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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

26.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 80 e 90 foram décadas de excelência para o cinema de acção, responsáveis por uma série quase infindável de 'blockbusters' capitaneados por 'heróis' tão conhecidos como Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme ou Sylvester Stallone. Este último, em particular, há muito que deixara os contornos independentes da sua estreia com 'Rocky' (que também realizara) ou com o primeiro filme da série 'Rambo', e se acomodara à figura de herói musculado, carrancudo e de poucas palavras a que a sua caracterização deste último personagem o associara. Em inícios da década de 90, este era já, praticamente, o único tipo de papel para o qual Stallone era escalado – excepção feita à ocasional comédia de acção, à semelhança do congénere Schwarzenegger – o que não invalidava que o actor e realizador tentasse, ainda assim, injectar alguma variedade à sua filmografia, nomeadamente através de incursões por outros géneros.

Destes, era a ficção científica a que mais frequentemente captava a atenção do astro, que, só no ano de 1993, participaria em duas super-produções do género – primeiro a pouco unânime adaptação da banda desenhada 'Juiz Dredd', em 'O Juiz', e depois 'Homem Demolidor', um filme de estética e enredo muito semelhantes e que, em conjunto com o seu antecessor, ajudou a que o nome de Stallone fosse, durante alguns meses, sinónimo com o género da acção futurista.

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E se, em 'O Juiz', o carrancudo herói de acção surgia acompanhado de Rob Schneider, no papel de coadjuvante com veia cómica, aqui a co-estrela é bem mais inesperada, e bem menos irritante: trata-se, nada mais nada menos, do que de Wesley Snipes, o futuro 'Blade', aqui no papel de antagonista do polícia futurista de Stallone. O trio de personagens centrais do filme completa-se com Sandra Bullock, mais tarde reconhecida por filmes como 'Speed – Perigo a Alta Velocidade' ou 'Miss Detective', e que aqui interpreta a parceira de Stallone no caso que este investiga.

O resultado são duas horas acima da média no tocante a ficção científica noventista (uma fasquia que apenas seria elevada no final da época) que foram, à época, consideradas um 'regresso à forma' para Stallone, após uma série de filmes menos conseguidos, e que tiveram mesmo honras de adaptação oficial em livro, publicada em Portugal pela inevitável Europa-América, magnata deste género de publicação no nosso País.

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Capa nacional da novelização da trama, lançada pela inevitável Europa-América.

Grande parte deste sucesso, e do apelo do filme, ter-se-à devido à veia satírica do enredo, que ajudava a destacá-lo dos outros filmes 'de explosões' futuristas que povoavam os cinemas e videoclubes da época. Quase exactos trinta anos após a sua estreia nacional (a 21 de Janeiro de 1994, dois meses e meio após 'abrir' nos Estados Unidos) 'Homem Demolidor' é, decididamente, um produto do seu tempo, mas ainda apresenta qualidade suficiente para poder ser considerado um dos melhores exemplos do género de ficção científica pré-'Matrix', e para entreter qualquer fã do género disposto a contextualizá-lo correctamente.

19.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Para a maioria das crianças e jovens dos anos 80 e 90, Robin Williams é conhecido, sobretudo, pelos seus dotes cómicos, ombreando com nomes como Eddie Murphy, Tim Allen, Rowan Atkinson ou Jim Carrey no panteão de grandes actores de comédia da época; para os espectadores mais velhos, no entanto, o malogrado actor era, também, famoso pela sua versatilidade, sendo capaz de interpretar de forma convincente (embora sempre imbuída da sua fisicalidade e dramatismo propositadamente exagerados) papéis mais 'sérios'. A própria filmografia do actor demonstra explicitamente essa dicotomia, com filmes como 'Papá Para Sempre', 'Flubber – O Professor Distraído' ou a versão original do 'Aladdin' da Disney a serem contrapostos com magníficas interpretações dramáticas em obras como 'Bom Dia Vietname', 'O Bom Rebelde', ou o filme que inspira esta Sessão extra, por ocasião do trigésimo-quarto aniversário da sua estreia em Portugal.

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De facto, apesar de tecnicamente o post da passada Quinta-feira servir 'função dupla' como Sexta com Style, não poderíamos deixar de aproveitar a ocasião de falar de um dos filmes mais marcantes do início dos anos 90, no exacto dia em que, no primeiro mês da nova década, o mesmo surgia nos cinemas lusitanos, dando-nos, assim, a 'desculpa' perfeita para o incluirmos neste nosso 'blog'. Falamos de 'O Clube dos Poetas Mortos', clássico do género dramático que, fosse no cinema ou, mais tarde, através do mercado de vídeo, teve impacto directo sobre pelo menos duas gerações de cinéfilos, pela sua bem conseguida mistura de drama 'para chorar' com elementos relativos ao processo de amadurecimento, com que o público-alvo facilmente se conseguia identificar.

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O ´professor' e 'alunos' nos quais se centra o filme.

Guiado por uma magnífica interpretação de Williams como o novo professor de Literatura de uma escola privada norte-americana determinado a fazer 'sair da casca' os seus alunos, o filme conta, ainda, com 'performances' de alto nível por parte dos jovens actores que compõem a turma, com destaque para um jovem Ethan Hawke e para Robert Sean Leonard, futura 'cara conhecida' de várias séries de televisão. E apesar de o tempo se ter encarregue de tornar certas falas e cenas 'meméticas' ao ponto de quase parecerem paródias, a verdade é que é difícil negar a qualidade de escrita e interpretação das mesmas, e do filme em geral, e a validade da sua mensagem – embora, neste último caso, seja fácil a um espectador mais experiente oferecer contrapontos a várias das ideias do filme. Para o público-alvo, no entanto, as mensagens de auto-determinação, auto-descoberta e rejeição do destino por outros traçado terão sido por demais eficazes, explicando o estatuto de culto de que o filme continua a gozar.

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A cena mais icónica do filme.

Acima de tudo, o filme de Peter Weir faz parte daquele contingente de obras cinematográficas que se recusa a 'envelhecer', podendo tão facilmente ter sido rodado no ano transacto como três décadas antes - como foi o caso – e que, por isso, continuam a constituir uma excelente experiência fílmica, mesmo para a geração habituada a efeitos especiais mirabolantes e ritmos de acção frenéticos. Isto porque, conforme acima notámos, as mensagens transmitidas pela obra continuam a afirmar-se como universais, o que, aliado ao excelente elenco, poderá fazer com que a geração digital levante o olhar do TikTok durante duas horas, e se delicie com uma Sessão de Sexta ainda hoje acima da média - teoria que pode ser testada seguindo este link...

12.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Uma das primeiras Saídas de Sábado deste nosso blog foi ao cinema, para recordar a experiência de ir, com os pais ou amigos, ver um filme 'da moda' numa sala de bairro, ou num dos muitos 'multiplexes' que iam surgindo por esse País fora, como parte integrante dos 'shopping centers' que se vinham, também eles, espalhando pelo território continental. No entanto, havia ainda uma terceira categoria de cinema – e segundo tipo de filme – não contemplados por esse primeiro artigo; é, precisamente, essa mesma categoria que iremos abordar nesta Sessão de Sexta, a qual terá um cariz algo mais intelectual do que de costume. Isto porque, esta Sexta, recordaremos as mostras e ciclos de cinema independente, prática corrente dos anos 90 e 2000 que, como tantas outras abordadas nestas páginas, tem vindo progressivamente a perder fôlego ao longo dos últimos quinze anos, mas que fez as delícias de duas gerações de jovens cinéfilos portugueses, apresentando-lhes filmes aos quais, de outra forma, não teriam necessariamente acesso na era pré-serviços de 'streaming'.

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A Medeia Filmes foi uma das principais distribuidoras de cinema independente e de autor em Portugal.

De facto, numa época em que eram poucos e selectos os lançamentos em VHS (e mesmo, mais tarde, em DVD) estes ciclos temáticos ou exibições num número limitado de salas mais pequenas eram a única forma de contacto com um certo tipo de cinema mais 'de autor', mais condicente com um clima mais sério e introspectivo do que com as pipocas e música-ambiente das salas de 'shopping'. Certos cinemas mais históricos ou menos centrais das grandes capitais (e não só) faziam mesmo da exibição deste tipo de filme o seu principal factor distintivo, destacando-se orgulhosamente das salas mais 'comerciais' e apelando abertamente a um público mais cinéfilo, como era o caso, entre outros, dos cinemas King ou Star, ambos na zona de Roma/Alvalade, em Lisboa. E embora o advento do Novo Milénio, a chegada do DVD e a considerável expansão no volume e cariz dos lançamentos disponíveis em edição nacional tenham, inevitavelmente, causado uma mudança no teor deste tipo de iniciativa, a mesma gozou, ainda, de mais uma década de enorme visibilidade, com as salas e cinematecas a aproveitarem as potencialidades do novo formato, muitas vezes exibindo o filme directamente a partir do mesmo.

Ainda assim, estes espaços mais pequenos viram-se incapazes de travar o progressivo avanço dos mega-cinemas comerciais, e a organização de ciclos e mostras de cinema passou, progressivamente, para o domínio das associações privadas, universidades, e outros espaços semelhantes, onde se mantém até aos dias de hoje, tendo a maioria das salas conhecidas por mostrarem filmes 'alternativos' soçobrado ao inevitável domínio dos filmes da Disney, Marvel, Star Wars e outros 'blockbusters' semelhantes. Os cinéfilos da Geração Z vêem-se, assim, obrigados a recorrer à Internet (ou às colecções de filmes dos pais) para conhecerem alguns dos mesmos clássicos que os seus antecessores tiveram o privilégio de ver em ecrã gigante, numa qualquer sala ao fundo de umas escadas ou na divisão do fundo de um centro comercial de bairro, vinte ou trinta anos antes...

16.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 15 de Dezembro de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O facto de, hoje em dia, quase todos os filmes surgirem em cinemas um pouco por todo o globo ao mesmo tempo, em estreia mundial, pode fazer esquecer que, nos anos 90, passava-se precisamente o contrário, podendo a mesma película estrea em dois países adjacentes com várias semanas ou até meses de atraso. Na maioria dos casos, esta 'décalage' não ultrapassava alguns dias, mas chegava a haver casos extremos em que certos filmes estreavam em determinadas regiões com intervalos absurdos - como no caso de 'Sozinho em Casa', que, em Portugal, estreou quase exactamente um ano após o seu aparecimento nos EUA. E embora esse mesmo filme tenha, ainda assim, surgido na época natalícia, pese embora o atraso, outros havia que o fenómeno em causa 'empurrava' para alturas descabidas e algo aleatórias, retirando-lhe parte da potencial audiência que pudesse ter tido interesse na época certa do ano. Foi o caso do filme abordado nesta Sessão de Sexta, o qual, apesar de ter completado na semana que ora finda trinta anos sobre a sua estreia, seria muito mais adequado para exibição em finais de Outubro ou inícios de Novembro, na época do Halloween.

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Falamos de 'A Família Addams 2', ou 'Addams Family Values', sequela da popular película de 1991 sobre uma família algo 'monstruosa', a qual, por sua vez, adaptava a banda desenhada de Charles Addams, E a verdade é que, talvez previsivelmente, muitos dos elementos que garantiram o sucesso dessa primeira empreitada voltam a surgir neste segundo filme, do icónico elenco com Raul Julia, Anjelica Huston, Christopher Lloyd ou Christina Ricci à atmosfera declaradamente arrepiante em que os seus personagens desenvolvem as suas vida - uma receita que funcionaria ainda melhor não tivesse o filme estreado em plena 'marcha' para o Natal, já longe do clima de abóboras, morcegos e casas assombradas dos dois meses anteriores. Sob as iluminações com motivos de Pais Natais, velinhas e bolas para a árvore, a família titular do filme parecia mais deslocada do que assustadora, sendo este daqueles casos em que um intervalo algo excessivo para colocar o filme em sala terá impedido a facturação de uma parcela significativa de receitas.

Ainda assim, quem se deu ao trabalho de ir ver o filme naquela 'recta final' do ano de 1993 certamente não terá ficado desapontado, já que, conforme acima referido, o filme oferece 'mais do mesmo' ao nível do humor, interpretações e mesmo história, além de adicionar mais um nome de talento ao elenco, no caso Joan Cusack, no papel da noiva 'interesseira' (e assassina) do Fester Addams de Christopher Lloyd. As diferenças ficam por conta de um tom mais negro e menos abertamente cómico, que torna 'Família Addams 2' um filme mais 'adulto' do que o seu antecessor, e que o ajudou a ser melhor recebido pela crítica do que este, embora o desempenho em bilheteira tenha sido inferior. No entanto, numa época da História em que o visionamento de um filme não fica confinado ou limitado pela presença do mesmo em sala ou na televisão, 'Addams 2' encaixa muito melhor como filme de Halloween, em formato de 'maratona' com o primeiro e com os dois 'remakes' animados, numa estratégia que permite ignorar o facto de esta sequela ter estreado no nosso País no incongruente mês de Dezembro...

08.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje em dia, os filmes de super-heróis, ou simplesmente baseados em obras de banda desenhada, são um dos géneros mais prolíficos, bem-sucedidos e de maior orçamento do panorama cinematográfico. No entanto, quem já era fã deste tipo de filme antes do advento dos Multiversos Cinematográficos Marvel e DC sabe que nem sempre foi esse o caso, antes pelo contrário, e que os filmes baseados em BD's tiveram, durante várias décadas, custos de produção baixíssimos e níveis de qualidade que oscilavam entre o aceitável e o tenebroso. De facto, já nos primeiros anos do Novo Milénio, era ainda possível sentir o receio dos 'nerds' de todo o Mundo sempre que era anunciado um novo filme do estilo, mesmo depois de terem já havido vários exemplos do género de qualidade muito acima da média. E se os 'Batmans' de Tim Burton e Joel Schumacher e os 'X-Men' de Bryan Singer são, normalmente, creditado como os primeiros filmes a contribuir para o inverter da tendência, a verdade é que o género 'quadradinhos no grande ecrã' produzia, na mesma altura, outro filme de algum sucesso, sobre cuja estreia em Portugal se celebram na próxima semana vinte e cinco anos.

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Surgido nas salas lusas a 11 de Dezembro de 1998 (mesmo dia em que era lançado o muito diferente 'Pai Para Mim...Mãe Para Ti', de que falámos na última edição desta rubrica), 'Blade' baseava-se no personagem da Marvel com o mesmo nome, um 'híbrido' de vampiro e humano conhecido como 'dhampir', que utiliza as suas habilidades vampíricas para caçar e eliminar os 'puros sangues', em cenas bem 'sangrentas', repletas de acção com armas brancas e do tipo de artes marciais que viria a ganhar (ainda mais) popularidade com o lançamento de 'Matrix', no ano seguinte.

No papel do enigmático e sorumbático personagem surgia Wesley Snipes, actor em tempos tido como revelação (actuou em filmes como 'New Jack City', por exemplo) mas cuja carreira ficara marcada pela combinação de um temperamento complicado com abuso de substâncias, que o vira embarcar em obras de muito menor calibre – embora ainda tivesse conseguido trabalhar com um dos grandes heróis de acção dos anos 80 e 90, Sylvester Stallone, durante a segunda 'fase áurea' deste último, ao representar o vilão em 'Homem Demolidor', de 1994. No entanto, 'Blade' é geralmente tido como o filme que permitiu trazer Snipes de volta à ribalta, numa trajectória semelhante à que Eddie Murphy encetava no mesmo período, com a sua participação vocal em 'Mulan' e o sucesso de 'Doutor Doolittle'.

E a verdade é que, sem ser nenhum portento cinematográfico, 'Blade' resulta bem para aquilo que é – um veículo para Snipes, que nada mais pretende do que oferecer noventa minutos de entretenimento descartável para adolescentes e fãs do personagem. A referida demografia respondeu, aliás, em peso, tornando 'Blade' num dos primeiros verdadeiros sucessos de um género até então representado por obras medianas, como 'O Juiz', ou declaradamente fracas.

Tendo em conta este sucesso, não é de surpreender que Snipes tenha voltado a vestir a capa de cabedal do 'dhampir' dos quadradinhos, não uma, mas duas vezes – a primeira em 2002, sob a direcção do 'lunático' Guillermo del Toro, num filme considerado uma versão melhorada e alargada do seu antecessor, e a segunda em 2004, para o menos consensual 'Blade III: Trinity', que conseguiu ainda assim um desempenho meritório nas bilheteiras tanto nacionais quanto mundiais. Já a série baseada no personagem, também com argumento de David S. Goyer (que escrevera todos os filmes e realizara o terceiro) mas com o 'rapper' Sticky Fingaz no lugar do demissionário Snipes, não chegou a estrear em Portugal.

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Os dois filmes que completam a trilogia, também eles bastante bem sucedidos.

É fácil de perceber, portanto, que apesar de algo esquecida vinte anos passados, a trilogia 'Blade' não deixou de marcar época entre os adolescentes das gerações 'X' e 'millennial', aos quais ofereceu, precisamente, aquilo que procuravam: acção bem sangrenta e com a estética de 'cabedal negro' tão apreciada naqueles anos de viragem de Milénio. Além disso, a série explora o reavivar de interesse em vampiros, iniciado com 'Entrevista com o Vampiro', de 1995, e que viria, em anos subsequentes, a inspirar várias versões do conto de Drácula, além, claro, da inescapável 'Saga Crepúsculo'. Em finais de 1998, no entanto, os vampiros estavam, ainda, muito longe de brilhar ao sol, sendo Blade um muito melhor exemplo de como modernizar as míticas criaturas, e o seu primeiro filme um clássico nostálgico menor para a geração crescida durante os anos 90.

20.10.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Embora, em Portugal, seja tradição 'importada' – e recente – o Halloween tem, para países como os Estados Unidos, um significado especial, traduzido na iconografia própria (e, para muitos jovens americanos, altamente nostálgica), em rituais como o 'Doces ou Travessuras' (o famoso 'trick or treat') e a criação de disfarces ligados ao terror e, claro, na escolha de filmes próprios para a época, os quais se tendem a dividir em duas grandes categorias: as comédias familiares como 'Hocus Pocus' e 'A Família Addams' (muitas delas passadas, precisamente, na também chamada Noite das Bruxas) e os filmes de terror, de entre os quais se destaca a franquia que leva o mesmo nome da própria celebração, e que, em finais dos anos 70, revelou ao Mundo uma jovem chamada Jamie Lee Curtis.

Tal como sucedeu a todas as outras franquias de terror da mesma época, no entanto, os anos seguintes viram o seu vilão (o verdadeiramente sinistro Michael Myers, que perde apenas para o Leatherface de 'O Massacre da Serra Eléctrica' como assassino mais assustador do cinema de terror) ser muito 'mal tratado', numa série de sequelas de qualidade decrescente que contribuíram para retirar a Michael uma parte significativa da sua mística. Ainda assim, e ao contrário do que aconteceu com os contemporâneos Jason Voorhees e Freddie Krueger, viria a ser lançada a Michael uma 'corda de salvação', sob a forma de um novo capítulo, comemorativo dos vinte anos dos seus primeiros ataques, e com execução bastante mais cuidada em relação aos filmes anteriores da franquia.

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O DVD nacional do filme

Chamava-se 'Halloween H20: O Regresso', estreou nos cinemas norte-americanos há quase exactos vinte e cinco anos (mesmo a tempo do Halloween) e, apesar de apenas ter chegado ao nosso País em Março (!!!) do ano seguinte, constitui a Sessão de Sexta perfeita para a altura do ano que se aproxima - como, aliás, já demos a entender quando o incluímos, juntamente com alguns dos filmes acima referidos, na nossa Sessão de Sexta Especial de Halloween, há quase exactos dois anos; aproveitamos, agora, nova aproximação da referida data para lhe dedicarmos algumas linhas mais alargadas e específicas, por alturas de um 'aniversário' marcante para qualquer obra mediática.

Como o próprio título dá a entender, 'H20' (não confundir com H2O) tem lugar vinte anos após o original, ou seja, no ano de 1998. Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), irmã do assassino mascarado e única vítima a ter sobrevivido a repetidos ataques por parte do mesmo, descobre que não consegue escapar ao seu passado quando o irmão a descobre na pequena cidade californiana onde reside sob um nome falso, e prontamente enceta nova tentativa de acabar com a sua vida de uma vez por todas. Na 'linha de mira' do assassino estão também o filho adolescente de Strode, John (interpretado pelo jovem galã da altura, Josh Hartnett) que organiza com os amigos uma festa de Halloween particular longe dos adultos e de outros jovens, tornando-se assim alvos fáceis para Myers, e Will Brennan, companheiro de Laurie que, juntamente com a mesma e com um segurança da escola, tenta proteger os jovens do tresloucado assassino, para quem os mesmos seriam, de outra forma, alvos fáceis.

Uma receita sem muito de inovador, e que recorre mesmo a alguns (senão a todos) os clichés dos chamados 'slasher movies', mas cujo segredo reside em saber precisamente o que o público de filmes como 'Sei O Que Fizeste No Verão Passado' espera e pretende de uma obra deste tipo, e oferecer, precisamente, isso, sem o tipo de tentativas de inovação ou experimentação que haviam morto, aos poucos, as franquias concorrentes 'Pesadelo em Elm Street' e 'Sexta-Feira 13'. Ao contrário de muitos dos filmes de ambas, 'Halloween H20: O Regresso' é, só e apenas, o que apregoa ser: uma revisão e actualização do conceito do original de John Carpenter, já longe da qualidade do mesmo, mas ainda assim criado com assumido respeito e apreço pelas bases por ele estabelecidas. Assim, e embora não suplante (e ainda menos substitua) o mesmo, este primeiro reviver de uma franquia ainda hoje vive merece bem o investimento de menos de hora e meia por parte dos entusiastas do terror 'pop', seja como parte de uma 'maratona' mais alargada de todos os títulos da série, seja por si mesmo, como 'refeição rápida' para saciar a vontade de apanhar uns 'sustos' frente ao ecrã na noite de Sexta-feira de Halloween.

26.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 25 de Agosto de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje em dia, o nome de Quentin Tarantino é sinónimo de um certo e determinado tipo de cinema, pleno de referências à cultura 'pop', diálogos inteligentes e cheios de palavras incomuns, humor negro e, muitas vezes, doses cavalares de 'molho de tomate'. Mas se, hoje em dia, o cinema do realizador (com todos os elementos supracitados) faz parte das referências de qualquer cinéfilo, em Maio de 1993, o mesmo era um ilustre desconhecido - pelo menos para os jovens lusitanos, que se preparavam (sem o saber) para tomar contacto com a sua primeira obra-prima.

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Terceiro filme do realizador (embora seja o primeiro de maior expressão, e considerado por muitos como a sua verdadeira estreia), 'Cães Danados' ('Reservoir Dogs', no original) traz já todos os elementos supracitados, bem como outros típicos de Tarantino (como a 'ponta' do próprio realizador numa das cenas), tendo sido responsável por os implementar e apresentar ao grande público. E se, em trabalhos subsequentes, QT se desdobraria em arroubos de história, aqui, o argumento não pode ser mais simples: todo o filme se passa num único local, um armazém abandonado, e se centra num único grupo de seis homens, ali refugiados após um assalto mal-sucedido. Sem saberem nada uns sobre os outros, além dos nomes de código referentes a cores, os mesmos acabam, ainda assim, por desenvolver relações interpessoais de cariz tragicómico, num resultado final que fica entre a comédia negra e a vertente mais sarcástica dos filmes de crime (ao estilo Guy Ritchie).

Alicerçado nas excelentes exibições de Harvey Keitel, Steve Buscemi, Tim Roth e Michael Madsen, 'Cães Danados' não tardou a ganhar renome como um dos filmes mais sangrentos até então filmados, e também como uma descontrução dos filmes de crimes, semelhante à sua inspiração directa, 'The Killing', de Stanley Kubrick. O seu sucesso contribuiu também, em larga medida, para estabelecer o nome de Tarantino como jovem realizador a ter em conta, um estatuto que seria cimentado pelo seu trabalho seguinte, o lendário 'Pulp Fiction', lançado em 1994. 'Cães Danados' é, no entanto, muito mais do que apenas um 'ensaio geral' para esse filme, e continua a merecer os elogios de que é alvo, mesmo após completadas três décadas sobre a sua chegada a Portugal.

13.01.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos estilos cinematográficos mais prolíficos e bem sucedidos dos anos 80 e 90 – a par do cinema de acção – foi a comédia, especificamente a dirigida a um público mais jovem. Senão, veja-se: só os primeiros anos da década a que este blog diz respeito viram ser lançados filmes como 'Sozinho em Casa', 'Beethoven', 'Papá Para Sempre', 'Jamaica Abaixo de Zero', 'Doidos À Solta' e 'A Máscara', além de duas 'duologias' normalmente mencionadas em conjunto: a de 'Bill e Ted', e aquela cujo primeiro filme completa daqui a precisamente uma semana trinta anos sobre a sua estreia em Portugal – 'Wayne's World', ou como é conhecida nos países lusófonos, 'Quanto Mais Idiota Melhor'.

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Apesar do título nacional dantesco, e que faz diminuir, desde logo, a vontade de assistir ao filme, a película que ajudou a lançar a carreira cinematográfica de Mike Myers – e que é, ainda hoje, o mais bem-sucedido exemplo de uma longa-metragem derivada do popularíssimo 'Saturday Night Live' – é muito melhor do que possa parecer à partida, que inclui alguns momentos de sátira subtil em meio às piadas propositamente básicas em torno dos dois protagonistas, e que consegue a proeza de 'cair no gosto' da mesma demografia que parodia: os fãs de 'rock' e 'heavy metal' clássico.

Muito deste sucesso deve-se às interpretações sem mácula de Myers e Dana Carvey como Wayne e Garth, os dois 'idiotas' do título, cujo programa de televisão amador produzido na sua cave para a rede de TV 'aberta' da sua pequena cidade se vê, subitamente, elevado ao estatuto de fenómeno nacional, depois de um produtor de escrúpulos duvidosos (Rob Reiner) ver nele uma oportunidade de facturar sobre a 'cultura jovem' da época, da qual o programa em causa inclui muitos dos principais elementos. O que se segue são noventa minutos de sátira à estrutura das grandes corporações, referências musicais aos principais artistas 'electrificados' da época (de Peter Frampton a Meat Loaf e Alice Cooper, ambos os quais fazem inesperadas e inusitadas participações especiais) e pelo menos um momento 'memético', em que Wayne, Garth e os restantes membros do seu grupo fazem 'headbanging' ao som de 'Bohemian Rhapsody', dos Queen. Um filme que, apesar de datado nas suas referências e atmosfera, ainda se 'aguenta' surpreendentemente bem três décadas volvidas, e pode render boas gargalhadas a qualquer fã deste tipo de comédia.

A melhor cena do filme, e um dos grandes momentos da Hstória da comédia noventista.

O mesmo, infelizmente, não se pode dizer da sequela. Lançado apenas um ano após o original, como era apanágio das segundas partes da época, 'Quanto Mais Idiota Melhor 2' tem alguns momentos inspirados, mas os mesmos perdem-se numa história algo desconexa, daquelas que mais parece um conjunto de situações 'retalhado' para parecer um todo coeso.

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Desta feita, Wayne e Garth tentam organizar um festival na sua área de residência, mas deparam-se com inúmeras complicações – uma premissa que, tal como aconteceu com o primeiro filme, poderia render alguns bons momentos de sátira à burocracia que tende a rodear a organização de eventos públicos, mas que acaba por ser gasta por entre visitas místico-espirituais a Jim Morrison e Sammy Davis Jr e participações especiais dos Aerosmith que pouco mais são que uma cópia deslavada das cenas de Alice Cooper no original. Tal como naquela obra, também o segundo filme tem o seu 'momento memético' – derivado de uma história contada, a dado ponto, por um suposto ex-'roadie' de Ozzy Osbourne – e algumas passagens inspiradas (além de uma Kim Basinger lindíssima como interesse romântico em moldes 'MILF' para Garth) mas o produto em geral fica muito abaixo do seu antecessor, sendo mais uma das muitas sequelas 'apressadas' criadas apenas para prolongar o sucesso da franquia, sem grandes considerações artísticas ou qualitativas – mas que, ainda assim, consegue ser melhor do que a esmagadora maioria dos produtos semelhantes feitos em décadas subsequentes.

No geral, aliás, qualquer dos dois filmes de Wayne e Garth continua a constituir uma excelente aposta para quem não queira mais da sua Sessão de Sexta do que dar umas boas gargalhadas nostálgicas – uma proeza admirável em tratando-se de filmes produidos numa era sócio-cultural tão diferente da actual como o foram os primeiros anos da década de 90...

23.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de a principal vertente da sua fama ter surgido no contexto do cinema de acção - do qual foi um dos grandes heróis durante os anos 80 e 90, tendo participado numa série de filmes marcantes do género - Arnold Schwarzenegger atravessou, no início e meados da última década do século XX, uma fase em que se tentou, também, afirmar como actor de comédia, tirando proveito do seu aguçado 'timing' cómico; e a verdade é que esta experiência, apesar de nem sempre totalmente bem conseguida, não deixou de render pelo menos um verdadeiro clássico, no excelente 'Um Polícia no Jardim-Escola', lançado logo em 1990. E apesar de os filmes seguintes do actor no mesmo registo - como 'Júnior' ou 'O Último Grande Herói' - não terem conseguido o mesmo sucesso, 'Arnie' viria, ainda, a contribuir para mais um filme de culto entre a juventude dos anos 90, bem como entre os fãs dos filmes de Natal. É desse filme, que completou esta semana vinte e seis anos sobre a sua estreia em Portugal, que falaremos nesta última Sexta de Sucessos antes da Consoada.

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Trata-se de 'O Tesouro de Natal' ('Jingle All The Way' de seu título original) estreado em terras lusas a 20 de Dezembro de 1996, numa altura em que a imagem de Schwarzenegger era, ainda, suficiente para 'vender' filmes por si só. E a verdade é que, sem 'Arnie', este filme talvez nem tivesse adquirido o estatuto de 'meme' 'tão mau que é bom' de que hoje goza, já que é das 'caretas' e dichotes de efeito do actor que advêm os momenos mais memoráveis da película, ficando as intervenções sem graça do insuportável Sinbad e restantes tentativas falhadas de fazer rir a audiência algo 'esquecidas' por comparação.

Schwarzenegger é responsável por muitos dos melhores momentos do filme.

Tal como existe, e longe de ser um bom filme ou merecer o estatuto de clássico da época natalícia gozado por filmes como 'Gremlins', 'O Estranho Mundo de Jack' ou o binómio 'Sozinho em Casa', 'O Tesouro de Natal' vale o visionamento apenas pela exibição tresloucada de 'Arnie', ao estilo das que tornam, hoje, conhecido Nicolas Cage, mas bastante mais intencional, e que transforma uma comédia de Natal comercial e medíocre em algo ainda hoje lembrado - ainda que ironicamente - por toda a geração que a ela assistiu há um quarto de século.

09.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O 'filme de Natal' é, regra geral, um género cinematográfico adstrito a um conjunto de regras, simbologia e elementos extremamente específica e limitada, estabelecida ainda nos 'anos de Ouro' de Hollywood; tal não tem, no entanto, impedido certos cineastas de tentarem criar filmes tematizados em torno desta época que procuram fugir aos estereótipos e criar algo diferente (ou, pelo menos, diferenciado.) Um dos melhores exemplos deste fenómeno é uma película que completa hoje, 9 de Dezembro de 2022, exactos vinte e oito anos sobre a sua estreia em território nacional e que, ao longo desse tempo, se conseguiu tornar objecto de culto junto de várias gerações de um determinado sub-sector (ou, se preferirmos, 'tribo urbana') da sociedade ocidental.

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Falamos de 'O Estranho Mundo de Jack' (no original, 'The Nightmare Before Christmas'), um dos mais famosos trabalhos de um Tim Burton em estado de graça, e parcialmente responsável por popularizar os filmes de animação 'stop-motion' para adultos, filão a que o realizador e produtor viria a regressar por diversas vezes ao longo dos anos subsequentes.

Todo o culto em torno deste filme não é, aliás, imerecido: adequado tanto para audiências natalinas como para a festividade anterior, o 'Halloween', a odisseia de Jack Skellington para trazer o espírito de Natal a Halloweentown e ganhar o amor de Sally tem um estilo visual muito próprio e instantaneamente reconhecível (o qual representa, aliás, o principal factor do seu sucesso) um argumento inteligente e números musicais memoráveis, que fazem dele, com mérito, um dos clássicos de Natal modernos – um estatuto que merece bem mais do que obras como 'Elf – O Falso Duende', por exemplo.

Aliás, ainda que a técnica por detrás dos movimentos dos personagens comece já a mostrar alguns sinais de envelhecimento (natural, dadas as quase três décadas desde o seu lançamento) o filme continua a ser um feito técnico e tecnológico notável, bem como uma excelente escolha para uma sessão de cinema em casa nestas semanas de 'aquecimento' para a grande festa – sobretudo para quem gosta de uma certa vertente menos 'feliz' (se quisermos, mais 'gótica') nas suas produções festivas. Quem 'alinhar' nesta ideia, só tem, aliás, de clicar no 'link' abaixo (a versão integral dobrada em brasileiro, tal como teria saído nas salas portuguesas em 1994) e ver por si mesmo as razões que tornam este um dos maiores filmes de culto dos últimos trinta anos...

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