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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

24.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os filmes de animação de finais do século XX tendiam a estar associados a um de três nomes: por um lado, o da tradicional e decana Walt Disney, então a atravessar um 'renascimento' que lhe viria a render um segundo estado de graça, por outro o da 'estreante' Pixar e, apenas um meio passo atrás, o do realizador Don Bluth, o qual, em parceria com a Amblin Entertainment de Steven Spielberg, deixaria um legado de 'clássicos' de animação modernos. E apesar de a melhor fase do criador ter tido lugar entre meados da década de 80 e inícios da seguinte – quando produziu obras-primas como 'Fievel, Um Conto Americano' (e respectiva sequela), 'Em Busca do Vale Encantado' e 'Todos os Cães Merecem o Céu' – os últimos anos do século XX ainda veriam ser lançado pelo menos mais um clássico com o nome de Bluth à cabeça: 'Anastasia', uma versão ficcionalizada, bem ao estilo da concorrente Disney, da história verídica de Anastasia Romanoff, czarina russa que, reza a lenda, terá sobrevivido ao atentado que vitimou a sua família em 1917.

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Considerado hoje como o filme que marcou o regresso à forma do realizador norte-americano após obras menos conseguidas como 'Um Duende no Parque', 'Hubie, o Pinguim' ou a sequela de 'O Segredo de Nimh', a animação estreou em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos, tendo chegado aos cinemas nacionais a 27 de Março de 1998, e conseguido boa aceitação entre o público infanto-juvenil nacional, apesar (ou talvez por causa) das semelhanças com as obras que a Disney vinha, à época, lançando anualmente. E se é verdade que o filme contém muitos dos elementos que se tornaram sinónimos com as animações da companhia do Rato Mickey – da protagonista que deseja mais da vida ao par romântico 'atrevido' e bem-parecido, sem esquecer os alivios cómicos, o vilão de traços angulares e, claro, as canções - nem por isso o mesmo deixa de ser um exemplo extremamente bem conseguido de um filme de família, capaz de maravilhar e até assustar o público-alvo (muito por conta do vilão Rasputin, uma daquelas criações que a equipa de animadores da Disney talvez desejasse ter concebido) sem descurar o público mais adulto – uma dicotomia que os melhores filmes animados e de família tendem a valorizar, e a saber balancear.

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O núcleo central de personagens do filme era bastante bem conseguido, com destaque para o pérfido vilão, Rasputin.

Talvez por isso 'Anastasia' se tenha tornado um dos 'clássicos menores' da animação dos anos 90, que, sem chegar ao nível de notabilidade de um 'Aladino' ou 'O Rei Leão', não deixa ainda assim de fazer parte das memórias nostálgicas de muitas crianças – portuguesas e não só. E a verdade é que tanto a animação quanto a história do filme 'envelheceram' marcadamente bem, afirmando-se como perfeitamente aceitáveis (e até acima da média) mesmo um quarto de século após o seu lançamento, e fazendo de 'Anastasia', ainda hoje, uma excelente proposta para um fim-de-semana chuvoso em família, em frente à televisão – quem sabe, como comemoração da data marcante que ora se assinala...?

10.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre todos os géneros de cinema, a comédia foi – a par dos filmes de acção – aquele que mais 'nomes sonantes' teve durante a década de 90, tendo actores como Jim Carrey, Robin Williams, Eddie Murphy e Will Smith - entre muitos outros - feito as delícias dos jovens daquele tempo, e deixado para a posteridade uma filmografia repleta de obras memoráveis para qualquer 'puto' de finais do século XX.

Nem só os 'rapazes' tinham direito a brilhar, no entanto, e a década a que este blog diz respeito revelou, também, uma congénere feminina para os nomes anteriormente citados, na pessoa de Whoopi Goldberg. Com o seu icónico e inconfundível visual, voz rouca, e capacidade de ser tão expressiva e exagerada como Carrey e tão emocionalmente sincera como Williams, a actriz afro-americana viveu um autêntico estado de graça em finais dos anos 80 e inícios dos 90, em que o seu nome num cartaz era suficiente para suscitar interesse num filme; e ainda que nem todas as escolhas de Goldberg tenham sido as mais acertadas (longe disso), dois dos seus filmes pareceram expressamente escritos com a actriz em mente, e são hoje universalmente aclamados como 'tesouros' nostálgicos.

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Falamos da duologia 'Do Cabaré Para o Convento' (no original, 'Sister Act'), cujo primeiro filme celebrou recentemente o trigésimo aniversário da sua estreia em Portugal, a 28 de Janeiro de 1993. E porque, nessa semana, preferimos falar dos filmes de James Bond, rectificamos agora o nosso lapso, debruçando-nos não só sobre esse trabalho, como também sobre a sua sequela, potencialmente ainda mais reconhecida e bem-amada pela geração noventista.

Ambos os filmes vêem Whoopi encarnar a mesma personagem, uma cantora de cabaré que, devido a peripécias várias, se vê obrigada a fazer-se passar por freira, sob o nome de Irmã Mary Clarence. Escusado será dizer que a vida espartana de um convento pouco ou nada combina com a extrovertida Dolores (o nome verdadeiro da personagem) que – no primeiro filme - rapidamente tenta 'animar' um pouco as hostes através de mudanças no repertório do coro. Como não podia deixar de ser, estas mudanças são veementemente recusadas pela Madre Superiora e restantes responsáveis do convento, mas (também previsivelmente) Dolores acaba por fazer valer a sua vontade e ganhar a confiança de todas as residentes do convento.

Já a sequela vê as Irmãs tornarem-se professora numa escola de bairro social, plena de alunos difíceis (entre os quais uma jovem Lauryn Hill, mais tarde membro dos lendários Fugees), que Dolores deverá tentar conquistar através da música e do canto, numa espécie de versão comédica de filmes como “Mentes Perigosas” e “Escritores da Liberdade” - ambos, curiosamente, posteriores à obra de Whoopi! E se o original rendera alguns bons momentos sem, no entanto, se destacar particularmente em nenhum aspecto, este segundo filme traz uma cena final absolutamente icónica, em que a turma de Dolores/Mary Clarence participa numa competição de coros, e tem um desempenho por demais memorável. Só por isso, a sequela já supera o original; no entanto, este não é o seu único argumento, sendo que a 'parte 2' conta, também, com melhor argumento e uma série de bons desempenhos por parte dos jovens actores que interpretam os alunos, com óbvio destaque para Hill no papel de Rita, uma jovem cujos pais não aprovam o sonho de uma carreira musical.

Em suma, sem serem tão icónicos, histórica e culturalmente relevantes ou até memoráveis como alguns dos outros filmes de que vimos falando nesta rubrica, os dois 'Do Cabaré Para o Convento' não deixam, ainda assim, de constituir escolhas perfeitamente válidas para uma 'sessão dupla' de cinema em casa ao fim-de-semana, continuando a 'aguentar-se' tão bem no mundo do celulóide actual como no de há trinta anos atrás; e ainda que Whoopi Goldberg tenha, no entrementes, perdido muita da preponderância que então tinha em Hollywood, o seu legado mantém-se ainda assim vivo, em grande parte devido a estes dois filmes, que continuam a atrair gerações de novos fãs de todas as idades até aos dias de hoje.

30.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Durante o mês de Dezembro, temos feito uso dos 'posts' de Sexta-feira para recordar alguns filmes marcantes estreados em Portugal durante esse mês, em diversos pontos dos anos 90; nesta última Sexta-feira do ano - e apesar de a época natalícia já se encontrar oficialmente encerrada e de os pensamentos de grande parte dos nossos leitores estarem já nos preparativos do Reveillon de Ano Novo - manteremos esse padrão, e aproveitaremos para recordar um último filme de Natal da época, no caso o 'remake' de 'Milagre em Manhattan', de 1994.

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Produzido quase cinco décadas após o original (estreado em 1947, e também originalmente intitulado 'Miracle on 34th Street', mas que em Portugal recebeu o título 'De Ilusão Também Se Vive') e chegado aos cinemas nacionais a 16 de Dezembro de 1994 (quase exactamente dois anos após a estreia em Portugal de 'Sozinho em Casa 2', e dois anos antes da de 'O Tesouro de Natal'), o filme traz como principal atractivo para as crianças a presença, no papel principal, da pequena Mara Wilson, actriz que atravessava à época o 'estado de graça' da sua carreira, após a sua auspiciosa estreia em 'Papá Para Sempre', do ano anterior, e que viria também a viver a popular personagem infantil Matilda, dois anos depois; já os adultos tinham no veterano Richard Attenborough, conhecido pelos mais jovens como John Hammond, o milionário excêntrico de 'Parque Jurássico' e aqui coadjuvante da menina, a garantia de uma prestação de qualidade, que lhes mantivesse o interesse até ao final do filme e os impedisse de adormecer em pleno cinema. Juntos, os dois actores são responsáveis por 'aguentar' a grande maioria do filme, auxiliados aqui e ali por Elizabeth Perkins, no papel de Dorey Walker, mãe da pequena Susan, vivida por Wilson.

O resultado é um filme que, sem deslumbrar nem entrar para a História do cinema, cumpre com distinção a sua missão de ser um filme de Natal acima da média e capaz de agradar a toda a família, conseguindo mesmo a proeza de constituir um 'remake' bem conseguido de um clássico intemporal, ainda que sem chegar ao patamar de qualidade do mesmo. Ainda assim, haveria decerto, à época, opções muito piores para passar uma tarde em família no cinema - ou, em anos subsequentes, frente à televisão; como tal, e numa altura em que os serviços de 'streaming' permitem fácil acesso a uma enorme variedade de filmes (de que este não é excepção) nada melhor para as tardes chuvosas que se avizinham do que abrir o Disney + e prolongar por mais uns dias a atmosfera natalícia, enquanto, ao mesmo tempo, se mostra às novas gerações que os filmes de Natal noventistas não se resumem apenas ao inevitável 'Sozinho em Casa'...

23.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de a principal vertente da sua fama ter surgido no contexto do cinema de acção - do qual foi um dos grandes heróis durante os anos 80 e 90, tendo participado numa série de filmes marcantes do género - Arnold Schwarzenegger atravessou, no início e meados da última década do século XX, uma fase em que se tentou, também, afirmar como actor de comédia, tirando proveito do seu aguçado 'timing' cómico; e a verdade é que esta experiência, apesar de nem sempre totalmente bem conseguida, não deixou de render pelo menos um verdadeiro clássico, no excelente 'Um Polícia no Jardim-Escola', lançado logo em 1990. E apesar de os filmes seguintes do actor no mesmo registo - como 'Júnior' ou 'O Último Grande Herói' - não terem conseguido o mesmo sucesso, 'Arnie' viria, ainda, a contribuir para mais um filme de culto entre a juventude dos anos 90, bem como entre os fãs dos filmes de Natal. É desse filme, que completou esta semana vinte e seis anos sobre a sua estreia em Portugal, que falaremos nesta última Sexta de Sucessos antes da Consoada.

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Trata-se de 'O Tesouro de Natal' ('Jingle All The Way' de seu título original) estreado em terras lusas a 20 de Dezembro de 1996, numa altura em que a imagem de Schwarzenegger era, ainda, suficiente para 'vender' filmes por si só. E a verdade é que, sem 'Arnie', este filme talvez nem tivesse adquirido o estatuto de 'meme' 'tão mau que é bom' de que hoje goza, já que é das 'caretas' e dichotes de efeito do actor que advêm os momenos mais memoráveis da película, ficando as intervenções sem graça do insuportável Sinbad e restantes tentativas falhadas de fazer rir a audiência algo 'esquecidas' por comparação.

Schwarzenegger é responsável por muitos dos melhores momentos do filme.

Tal como existe, e longe de ser um bom filme ou merecer o estatuto de clássico da época natalícia gozado por filmes como 'Gremlins', 'O Estranho Mundo de Jack' ou o binómio 'Sozinho em Casa', 'O Tesouro de Natal' vale o visionamento apenas pela exibição tresloucada de 'Arnie', ao estilo das que tornam, hoje, conhecido Nicolas Cage, mas bastante mais intencional, e que transforma uma comédia de Natal comercial e medíocre em algo ainda hoje lembrado - ainda que ironicamente - por toda a geração que a ela assistiu há um quarto de século.

17.12.22

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2022.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

No primeiro Natal do Anos 90, há quase exactamente um ano, fizemos questão de recordar aquele que continua a ser, possivelmente, o maior clássico de Natal da geração de finais do século XX, o imortal e perene 'Sozinho em Casa'; agora, doze meses volvidos e no fim-de-semana em que se celebram trinta anos sobre a sua estreia em Portugal, chega a altura de recordar a primeira e mais famosa sequela do filme de Chris Columbus.

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Produzido e lançado nos EUA em Novembro-Dezembro de 1991, 'Sozinho em Casa 2: Perdido em Nova Iorque' demoraria, como o original, quase um ano a atravessar o Atlântico, surgindo nas salas de cinema portuguesas apenas a 18 de Dezembro de 1992, ainda mais que a tempo de cativar os jovens fãs do original e de capitalizar sobre a popularidade da mini-estrela Macaulay Culkin, que surge novamente no papel que o revelou ao Mundo: o de Kevin McAllister, filho mais novo de uma família numerosa e com uma certa tendência para o ignorar, ou, pior, esquecer-se dele. E se no primeiro filme Kevin havia sido deixado para trás aquando de uma viagem de férias, desta vez, é durante a visita da família à cidade de Nova Iorque que o engenhoso mas ingénuo jovem se separa da família, vendo-se obrigado a tentar encontrá-la ao mesmo tempo que procura escapar às maquinações dos bandidos de Daniel Stern e Joe Pesci, que se procuram vingar dele pelos eventos do primeiro filme; pelo meio ficam interacções com Donald Trump (sim, interpretado pelo próprio), 'visitas guiadas' cinematográficas às principais atracções da Nova Iorque natalícia de princípios dos anos 90 e, claro, aquela mistura de humor e sentimento que caracteriza qualquer bom filme de Natal, e que fizera do primeiro filme o tremendo sucesso que foi.

Infelizmente, apesar de a 'fórmula' ser mais ou menos a mesma, bem como o realizador e elenco, 'Sozinho em Casa 2' dá razão à máxima que diz que as sequelas nunca são tão boas como os originais, nunca chegando a ser um clássico ao nível do original. Talvez seja a ausência das armadilhas caseiras que proporcionavam todos os bons momentos do primeiro filme, ou talvez a ambição demasiada em colocar Kevin a deambular pela gigantesca 'Big Apple' - o certo é que falta mesmo a esta primeira sequela aquele 'pózinho secreto' que lhe permitisse ombrear com o seu antecessor. Ainda assim, em vista do que se seguiria - e da maioria das comédias de Natal infantis estreadas desde então (como os insuportáveis 'Grinch' e 'Elf - O Falso Duende') 'Sozinho em Casa 2' não deixa de ser uma película acima da média, e capaz de proporcionar algumas gargalhadas aos mais novos numa tarde de cinema em família - desde que, claro, se faça questão de exibir também, na mesma sessão, o primeiro filme. E, para facilitar, deixamos abaixo o 'link' de YouTube para o filme completo...

09.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O 'filme de Natal' é, regra geral, um género cinematográfico adstrito a um conjunto de regras, simbologia e elementos extremamente específica e limitada, estabelecida ainda nos 'anos de Ouro' de Hollywood; tal não tem, no entanto, impedido certos cineastas de tentarem criar filmes tematizados em torno desta época que procuram fugir aos estereótipos e criar algo diferente (ou, pelo menos, diferenciado.) Um dos melhores exemplos deste fenómeno é uma película que completa hoje, 9 de Dezembro de 2022, exactos vinte e oito anos sobre a sua estreia em território nacional e que, ao longo desse tempo, se conseguiu tornar objecto de culto junto de várias gerações de um determinado sub-sector (ou, se preferirmos, 'tribo urbana') da sociedade ocidental.

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Falamos de 'O Estranho Mundo de Jack' (no original, 'The Nightmare Before Christmas'), um dos mais famosos trabalhos de um Tim Burton em estado de graça, e parcialmente responsável por popularizar os filmes de animação 'stop-motion' para adultos, filão a que o realizador e produtor viria a regressar por diversas vezes ao longo dos anos subsequentes.

Todo o culto em torno deste filme não é, aliás, imerecido: adequado tanto para audiências natalinas como para a festividade anterior, o 'Halloween', a odisseia de Jack Skellington para trazer o espírito de Natal a Halloweentown e ganhar o amor de Sally tem um estilo visual muito próprio e instantaneamente reconhecível (o qual representa, aliás, o principal factor do seu sucesso) um argumento inteligente e números musicais memoráveis, que fazem dele, com mérito, um dos clássicos de Natal modernos – um estatuto que merece bem mais do que obras como 'Elf – O Falso Duende', por exemplo.

Aliás, ainda que a técnica por detrás dos movimentos dos personagens comece já a mostrar alguns sinais de envelhecimento (natural, dadas as quase três décadas desde o seu lançamento) o filme continua a ser um feito técnico e tecnológico notável, bem como uma excelente escolha para uma sessão de cinema em casa nestas semanas de 'aquecimento' para a grande festa – sobretudo para quem gosta de uma certa vertente menos 'feliz' (se quisermos, mais 'gótica') nas suas produções festivas. Quem 'alinhar' nesta ideia, só tem, aliás, de clicar no 'link' abaixo (a versão integral dobrada em brasileiro, tal como teria saído nas salas portuguesas em 1994) e ver por si mesmo as razões que tornam este um dos maiores filmes de culto dos últimos trinta anos...

14.10.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Uma das principais características de qualquer propriedade intelectual de sucesso é a sua eventual expansão para meios, contextos e géneros diferentes daquele em que se originou – e, destes, um dos primeiros a ser explorado é o da Sétima Arte. Apesar de o rácio de sucessos ser, ainda, algo inconstante, é, já, dado quase adquirido que qualquer produto cultural de sucesso, sobretudo entre os mais jovens, terá inevitavelmente direito a um filme.

Esta tendência está, aliás, longe de ser nova ou recente, podendo que a realização de filmes alusivos a propriedades intelectuais de sucesso ser traçada, pelo menos, até inícios da segunda metade do século XX; nos anos 60 e 70, por exemplo, já era prática comum transformar em longa-metragem tudo aquilo de que os mais jovens gostassem.

Não é, pois, de admirar que um herói tão popular na Europa como Astérix tenha sido alvo de inúmeras adaptações cinematográficas, a primeira das quais meros anos depois da sua criação, em 1956, estando a mais recente planeada para lançamento algures neste ano de 2022; menos surpreendente ainda é o facto de a fase de 'renascimento' da popularidade do guerreiro gaulês ter, também ela, visto serem lançados novos filmes alusivos às suas aventuras. É, precisamente, desses títulos que falaremos nas próximas linhas.

Foram dois os filmes de Astérix estreados em Portugal na década a que este blog diz respeito, ainda que o primeiro dos dois filmes não pertence, tecnicamente, a essa década, tendo sido produzido ainda bem dentro da anterior, em 1985; no entanto, o habitual (à época) atraso na chegada de produtos mediáticos a Portugal fez com que os jovens lusos apenas pudessem desfrutar da nova aventura do herói em 1990 – CINCO ANOS após a estreia na sua França natal! Um intervalo de tempo exagerado mesmo para os padrões daquele final do século XX, e que fez com que Portugal fosse mesmo o último país a receber o filme nas suas salas de cinema, tendo o mesmo, inclusivamente, ficado disponível APÓS o seu sucessor, 'Astérix Entre os Bretões'; como diz o ditado, no entanto, 'mais vale tarde do que nunca', e a verdade é que os fãs do irredutível gaulês acabaram mesmo por poder deliciar-se com aquele que é uma excelente adição à filmografia do personagem de Goscinny e Uderzo.

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A anos-luz dos seus antecessores em termos técnicos (ou não se tivesse passado quase uma década desde o seu antecessor mais próximo) e tirando proveito dos recursos disponíveis à época, 'Astérix e a Surpresa de César' é, de todos os filmes animados de Astérix e Obélix, aquele que mais se assemelha a uma verdadeira longa-metragem, contando inclusivamente com uma memorável cena de acção durante uma corrida de quadrigas no Coliseu romano, que rende a imagem mais icónica do filme, e ilustração do cartaz. Baseado no álbum 'Astérix Legionário', o filme vê o irredutível duo alistar-se nas legiões de César, como forma de salvar Falbala, a beldade da aldeia, e o seu garboso namorado, Tragicomix, após o casal ser capturado pelos romanos; fica, assim, dado o mote para uma hora e meia das habituais confusões, zaragatas e tiradas de humor sarcástico típicas da obra de Goscinny e Uderzo, num filme que só perde mesmo para o seu antecessor directo - o hilariante 'Os Doze Trabalhos de Astérix', de 1976 - no cômputo geral da filmografia do gaulês, e que ainda dá ao Mundo uma daquelas 'malhas' pop tão 'de época' como irresistíveis, sob a forma da contagiante 'Astérix Est Là', interpretada pelo excêntrico 'herói de culto' da música oitentista francesa, Plastic Bertrand. Em suma, um filme animado acima da média para a época – especialmente tratando-se de uma produção europeia, e como tal, de menor orçamento – e que ainda hoje deverá fazer as delícias de qualquer jovem fã das BD's de Astérix e Obélix.

O tema principal do filme é, no mínimo, contagiante.

O mesmo, infelizmente, não se pode dizer do OUTRO filme alusivo aos personagens, estreado na 'outra ponta' da década, em 1999 (mesmo ano de outros dois 'desastres' cinematográficos, 'Guerra nas Estrelas Episódio I' e 'Wild Wild West'); isto porque, apesar do 'casting' absolutamente PERFEITO (Gerard Dépardieu como Obélix é uma daquelas escolhas tão óbvias que se tornam quase inevitáveis) e da novidade de ver os heróis gauleses em 'carne e osso', 'Astérix e Obélix Contra César' salda-se como um mero aglomerado de cenas retiradas de diferentes álbuns de Astérix e 'coladas com cuspo' por um argumento que tenta, sem sucesso, fundir várias aventuras do gaulês, com destaque para 'O Adivinho' e – novamente – 'Astérix Legionário'.

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O resultado é uma espécie de 'Homem-Aranha 3' em formato de comédia francesa, com Depardieu, Christian Clavier – também ele perfeito como Astérix – e Roberto Benigni a tentarem desesperadamente transformar o pobre argumento em algo minimamente divertido, sem nunca verdadeiramente o conseguirem. Assim, a melhor forma de encarar este filme é como um 'ensaio geral' para a segunda película 'live-action' dos gauleses, 'Astérix e Obélix: Missão Cleópatra', obra diametralmente oposta a 'Contra César' em termos de qualidade, e que tira o máximo proveito da química inegável que Depardieu e Clavier haviam começado a desenvolver no primeiro filme. Já os aldeões voltariam a ter destaque no também excelente 'Astérix e Obélix: Ao Serviço de Sua Majestade', que – esse sim! - consegue fundir elementos de diversas aventuras sem com isso perder a coesão. Quanto a 'Contra César', e mesmo dando o desconto de algumas 'dores de crescimento' derivadas de ser a primeira tentativa, o mesmo é sem dúvida o pior filme alusivo aos heróis de Goscinny e Uderzo de sempre, não chegando sequer à fasquia de qualidade do fraquíssimo 'Astérix o Gaulês', a primeira aventura animada do personagem, realizada nos anos 60.

Dois filmes, portanto, que surgem em extremos opostos da filmografia do herói, sendo um legitimamente bem conseguido, enquanto o outro apenas justifica o visionamento na perspectiva 'tão mau que é bom'. Quanto à carreira cinematográfica de Astérix e Obélix, a mesma continua de vento em popa (mesmo depois dos problemas de Depardieu com o fisco francês) sendo de esperar que continuem a surgir novas aventuras (reais ou animadas) do duo em anos vindouros.

16.09.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos normalmente associados com os anos 90, os filmes de família estão entre os mais imediatamente memoráveis, dada a quantidade e qualidade das longas-metragens deste estilo produzidas durante essa década. De Sozinho em Casa e Papá Para Sempre a Hook e Parque Jurássico, passando pelos filmes das Tartarugas Ninja, por vários grandes sucessos de Jim Carrey e, claro, por uma sucessão de obras-primas da Disney, não faltam exemplos de obras que justificaram bem a ida ao cinema, e que, mais tarde, gozaram de nova vida no circuito de vídeo e DVD.

Uma dessas obras, que completou em finais do mês transacto três décadas sobre a sua estreia em Portugal, foi 'Beethoven', o filme que criou em muitas crianças da altura (em Portugal e não só) o desejo de adoptar um cão São Bernardo, ao mesmo tempo que tentava alertar para os perigos de tal acto, especialmente para quem não soubesse 'ao que ia'; e por, por alturas do referido aniversário, termos estado ocupados com outros temas (além de, na última Sessão de Sexta, termos preferido falar sobre 'O Quinto Elemento') dedicaremos agora, ainda que já algo tardiamente, algumas linhas a um filme que, quase sem querer, acabou por ter influência não só na geração em causa, como também na seguinte.

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Representante perfeito de um tipo de filme intemporal, mas cuja fase moderna remonta a finais dos anos 80, 'Beethoven' conta a história de como o cão homónimo, um São Bernardo de raça pura, afecta a vida da família que o adopta, após o encontrar abandonado na rua em cachorro – um processo que engloba todas as peripécias expectáveis, do desespero inicial à eventual aceitação e à formação de elos de amizade e amor. A este enredo junta-se ainda, a partir de meio, uma segunda trama, centrada em torno de um veterinário pouco escrupuloso, como que para justificar a existência deste filme enquanto obra cinematográfica; no entanto, não há como negar que o principal interesse deste filme para o seu público-alvo estava mesmo no farfalhudo protagonista, e nos 'desastres' que o seu tamanho e movimentos abrutalhados causavam, sendo estas as principais razões por detrás do sucesso do filme à época da sua estreia.

Claro que, da perspectiva de um cinéfilo adulto, e com trinta anos de filmes de permeio, 'Beethoven' dificilmente pode ser considerado um bom filme; mesmo dentro do sector infantil, existem opções bem mais sofisticadas, divertidas e bem conseguidas. No entanto, pode-se argumentar que nunca terá sido esse o propósito do filme, inserindo-se o mesmo na 'escola Sozinho em Casa' de obras em que o principal foco cai sobre a comédia física, causada (acidental ou propositadamente) por um protagonista declarada e descaradamente 'fofo' – humano no caso de 'Sozinho em Casa', animal no de 'Beethoven'; e o mínimo que se pode dizer é que essa receita resultou esplendidamente para ambas as propriedades, as quais viriam, em anos vindouros, a dar origem a toda uma série de filmes com o mesmo título. E se, para ambas, esse desenvolvimento apenas se deu várias décadas após a estreia do original, também é verdade que as duas tiveram direito à obrigatória sequela ainda na mesma década, apenas um par de anos depois do lançamento do primeiro filme – a qual, previsivelmente, obedecia à quase obrigatória fórmula das sequelas de apresentar 'mais do mesmo', mas ampliado.

No caso de 'Beethoven 2' (lançado logo no ano seguinte, em 1993) essa estratégia implicava o aparecimento não só de uma companheira para Beethoven, como da respectiva ninhada, sextuplicando o quociente de destruição massiva em casa dos pobres Newtons. Apesar de sobejamente divulgado por publicações como a Super Jovem, no entanto, este filme passou algo despercebido junto da mesma audiência que tornara o primeiro um sucesso – uma ocorrência algo inesperada, tendo em conta que se passara pouco menos de um ano desde a estreia do mesmo – e foi rapidamente esquecido pelo mundo cinematográfico em geral, sendo hoje em dia sobretudo recordado por ter dado azo a um jogo de vídeo para Super Nintendo, Game Gear e Mega Drive.

Esta relativa falta de interesse por parte do público-alvo não desencorajou, no entanto, os produtores do filme, que ressuscitariam o 'franchise', já no novo milénio, no âmbito do mercado do 'direct-to-video'. 'Beethoven 3', de 2000, deu o mote para nada menos do que SEIS novos filmes na década e meia subsequente, nos quais Beethoven viveu com aristocratas, foi estrela de cinema (dentro do próprio mundo do filme, claro está) e pirata e, como qualquer bom ícone comercial infantil, ajudou a salvar o Natal – tudo isto com a qualidade (ou falta dela) habitual deste tipo de produção, que fazia o primeiro filme parecer uma obra-prima por comparação. Ainda assim, os filmes foram, claramente, encontrando o seu público – presumivelmente, entre a mesma demografia que comprava as diversas sequelas de 'Sozinho em Casa', e que consistia já dos irmãos mais novos, e até filhos, de quem tinha assistido no cinema ao original.

Com tanto tempo passado (e tantos filmes lançados) desde o início da franquia, era inevitável que, mais cedo ou mais tarde, a popularidade do São Bernardo se principiasse a desvanecer – e a verdade é que 'Beethoven e o Tesouro Secreto', de 2014, marca, até agora, o último sinal de vida do 'franchise' iniciado doze anos e uns impressionantes OITO filmes antes (quase o dobro dos 'Sozinho em Casa' lançados até hoje). A verdade, no entanto, é que a maioria deste tempo de vida foi passado no 'subterrâneo' cinematográfico do 'direct-to-video', tendo apenas os dois primeiros filmes da série tido verdadeiro impacto cultural – e mesmo esses, trinta anos volvidos, servem mais como exemplo de que os 'putos' dos anos 90 eram pouco exigentes no tocante a material de longa-metragem do que propriamente como obras de qualidade intemporal. Ainda assim, quem na infância desejou ter (ou teve) um São Bernardo, quase certamente recordará com carinho o filme do cão com nome de compositor, e as suas tropelias em casa dos seus desafortunados donos...

05.08.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas últimas edições desta rubrica, temos dedicado atenção à carreira de Will Smith, que – na segunda metade dos anos 90 – progredia de mega-sucesso em mega-sucesso, transformando o actor numa das maiores estrelas de cinema da década, a par de um Robin Williams ou Jim Carrey; no entanto, nas imortais palavras do tio do Homem-Aranha, Ben Parker, 'grande poder acarreta grande responsabilidade', e o facto é que, já no final da década, século e milénio, Smith utilizou o seu poder para fazer uma escolha irresponsável – e quase deitou a sua carreira a perder com a mesma.

A escolha em causa foi a de aceitar o papel principal na adaptação para cinema da clássica série dos anos 60 'Wild Wild West' (encabeçada por Barry Sonnenfeld, com quem Smith trabalhara no mega-sucesso 'Homens de Negro') em detrimento de outro projecto, um ambicioso filme de ficção científica realizado por uma dupla de irmãos... Sim, Smith recusou mesmo o papel de Neo em 'Matrix', para representar um ex-coronel do exército americano do século XIX numa comédia de acção com estética de 'western cyberpunk' – um conceito tão confuso quanto o próprio filme em si.

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Não há como 'dourar a pílula' – 'Wild Wild West' foi uma bomba, daquelas de tais proporções que continuam a ser recordadas mais de duas décadas após o seu lançamento. Apesar de bem aceite pelo autor deste blog, ali por alturas do seu décimo-quarto aniversário, o filme foi pessimamente recebido tanto pela crítica como pelos fãs, tornando-se um 'ponto negro' na filmografia não só de Smith como de actores do calibre de Kevin Kline, Kenneth Branagh ou mesmo Salma Hayek, então em 'estado de graça'.

O mais curioso é que o filme tinha tudo para dar certo, desde um realizador já com provas dadas no género da comédia de acção até um elenco de luxo; o todo, no entanto, acabou por ser bem menos que a soma das partes, não obstante alguns elementos visuais memoráveis – como o corpo de aranha do vilão Dr. Loveless, de Branagh – e um tema-título contagiante, interpretado pelo próprio Smith (que já cantara o equivalente em 'Homens de Negro') com alguns convidados de primeira categoria. Nada, no entanto, que chegasse para evitar a 'derrocada' do filme nas bilheteiras de todo o Mundo – 'derrocada' essa que quase se verificava, também, nas carreiras dos principais envolvidos...

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O 'tanque-aranha' de Loveless é talvez o elemento mais memorável do filme.

Felizmente, o tempo provou que Smith tinha carisma suficiente para ultrapassar uma má escolha (pelo menos uma que não envolvesse altercações físicas com colegas de profissão) tendo o actor oriundo de Filadélfia continuado a gozar de enorme sucesso nas duas décadas subsequentes, embora agora, maioritariamente, em papéis mais sérios; já Branagh e Kline souberam aproveitar as suas credenciais para 'endireitarem' as respectivas carreiras, enquanto Hayek, jovem e bonita, não teve quaisquer problemas em recuperar deste 'tropeção'. A 'bomba' em que todos participaram – e que celebra este ano exactos vinte e três anos sobre a sua estreia em Portugal – acabou, assim, por não ter grandes consequências, àparte a sua inclusão na lista de crédito dos respectivos actores, que decerto prefeririam apagá-la dos registos; infelizmente para eles, tal não é possível, e 'Wild Wild West' servirá, para sempre, como exemplo de como uma má escolha pode, potencialmente, levar a consequências muito drásticas...

10.06.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 80 e 90 representaram o auge absoluto da carreira do realizador Steven Spielberg, que seria responsável, durante esse período, por uma sucessão de êxitos de bilheteira, a começar em 'Salteadores da Arca Perdida', de 1981, e que se estenderia durante mais de vinte anos, até pelo menos a 'Apanha-me Se Puderes', de 2002. Os filmes dirigidos a um público infanto-juvenil, em particular – 'E.T. - O Extraterrestre', 'Poltergeist', 'Os Goonies', as sagas 'Indiana Jones' e 'Parque Jurássico' – granjearam ao nova-iorquino uma reputação suficiente para que qualquer projecto por ele encabeçado e dirigido a esta demografia se tornasse um sucesso, por mais megalómano ou exagerado que fosse.

Serve este preâmbulo para falar de 'Hook', talvez O mais megalómano e exagerado de todos os filmes infanto-juvenis de Spielberg, que – mesmo com quase duas horas e meia de duração, e apresentando muitos dos piores 'tiques' do realizador – não deixou ainda assim de ser bem acolhido pelas crianças e jovens de inícios dos 90, não constituindo Portugal excepção neste aspecto.

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De facto, aquando da sua estreia em território nacional, a sequela para a clássica história de Peter Pan – que documenta o regresso do herói à Terra do Nunca, décadas depois de finalmente ter sucumbido à maturidade – suscitou considerável interesse entre o público-alvo, a quem nem mesmo a longa duração do filme (quase uma hora mais longo do que a maioria das películas destinadas à mesma demografia) conseguiu refrear o entusiasmo; como consequência, 'Hook' acabou mesmo por se afirmar como mais um na infindável lista de sucessos de Spielberg – mesmo sendo um dos filmes mais fracos do realizador durante esse período.

De facto, conforme referimos acima, a longa-metragem apresenta várias pechas, que não se resumem apenas à longa duração e ritmo algo indulgente; não foi à toa que, por exemplo, Julia Roberts foi nomeada para a Framboesa de Ouro relativa a Pior Atriz Coadjuvante – a sua prestação como Sininho, já de si repleta de todos os mais irritantes clichés da actriz, não sai de todo beneficiada pelos efeitos especiais da época. De igual modo, Williams surge neste filme em modo 'sentimentalão', sem a 'chama' que trazia a papéis sérios como 'O Clube dos Poetas Mortos' nem a veia cómica desenfreada das suas futuras prestações em 'Aladdin', 'Flubber' ou 'Papá Para Sempre'.

Valem, pois, as prestações de Dustin Hoffman como o titular Capitão Gancho – declaradamente e propositalmente afectada e exagerada – e do jovem Dante Basco como Rufio (líder dos Meninos Perdidos e 'substituto' de Peter tanto em idade como em aspecto e atitude) para manter o interesse do espectador comum, não sendo de estranhar que ambas constituam os elementos mais memoráveis da película.

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O Rufio de Dante Basco e o Capitão Gancho de Dustin Hoffman são os elementos mais memoráveis do filme

Em suma, apesar de não constituir de todo uma má opção para uma tarde chuvosa em família – quem conhece o Spielberg deste período sempre soube que estaria em boas mãos – 'Hook' deixa algo a desejar quando comparado com a esmagadora maioria das obras que o rodeiam na filmografia do realizador americano, devendo pois ser recordado (ou apresentado às gerações mais novas) apenas depois de esgotados todos os restantes marcos da filmografia Spielbergiana. Ainda assim, o filme chegou, à época, a ser marcante para um determinado sector da juventude portuguesa, pelo que, qualidade à parte, estas breves linhas em sua homenagem acabam por não ser totalmente descabidas...

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