nas suas produções, algumas das quais herdavam moldes oitentistas e os actualizavam com ainda mais piadas, literalmente, porcas (como 'American Pie – A Primeira Vez') enquanto que outros aplicavam essa fórmula a géneros, à primeira vista, incompatíveis com o mesmo, como as comédias românticas.

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O filme desta Sexta como parte da colecção de VHS da TV Guia, já no século XXI.

Talvez o mais famoso e bem-conseguido exemplo desta última categoria estreava em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos (no penúltimo dia de Outubro de 1998) e viria a afirmar-se como um sucesso não só durante a sua exibição original como também em décadas subsequentes, nas quais continuou em alta rotação no mercado de vídeo e DVD, bem como na televisão, e reteve a sua relevância no contexto de conversas sobre cinema. Falamos de 'Doidos Por Mary', o filme mais conhecido por incluir uma cena em que, durante um jantar romântico, a personagem principal aplica o que pensa ser gel no cabelo, passando as cenas seguintes com um penteado tão estranho como icónico.

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A cena que imortalizou e catapultou a película dos irmãos Farrelly.

Há, no entanto, mais atractivos do que apenas uma piada bem conseguida no filme dos irmãos Farrelly, eles próprios mestres do estilo escatológico, ou 'gross-out'. Isto porque, em meio a todas as piadas sobre fluidos usados de forma mais do que indevida, o filme traz uma mensagem até algo feminista, em que os personagens mais abertamente misóginos ou machistas (ou mesmo apenas falsos) são prontamente desmascarados, e sofrem as consequências pelas suas acções, sendo o personagem mais genuíno e honesto, ainda que menos atraente ou atractivo (o Ted de Ben Stiller), o escolhido pela titular Mary, um dos papéis mais icónicos da lindíssima Cameron Diaz, uma beldade sem medo de gozar consigo própria, como bem o comprova a cena acima descrita.

É, precisamente, esse balanço entre piadas hilariantemente absurdas (nem todas escatológicas – também há aqui alguns óptimos diálogos) e uma vertente mais honestamente sentimental que ajuda a tornar 'Doidos Por Mary' um clássico num campo sobrepovoado, mas em que a maioria dos filmes têm dificuldade em gerir esta dicotomia; como tal, e ainda que nem tudo tenha 'envelhecido' bem no filme dos Farrelly, o mesmo continua a ser uma excelente escolha para ver com os amigos ou familiares, acompanhado de bebidas e aperitivos, ou mesmo como Sessão de Sexta em conjunto com um parceiro com tanto sentido de humor quanto a personagem feminina – pela qual é bem possível que fiquem, também eles, 'Doidos'...

 

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