Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

22.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 20 de Dezembro de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 90 foram palco de uma mudança de paradigma no campo do cinema de acção, com os enredos centrados em mercenários em luta com exércitos inimigos ou terroristas, típicos da década anterior, a serem substituídos por um maior influxo de elementos de ficçáo científica, inspirados nos sucessos de 'Exterminador Implacável 2' e, mais tarde, 'Matrix'. E se, eventualmente, este género viria a lançar uma série de novos potenciais heróis de acçáo, a fase inicial do mesmo serviu, ainda, de veículo a nomes da 'velha escola', como Sylvester Stallone, Jean-Claude Van Damme ou o 'Exterminador' em pessoa, Arnold Schwarzenegger. Foi, aliás, este último a ter as honras de 'encerrar' tanto o século XX como o Segundo Milénio, com um filme bem característico da sua época e, pelos critérios do actor, até bastante ambicioso; uma pena, portanto, que o resultado tenha ficado um pouco aquém das expectativas.

End_of_days_ver5.jpg

Falamos de 'Os Dias do Fim', película que celebrou há poucos dias os vinte e cinco anos da sua estreia em Portugal (a 17 de Dezembro de 1999) e que vê Arnold travar uma batalha com o próprio Diabo para o impedir de procriar com uma mulher humana e gerar, assim, o Anticristo. Um conceito muito mais sério e sombrio do que os de filmes anteriores do ex-culturista, e que lhe atribui um personagem também ele mais 'humano' e menos perfeito e invencível do que os que normalmente encarnava, que lidava inclusivamente com problemas de alcoolismo. Um veículo mais do que credível, portanto, para a planeada evoluçáo de carreira do actor, que pretendia expandir os seus horizontes enquanto intérprete, e adaptar-se ao novo 'clima' cinematográfico de inícios do Terceiro Milénio.

Infelizmente, consecutivos problemas impediram que 'Os Dias do Fim' atingisse o seu potencial, tendo uma série de bons realizadores optado por declinar o projecto, fosse por outros compromissos (como Guillermo del Toro ou Sam Raimi) fosse por problemas com o guiáo e a produçáo, como foi o caso com Marcus Nispel, e a realizaçáo a acabar por ficar a cargo de Peter Hyams. De igual modo, actores como Tom Cruise, Liv Tyler ou Kate Winslet tiveram de ser 'substituídos' por Schwarzenegger e a futura estrela de televisão, Robin Tunney. E embora o impacto destas mudanças no produto final nunca possa ser contabilizado, a verdade é que a versáo final de 'Os Dias do Fim' teve uma recepçáo extremamente negativa por parte da crítica e do público e foi um relativo fracasso de bilheteira, sendo hoje visto, ironicamente, como o início dos 'dias do fim' da carreira de Arnold Schwarzenegger, a qual entraria em abrupto declínio no Novo Milénio.

Embora ainda apreciado em certos círculos como filme 'tão mau que é bom', 'Os Dias do Fim' é, pois, lembrado hoje em dia sobretudo como aposta falhada, ou 'passo maior do que a perna'; ainda assim, como um dos últimos filmes a estrear em Portugal no Segundo Milénio, o filme merece ainda assim uma homenagem por altura dos vinte e cinco anos da sua estreia nas salas de cinema nacionais.

08.03.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

RoboCop3.jpg

Há quase exactos trinta anos, no fim-de-semana de 18, 19 e 20 de Fevereiro de 1994, dois filmes completamente distintos dividiam as atenções do público cinéfilo português; e se os mais velhos ou eruditos gravitavam naturalmente para 'Filadélfia', drama que versava sobre assuntos relevantes e importantes, bem veiculados por excelentes interpretações de Tom Hanks e Denzel Washington, para os mais novos ou 'descompromissados' a atracção principal era mesmo a terceira parte de uma das muitas franquias de acção e ficção científica 'herdadas' dos anos 80, que marcava o regresso aos écrãs nacionais de um dos ciborgues mais famosos da História do cinema – e, dada a boa recepção de que os dois primeiros filmes alusivos ao mesmo tinham sido alvo aquando da sua estreia, era natural que esta nova película fosse, também, aguardada com enorme entusiasmo.

De facto, o 'RoboCop' original, de 1987, ainda hoje goza do estatuto (merecido) de clássico da ficção científica oitentista, louvado por conseguir 'disfarçar' uma mensagem sobre a condição humana e a substituição de mão-de-obra por maquinaria de filme de 'acção científica', cheio de tiros e frases de efeito, como era apanágio da época, e 'fazer milagres' com um orçamento relativamente baixo. O sucesso imediato e considerável não podia, evidentemente, deixar de dar azo a uma sequela (lançada já nos primeiros meses da nova década, e estreada em Portugal em Novembro de 1990) de orçamento e pretensões filosóficas significativamente reduzidas (a ênfase era agora posta nos tiros e cenas de acção) mas que constituía, ainda assim, uma divertida proposta dentro do seu campo, perfeita para uma ida ao cinema ou 'sessão da tarde' de fim-de-semana descontraída e despretensiosa. 'RoboCop 3 – Fora da Lei' apenas precisava, portanto, de oferecer 'mais do mesmo', e o sucesso de bilheteira estaria quase garantido, tal era a força do nome da franquia no mercado cinematográfico.

E se é verdade que o terceiro filme consegue atingir esse objectivo, também não deixa de ser justo dizer que o mesmo fica alguns furos abaixo dos seus dois sucessores, como reflecte a opinião da crítica especializada, tanto da altura como dos dias de hoje. Comparativamente ao inflexível original e mesmo à algo mais simplista segunda parte, 'RoboCop 3' afirmava-se como um filme consideravelmente mais sanitizado e, simultaneamente, menos inteligente – uma combinação ainda piorada pela ausência de Peter Weller (icónico no papel do humano por baixo da armadura), substituído pelo desconhecido Robert Burke. Para agravar ainda mais a situação, o orçamento para filmagens foi ainda mais reduzido que o de 'RoboCop 2', tendo o projecto sido realizado meramente como tentativa de evitar a falência da produtora e distribuidora Orion Pictures – missão na qual falhou redondamente, tendo sido um falhanço de bilheteira não só nos EUA como um pouco por todo o Mundo, e contando hoje em dia com uma classificação média de apenas 9% (sim, NOVE POR CENTO!) no 'site' agregador de críticas especializadas Rotten Tomatoes.

Ainda assim, e de alguma forma, a franquia 'RoboCop' conseguiu sobreviver a esta verdadeira 'bomba' durante tempo suficiente para dar azo a não uma, mas duas séries televisivas (em 1994 e 2001), ambas as quais vêem o polícia-ciborgue lutar não só contra outros robôs futuristas, mas também contra as restrições de orçamento e argumento típicas de produções televisivas. Apesar de praticamente irrelevantes, ambas estas séries (mais tarde lançadas em alguns países como 'filmes', contidos num único DVD estilo '4 em 1') conseguiram ainda assim manter RoboCop suficientemente relevante no seio da cultura popular para que se justificasse um 'reinício' da franquia, com um inevitável 'remake' dirigido por Fernando Meirelles em 2014. O generalizado insucesso dessa tentativa de regresso (em contraste absoluto com o 'renascimento', no mesmo período, de outro polícia futurista, o Juiz Dredd) deverá, no entanto, ter ditado o fim de RoboCop como personagem cinematográfica relevante, relegando-o à condição de 'relíquia' de décadas passadas e deixando-o longe dos tempos em que, num fim-de-semana de Fevereiro de 1994, tinha feito toda uma geração de crianças e jovens portugueses antecipar o que previam vir a ser uma experiência inesquecível numa sala de cinema, a acompanhar as peripécias do polícia-robô...

26.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 80 e 90 foram décadas de excelência para o cinema de acção, responsáveis por uma série quase infindável de 'blockbusters' capitaneados por 'heróis' tão conhecidos como Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme ou Sylvester Stallone. Este último, em particular, há muito que deixara os contornos independentes da sua estreia com 'Rocky' (que também realizara) ou com o primeiro filme da série 'Rambo', e se acomodara à figura de herói musculado, carrancudo e de poucas palavras a que a sua caracterização deste último personagem o associara. Em inícios da década de 90, este era já, praticamente, o único tipo de papel para o qual Stallone era escalado – excepção feita à ocasional comédia de acção, à semelhança do congénere Schwarzenegger – o que não invalidava que o actor e realizador tentasse, ainda assim, injectar alguma variedade à sua filmografia, nomeadamente através de incursões por outros géneros.

Destes, era a ficção científica a que mais frequentemente captava a atenção do astro, que, só no ano de 1993, participaria em duas super-produções do género – primeiro a pouco unânime adaptação da banda desenhada 'Juiz Dredd', em 'O Juiz', e depois 'Homem Demolidor', um filme de estética e enredo muito semelhantes e que, em conjunto com o seu antecessor, ajudou a que o nome de Stallone fosse, durante alguns meses, sinónimo com o género da acção futurista.

Demolition_Man_Capa.jpg

E se, em 'O Juiz', o carrancudo herói de acção surgia acompanhado de Rob Schneider, no papel de coadjuvante com veia cómica, aqui a co-estrela é bem mais inesperada, e bem menos irritante: trata-se, nada mais nada menos, do que de Wesley Snipes, o futuro 'Blade', aqui no papel de antagonista do polícia futurista de Stallone. O trio de personagens centrais do filme completa-se com Sandra Bullock, mais tarde reconhecida por filmes como 'Speed – Perigo a Alta Velocidade' ou 'Miss Detective', e que aqui interpreta a parceira de Stallone no caso que este investiga.

O resultado são duas horas acima da média no tocante a ficção científica noventista (uma fasquia que apenas seria elevada no final da época) que foram, à época, consideradas um 'regresso à forma' para Stallone, após uma série de filmes menos conseguidos, e que tiveram mesmo honras de adaptação oficial em livro, publicada em Portugal pela inevitável Europa-América, magnata deste género de publicação no nosso País.

20221111_100621.jpg

Capa nacional da novelização da trama, lançada pela inevitável Europa-América.

Grande parte deste sucesso, e do apelo do filme, ter-se-à devido à veia satírica do enredo, que ajudava a destacá-lo dos outros filmes 'de explosões' futuristas que povoavam os cinemas e videoclubes da época. Quase exactos trinta anos após a sua estreia nacional (a 21 de Janeiro de 1994, dois meses e meio após 'abrir' nos Estados Unidos) 'Homem Demolidor' é, decididamente, um produto do seu tempo, mas ainda apresenta qualidade suficiente para poder ser considerado um dos melhores exemplos do género de ficção científica pré-'Matrix', e para entreter qualquer fã do género disposto a contextualizá-lo correctamente.

28.07.23

NOTA: Por motivos de relevância, esta Sexta será também de cinema. Voltaremos a falar de moda na próxima semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O Verão foi, e continua a ser, tradicionalmente uma 'época alta' no que toca a estreias de filmes, sobretudo 'blockbusters' e películas destinadas a um público mais jovem, tendo, inclusivamente, sido um dos dois períodos do ano, juntamente com o Natal, em que era expectável um novo lançamento por parte da Disney; e, tendo os anos 90 sido um dos períodos áureos do cinema infanto-juvenil (com a própria Disney, por exemplo, em plena 'Renascença'), não é de estranhar que os últimos dias de Julho tivessem, tanto há trinta anos como há um quarto de século, visto chegar ao nosso País filmes capazes de entusiasmar o público mais jovem, e que se tornariam clássicos nostálgicos para os hoje adultos da geração 'millennial'.

De facto, os dias 30 e 31 de Julho tanto de 1993 como de 1998 assinalaram a estreia nacional de nada menos do que três longas-metragens hoje recordadas com carinho pelos portugueses na casa dos trinta a quarenta anos, duas delas explicitamente destinadas a um público infantil, e a terceira um potencial alvo para o tradicional visionamento 'às escondidas', com amigos ou depois de os pais já terem ido para a cama.

Começando pelo 'início' – isto é, pelo filme mais antigo dos três – o dia 30 de Julho de 1993 via chegar às salas lusas 'Ferngully', filme de Don Bluth que, em Portugal, receberia o incompreensivelmente longo sub-título de 'As Aventuras de Zak e Krysta na Floresta Tropical'. Lançada no auge da era de ouro da sensibilização para a ecologia, a longa-metragem conta com uma mensagem de protecção da natureza, envolta na habitual história de um humano comum 'puxado' para um reino mágico que deve ajudar a proteger - neste caso, o das fadas protectoras da 'última floresta tropical', que se encontra ameaçada por madeireiros.

514569.jpg

Com o padrão de qualidade habitual de Bluth, e talentos vocais de qualidade (entre eles Robin Williams, então em estado de graça após a sua interpretação do Génio em 'Aladdin', do ano anterior, e que ainda em 1993 faria outro clássico, 'Papá Para Sempre') o filme divide, hoje em dia, opiniões, com muitos críticos a apontarem para a mensagem do filme e para o número musical do personagem de Williams, Batty - que interpreta um 'rap' bem ao estilo da década então em curso - como pontos negativos. Para quem lá esteve em 1993, no entanto - a duas semanas de completar oito anos, 'impante' e ufano por ter conseguido bilhetes para a ante-estreia – nada disso era minimamente relevante, e 'Zak e Krysta' pareceu um excelente filme; ou seja, para o público-alvo, menos preocupado com questões de detalhe, esta foi, e provavelmente continuará a ser, uma excelente forma de passar uma hora e meia com uma animação de qualidade, a qual fez sucesso suficiente para, inclusivamente, dar azo a uma sequela, esta sem qualquer repercussão em Portugal.

a9ebee85e62b3dd0a78a1adca537b769b8c5109f4e4638fefd

Um dia após a estreia da última obra de Bluth, a 31 de Julho, chegava ao nosso País um futuro 'clássico' dos canais de filmes a cabo: 'O Último Grande Herói', uma comédia de acção que via Arnold Schwarzenegger fazer um papel bem 'meta-textual', interpretando o personagem titular, o típico herói musculado da época, que se vê a braços com um jovem espectador que, graças a um bilhete mágico, consegue entrar no filme, e se vê envolto na trama do mesmo. Os dois membros deste insólito par têm, assim, de trabalhar juntos para travar o vilão, aliando a força e armamaento de Arnie ao conhecimento sobre estereótipos e fórmulas cinematográficas do seu jovem coadjuvante.

E é, precisamente, a química entre os 'músculos de Bruxelas' e o jovem Austin O'Brien que rende os momentos mais divertidos deste filme, como aquele em que o Danny Madigan de O'Brien menciona, jocosamente, o facto de todos os números de telefone do filme começarem por 555, o indicativo tradicionalmente usado por Hollywood neste tipo de situações. Apesar de não ser uma obra-prima intemporal (o único filme de Arnie qualificado para essa categoria continua a ser 'O Predador') trata-se de uma longa-metragem bem divertida, que doseia bem o humor e a acção (à maneira de antecessores como 'O Caça-Polícias' e de sucessores como 'Hora de Ponta'), sabe explorar a veia cómica de Schwarzenegger, e conta com uma banda sonora à altura, povoada por nomes como AC/DC, Alice in Chains, Def Leppard, Queensryche, Aerosmith, Anthrax ou Cypress Hill, entre outros.

Exactos cinco anos após a literal explosão de Arnie nos cinemas nacionais, estreava em Portugal outro filme teoricamente para um público mais 'maduro', mas que muitas crianças terão, decerto, visto em anos subsequentes, no contexto do 'home video' – aqui, por exemplo, viu-se aos cerca de treze ou catorze anos, na noite de cinema da colónia de férias.

O-Enigma-do-Horizonte.webp

Falamos de 'O Enigma do Horizonte' (no original, 'Event Horizon') um excelente filme de ficção científica encabeçado por Laurence Fishburne (em 'ensaios' para 'Matrix', dois anos depois), Sam Neill e Jason Isaacs e realizado pelo hoje conceituado Paul W. S. Anderson. Com uma história algo semelhante à de 'Alien – O Oitavo Passageiro' (em que uma equipa de salvamento espacial fica presa numa nave abandonada, à mercê de uma força sinistra) o filme é notável, sobretudo, pelos efeitos especiais, de entre os quais se destaca o 'rio' de sangue a descer um dos corredores da nave – imagem que deixou boquiaberto aquele adolescente de finais do Segundo Milénio, sentado em colchões no chão da sala principal de uma colónia de férias presencial na Margem Sul do Tejo. Mesmo para um público mais adulto e exigente, no entanto, este filme continua a ser uma boa proposta para uma noite mais escura e chuvosa, de preferência em boa companhia...

Em suma: em apenas dois dias de dois anos distintos, o público infanto-juvenil português viu surgirem nas telas nacionais três excelentes filmes (mais ou menos) apropriados à sua faixa etária, e que ainda hoje são conceituados dentro dos seus respectivos estilos – uma coincidência, sem dúvida, digna de nota nas páginas deste 'nosso' Portugal Anos 90, numa altura em que se assinalam aniversários marcantes sobre as estreias de todos os três.

28.10.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de não serem totalmente verídicos – havendo vários exemplos que justificam a ida ao cinema – os axiomas de que 'as sequelas nunca são tão boas como os originais' e 'as terceiras partes de filmes nunca são boas' têm o seu quê de verdade, havendo igualmente vários exemplos demonstrativos disso mesmo; é, pois, fácil de perceber que, quando a terceira parte de uma popular (e, até então, excelente) série de filmes é anunciada mais de cinco anos após a primeira sequela, o sentimento vigente entre os fãs da referida franquia seja um misto de entusiasmo pelo regresso de uma das suas propriedades intelectuais favoritas e apreensão pela projectada perda de qualidade do filme.

Imagina-se, pois, que terá sido sensivelmente esta a reacção dos fãs de 'Alien – O Oitavo Passageiro', ao saberem que estava em preparação uma segunda sequela das aventuras de Ellen Ripley na sua luta continuada contra os aterrorizantes Xenomorphs, as criaturas que tornaram famoso o artista H. R. Giger, e que ainda hoje continuam a constituir um dos melhores exemplos de efeitos práticos do cinema moderno. E se o nome de David Fincher ao comando dava algumas garantias de qualidade – mesmo estando o realizador ainda longe do renome que ganharia com 'Fight Club' e 'Se7en – Sete Pecados Mortais', meia década mais tarde – a verdade é que este acabou, mesmo, por ser um dos 'exemplos de capa' da 'maldição das terceiras partes', ficando 'Alien 3' muito aquém das expectativas dos aficionados do 'Alien' de Ridley Scott e de 'Aliens', a sequela bem mais 'bombástica' e 'explosiva' dirigida por James Cameron.

p14014_p_v8_ba.jpg

A responsabilidade por este fracasso não foi, no entanto, totalmente do realizador, tendo Fincher (ele próprio uma 'segunda escolha' após o abandono de um tal Vincent Ward, algo impensável hoje em dia) sofrido com a interferência constante dos produtores e do estúdio que financiava o projecto, bem como com um processo de filmagens, ele próprio, algo tumultuoso, e que incluiu mesmo dias de filmagens sem argumento!

Tendo tudo isto em conta, é, pois, um milagre que 'Alien 3' tenha feito sucesso por toda a Europa (incluindo em Portugal, onde se completaram há precisamente um mês trinta anos sobre a sua estreia) e sido mesmo nomeado para um Óscar (no campo dos efeitos visuais) e vários prestigiosos prémios do campo da ficção científica, como os Saturnos e os Hugos, além de um MTV Movie Award para melhor sequêmcia de acção. A verdade, no entanto, é que – visto como um filme por si só – a obra de Fincher até tem algum mérito recuperando e exacerbando o tom de ficção científica pura e dura do primeiro 'Aliens', e conseguindo dar a cada um dos três primeiros filmes da série uma identidade própria (uma versão alternativa, conhecida como Assembly Cut e lançada em 2003, é, aliás, bastante do agrado dos fãs); no entanto, não é menos verdade que a terceira parte da franquia representa, também, o início do seu declínio, o qual se viria a confirmar de forma retumbante com o filme seguinte da série.

Alien-Ressurreicao-1997-5.jpg

De facto, se 'Alien 3' havia dado algumas indicações de que a franquia 'Alien' talvez não voltasse aos seus tempos áureos, 'Alien - A Ressurreição' (que completa em fins do próximo mês de Fevereiro vinte e cinco anos sobre a sua estreia em solo nacional) serve de confirmação a esse mesmo facto. Mal recebido tanto pelos fãs como pela crítica especializada, o filme apresenta, pela primeira vez, um tom declaradamente comercial, de 'blockbuster', e sem um pingo da identidade que os seus três antecessores haviam almejado – isto apesar da presença do francês Jean-Pierre Jeunet na cadeira de realizador, ele que se notabilizaria anos depois com o muito aclamado 'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain', e de Joss Whedon (ele mesmo, de 'Buffy, A Caçadora de Vampiros') como argumentista.

Dado este notório decréscimo de qualidade, não é, pois, de admirar que a terceira sequela de 'Alien' tenha também sido a menos bem sucedida até então, o que não invalida que tenha feito 161 milhões de dólares no mercado global, e sido nomeada para vários prémios Saturno; a enorme distância a que ficou dos Óscares, no entanto, revelava que a franquia perdera o respeito dos 'decision-makers' da indústria cinematográfica, uma tendência que apenas se viria a exacerbar com os capítulos seguintes da série. Esses já ficam, no entanto, fora do âmbito deste nosso blog, pelo que (felizmente) podemos deixar a franquia 'Alien' num ponto ainda relativamente digno da sua trajectória, e fingir que a terceira e quarta partes foram mesmo os piores dissabores que a mesma sofreu. Oxalá tal fosse verdade...

30.09.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Na passada edição das Quartas aos Quadradinhos, falámos de como o Juiz Dredd – um dos mais populares super-heróis de culto, e porta-estandarte da '2000 AD', uma das mais bem-sucedidas revistas de BD britânicas – tinha 'passado ao lado' dos leitores portugueses dos anos 90, tendo o seu impacto entre os bedéfilos nacionais da época sido praticamente nulo; nesse post, referimos ainda que esse mesmo facto era tanto mais surpreendente quanto o justiceiro de Mega City havia sido alvo de uma adaptação cinematográfica nessa mesma década, e com ninguém menos do que Sylvester Stallone (um dos maiores e mais reconhecíveis heróis de acção de finais do século XX) no papel do vingador futurista. Agora, na nossa habitual rubrica sobre filmes e cinema da época a que este blog diz respeito, chega a altura de analisar o referido filme, e a razão pela qual não conseguiu ter impacto no destino do personagem em Portugal.

Judge_Dredd_promo_poster.jpg

O cartaz do filme era, há que admitir, apelativo.

Produzido e lançado em 1995 (muito antes de os filmes baseados em BD terem algum tipo de respeito entre a demografia cinéfila, e com alguma razão) como 'blockbuster' de Verão, 'O Juiz' (um daqueles nomes tão incrivelmente genéricos como perfeitamente desnecessários) foi, à altura, apenas mais um exemplo do porquê de este tipo de filmes ter demorado tanto tempo a fazer a transição do seu nicho de culto para uma apreciação mais generalista; isto porque, apesar do orçamento considerável, o filme acaba por ser vitimizado por muitos dos problemas que assolavam a maioria dos 'filmes de BD' na era pré-'Homens de Negro' (e, mais tarde, 'X-Men', o verdadeiro revolucionador deste paradigma). Apesar do 'casting' perfeito para o papel principal – Sly não só tem a musculatura 'de respeito', mas também a laconicidade 'mastigada' que caracteriza Dredd – os restantes aspectos do filme deixam algo a desejar, com alguns a serem efectivamente detrimentais à apreciação do mesmo, como a presença do insuportável Rob Schneider no seu habitual papel de 'tagarela que tenta ter piada, e falha', ou o facto de o filme ter começado como um 'Maiores de 16' e ter 'vindo ao Mundo' como um 'Maiores de 12', tendo as alterações sido feitas literalmente semanas antes da data planeada para lançamento. E se a ideia de um Juiz Dredd 'para toda a família', soa absurda, é porque o é, já que a BD original não faz qualquer tentativa nesse sentido - antes pelo contrário, a violência gráfica explícita é uma das suas principais características!

MV5BMTI2MjIyMzI1OF5BMl5BanBnXkFtZTYwNDkxMjA3._V1_.

Stallone foi a escolha perfeita para Dredd; infelizmente, o restante filme não ficava à altura desta escolha.

O que resta, depois de todo o 'retalhar' feito pela Paramount e pelo próprio Stallone, é um filme que não sabe muito bem o que quer ser (obra de ficção científica relativamente 'séria' ou entretenimento leve para toda a família) e acaba por falhar todos os alvos a que aponta; não é, pois, de surpreender que, mesmo com uma forte campanha de 'marketing' e publicidade por detrás, a película de Danny Cannon seja hoje em dia lembrada, sobretudo, pelos aficionados de filmes de série B, ou de culto – coisa que 'Juiz Dredd' nunca quis ser, antes pelo contrário, Tão-pouco surpreende que o nome do Juiz de Mega City tenha continuado a andar 'pelas ruas da amargura' entre os cinéfilos e bedéfilos generalistas (em Portugal e não só) durante mais de uma década e meia após o lançamento do filme, até o excelente 'Dredd', de 2012 (com Karl Urban no papel principal) ter redimido a sua 'honra' e posto o nome Dredd nas bocas tanto de toda uma nova geração, pronta a receber de braços abertos mais material alusivo ao personagem, como dos ex-jovens a quem o filme original, da 'sua' época, havia desapontado ou simplesmente passado despercebido; e ainda que o mesmo também não tenha sido suficiente para 'lançar' definitivamente o Juiz no panorama bedéfilo português da década desde então decorrida, pelo menos permitiu ao personagem da DC britânica 'sair de cena' em alta – missão em que o seu antecessor falhou rotundamente...

09.09.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já anteriormente aqui abordámos o facto de, apesar de o género da ficção científica ter rendido muito mais clássicos nos anos 80 do que na década seguinte, os poucos grandes filmes do género que saíram durante os anos 90 terem, quase universalmente, adquirido o estatuto de clássicos desde a sua estreia; de 'O Exterminador Implacável 2' e 'O Dia da Independência' a 'Matrix' e 'Episódio I - A Ameaça Fantasma', a lista de mega-producções de temática futurista da última década constituiu um verdadeiro ror de êxitos de bilheteira, os quais almejaram também, muitas vezes, o consenso entre a sempre exigente crítica especializada.

Curiosamente, o ano de 1997 acabou por ser particularmente prolífero nesse campo, oferecendo às salas de cinema mundiais vários filmes de qualidade dentro deste género. De 'Homens de Negro' já aqui falámos; a 'O Enigma do Horizonte', atempadamente chegaremos; no entrementes, chega a altura de falar de um filme que celebrou há pouco mais de duas semanas o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nas salas portuguesas – facto que, por um lapso de calendarização, não chegámos na altura a assinalar. Neste 'post', corrigimos esse erro, e dedicamos finalmente umas linhas a 'O Quinto Elemento'.

000263_big.jpg

Realizado pelo excêntrico francês Luc Besson, conhecido pelos seus filmes de acção estilosos e com cenas 'a mil à hora', 'O Quinto Elemento' destoa um pouco na filmografia do cineasta, tendo muito pouco a ver com o anterior 'Léon, o Profissional', com o futuro mega-sucesso 'Taken' ou com a série 'Taxi', onde Besson foi guionista e produtor; onde esses eram filmes relativamente simples, de ambiente (mais ou menos) realista e focados na acção pura e dura, a longa-metragem de 1997 leva-nos até um futuro distante, claramente influenciado pelo clássico 'Blade Runner', e adopta um tom mais próximo deste do que da habitual linha 'Guy-Ritchie-parisiense' das obras de Besson. Em comum com muita da restante obra do francês, o filme tem a componente visual – repleta de penteados e perucas mirabolantes, a concorrer com o inevitável 'neon' que qualquer filme futurista tem que incluir – e o cuidado no desenvolvimento de personagens marcantes, com particular destaque para o andrógino empresário da vida nocturna Ruby, interpretado por Chris Tucker, hoje em dia talvez o elemento mais icónico e lembrado do filme.

813ac9d7b91bd9304a1ead55839d8c24--chris-tucker-chr

O excêntrico e andrógino Ruby de Chris Tucker é um dos personagens mais memoráveis do filme

Estes pequenos toques ajudam, em grande medida, a colmatar a história, que nada tem de especial, sendo a habitual trama sobre um polícia futurista (o Korben Dallas de Bruce Willis), também claramente herdada de 'Blade Runner', mas que é, ainda assim, apresentada e contada com competência acima da média, proporcionando duas horas de entretenimento garantido - como é, aliás, apanágio do realizador francês.

Em suma, 'O Quinto Elemento' é um filme bem típico da época estival (apesar do ambiente escuro e pós-apocalíptico) e que constituiu, à época da sua estreia, uma desculpa mais do que válida para escapar do sol de finais de Agosto para o frescor de uma sala de cinema; hoje, vinte e cinco anos depois desse momento, a obra de Luc Besson, além de continuar a 'aguentar-se' bastante bem, tem o prestígio adicional de não só ter inspirado futuras incursões do cineasta pelo ramo da ficção científica – como 'Lucy' ou o mais recente 'Valerian e a Cidade dos Mil Planetas' – como também se contar entre os melhores lançamentos do género a sair da década de 90, tendo-se merecidamente tornado um clássico dos videoclubes da viragem de milénio. Razões mais que suficientes para que lhe dediquemos (ainda que já atrasadamente) esta mão-cheia de parágrafos...

05.08.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas últimas edições desta rubrica, temos dedicado atenção à carreira de Will Smith, que – na segunda metade dos anos 90 – progredia de mega-sucesso em mega-sucesso, transformando o actor numa das maiores estrelas de cinema da década, a par de um Robin Williams ou Jim Carrey; no entanto, nas imortais palavras do tio do Homem-Aranha, Ben Parker, 'grande poder acarreta grande responsabilidade', e o facto é que, já no final da década, século e milénio, Smith utilizou o seu poder para fazer uma escolha irresponsável – e quase deitou a sua carreira a perder com a mesma.

A escolha em causa foi a de aceitar o papel principal na adaptação para cinema da clássica série dos anos 60 'Wild Wild West' (encabeçada por Barry Sonnenfeld, com quem Smith trabalhara no mega-sucesso 'Homens de Negro') em detrimento de outro projecto, um ambicioso filme de ficção científica realizado por uma dupla de irmãos... Sim, Smith recusou mesmo o papel de Neo em 'Matrix', para representar um ex-coronel do exército americano do século XIX numa comédia de acção com estética de 'western cyberpunk' – um conceito tão confuso quanto o próprio filme em si.

wild-wild-west-cinema-one-sheet-movie-poster-(1).j

Não há como 'dourar a pílula' – 'Wild Wild West' foi uma bomba, daquelas de tais proporções que continuam a ser recordadas mais de duas décadas após o seu lançamento. Apesar de bem aceite pelo autor deste blog, ali por alturas do seu décimo-quarto aniversário, o filme foi pessimamente recebido tanto pela crítica como pelos fãs, tornando-se um 'ponto negro' na filmografia não só de Smith como de actores do calibre de Kevin Kline, Kenneth Branagh ou mesmo Salma Hayek, então em 'estado de graça'.

O mais curioso é que o filme tinha tudo para dar certo, desde um realizador já com provas dadas no género da comédia de acção até um elenco de luxo; o todo, no entanto, acabou por ser bem menos que a soma das partes, não obstante alguns elementos visuais memoráveis – como o corpo de aranha do vilão Dr. Loveless, de Branagh – e um tema-título contagiante, interpretado pelo próprio Smith (que já cantara o equivalente em 'Homens de Negro') com alguns convidados de primeira categoria. Nada, no entanto, que chegasse para evitar a 'derrocada' do filme nas bilheteiras de todo o Mundo – 'derrocada' essa que quase se verificava, também, nas carreiras dos principais envolvidos...

tumblr_n6dal5Qdsy1saxoooo1_400.gif

O 'tanque-aranha' de Loveless é talvez o elemento mais memorável do filme.

Felizmente, o tempo provou que Smith tinha carisma suficiente para ultrapassar uma má escolha (pelo menos uma que não envolvesse altercações físicas com colegas de profissão) tendo o actor oriundo de Filadélfia continuado a gozar de enorme sucesso nas duas décadas subsequentes, embora agora, maioritariamente, em papéis mais sérios; já Branagh e Kline souberam aproveitar as suas credenciais para 'endireitarem' as respectivas carreiras, enquanto Hayek, jovem e bonita, não teve quaisquer problemas em recuperar deste 'tropeção'. A 'bomba' em que todos participaram – e que celebra este ano exactos vinte e três anos sobre a sua estreia em Portugal – acabou, assim, por não ter grandes consequências, àparte a sua inclusão na lista de crédito dos respectivos actores, que decerto prefeririam apagá-la dos registos; infelizmente para eles, tal não é possível, e 'Wild Wild West' servirá, para sempre, como exemplo de como uma má escolha pode, potencialmente, levar a consequências muito drásticas...

22.07.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Mesmo depois do incidente ocorrido durante a cerimónia dos Óscares deste ano, continua a ser seguro considerar Will Smith uma das mais conhecidas celebridades do Mundo. Um raro caso de sucesso a duas frentes (além de um dos actores mais bem pagos da actualidade, conseguiu também enorme sucesso com a sua carreira discográfica) o natural de Filadélfia é uma daquelas caras instantaneamente reconhecíveis até para os mais distraídos – e é difícil negar que grande parte desse reconhecimento deve-se ao que o artista construiu durante a década de 90.

De facto, foi durante a última década do século XX que Smith viveu o apogeu da sua carreira, apresentando-se ao Mundo por meio da mítica 'sitcom' 'O Príncipe de Bel-Air' (que, paulatinamente, aqui merecerá destaque) e fazendo posteriormente a transição para o grande ecrã através de uma série de filmes de grande orçamento e ainda maior sucesso, iniciada em 'Os Bad Boys', de 1995 (que o lançou como actor de cinema e marcou outra estreia cinematográfica, no caso a do realizador Michael Bay), e que incluiu ainda dois mega-'blockbusters', que cimentaram definitivamente o estatuto do actor: primeiro 'O Dia da Independência', de Roland Emmerich, em 1996, e depois, no ano seguinte, o filme que abordamos neste texto, 'Homens de Negro'.

Men_in_Black_Poster.jpg

Estreado por terras lusas há quase exactos 25 anos – a 28 de Julho de 1997 – a adaptação da BD homónima a cargo de Barry Sonnenfeld foi um dos maiores sucessos daquele ano, muito por conta da incrível química entre Smith e o seu coadjuvante, o veterano Tommy Lee Jones. No papel de dois agentes intergalácticos cuja missão é localizar e apreender extra-terrestres infiltrados entre os humanos – conhecidos apenas pelas suas iniciais, J e K – os dois actores elevam aquele que era já um guião de qualidade, tirando o máximo proveito dos seus 'tipos' opostos (o habitual homem pacato e carismático de Smith e o 'durão' de poucas palavras e com cara de poucos-amigos de Jones) para criar uma parelha dicotómica, mas que se prova capaz de trabalhar em conjunto para resolver a missão encomendada pelo seu chefe, Z; juntem-se a esta receita actuações secundárias de enorme qualidade, 'bonecos' impagáveis (como Frank, o carlino falante que se tornou imagem de marca da série) e uma mistura perfeita de humor, acção e ficção científica, e não é de admirar que 'Homens de Negro' tenha 'caído no gosto' da juventude portuguesa – como, aliás, já se passara no resto do Mundo.

Men_in_Black_II_Poster.jpg

Cartaz da primeira sequela, lançada em 2002

Este sucesso prolongou-se, aliás, suficientemente no tempo para manter a 'marca' 'Homens de Negro' relevante não só até à estreia nacional da série animada baseada no filme (de que já aqui falámos num post recente), em 1999, como até à estreia da primeira sequela, cinco anos após o original e de há quase exactamente duas décadas a esta parte; previsivelmente, esse reconhecimento ajudou a que o segundo filme conhecesse, também, considerável sucesso – que, aliás, merecia, ficando quase ao nível do primeiro em termos de guião e desempenhos.

Men_In_Black_3.jpg716211.jpg

Os dois últimos filmes da série já não conheceram o sucesso dos seus antecessores

O mesmo, infelizmente, não se pode dizer das duas sequelas seguintes, sendo que o terceiro filme (lançado DEZ ANOS depois de 'Homens de Negro II', e há quase exactamente uma década) apresentava uma fórmula já algo 'estafada' e a perder gás, enquanto que o quarto, de 2019 (já sem o envolvimento de qualquer dos actores principais do original) é universalmente considerado um daqueles 'remakes' desnecessários, cujo único intuito é capitalizar numa vaga percepção de nostalgia em relação ao 'franchise' em causa; nada, no entanto, que retire o mérito ao filme original, que continua – exactamente um quarto de século após a sua estreia em Portugal – a constituir uma excelente forma de passar duas horas em família, numa tarde chuvosa.

 

 

28.05.22

NOTA: Este post diz respeito a Sexta-feira, 27 de Maio de 2022.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Oa filmes baseados em videojogos têm, historicamente, estado entre as adaptações menos bem conseguidas da História do cinema moderno – um pódio que, em tempos, partilharam com as adaptações de banda desenhada. Mas enquanto que a reputação destas veio ser (muito) melhorada pelas produções multimilionárias dos estúdios da Marvel e DC Comics, o percurso dos videojogos no cinema continua a ser marcadamente errático, sendo cada tentativa razoavelmente conseguida (os três filmes de Tomb Raider ou o recente Uncharted) anulada pela existência de um desastre absoluto, que parece não ter qualquer ideia do que torna o material original apelativo para o seu público-alvo.

Serve este preâmbulo para apresentar, precisamente, um desses desastres absolutos que parecem não ter qualquer ideia do que torna o material original apelativo para o público-alvo – ou antes, aquele que talvez seja O exemplo-mor desta tendência: o filme de Super Mário.

MV5BZGVmZTUyZDAtYjg0MC00NmE5LWE2OTAtM2FjNGI1NWUyMz

Estreado em Portugal em inícios de 1994, e produzido no ano anterior, 'Super Mário' (o filme) parece – ainda mais do que outros filmes deste tipo – fazer um esforço consciente para ignorar praticamente todos os elementos popularizados por jogos como 'Super Mario World', usando apenas os mais básicos e reconhecíveis (Mario, Luigi e Daisy são facilmente reconhecíveis, o vilão chama-se Rei Koopa, e há referências a cogumelos) e alterando rigorosamente TUDO o resto, por vezes de forma nada menos do que abstrusa; veja-se, por exemplo, o ambiente cyberpunk (!) do Reino dos Cogumelos, que apresenta os tradicionais Goombas (os atarracados e instantaneamente reconhecíveis cogumelos ambulantes que se popularizaram como o primeiríssimo inimigo do primeiríssimo jogo de Mario) como mutantes musculados e de feições deformadas (!!), o referido Koopa como um empresário (!!!) também ele mutante (!!!!) e com cabelo constituído por pequenos esporos de cogumelo (!!!!!), e Yoshi como um dinossauro semi-realista (!!!!!!).               smb-1280b-1623444752449.jpgsuper-mario-bros-movie-fans-restore-20-minutes-of-

No universo deste filme, ISTO é um Goomba (em cima) e ESTE é Koopa (em baixo)!!

Todo o filme toma esta toada, consistente com o credo, popular na Hollywood da época, de que para um filme de acção dirigido ao público jovem ser bem sucedido, tinha forçosamente de apresentar ambientes escuros e desolados - veja-se também, como exemplo deste fenómeno, o primeiro filme das Tartarugas Ninja. No entanto, onde essa obra apresentava cuidado, dedicação e sobretudo respeito pelo material de base, 'Super Mário' faz exactamente o contrário, quase parecendo um insulto propositado aos fãs do 'franchise' da Nintento por gostarem de algo tão tolo e colorido – o que torna ainda mais incongruentes os vários 'easter eggs' e referências aos jogos escondidos no cenário, prontos a serem encontrados por espectadores mais atentos.

images.jpg

O universo do filme contém diversas referências a elementos dos jogos originais, apesar de pouco ou nada aproveitar dos mesmos.

Por este mesmo motivo, a primeira longa-metragem dos irmãos Mario (de quem ficamos, pelo menos, a saber ser esse o apelido) saldou-se como nada mais do que uma desilusão, que desperdiçava actores de confiança – Bob Hoskins e John Leguizamo vivem os personagens tanto ou mais do que 'Captain' Lou Albano e Danny Wells na versão televisiva do canalizador – num argumento pobre e sem qualquer tipo de relação com o universo estabelecido pelo franchise.

O resultado foi uma 'bomba' de proporções épicas, que merece plenamente o seu estatuto e reputação como um dos piores filmes, não só de videojogos, mas da década de 90 em geral – mas que muitos dos leitores deste blog terão, mesmo assim, ido ver ao cinema, dada a popularidade do material no qual (não) era baseado. Esperemos, pois, que a de há muito anunciada versão animada do canalizador italiano (a ser lançada pela francesa Illumination, de 'Gru, O Maldisposto' e 'Cantar!') consiga superar a sua antecessora 'de carne e osso' – embora, como este post terá demonstrado, tal não se afigure como uma missão particularmente espinhosa...

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub