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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

06.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 05 de Julho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já aqui anteriormente referimos o final dos anos 80 e início da década de 90 como, talvez, a era em que se fizeram maiores e mais concertados esforços para sensibilizar a juventude mundial para questões ecológicas. Alvo de campanhas municipais ou até nacionais um pouco por todo o Mundo, não é de admirar que a referida temática tenha, também, inspirado um sem-número de filmes e séries infantis na mesma época. E apesar de a esmagadora maioria destes se inserir no campo da animação, talvez por ser mais fácil veicular tal mensagem sem as restrições impostas pela realidade, não tardou até que também os produtores de filmes de acção real principiassem a explorar este filão, dando origem a nova série de clássicos infanto-juvenis para ver e rever durante uma Sessão de Sexta em família, um dos quais comemorou recentemente três décadas sobre a sua estreia em Portugal. E por, nessa ocasião, estarmos 'distraídos' com outras temáticas, deixamos aqui, agora, e ainda que com algum atraso, a justa homenagem a um filme que marcou a infância de muitos 'millennials', portugueses e não só, e fez parte de muitas colecções de VHS em anos subsequentes.

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O icónico cartaz do filme

Falamos de 'Libertem Willy', um dos muitos sucessos infanto-juvenis lançados pela Warner Brothers em inícios dos anos 90, e que chegava às salas de cinema lusitanas a 17 de Junho de 1994, quase um ano após a sua estreia nos EUA (como, aliás, era habitual à época) mas ainda a tempo de obter tanto sucesso em solo nacional como no resto do Mundo. Mais sério e sóbrio do que os antecessores 'Beethoven' (de 1992) e 'Dennis, O Pimentinha' (também de 1993), o filme conseguia ainda assim cativar o jovem público através de uma história simples, mas plena de impacto, e veiculada de uma forma que apenas parece levemente condescendente quando vista por um prisma adulto – ou seja, perfeita para a demografia a que a película se destina.

O centro nevrálgico da referida história segue, aliás, uma fórmula já bem testada, e inspiradora de clássicos de décadas passadas, como 'Old Yeller' ou 'Kes' – nomeadamente, a relação entre um jovem pré-adolescente e um animal. No caso, a metade humana da equação é Jesse (interpretado por Jason James Richter, um dos muitos proto-ídolos adolescentes da época) um rapaz de doze anos cuja infância algo atribulada encontra novo sentido após entrar em contacto com Willy, uma baleia-orca protagonista do espectáculo principal de um parque aquático. À medida que a relação entre ambos se aprofunda – incentivada pela treinadora de Willy, Rae, vivida por Lori Petty – Jesse resolve devolver o seu novo amigo ao mar onde nasceu e pertence, 'recrutando' a referida funcionária do parque, entre outros 'voluntários à força' para o ajudar na sua missão. E embora o fim esteja sempre longe de qualquer dúvida, é fácil 'embarcar' na aventura em si ao lado de Jesse, algo que o público infantil não hesitou em fazer, tornando o filme num retumbante sucesso e inscrevendo-o no vasto panteão de filmes de família memoráveis daquela década.

Curiosamente, no entanto – e também algo ironicamente, tendo em conta a sua mensagem – 'Libertem Willy' gerou tanto interesse pela sua história e aspectos técnicos como pelas condições em que era mantida a sua 'estrela' animal, Keiko. Com o movimento de libertação de golfinhos e orcas em pleno andamento à época de lançamento do filme – a mesma iniciativa que, anos depois, teria repercussões em Portugal, através da controvérsia em torno do Zoomarine – não tardaram a surgir reportagens acusatórias, que denunciavam o cativeiro da orca amestrada, cuja falta de espaço e água demasiado quente e clorídica haviam resultado em problemas físicos e de saúde. Não foi, pois, de admirar que, em consequência do filme, tenham sido postos em marcha esforços para 'Libertar Willy' (ou antes, Keiko), os quais viriam a render frutos quase uma década depois, quando, já no Novo Milénio, o animal foi – tal como a congénere fictícia que interpretava – liberto no mar, após mais de duas décadas de vida em cativeiro. Uma controvérsia de que o filme jamais se libertaria (passe o trocadilho), mas que acabou por ter um final feliz, e não beliscar a reputação da obra em si.

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A primeira sequela de Willy, lançada em 1995...

A liberdade de Keiko não deixou, no entanto, de se repercutir directamente nas duas sequelas a que o filme, previsivelmente, daria origem nos anos imediatamente subsequentes ao seu lançamento. Efectivamente, tanto 'Libertem Willy 2' como a terceira parte (subtitulada 'O Resgate') substituíam uma orca verdadeira por um boneco animatrónico, ao estilo do 'Tubarão' de Spielberg, evitando assim novas controvérsias em torno da crueldade animal. No restante, no entanto, ambos os filmes procuravam oferecer uma experiência ao nível do original, com a ajuda da maioria do elenco original.

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...e a segunda, de 1997.

De facto, ao contrário do que acontecia com as sequelas dos referidos 'Dennis o Pimentinha' ou 'Beethoven', ambas as continuações das aventuras de Jesse e Willy contam com os actores originais de regresso aos seus papéis do primeiro filme, algo que ajuda a credibilizar ambas as sequelas. Também os enredos de ambos os filmes mostram algum cuidado, com a segunda parte (de 1995) a prender-se com a tentativa de reunir Willy com a sua nova família após um derrame de petróleo no oceano e a terceira, de 1997 a ver Jesse e os seus aliados a contas com um grupo de baleeiros que procuram capturar Willy. Apesar de bem conseguidas, no entanto, nenhuma das duas sequelas logrou almejar o sucesso do original, com o 'falhanço' do terceiro a ditar o fim da franquia centrada na baleia-orca mais famosa do cinema...

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A inesperada terceira sequela, lançada em 2010

...pelo menos até, em plena 'febre' dos 'remakes', a Warner Brothers decidir trazer de volta Willy, numa quarta parte lançada directamente para o mercado DVD. Naturalmente, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' já não conta com qualquer dos actores de década e meia antes, entretanto já envelhecidos, e introduz uma nova protagonista, Kirra, uma jovem australiana que percorre o mesmo trajecto emocional do antecessor Jesse quando uma orca fica presa no parque aquático pertencente ao seu avô. Uma história já algo 'batida', mas bem-sucedida na principal função de um 'remake', a de apresentar a trama original a toda uma nova demografia; para quem viu o filme de 1993, no entanto, o principal motivo de interesse será mesmo a localização do filme, que se passa agora na África do Sul, derivando assim das habituais paisagens norte-americanas e dando um toque de exotismo ao filme. De resto, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' é um típico filme para crianças directo para DVD, com tudo o que isso implica.

Felizmente, e ao contrário de outras franquias infanto-juvenis, 'Libertem Willy' soube onde 'parar', tendo saído de cena com relativa dignidade e sem conspurcar o espírito do original com infindáveis sequelas cada vez mais tolas e infantis, e menos imbuídas do mesmo. E apesar de, enquanto franquia, não ter gozado do sucesso esperado, a série da Warner Brothers não deixou, ainda assim, de oferecer às crianças noventistas pelo menos um clássico imorredouro das Sessões de Sexta ou de fim-de-semana – o que, só por si, quase justifica a existência de todo o resto da franquia, e a torna digna de ser recordada, quase exactas três décadas após as crianças portuguesas da época terem tido, pela primeira vez, contacto com o filme original.

19.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Para a maioria das crianças e jovens dos anos 80 e 90, Robin Williams é conhecido, sobretudo, pelos seus dotes cómicos, ombreando com nomes como Eddie Murphy, Tim Allen, Rowan Atkinson ou Jim Carrey no panteão de grandes actores de comédia da época; para os espectadores mais velhos, no entanto, o malogrado actor era, também, famoso pela sua versatilidade, sendo capaz de interpretar de forma convincente (embora sempre imbuída da sua fisicalidade e dramatismo propositadamente exagerados) papéis mais 'sérios'. A própria filmografia do actor demonstra explicitamente essa dicotomia, com filmes como 'Papá Para Sempre', 'Flubber – O Professor Distraído' ou a versão original do 'Aladdin' da Disney a serem contrapostos com magníficas interpretações dramáticas em obras como 'Bom Dia Vietname', 'O Bom Rebelde', ou o filme que inspira esta Sessão extra, por ocasião do trigésimo-quarto aniversário da sua estreia em Portugal.

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De facto, apesar de tecnicamente o post da passada Quinta-feira servir 'função dupla' como Sexta com Style, não poderíamos deixar de aproveitar a ocasião de falar de um dos filmes mais marcantes do início dos anos 90, no exacto dia em que, no primeiro mês da nova década, o mesmo surgia nos cinemas lusitanos, dando-nos, assim, a 'desculpa' perfeita para o incluirmos neste nosso 'blog'. Falamos de 'O Clube dos Poetas Mortos', clássico do género dramático que, fosse no cinema ou, mais tarde, através do mercado de vídeo, teve impacto directo sobre pelo menos duas gerações de cinéfilos, pela sua bem conseguida mistura de drama 'para chorar' com elementos relativos ao processo de amadurecimento, com que o público-alvo facilmente se conseguia identificar.

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O ´professor' e 'alunos' nos quais se centra o filme.

Guiado por uma magnífica interpretação de Williams como o novo professor de Literatura de uma escola privada norte-americana determinado a fazer 'sair da casca' os seus alunos, o filme conta, ainda, com 'performances' de alto nível por parte dos jovens actores que compõem a turma, com destaque para um jovem Ethan Hawke e para Robert Sean Leonard, futura 'cara conhecida' de várias séries de televisão. E apesar de o tempo se ter encarregue de tornar certas falas e cenas 'meméticas' ao ponto de quase parecerem paródias, a verdade é que é difícil negar a qualidade de escrita e interpretação das mesmas, e do filme em geral, e a validade da sua mensagem – embora, neste último caso, seja fácil a um espectador mais experiente oferecer contrapontos a várias das ideias do filme. Para o público-alvo, no entanto, as mensagens de auto-determinação, auto-descoberta e rejeição do destino por outros traçado terão sido por demais eficazes, explicando o estatuto de culto de que o filme continua a gozar.

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A cena mais icónica do filme.

Acima de tudo, o filme de Peter Weir faz parte daquele contingente de obras cinematográficas que se recusa a 'envelhecer', podendo tão facilmente ter sido rodado no ano transacto como três décadas antes - como foi o caso – e que, por isso, continuam a constituir uma excelente experiência fílmica, mesmo para a geração habituada a efeitos especiais mirabolantes e ritmos de acção frenéticos. Isto porque, conforme acima notámos, as mensagens transmitidas pela obra continuam a afirmar-se como universais, o que, aliado ao excelente elenco, poderá fazer com que a geração digital levante o olhar do TikTok durante duas horas, e se delicie com uma Sessão de Sexta ainda hoje acima da média - teoria que pode ser testada seguindo este link...

22.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar da sua riqueza narrativa e textual, e de fazerem parte do imaginário da maioria das crianças ocidentais, as histórias da Bíblia apenas esporadicamente têm servido de base a criações mediáticas para crianças, continuando a grande maioria dos exemplos de adaptações tanto do Novo como do Velho Testamento a apontar a um público adulto ou, no limite, familiar. Àparte a ocasional série ou filme animado de baixo orçamento baseado numa única história, o único exemplo verdadeiramente relevante de uma adaptação bíblica declaradamente infanto-juvenil celebrou no início desta semana exactos vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, a 18 de Dezembro de 1998, e continua a ser lembrado como um dos melhores filmes 'para crianças' de finais do século XX, tendo contribuído, em larga medida, para cimentar a Dreamworks como concorrente da Walt Disney no mercado da animação.

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Falamos, claro está, de 'O Príncipe do Egipto', um dos últimos filmes 'tradicionalmente' animados do catálogo da companhia (que, poucos meses antes, dera o primeiro 'salto' total para o 3D, com o lançamento de 'Antz - Formiga Z') e unanimemente considerado um dos seus melhores, pela sua cuidada junção e curação de aspectos narrativos e artísticos em prol de um todo de elevadíssima qualidade, que aperfeiçoava o que o antecessor 'O Caminho Para El Dorado' estabelecera dois anos antes.

Propondo-se narrar a lendária história de Moisés, o profeta que, segundo a Bíblia, fez abrir o Mar Vermelho e permitiu a fuga de milhares de judeus do Egipto, o filme dá, no entanto, quase igual atenção ao irmão adoptivo do protagonista, o titular Príncipe (ou Faraó) Ramsés. Toda a primeira parte do filme se centra em mostrar a dinâmica fraternal entre ambos, com Moisés a comportar-se como o típico herdeiro de um soberano, em camaradagem com Ramsés; apenas após descobrir a verdade sobre as suas origens se começa a ver a transformação no protagonista, e, como consequência, na sua relação com o irmão adoptivo. A grande 'proeza' do filme é conseguir que, nesta fase, nenhum dos dois irmãos surja como vilão declarado, sendo fácil compreender os pontos de vista e sentimentos de ambos, e cabendo ao espectador decidir com quem alinhar as suas simpatias; ainda que seja Moisés quem é codificado como o herói, a vilania de Ramsés apenas se manifesta no terceiro acto, quando o mesmo leva a cabo a famosa perseguição a bebés. O resultado é um filme mais interessado no aspecto humano da narrativa do que na grandiosidade dos antigos épicos bíblicos, ainda que este aspecto não se encontre em falta, com a Dreamworks a fazer excelente uso não só das capacidades dos seus animadores como também dos melhores recursos CGI disponíveis à época.

Não é, pois, de surpreender que 'O Príncipe do Egipto' se tenha traduzido num enorme sucesso entre o seu público-alvo, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo, sendo que a versão nacional contava, ainda, com uma excelente dobragem, na linha das realizadas para os filmes da Disney da mesma época. Foi, portanto, também com naturalidade que a obra foi capaz de reter a percepção crítica, tanto por parte do público como da imprensa, ao longo das duas décadas e meia seguintes, tendo a sua 'fama' sobrevivido, mesmo, à 'passagem' de gerações - um feito notável para qualquer filme de finais do século XX. É, pois, mais que merecida esta homenagem, na semana em que se celebra um quarto de século sobre a estreia de um dos últimos grandes épicos infantis do século XX.

A versão em Português de uma das cenas icónicas do filme.

26.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 25 de Agosto de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje em dia, o nome de Quentin Tarantino é sinónimo de um certo e determinado tipo de cinema, pleno de referências à cultura 'pop', diálogos inteligentes e cheios de palavras incomuns, humor negro e, muitas vezes, doses cavalares de 'molho de tomate'. Mas se, hoje em dia, o cinema do realizador (com todos os elementos supracitados) faz parte das referências de qualquer cinéfilo, em Maio de 1993, o mesmo era um ilustre desconhecido - pelo menos para os jovens lusitanos, que se preparavam (sem o saber) para tomar contacto com a sua primeira obra-prima.

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Terceiro filme do realizador (embora seja o primeiro de maior expressão, e considerado por muitos como a sua verdadeira estreia), 'Cães Danados' ('Reservoir Dogs', no original) traz já todos os elementos supracitados, bem como outros típicos de Tarantino (como a 'ponta' do próprio realizador numa das cenas), tendo sido responsável por os implementar e apresentar ao grande público. E se, em trabalhos subsequentes, QT se desdobraria em arroubos de história, aqui, o argumento não pode ser mais simples: todo o filme se passa num único local, um armazém abandonado, e se centra num único grupo de seis homens, ali refugiados após um assalto mal-sucedido. Sem saberem nada uns sobre os outros, além dos nomes de código referentes a cores, os mesmos acabam, ainda assim, por desenvolver relações interpessoais de cariz tragicómico, num resultado final que fica entre a comédia negra e a vertente mais sarcástica dos filmes de crime (ao estilo Guy Ritchie).

Alicerçado nas excelentes exibições de Harvey Keitel, Steve Buscemi, Tim Roth e Michael Madsen, 'Cães Danados' não tardou a ganhar renome como um dos filmes mais sangrentos até então filmados, e também como uma descontrução dos filmes de crimes, semelhante à sua inspiração directa, 'The Killing', de Stanley Kubrick. O seu sucesso contribuiu também, em larga medida, para estabelecer o nome de Tarantino como jovem realizador a ter em conta, um estatuto que seria cimentado pelo seu trabalho seguinte, o lendário 'Pulp Fiction', lançado em 1994. 'Cães Danados' é, no entanto, muito mais do que apenas um 'ensaio geral' para esse filme, e continua a merecer os elogios de que é alvo, mesmo após completadas três décadas sobre a sua chegada a Portugal.

24.02.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Qualquer era do cinema vê serem produzidos filmes que, sem serem 'blockbusters' ou contarem com grandes orçamentos publicitários, conseguem ainda assim alguma 'tracção' junto dos cinéfilos, por conta – sobretudo – do passa-palavra e da boa recepção crítica, acabando por se afirmar como obras memoráveis para toda uma geração de entusiastas de cinema.

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Nos anos 90, um dos principais exemplos deste tipo de filme-fenómeno era uma comédia dramática sobre temas que pouco ou nada tinham de cómico, realizada por um actor italiano que assumia também o papel principal: 'A Vida É Bela' ('La Vitta É Bella', no original, e que não deve ser confundido com o filme nacional homónimo, com Nicolau Breyner), obra que celebrou a 20 de Dezembro passado os vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal; e porque, durante esse mês, preferimos dar foco a filmes verdadeiramente natalícios - acabando assim por não assinalar este marco relativo a um filme de algum impacto a nível nacional – vimos agora corrigir essa falha, e dedicar algumas linhas ao polarizante filme de Roberto Benigni.

E dizemos 'polarizante' porque 'A Vida É Bela' é daqueles filmes que não deixa ninguém indiferente, ou mesmo comedido – quem gosta, adora (citando a excelente cinematografia e interpretações, e o facto de este ser claramente um projecto 'de coração' de Benigni), e quem não gosta, odeia (apontando o facto de a Itália Fascista e os campos de concentração não serem, de todo, um pano de fundo adequado para o enredo excessivamente frívolo de Benigni, ou remetendo para os irritantes 'tiques' do personagem Guido, como o memético 'buongiorno, Principessa' dirigido ao interesse romântico, Dora.) Apesar de estas opiniões se terem, assumidamente, diluído à medida que o filme se vai tornando progressivamente menos falado e mediático, nos anos imediatamente após o seu lançamento (em que era difícil falar ou ler sobre cinema sem se deparar com menções a este trabalho, que ganhou três Óscares, entre uma série de outros prémios, e era, a dada altura, frequentemente exibido em escolas no contexto da disciplina de História) este era mesmo um dos filmes que mais dividia opiniões entre os cinéfilos portugueses, não só jovens, mas de todas as idades.

À distância de vinte e cinco anos, continua a ser difícil inserir esta obra perfeitamente delicodoce na mesma categoria de filmes como 'A Lista de Schindler' (que aqui terá, paulatinamente, o seu espaço) ou mesmo o posterior 'O Rapaz do Pijama Ás Riscas', que partilha muitos dos mesmos problemas da película de Benigni. No entanto, não deixa de ser encorajador constatar que a longevidade do filme como instrumento pseudo-Histórico e pseudo-educativo foi limitada, e que o mesmo tão-pouco parece ter entrado na 'eterna rotação' dos canais de filmes da TV Cabo; em suma, 'A Vida É Bela' parece ter, senão desaparecido, pelo menos esfumado-se da consciência cinematográfica nacional. Ainda assim, pela importância que esta obra teve para toda uma geração de jovens cinéfilos, e pelo marco que recentemente atingiu, não podíamos deixar de 'desenterrar' do baú aquele que, durante um período considerável em finais do século XX e inícios do seguinte, foi um dos filmes mais falados de sempre em território nacional.

10.02.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Há 'blockbusters' mais 'blockbusters' do que outros. Apesar de a maioria dos filmes de grande orçamento ser um sucesso de bilheteira (tanto assim que as excepções entram para a História precisamente por esse facto) há uma categoria 'à parte' dentro dos mesmos, especialmente para aqueles filmes que, para além de terem um bom desempenho financeiro, batem recordes ou são recordados para a posteridade por outros motivos. E apesar de, nesta era de três filmes da Marvel por ano e um novo capítulo dos 'Vingadores' a cada dois ou três, tais métricas e distinções se começarem, rapidamente, a banalizar, tempos houve em que filmes destes apareciam, no máximo, duas a três vezes por década, e se tornavam autênticos fenómenos culturais, não só entre a juventude, mas entre fãs de cinema em geral, suscitando posteriormente reacções do tipo 'Onde é que estavas quando saiu tal filme...?'. A título de exemplo, em todos os anos 90 (uma das melhores décadas de sempre no tocante a cinema) entram para esta categoria não mais do que uma mão-cheia de filmes: 'Exterminador Implacável 2', 'Parque Jurássico', 'Matrix' e a obra que hoje abordamos, e que completou há pouco menos de um mês um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal; e porque, nessa altura, estávamos ocupados a celebrar os trinta anos da estreia de 'Quanto Mais Idiota Melhor', vimos agora rectificar essa lacuna, e dedicar algumas linhas a uma das películas mais divisivas (e bem-sucedidas) da História do cinema moderno.

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Falamos, como é evidente, do inevitável e inescapável 'Titanic', o projecto megalómano de James Cameron que conseguiu transformar uma das maiores tragédias reais do século num ícone do cinema romântico, amealhando pelo caminho uma quantia recorde nas bilheteiras de todo o Mundo – incluindo nas portuguesas, onde o filme estreou a 18 de Janeiro de 1998 e de imediato conquistou os corações das cinéfilas femininas.

Fazendo uso explícito do 'sex appeal' de Claire Danes e de um Leonardo DiCaprio em estado de graça, no auge da sua fase de galã pós-adolescente, o filme tornar-se-ia um dos principais exemplos utilizados em qualquer debate sobre as divisões entre sexos; isto porque qualquer elemento do sexo masculino da epoca, especialmente abaixo de uma certa idade, tinha como dever odiar veementemente 'Titanic' - tarefa que, convenhamos, não era difícil, dados os exageros dramáticos a que o filme repetidamente se presta, já para não falar na presença de um dos piores temas de banda sonora de sempre.

NãOoOoOoO...!!!!!

De uma perspectiva mais adulta, é fácil ver que a película de Cameron não deixa de ter pontos fortes – em particular o início, em que DiCaprio se revela mais do que apenas uma 'carinha laroca' dando alguma substância ao simpático burlão Jack, sem falar nos espantosos e avassaladores argumentos técnicos – mas também não deixa de ser fácil admitir que o filme se presta a todos os 'memes', citações e paródias que suscitou nos seus vinte e cinco anos de existência. 'Exterminador 2' e 'Aliens' já tinham deixado bem claro que Cameron não é, exactamente, um cineasta subtil, mas os arroubos presentes em quase todas as cenas entre Jack e a sua amada Rose quase roçam a auto-paródia. De 'sou o rei do Mundo!' a 'estou a voar, Jack', há, de facto, muito com que 'gozar'...mas também muito que recordar, o que talvez tenha sido a intenção de Cameron – e, dessa perspectiva, a estratégia resultou em cheio, sendo este filme, pelo menos, tão 'citado' hoje em dia como os referidos 'Matrix' ou 'Exterminador 2'.

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Uma imagem que dispensa maiores legendas.

Vinte e cinco anos volvidos, e longe de todo o frenesim mediático e cultural em torno do filme, 'Titanic' aparece como aquilo que é: um 'blockbuster' normalíssimo, em que a história é apenas uma desculpa para ver pessoas bonitas em situações românticas – uma espécie de 'Top Gun' com um barco em vez de aviões, e sem final feliz para o casal principal. Uma pena, pois o projecto em si era perfeitamente válido e, com o orçamento megalómano que tinha ao dispôr, Cameron poderia ter feito um belíssimo drama histórico sobre a tragédia do 'Titanic', uma história já de si difícil de 'processar' como sendo real; ESSE filme, no entanto, dificilmente teria batido recordes de bilheteira, posto meio Mundo a suspirar por Leonardo DiCaprio e entrado para a História como um dos maiores 'blockbusters' de sempre, pelo que, de uma perspectiva comercial, não se pode )infelizmente) deixar de considerar que Cameron fez a escolha certa, ainda que a expensas de uma história que não só merecia ser devidamente contada, como também se prestava muito bem a um formato cinematográfico.

13.01.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos estilos cinematográficos mais prolíficos e bem sucedidos dos anos 80 e 90 – a par do cinema de acção – foi a comédia, especificamente a dirigida a um público mais jovem. Senão, veja-se: só os primeiros anos da década a que este blog diz respeito viram ser lançados filmes como 'Sozinho em Casa', 'Beethoven', 'Papá Para Sempre', 'Jamaica Abaixo de Zero', 'Doidos À Solta' e 'A Máscara', além de duas 'duologias' normalmente mencionadas em conjunto: a de 'Bill e Ted', e aquela cujo primeiro filme completa daqui a precisamente uma semana trinta anos sobre a sua estreia em Portugal – 'Wayne's World', ou como é conhecida nos países lusófonos, 'Quanto Mais Idiota Melhor'.

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Apesar do título nacional dantesco, e que faz diminuir, desde logo, a vontade de assistir ao filme, a película que ajudou a lançar a carreira cinematográfica de Mike Myers – e que é, ainda hoje, o mais bem-sucedido exemplo de uma longa-metragem derivada do popularíssimo 'Saturday Night Live' – é muito melhor do que possa parecer à partida, que inclui alguns momentos de sátira subtil em meio às piadas propositamente básicas em torno dos dois protagonistas, e que consegue a proeza de 'cair no gosto' da mesma demografia que parodia: os fãs de 'rock' e 'heavy metal' clássico.

Muito deste sucesso deve-se às interpretações sem mácula de Myers e Dana Carvey como Wayne e Garth, os dois 'idiotas' do título, cujo programa de televisão amador produzido na sua cave para a rede de TV 'aberta' da sua pequena cidade se vê, subitamente, elevado ao estatuto de fenómeno nacional, depois de um produtor de escrúpulos duvidosos (Rob Reiner) ver nele uma oportunidade de facturar sobre a 'cultura jovem' da época, da qual o programa em causa inclui muitos dos principais elementos. O que se segue são noventa minutos de sátira à estrutura das grandes corporações, referências musicais aos principais artistas 'electrificados' da época (de Peter Frampton a Meat Loaf e Alice Cooper, ambos os quais fazem inesperadas e inusitadas participações especiais) e pelo menos um momento 'memético', em que Wayne, Garth e os restantes membros do seu grupo fazem 'headbanging' ao som de 'Bohemian Rhapsody', dos Queen. Um filme que, apesar de datado nas suas referências e atmosfera, ainda se 'aguenta' surpreendentemente bem três décadas volvidas, e pode render boas gargalhadas a qualquer fã deste tipo de comédia.

A melhor cena do filme, e um dos grandes momentos da Hstória da comédia noventista.

O mesmo, infelizmente, não se pode dizer da sequela. Lançado apenas um ano após o original, como era apanágio das segundas partes da época, 'Quanto Mais Idiota Melhor 2' tem alguns momentos inspirados, mas os mesmos perdem-se numa história algo desconexa, daquelas que mais parece um conjunto de situações 'retalhado' para parecer um todo coeso.

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Desta feita, Wayne e Garth tentam organizar um festival na sua área de residência, mas deparam-se com inúmeras complicações – uma premissa que, tal como aconteceu com o primeiro filme, poderia render alguns bons momentos de sátira à burocracia que tende a rodear a organização de eventos públicos, mas que acaba por ser gasta por entre visitas místico-espirituais a Jim Morrison e Sammy Davis Jr e participações especiais dos Aerosmith que pouco mais são que uma cópia deslavada das cenas de Alice Cooper no original. Tal como naquela obra, também o segundo filme tem o seu 'momento memético' – derivado de uma história contada, a dado ponto, por um suposto ex-'roadie' de Ozzy Osbourne – e algumas passagens inspiradas (além de uma Kim Basinger lindíssima como interesse romântico em moldes 'MILF' para Garth) mas o produto em geral fica muito abaixo do seu antecessor, sendo mais uma das muitas sequelas 'apressadas' criadas apenas para prolongar o sucesso da franquia, sem grandes considerações artísticas ou qualitativas – mas que, ainda assim, consegue ser melhor do que a esmagadora maioria dos produtos semelhantes feitos em décadas subsequentes.

No geral, aliás, qualquer dos dois filmes de Wayne e Garth continua a constituir uma excelente aposta para quem não queira mais da sua Sessão de Sexta do que dar umas boas gargalhadas nostálgicas – uma proeza admirável em tratando-se de filmes produidos numa era sócio-cultural tão diferente da actual como o foram os primeiros anos da década de 90...

09.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O 'filme de Natal' é, regra geral, um género cinematográfico adstrito a um conjunto de regras, simbologia e elementos extremamente específica e limitada, estabelecida ainda nos 'anos de Ouro' de Hollywood; tal não tem, no entanto, impedido certos cineastas de tentarem criar filmes tematizados em torno desta época que procuram fugir aos estereótipos e criar algo diferente (ou, pelo menos, diferenciado.) Um dos melhores exemplos deste fenómeno é uma película que completa hoje, 9 de Dezembro de 2022, exactos vinte e oito anos sobre a sua estreia em território nacional e que, ao longo desse tempo, se conseguiu tornar objecto de culto junto de várias gerações de um determinado sub-sector (ou, se preferirmos, 'tribo urbana') da sociedade ocidental.

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Falamos de 'O Estranho Mundo de Jack' (no original, 'The Nightmare Before Christmas'), um dos mais famosos trabalhos de um Tim Burton em estado de graça, e parcialmente responsável por popularizar os filmes de animação 'stop-motion' para adultos, filão a que o realizador e produtor viria a regressar por diversas vezes ao longo dos anos subsequentes.

Todo o culto em torno deste filme não é, aliás, imerecido: adequado tanto para audiências natalinas como para a festividade anterior, o 'Halloween', a odisseia de Jack Skellington para trazer o espírito de Natal a Halloweentown e ganhar o amor de Sally tem um estilo visual muito próprio e instantaneamente reconhecível (o qual representa, aliás, o principal factor do seu sucesso) um argumento inteligente e números musicais memoráveis, que fazem dele, com mérito, um dos clássicos de Natal modernos – um estatuto que merece bem mais do que obras como 'Elf – O Falso Duende', por exemplo.

Aliás, ainda que a técnica por detrás dos movimentos dos personagens comece já a mostrar alguns sinais de envelhecimento (natural, dadas as quase três décadas desde o seu lançamento) o filme continua a ser um feito técnico e tecnológico notável, bem como uma excelente escolha para uma sessão de cinema em casa nestas semanas de 'aquecimento' para a grande festa – sobretudo para quem gosta de uma certa vertente menos 'feliz' (se quisermos, mais 'gótica') nas suas produções festivas. Quem 'alinhar' nesta ideia, só tem, aliás, de clicar no 'link' abaixo (a versão integral dobrada em brasileiro, tal como teria saído nas salas portuguesas em 1994) e ver por si mesmo as razões que tornam este um dos maiores filmes de culto dos últimos trinta anos...

25.02.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas Olimpíadas de Inverno de 1988, disputadas em Calgary, no Canadá, uma equipa de um país totalmente improvável protagonizou uma daquelas histórias de 'sangue, suor, lágrimas e triunfo' que normalmente só se vêem nos filmes; cinco anos depois, essa mesma história teve direito ao inevitável tratamento 'Hollywoodesco', que transformava a saga puramente 'underdog' da equipa jamaicana de 'bobsledding' (e que estranho é pensar que algo assim existiu MESMO, e não apenas na mente de um argumentista sob o efeito de drogas) numa daquelas comédias infantis coloridas e barulhentas típicas dessa época do cinema infantil. O que talvez não fosse de esperar seria que dessa manobra potencialmente cínica resultasse um filme que (no fim-de-semana em que se celebram exactos vinte e oito anos da sua estreia em Portugal, a 26 de Fevereiro de 1994) continua a ser um dos melhores representantes do seu estilo de cinema, e a agregar novos fãs a cada geração.

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Vendo bem as coisas, talvez isso não seja assim TÃO surpreendente – afinal, 'Jamaica Abaixo de Zero' (o horrendo título lusófono para 'Cool Runnings', o filme de que aqui se fala) teve a chancela da Walt Disney Pictures, ela que já havia sido responsável, um ano antes, por outro clássico do género, 'A Hora dos Campeões' (no original, 'The Mighty Ducks'), cuja sequela, lançada um ano depois de 'Cool Runnings', continua ainda hoje, a constituir o 'standard' máximo para as comédias desportivas infanto-juvenis. Uma companhia que percebia da 'poda', portanto, e que utilizou as suas décadas de experiência no ramo do cinema para crianças para assegurar que o filme sobre os jamaicanos a andar de trenó obedecia aos seus padrões de qualidade.- uma missão que não se pode considerar nada menos do que um retumbante sucesso.

De facto, 'Jamaica Abaixo de Zero' é aquele raro filme que consegue ter piada sem sacrificar o âmago da história – no caso, a luta dos quatro protagonistas (jamaicanos, mas interpretados por quatro actores nova-iorquinos...) para conseguirem a 'missão impossível' de qualificar pela primeira vez o seu país para as Olimpíadas de Inverno, com a ajuda de um treinador caído em desgraça, interpretado pelo malogrado John Candy.

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Os quatro protagonistas do filme

Um enredo que facilmente seria transformável numa sucessão de quedas supostamente 'humorísticas', mas que na verdade, deriva muito do seu humor e momentos mais memoráveis das interacções entre os personagens, cinco personalidades muito diferentes (e, por vezes, diametralmente opostas) que se vêem forçados a aprender a conviver em prol do bem comum; sim, há algumas quedas (a esmagadoria maioria protagonizadas pelo personagem de Doug E. Doug, Sanka Coffie, suscitando, inevitavelmente, o memorável bordão 'Sanka, morreste?') mas mesmo essas são bem contextualizadas pelos treinos e dificuldades da equipa em se adaptar a um desporto totalmente novo, nunca parecendo gratuitas ou forçadas.

E depois, claro, há o final, em que a Disney, numa atitude de louvar, decidiu preservar a verdade dos factos, em vez de optar pelo tradicional final feliz, que retiraria algum do impacto; tal como acaba, o filme suscita uma mistura de sentimentos perfeitamente deliciosa, que dificilmente se esperaria de um filme deste tipo. Um dos poucos casos em que o eterno 'cliché' do aplauso lento que vai aumentando de intensidade é bem merecido.

Grande parte destas decisões talvez derivem do facto de, na sua génese, 'Jamaica Abaixo de Zero' ter sido pensado como um filme totalmente sério, uma autobiografia ficcionada daquela equipa heróica, cuja história superava qualquer guião. Dificuldades na criação desta versão do filme ditaram, no entanto, a mudança de tom e toada, e a verdade é que – como sucederia com 'Pacha e o Imperador', do mesmo estúdio, alguns anos mais tarde – o filme não ficou a perder; antes pelo contrário, 'Cool Runnings' continua (conforme mencionado no início deste texto) a ser muitíssimo bem cotado por membros da 'geração X' e seguintes, tendo sobrevivido às enormes mudanças vividas pelo mundo do cinema nos últimos trinta anos. Como a equipa que retrata, o filme afirma-se como um 'sobrevivente', conseguindo manter-se à tona de sucessivas 'mudanças de maré', como que desafiando a que alguém pergunte: 'filme, morreste?', para que possa triunfalmente responder 'ná, meu...'

28.01.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A habilidade para interpretar, convincentemente, elementos do sexo oposto sempre foi, e continua a ser, uma das marcas de um cómico acima da média. Do teatro de revista a conjntos como os Monty Python ou actores como Dustin Hoffman, são inúmeros os exemplos de actores e artistas que souberam explorar esta vertente humorística com arte e categoria, demonstrando assim a sua versatilidade.

A estes nomes, há que juntar outro, já conhecido pela sua capacidade de encarnar qualquer personagem, mas que teve na comédia 'travesti' a sua última prova de fogo; falamos, é claro, de Robin Williams, que, em 1993, envergou uma peruca, vestido e peitos de silicone para ajudar a criar um clássico do cinema familiar dos anos 90 – o inesquecível 'Papá Para Sempre'.

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Estreado em Portugal há quase exactamente 28 anos (a 4 de Fevereiro de 1994), 'Mrs. Doubtfire' oferecia, desde logo, um motivo de enorme interesse para o público-alvo, por trazer a chancela de Chris Columbus (futuro responsável por trazer a saga 'Harry Potter' para o grande ecrã), que fizera nome no início da década com o mega-clássico de Natal 'Sozinho em Casa', e fora também responsável pela sua (muito inferior) sequela, dois anos depois. O nome do realizador, juntamente com o de Robin Williams – favorito do público jovem após a participação em 'Hook', de Steven Spielberg, dois anos antes – terão sido, por si só, motivos mais que suficientes para atrair a demografia infanto-juvenil; o facto de o filme ser marcante e memorável terá constituído, tão-sómente, um bónus acrescido.

E a verdade é que é mesmo a mestria de Columbus e Williams que eleva 'Papá Para Sempre´acima daquilo que parece ser – um filme parvo de comédia para crianças – e o torna num clássico nostálgico ainda hoje lembrado e acarinhado por quem o viu em pequeno. O realizador faz uso de toda a sua experiência como director de filmes infantis – e reúne em seu redor uma equipa de efeitos práticos e maquiagem de topo, responsável pela transformação justamente premiada do actor principal em 'velhota' de carrapito - enquanto que o actor surge em magnífica forma, 'desaparecendo' na personagem da velha ama Euphegenia Doubtfire, num desempenho ora caracteristicamente caricatural e exagerado, ora mais vulnerável e subtil, à semelhança do que Williams apresentara em filmes como 'O Clube dos Poetas Mortos'. Nenhum dos dois intervenientes precisava de ter dado o seu melhor num filme tão aparentemente banal, mas foi exactamente isso que aconteceu – e é precisamente graças a esse esforço extra que 'Papá Para Sempre' NÃO se salda como apenas 'mais um' filme para crianças, tendo mesmo sido premiado com um Oscar (para melhor maquiagem, naturalmente) na cerimónia de 1994, algo que normalmente se afiguraria praticamente impensável para um filme deste tipo.

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A espantosa transformação de Robin Williams é um dos grandes trunfos (e triunfos) do filme.

Seria injusto, no entanto, destacar a prestação de Williams sem falar dos seus coadjuvantes (entre os quais se destacam Sally Fields, o futuro 007 Pierce Brosnan, e Mara Wilson, que até ao final da década voltaria a brilhar nos papéis principais de 'Milagre em Manhattan' e 'Matilda') que – embora nunca se desviem muito dos protótipos dos seus respectivos papéis – ajudam também a manter o nível técnico e artístico do filme acima da média, e a justificar, assim, o sucesso do mesmo entre as crianças de todo o Mundo.

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O excelente elenco do filme

De facto, 'Papá Para Sempre' é daqueles filmes – a exemplo de 'Sozinho em Casa', ou dos filmes da era de ouro da Disney – que continua a ser descoberto por cada nova geração de crianças, seja em DVD ou nas plataformas digitais, seja através da exibição na televisão - e numa altura em que quem viu o filme no cinema se começa a tornar pai de filhos em idade apropriada para serem apresentados ao filme, não se prevê que essa tendência se venha a alterar, ou sequer a abrandar. Não, o 'Papá' de Robin Williams faz jus ao nome escolhido para exibição em Portugal, já que promete mesmo permanecer na vida das crianças e jovens portugueses 'Para Sempre'....

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