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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

06.12.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos estilos cinematográficos que mais floresceu durante os anos 80 foi a comédia adolescente debochada, exemplificada por franquias como 'Porky's', 'A República dos Cucos' ou 'A Vingança dos Nerds'. Com a entrada para a última década do século XX, no entanto, tais filmes caíram em desuso, tendo o ramo da comédia sido deixado para obras de teor mais familiar ou romântico, e o segmento adolescente a privilegiar a acção e a ficção científica. Tal paradigma viria novamente a mudar, no entanto, à entrada para o Novo Milénio, quando um filme do género julgado morto conseguiu almejar niveis estratosféricos de sucesso, e relançar o gosto do público jovem por comédias centradas em peripécias semi-sexuais. É a esse filme, sobre cuja estreia nacional se celebram dentro de poucos dias os vinte e cinco anos, que dedicamos esta Sessão de Sexta. Falamos de 'Comédia Adolescente Que Pode Ser Feita Por Menos de Dez Mil Dólares, Que Quem Ler Nos Estúdios Provavelmente Vai Detestar, Mas Que Eu Acho Que Vocês Vão Adorar', mais tarde conhecida como 'East Grand Rapids High' e 'East Grand Falls High', mas que 'viria ao mundo' com o nome de 'American Pie – A Primeira Vez'.

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Um projecto pessoal do argumentista Adam Herz, realizado pelos então ainda desconhecidos irmãos Weitz, Chris e Paul. Chegado às salas lusitanas a 10 de Dezembro de 1999 (a tempo de destoar consideravelmente do restante cartaz natalício daquele ano), o filme contava com um elenco composto tanto por nomes desconhecidos, e que ajudou a lançar (como Jason Biggs e Seann William Scott) como com actores e actrizes já um pouco mais veteranos, como Mena Suvari (então já com 'Beleza Americana' no currículo), Alyson Hannigan (já sobejamente conhecida como a Willow de 'Buffy, Caçadora de Vampiros') ou Shannon Elizabeth. No entanto, com excepção de Suvari e Hannigan, mesmo os actores mais conhecidos são, sobretudo, lembrados pelos personagens que interpretaram nesta obra e nas suas diversas sequelas, tão icónicos foram os mesmos para a juventude das gerações 'X' e 'millennial'.

De facto, 'American Pie' (tal como a sua primeira sequela) é uma verdadeira 'mina de ouro' de dichotes, graçolas e momentos de comédia impagáveis - a 'situação' do protagonista Jim com uma cassette de vídeo, a famosa 'meia' do mesmo, as tiradas de pinga-amor do lendário 'Shermanator', a analogia que originou o título da franquia, toda e qualquer fala dita pelo personagem de Seann William Scott (o lendário Steve Stifler) e, claro, as famosas histórias sobre o campo de férias para músicos e a não menos famosa definição do termo 'MILF', o qual viria mesmo a incorporar o léxico corrente após a estreia do filme. Sim, 'American Pie' é tão icónico que ajudou a adicionar uma palavra, senão ao dicionário, pelo menos ao léxico anglo-saxónico – uma proeza de que poucos outros filmes se podem legitimamente orgulhar.

Dois dos mais icónicos momentos do filme.

Mais do que qualquer momento individual, no entanto, a força do filme está na forma como consegue retratar, embora de forma deliberadamente exagerada, experiências com que o seu jovem público-alvo facilmente se identifica – algo em que os filmes desse período da viragem de Milénio eram exímios. De facto, esse elemento foi tão determinante no sucesso de 'American Pie' (enquanto filme e enquanto franquia) como as referidas cenas e tiradas, as quais não se teriam espalhado da mesma forma se o filme não tivesse tido o nível de sucesso que almejou. De igual modo, sem essa conexão ao seu público-alvo, é de duvidar que a obra de Herz e dos irmãos Weitz tivesse conseguido dar azo a nada menos que seis sequelas (embora três das quais em formato 'directo-a-vídeo') e influenciado tantos 'seguidores' nos anos subsequentes, muito poucos dos quais capazes de recuperar o espirito da mesma. E ainda que o 'American Pie' original, bem como a sua primeira sequela, lançada já nos primeiros anos do Novo Milénio, possam e tenham sido entretanto reavaliados como 'problemáticos', os mesmos continuam, no entanto, a constituir parte icónica das memórias de adolescência de grande parte da geração 'millennial' ocidental (não sendo Portugal excepção a essa regra) pelo que esta pequena homenagem, por ocasião do vigésimo-quinto aniversário da chegada ao nosso País do primeiro filme da franquia, se afigura totalmente justificada.

11.10.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos a gozar de uma 'idade de ouro' nos últimos anos do século XX e inícios do seguinte, um dos mais notáveis foram as comédias adolescentes, quer na vertente mais 'javarda' (de que é epítome 'American Pie – A Primeira Vez', que em breve aqui terá o seu espaço) quer na mais leve e romântica, a exemplo de 'Ela É Demais'. Escusado será dizer que estes dois géneros dividiam o seu público-alvo praticamente a meio, com o primeiro - de enredos e piadas centrados nos inuendos sexuais e funções corporais - a apelar sobretudo à parcela masculina, e o segundo – com a pitada de drama decorrente das relações interpessoais dos personagens – a cativar sobretudo as jovens do sexo feminino. Tal dicotomia resultava, por sua vez, em inúmeros debates à porta do cinema, ou no sofá durante uma Sessão de Sexta, normalmente ganhos pelas raparigas, que assim sujeitavam os namorados ou familiares masculinos a duas horas de Freddie Prinze Jr ou outro galã semelhante.

De quando em vez, no entanto, surgia um filme que - por balancear as duas vertentes ou simplesmente 'suavizar' o romance – acabava por encontrar consenso entre os dois sexos. Destes, o melhor exemplo talvez seja uma película que acaba de celebrar, há cerca de um mês, um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal, e que continua a ser dos títulos mais respeitados dentro do género da comédia romântica para adolescentes; nada melhor, pois, do que elencar as Coisas Que Odiamos (ou antes, Amamos) sobre o mesmo.

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Chegado às salas de cinema portuguesas a 3 de Setembro de 1999, 'Dez Coisas Que Odeio Em Ti' insere-se na breve e bizarra fornada de adaptações de peças de Shakespeare a um formato contemporâneo e juvenil, que também deu ao Mundo filmes como 'Esquece...E Siga' (baseado em 'Sonho de Uma Noite de Verão') ou a adaptação 'mafiosa' de 'Romeu + Julieta' por Baz Luhrmann, esta em registo mais dramático. No caso de 'Dez Coisas...', a peça-base é 'A Fera Amansada', da qual o filme mantém o enredo-base, centrado num rapaz que deve arranjar um pretendente para a irmã da jovem em que está interessado, sob pena de não poder estabelecer uma relação romântica com a mesma. Aqui, esse papel cabe a Joseph Gordon-Levitt - hoje um actor conceituado mas, à época, ainda conhecido sobretudo como o Tommy de 'Terceiro Calhau a Contar do Sol' – com a então musa das 'rom-coms' Julia Stiles no papel da irmã 'megera' e um jovem bem-parecido e talentoso de nome Heath Ledger como o 'escolhido' para a procurar seduzir. Juntamente com Gabrielle Union (no papel da melhor amiga de Bianca, a jovem pretendida pelo protagonista) os três ajudam a elevar o filme acima da comum das comédias românticas, com excelentes prestações que mantêm o espectador cativo até ao inevitável desfecho final ao som dos Letters to Cleo (que contribuem com várias das suas músicas para a banda sonora do filme).

Também a favor de 'Dez Coisas...' está o seu guião, que mistura os habituais momentos típicos de qualquer comédia romântica adolescente com um sentido de humor algo mais 'politicamente incorrecto', bem ilustrado na cena em que Heath Ledger não só faz um 'figurão' como quase causa um incidente na sua escola com a escolha infeliz de uma letra de Aerosmith como 'canção de amor'. A própria Bianca, por quem o Cameron de Gordon-Levitt nutre a paixão que precipita o restante argumento, é retratada como algo superficial e falha em inteligência, por oposição à irmã, mais sarcástica, ponderada, e definitivamente 'não como as restantes raparigas'.

Estes pequenos e inesperados toques ajudam a alargar o apelo do filme, transformando-o numa das poucas 'rom-coms' que muitos rapazes não só não se importavam de ver, como viam com activo prazer, como era o caso com o autor deste 'blog'. E apesar de o filme ter algumas vertentes 'problemáticas' nos dias que correm, o mesmo continua, ainda assim, a constituir uma excelente Sessão de Sexta 'a dois' (ou mesmo a 'solo'), bem como uma óptima maneira de 'apresentar' Shakespeare aos jovens de forma 'encoberta' e num formato que lhes seja apelativo. Razões mais que suficientes para assinalarmos, ainda que tardiamente, o quarto de século desta obra-prima da comédia romântica, em que nem sequer uma coisa conseguimos encontrar para odiar, quanto mais dez...

02.08.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A adaptação de desenhos animados episódicos em filmes de 'acção real' é, hoje em dia, um dos esteios da produção infanto-juvenil em Hollywood; no entanto, as raízes desta prática remetem a finais do século XX, época que viu surgirem as primeiras tentativas de trazer personagens animados para o mundo real. E se, hoje em dia, a prática vigente é colocar o próprio boneco, criado em CGI, no meio de actores de 'carne e osso', de modo a salientar as diferenças entre os dois, os anos 80, 90 e 2000 tinham uma abordagem algo diferente, em que os personagens em si surgiam como pessoas reais, interpretadas por actores invariavelmente bem caracterizados, de forma a que se assemelhassem aos seus 'equivalentes' animados.

Curiosamente, muitas das adaptações desta primeira fase centravam-se sobre propriedades intelectuais já, à época, com várias décadas de existência, mas que continuavam a gozar de relativa relevância e sucesso entre as crianças e jovens, fosse por conta das repetidas transmissões dos episódios na televisão ou por via de uma associação a outro meio, como o da banda desenhada. Entre os numerosos exemplos 'de época' deste paradigma incluem-se Dennis o Pimentinha, Riquinho, e os personagens cujos filmes abordamos nesta publicação, a poucos dias do trigésimo e vigésimo-quarto aniversários das suas estreias em Portugal: as famílias pré-históricas mais famosas de sempre, Fred e Wilma Flintstone e Barney e Betty Rubble.

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Chegado às salas de cinema portuguesas a 5 de Agosto de 1994, o simplesmente intitulado 'Os Flintstones' cativava de imediato os inúmeros jovens lusos que vinham, há vários anos, seguindo as aventuras animadas dos personagens titulares em programas como 'Oh! Hanna-Barbera'. Para esta demografia, era nada menos do que entusiasmante ver Fred, Wilma, Barney, Betty e restantes habitantes de Bedrock em versões de 'carne e osso' mais do que fiéis às animadas, com um elenco aparentemente escolhido a dedo e perfeitamente caracterizado. E dizemos 'aparentemente' porque, acredite-se ou não, Rick Moranis (que É Barney Rubble, capturando na perfeição os trejeitos e até a voz deste) não foi a primeira escolha do realizador Brian Levant, que queria Danny DeVito no papel – uma escolha que faria sentido do ponto de vista da estrutura física, mas que, no restante, ficaria bem mais distante do Barney animado do que a versão de Moranis.

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O elenco do primeiro filme recriava na perfeição os seus equivalentes animados.

O actor de 'Querida, Encolhi Os Miúdos!' encontra-se, aliás, em excelente companhia, em meio a um elenco de luxo no tocante a comédia em meados da década de 90. A escolha de John Goodman como Fred Flintstone é lógica a pontos de ser óbvia, dadas as parecenças físicas e vocais naturais entre o actor e o personagem, enquanto Rosie O'Donnell e Elizabeth Perkins vivem quase na perfeição a leviana Betty Rubble e a paciente Wilma Flinstone. A completar o elenco surgem ainda Elizabeth Taylor, no papel de sogra de Fred, Kyle McLachlan como o vilão, uma jovem e lindíssim Hale Berry (no papel de uma secretária de nome...Sharon Stone) e, claro, os BC-52's, ou seja, os B-52's 'trajados a rigor' em roupas pré-históricas, que se encarregam de criar uma versão bem 'gingada' do icónico tema da série, ajudando a criar o ambiente vivido em Bedrock.

Como qualquer boa adaptação de desenho animado, no entanto (e este primeiro filme dos Flintstones insere-se nessa categoria) a película não se contenta em recriar os personagens em 'carne e osso', introduzindo-os numa trama suficientemente complexa para durar perto de duas horas, sem no entanto ficar longe das histórias dos episódios; e se Dennis, o Pimentinha se via a braços com um bandido, Fred, Barney e companhia enfrentam um executivo sem escrúpulos que pretende reduzir o número de empregados da pedreira onde Fred trabalha, bem 'desviar' fundos dos cofres do patrão, Mr. Slate – usando o pouco perspicaz patriarca como 'bode expiatório'. Uma história que abre espaço tanto aos momentos cómicos pelos quais a série é conhecida, como a outros mais dramáticos, sobretudo ligados às situações financeiras e sociais de Fred, Wilma e respectivos vizinhos e amigos, os quais acabam de adoptar uma criança.

Conforme já demos a entender, o resultado desta mistura de ingredientes é uma das melhores adaptações de sempre de um desenho animado ao grande ecrã, totalmente fiel ao espírito da série original, com excelentes interpretações e caracterização, e uma banda sonora 'gingada', bem merecedora de ser lembrada por alturas do seu trigésimo aniversário, e que deixava a base perfeita a partir da qual criar uma sequela...ou talvez não.

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Isto porque 'Os Flintstones em Viva Rock Vegas', lançado em Portugal a 4 de Agosto de 2000, quase exactamente seis anos depois do original, é unanimemente considerado um péssimo filme, com orçamento muito mais reduzido, e já sem o envolvimento de Steven Spielberg (que, enquanto produtor, muito ajudara ao 'clima' e recursos à disposição do filme original) ou de qualquer dos actores de 1994. De regresso, portanto, apenas Brian Levant, que colmatava a ausência de Goodman, Moranis e restantes 'estrelas' com a aposta num formato de prequela. 'Viva Rock Vegas' segue, pois, as aventuras dos quatro personagens na sua visita à cidade titular, na época em que ainda eram jovens e solteiros, procurando mostrar a génese dos dois casais principais.

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As versões jovens dos dois casais protagonistas.

A presença de um dos irmãos Baldwin (Stephen, que interpreta Barney) e do muito acarinhado extraterrestre, The Great Gazoo, não ajuda, no entanto, a disfarçar as carências do filme, o qual, conforme mencionado, fica muito aquém do original em todos os aspectos, sendo ainda hoje alvo de acintosas críticas. Apesar de inicialmente entusiástico, o público infanto-juvenil também não se deixou 'levar' na cantiga de Levant, e o filme acabou por se revelar um fracasso de bilheteira, terminando prematuramente com aquela que poderia ter sido uma interessante franquia cinematográfica.

Apesar deste final pouco feliz, no entanto, Fred, Barney, Betty e Wilma afirmaram-se, ainda assim, como protagonistas de um dos melhores e mais divertidos filmes da primeira vaga de adaptações animadas, e que continua, ainda hoje, a ser uma proposta bem divertida para uma Sessão de Sexta em família – desde que, claro está, não se cometa o erro de o 'emparelhar' com a sequela...

 

 

22.06.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 21 de Junho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas últimas semanas, temos virado o foco de vários 'posts' do nosso blog para as séries animadas noventistas da Walt Disney, a maioria das quais foi transmitida em Portugal no icónico 'Clube Disney', da RTP. Como seria de esperar, cada um desses programas deu, também, azo a vários produtos e produções a eles alusivos, de que são exemplo os jogos de vídeo ou os álbuns de banda desenhada; assim, não é de todo surpreendente que, ao longo das duas décadas seguintes, tenham também sido realizadas várias longas-metragens com os personagens dessas séries como protagonistas principais. Destas, chegaram a Portugal três, duas ainda nos anos 90 e com direito a lançamento nas salas de cinema, e a terceira já no Novo Milénio, em formato directo-a-vídeo. É sobre esse trio que se debruçará o nosso 'post' de hoje.

O primeiro dos três filmes em análise, e primeiro filme alusivo às personagens de uma das séries em causa, foi 'DuckTales O Filme – O Tesouro da Lâmpada Perdida', muita vezes abreviado como apenas 'DuckTales: O Filme' e que trazia como protagonistas o Tio Patinhas e os seus sobrinhos-netos, bem como os restantes personagens do núcleo duro de 'Novas Aventuras Disney', o nome inexplicavelmente escolhido para 'DuckTales' em terras lusas.

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Produzido pelos estúdios Toon Disney em 1990, e estreado em Portugal na Primavera seguinte, na habitual versão dobrada em brasileiro, o 'filme' mais não era do que um episódio de duração dupla da série em causa (com cerca de uma hora de duração, por oposição aos habituais vinte a trinta minutos) lançado no cinema como forma de capitalizar sobre a popularidade da série e dos personagens. Resumi-lo a tal estatuto seria, no entanto, algo redutor, e também injusto para com a sua qualidade, já que, sem ser uma obra-prima ao nível dos filmes a que a Disney ia habituando os seus fãs à época, trata-se ainda assim de uma produção honrosa e bastante divertida, sobretudo para quem já tem familiaridade com os personagens.

Com referências explícitas a 'Salteadores da Arca Perdida' (no cartaz) e à história de Aladino (dois anos antes de a companhia avançar para uma adaptação oficial da mesma) a pseudo-longa metragem vê Patinhas e os Sobrinhos (e Sobrinha) desenterrarem uma lâmpada maravilhosa que contém dentro o espírito de um jovem génio, o qual, apesar dos milhares de anos de existência, é ainda, essencialmente, uma criança. Imediatamente afeiçoados ao novo amigo, cabe então ao grupo de heróis protegê-lo de vilões locais sem escrúpulos, que pretendem utilizar a lâmpada para fins tipicamente egoístas. Uma trama sem nada de particularmente novo ou original, mas que serve perfeitamente os fins a que se destina, e consegue entreter tanto os mais novos como até espectadores mais velhos – um feito notável, em tratando-se de um filme infantil sem grandes pretensões e de (relativamente) baixo orçamento.

Se 'DuckTales: O Filme' representou um bom começo, no entanto, o mesmo foi superado em todos os aspectos pelo 'outro' filme baseado em séries da Disney Afternoon. Lançado em Portugal no Verão de 1996, concretamente a 12 de Julho, 'Pateta: O Filme' é um 'clássico esquecido' da época áurea da Disney, que consegue compensar a falta de orçamento com uma trama bem engendrada e plena de momentos memoráveis, aos quais ajuda também a excelente dobragem portuguesa a que o filme teve direito, esta já realizada em solo nacional, por oposição ao outro lado do Atlântico.

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Tendo por base a série 'A Pandilha do Pateta', a única aparição do icónico Pateta no grande ecrã centra-se na relação conflituosa entre o mesmo e o filho, Max, aqui alguns anos mais velho do que na série original, e já em plena crise de adolescência. (Mal) aconselhado pelo eterno 'melhor inimigo' Bafo-de-Onça, Pateta procura então criar laços com o jovem da mesma forma que o seu pai tinha feito com o próprio Pateta: através de uma viagem de carro pelos Estados Unidos, com o objectivo de ir pescar. Quando Max 'inventa' uma mentira para impressionar a colega de turma de quem gosta, no entanto, os objectivos de pai e filho colidem de forma tão tocante quanto hilariante, dando azo a pouco mais de setenta minutos de peripécias, que incluem um encontro com o Pé-Grande e uma subida ao palco de um concerto, onde Pateta acaba, acidentalmente, por se tornar o centro das atenções. O resultado é um filme que merecia mais atenção, e cujos aspectos técnicos podem ter acabado por o prejudicar nesse aspecto.

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Se o 'Pateta: O Filme' original era mais que merecedor do lançamento em sala, no entanto, o mesmo não se pode dizer da sequela 'Radicalmente Pateta', lançada directamente em VHS nos primeiros meses do Novo Milénio. Apesar de uma história bastante aceitável, que vê clivar-se novamente o fosso geracional entre Pateta e Max (este agora um universitário fanático do 'skate') toda a componente técnica 'tresanda' a directo-a-vídeo, com animação muito menos fluida do que no original e um todo bem menos memorável, apesar de perfeitamente capaz de 'matar' uma hora durante uma tarde 'preguiçosa' de fim-de-semana, especialmente para fãs de Pateta.

Além destes três filmes, a única outra série a ter honras de longa-metragem foi 'Recreio', um dos baluartes da segunda fase do Clube Disney, que viu serem lançados três filmes já no século XXI; na mesma época, saíram também vários pseudo-filmes que mais não eram do que compilações de episódios falhados para séries alusivas a 'Tarzan' ou 'Atlantis', bem como duas longas-metragens directamente ligadas ao universo da série de 'Lilo e Stitch', uma das quais constituía mesmo o grande final da dita-cuja. Todos estes filmes extravasam, no entanto, a linha temporal deste 'blog' (além de nem todos terem sido lançados em Portugal) pelo que o presente 'post' se cingirá mesmo aos três acima descritos, os quais, apesar de algumas falhas aparentes, se afirmam ainda hoje como excelentes exemplos de como realizar uma longa-metragem baseada numa série, bem como formas perfeitamente viáveis de entreter crianças e adolescentes durante cerca de uma hora.

19.04.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A mistura cinematográfica de acção e aventura com toques de humor e romance foi, desde o início da História da Sétima Arte, uma das mais populares combinações entre o grande público, um paradigma que se mantém até aos dias de hoje – ou não fosse esta a fórmula-padrão para qualquer 'blockbuster' de super-heróis ou ficção científica lançado nos últimos quinze anos. Apesar deste apelo perene, no entanto, o género sofre, como qualquer outro, de 'altos e baixos' de popularidade, e o final dos anos 90 representava um dos períodos 'baixos'. O dealbar da era mais 'futurista', 'extrema' e 'radical' da História da humanidade não tinha lugar para aventuras 'à moda antiga', e a maioria dos filmes mais populares da época iam, propositadamente, na direcção contrária, apresentando estéticas sombrias e heróis sorumbáticos e sem grande apetência para interacções sociais, e menos ainda para ligações românticas - e os que não iam ou se traduziam em, na melhor das hipóteses, entradas menores nas respectivas franquias, ou, na pior, lendários 'flops' . Em meio a este paradigma, no entanto, um filme tentou 'resgatar' o clássico 'cocktail' que produzira, em décadas anteriores, mega-sucessos como a trilogia 'Indiana Jones', e acabou por dar início a, não uma, mas duas franquias distintas em décadas subsequentes.

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Falamos de 'A Múmia', um 'remake' do filme com o mesmo nome lançado pela icónica Hammer em 1932 protagonizado por Brendan Fraser e Rachel Weisz que chegava às salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos, a 16 de Abril de 1999 – curiosamente, duas semanas antes da sua estreia em solo norte-americano – e cuja toada ao estilo comédia de acção imediatamente captava o interesse da 'geração Matrix', que crescera a ver a trilogia original de Lucas e Spielberg na televisão, e acolhia de bom grado uma actualização da fórmula 'incrementada' pelos novos recursos tecnológicos. E a verdade é que o primeiro capítulo da nova franquia excedia expectativas, conseguindo 'acertar' tanto no tom leve mas intenso que caracterizara as aventuras de Indy, como também na estética 'anos 30' e até na química do par romântico, que transcende o ecrã, e que apenas se viria a destacar ainda mais na sequela. De facto, só as interpretações de Fraser e Weisz fazem com que valha a pena 'gastar' duas horas de uma noite de final de semana com o filme, ou, melhor ainda, fazer uma Sessão de Sexta dupla com a sua igualmente divertida sequela; no entanto, há muito mais do que gostar nesta nova encarnação d''A Múmia', das paisagens desérticas de Marrocos aos efeitos especiais da lendária Industrial Light & Magic, de George Lucas, passando pela trilha sonora do não menos famoso Jerry Goldsmith.

Dado o envolvimento de todos estes nomes, e a boa recepção de que gozou por todo o mundo aquando da estreia, não é de admirar que este primeiro filme da franquia tenha rapidamente tido direito a uma sequela, com o óbvio título de 'A Múmia Regressa' lançada já no Novo Milénio, e que, apesar da duvidosa adição ao elenco de personagens de um 'puto esperto' – um dos piores personagens-tipo do cinema moderno – e do infame efeito especial durante a batalha climática com o Rei Escorpião (sim, esse mesmo), consegue manter e a até superar o nível do primeiro filme, afirmando-se como um dos melhores 'filmes de família' de inícios do século XXI, e valendo bem a visualização ao lado do seu antecessor.

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Talvez o legado mais importante da sequela, no entanto, tenha sido a personagem do referido Rei Escorpião, interpretada por um lutador da WWF à época acabado de se lançar na carreira cinematográfica, e de quem ninguém esperava mais do que o fraco nível atingido por antecessores como Hulk Hogan – um tal de Dwayne Johnson, conhecido como 'The Rock', e que, em 2002, daria vida à encarnação anterior do Rei Escorpião, um guerreiro residente num mundo de 'espadas e sandálias' puramente fantástico, a remeter às velhas aventuras de Conan, o Bárbaro.

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Este filme, por sua vez, faria tal sucesso entre o público-alvo que se transformaria, ele próprio, no ponto de partida de uma franquia, que renderia nada menos do que mais quatro filmes, embora todos já sem o contributo de 'The Rock', que seria substituído por uma sucessão de lutadores da UFC com talentos dramáticos consideravelmente mais limitados. Escusado será dizer que as restantes aventuras do Rei Escorpião são tão fracas como qualquer outra continuação de baixo orçamento destinada ao mercado do vídeo e DVD, merecendo bem o esquecimento a que são hoje em dia votadas; o mesmo, no entanto, não se pode dizer do original, um filme de aventura familiar 'tão mau que é bom', e que fará certamente as delícias de um público jovem e pouco exigente.

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'A Múmia', essa, voltaria apenas mais uma vez na presente encarnação - já depois de muitos imitadores terem, sem sucesso, tentado ocupar o seu trono nos anos subsequentes - numa aventura que via Jet Li juntar-se a Fraser e Maria Bello (que substituía Weisz), no papel do Imperador Dragão, o novo vilão que o casal deve combater. Apesar de perfeitamente aceitável, no entanto, o nível desta segunda continuação ficava bastante aquém do dos originais, sendo o filme bastante 'esquecido' (porque pouco memorável) e tendo, inadvertidamente, lançado a franquia para um limbo de vários anos, do qual só um 'desastre' encabeçado por Tom Cruise a retiraria – e para muito pior...

Apesar deste desaire, no entanto, os primórdios da franquia continuam a constituir excelentes comédias de acção de índole familiar - os chamados 'filmes de família' de molde clássico – tendo sido responsáveis pela ressurreição, qual múmia do Antigo Egipto, de um género que se julgava morto e enterrado, mas que estes filmes vieram provar ainda ter 'pernas para andar' no panorama cinematográfico da viragem de Milénio. Quanto mais não seja por isso, os filmes de Stephen Sommers merecem ser recordados (e elogiados) por alturas do vigésimo-quinto aniversário da estreia do original...

29.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

No mundo do cinema comercial, qualquer filme ou propriedade que faça sucesso entre a sua demografia-alvo está, inevitavelmente, 'fadada' a transformar-se numa franquia, com tantos filmes quantos forem viáveis até os lucros começarem a diminuir. Foi assim, nos anos 80, com os filmes de terror para adolescentes, e tem sido assim, desde então, com grande parte dos filmes para crianças, tendo à cabeça a aparentemente interminável série de sequelas para 'Em Busca do Vale Encantado'. Além de Pézinho e seus amigos, no entanto, também propriedades como 'Shrek', 'Toy Story', 'O Panda do Kung Fu', 'Air Bud' (e a complementar série 'Buddies', com cachorrinhos bebés) ou 'Beethoven' tiveram direito a um sem-fim de filmes, especiais de Natal e Halloween, séries animadas e outros produtos relacionados, normalmente dirigidos à parcela 'resistente' (ou menos exigente) da base de fãs, e muitas vezes sem direito a estreia cinematográfica, sendo lançados directamente para o mercado de vídeo.

Como uma das mais conhecidas, famosas e historicamente apreciadas franquias de comédia infantis dos anos 90, não é de estranhar que 'Sozinho em Casa' tenha tido direito ao mesmo tratamento; surpreendente foi, apenas, o facto de a série ter ficado tanto tempo em 'águas de bacalhau' antes de os executivos da 20th Century Fox decidirem enveredar pelo rumo em causa. De facto, meia década medeia entre 'Sozinho em Casa 2: Perdido em Nova Iorque' (a natural sequela para o mega-sucesso que foi o original) e 'Sozinho em Casa 3', o primeiro dos 'restantes' filmes da franquia, sobre cuja estreia em Portugal se celebraram na semana transacta vinte e seis anos. E porque já vem sendo tradição deste nosso 'blog' abordar um capítulo da série por ano - e apesar de termos falhado a marca de quarto de século, tendo a nossa atenção, nessa instância, sido focada no trigésimo aniversário do segundo filme - nada melhor do que terminar este mês de Natal com uma breve análise do terceiro capítulo daquela que é, talvez, a franquia mais frequentemente associada à quadra em Portugal.

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E o primeiro aspecto a abordar ao falar de 'Sozinho em Casa 3' é o mais óbvio e, quiçá, impactante - nomeadamente, a ausência do icónico Macaulay Culkin, o qual, nos cinco anos desde a sequela directa, havia não só atingido e ultrapassado a puberdade - sendo, por isso, demasiado 'velho' para retomar o seu papel mais icónico - como também abandonado o mundo do cinema, ao qual apenas voltaria várias décadas depois; assim, apesar de o personagem principal deste terceiro filme também se chamar Kevin, o mesmo é marcadamente diferente do homónimo de Culkin, sendo mais novo, menos inocente, e de cabelo moreno, por oposição à icónica franja loira do seu antecessor. A época em que se passa o filme é, também, diferente, com o realizador Raja Gosnell (sucessor do entretanto conceituado Chris Columbus) a abandonar a ligação ao Natal e a ambientar o seu filme no tradicional período de Primavera/Verão, o que faz com que o mesmo se pareça menos com a ideia da geração 'millennial' do que deveria ser um filme da franquia 'Sozinho em Casa'.

Para além destas diferenças óbvias, no entanto, a fórmula continua a ser a mesma, com Kevin a encontrar-se, inesperadamente, 'Sozinho em Casa', e a ter de combater por si mesmo, com recurso a armas 'caseiras' e muita imaginação, bandidos que pretendem infiltrar-se no seu lar - no caso, para roubar um 'chip' informático acidentalmente escondido no carro telecomandado de Alex. Um enredo que procura recuperar a atmosfera do original, mas que acaba por ser prejudicado por certos toques de ambição desnecessários (os bandidos, por exemplo, são agora terroristas internacionais, ao invés de simples assaltantes de casas oportunistas) e que, apesar do envolvimento do histórico John Hughes, não consegue atingir o mesmo nível dos seus antecessores, fazendo desta terceira parte um notório 'passo atrás' em termos de qualidade e apelo familiar. De facto, ao contrário do que sucedia com os dois primeiros, 'Sozinho em Casa 3' é, declaradamente, um filme para crianças, do qual adultos ou até jovens um pouco mais velhos retirarão muito pouco; o foco é posto (ainda) mais na comédia física, e a vertente sentimental que ancorava os dois primeiros fica quase totalmente de lado, tornando a 'parte três' um daqueles filmes algo 'parvos' de que apenas um público muito jovem consegue gostar.

Ainda assim, e apesar das diferenças e 'fraquezas' assinaladas, 'Sozinho em Casa 3' conseguiu atingir moderado sucesso comercial, granjeando cerca de duas vezes e meia o seu orçamento - uma vantagem algo duvidosa, já que levou à produção, já no Novo Milénio, de mais dois filmes ainda mais fracos, e de projecção e impacto praticamente nulos (como referência, enquanto 'Sozinho em Casa 3' ainda saiu no cinema, a quarta e quinta partes foram...telefilmes). No entanto, enquanto produtos da década de 2000, ambas essas sequelas (bem como o inenarrável 'remake' criado já na presente década) ficam (felizmente) fora da jurisdição deste nosso 'blog', permitindo-nos finalizar este 'trio' de artigos sobre a franquia numa nota, ainda assim, relativamente positiva, mesmo que distante dos 'tempos áureos' em que Culkin fizera as delícias de toda uma geração com a sua 'tortura' semi-acidental de dois desafortunados ladrões...

16.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 15 de Dezembro de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O facto de, hoje em dia, quase todos os filmes surgirem em cinemas um pouco por todo o globo ao mesmo tempo, em estreia mundial, pode fazer esquecer que, nos anos 90, passava-se precisamente o contrário, podendo a mesma película estrea em dois países adjacentes com várias semanas ou até meses de atraso. Na maioria dos casos, esta 'décalage' não ultrapassava alguns dias, mas chegava a haver casos extremos em que certos filmes estreavam em determinadas regiões com intervalos absurdos - como no caso de 'Sozinho em Casa', que, em Portugal, estreou quase exactamente um ano após o seu aparecimento nos EUA. E embora esse mesmo filme tenha, ainda assim, surgido na época natalícia, pese embora o atraso, outros havia que o fenómeno em causa 'empurrava' para alturas descabidas e algo aleatórias, retirando-lhe parte da potencial audiência que pudesse ter tido interesse na época certa do ano. Foi o caso do filme abordado nesta Sessão de Sexta, o qual, apesar de ter completado na semana que ora finda trinta anos sobre a sua estreia, seria muito mais adequado para exibição em finais de Outubro ou inícios de Novembro, na época do Halloween.

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Falamos de 'A Família Addams 2', ou 'Addams Family Values', sequela da popular película de 1991 sobre uma família algo 'monstruosa', a qual, por sua vez, adaptava a banda desenhada de Charles Addams, E a verdade é que, talvez previsivelmente, muitos dos elementos que garantiram o sucesso dessa primeira empreitada voltam a surgir neste segundo filme, do icónico elenco com Raul Julia, Anjelica Huston, Christopher Lloyd ou Christina Ricci à atmosfera declaradamente arrepiante em que os seus personagens desenvolvem as suas vida - uma receita que funcionaria ainda melhor não tivesse o filme estreado em plena 'marcha' para o Natal, já longe do clima de abóboras, morcegos e casas assombradas dos dois meses anteriores. Sob as iluminações com motivos de Pais Natais, velinhas e bolas para a árvore, a família titular do filme parecia mais deslocada do que assustadora, sendo este daqueles casos em que um intervalo algo excessivo para colocar o filme em sala terá impedido a facturação de uma parcela significativa de receitas.

Ainda assim, quem se deu ao trabalho de ir ver o filme naquela 'recta final' do ano de 1993 certamente não terá ficado desapontado, já que, conforme acima referido, o filme oferece 'mais do mesmo' ao nível do humor, interpretações e mesmo história, além de adicionar mais um nome de talento ao elenco, no caso Joan Cusack, no papel da noiva 'interesseira' (e assassina) do Fester Addams de Christopher Lloyd. As diferenças ficam por conta de um tom mais negro e menos abertamente cómico, que torna 'Família Addams 2' um filme mais 'adulto' do que o seu antecessor, e que o ajudou a ser melhor recebido pela crítica do que este, embora o desempenho em bilheteira tenha sido inferior. No entanto, numa época da História em que o visionamento de um filme não fica confinado ou limitado pela presença do mesmo em sala ou na televisão, 'Addams 2' encaixa muito melhor como filme de Halloween, em formato de 'maratona' com o primeiro e com os dois 'remakes' animados, numa estratégia que permite ignorar o facto de esta sequela ter estreado no nosso País no incongruente mês de Dezembro...

01.12.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 90 estiveram entre as décadas mais pródigas no que a filmes de família diz respeito. Senão, veja-se: o início da década viu serem lançados clássicos como 'O Meu Primeiro Beijo', 'Voando P'ra Casa', 'Beethoven', 'Sozinho em Casa', 'Papá Para Sempre', 'Três Bruxas Loucas', 'Hook' e 'Um Porquinho Chamado Babe', bem como vários dos melhores filmes da Disney, enquanto que os últimos anos antes da viragem do Milénio viram surgir a sequela do referido 'Babe', 'Pequenos Guerreiros', 'Anastasia', 'Matilda a Espalha-Brasas' ou a adaptação em 'acção real' d''Os 101 Dálmatas', além de ainda mais clássicos intemporais da chamada 'Renascença Disney'. A esta ilustre lista, há ainda que juntar um filme que comemora dentro de poucos dias vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, e que, certamente, terá marcado a infância de muitos dos membros mais novos da geração 'millennial'.

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Trata-se de 'Pai Para Ti...Mãe Para Mim', um daqueles títulos desnecessariamente longos e complexos para um filme que, no original, se chamava simplesmente 'The Parent Trap'. Estreada em Portugal a 11 de Dezembro de 1998, esta actualização do filme do mesmo nome originalmente produzido em 1961 é, hoje em dia, famosa por ter servido de 'rampa de lançamento' para a carreira de uma tal Lindsay Lohan, que, na década seguinte, se tornaria presença frequente nas páginas dos tablóides e imprensa 'cor-de-rosa'. Em 1998, no entanto, a jovem actriz contava apenas doze anos, surgindo ainda com a inocência e charme infantil intactos, no papel de duas gémeas fisicamente idênticas, mas de personalidades opostas, que concebem um plano para evitar que os pais se separem, dando azo às habituais confusões e peripécias típicas deste género de filme.

E se Lohan era mesmo o principal foco de interesse para o público-alvo, já os espectadores adultos podiam apreciar as interpretações de Dennis Quaid e Natasha Richardson como pais das meninas, as quais podem ajudar a aliviar um pouco o tédio que, inevitavelmente, se abate sobre esta demografia ao assistir a filmes infantis – categoria na qual 'Pai Para Mim...' definitivamente se insere. De facto, este é um daqueles filmes em que um adulto sem filhos dificilmente terá interesse, sendo que mesmo os mais jovens apenas o revisitarão por questões mais nostálgicas. Para quem tem a cargo crianças da idade apropriada, no entanto, 'Pai Para Mim...' pode constituir uma interessante 'descoberta', e introduzir alguma variedade na infinita rotação de 'Frozen', 'Encanto', 'Carros' e 'Homem-Aranha'...

17.11.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos géneros cinematográficos e televisivos mais frequentemente associados com os anos 90 é o do humor escatológico e politicamente incorrecto. Se, nos anos 80, Hollywood se tinha tornado obcecada com as experiências recreativas e sensuais de personagens adolescentes, na década seguinte, foram as funções corporais que mais foco tiveram nas suas produções, algumas das quais herdavam moldes oitentistas e os actualizavam com ainda mais piadas, literalmente, porcas (como 'American Pie – A Primeira Vez') enquanto que outros aplicavam essa fórmula a géneros, à primeira vista, incompatíveis com o mesmo, como as comédias românticas.

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O filme desta Sexta como parte da colecção de VHS da TV Guia, já no século XXI.

Talvez o mais famoso e bem-conseguido exemplo desta última categoria estreava em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos (no penúltimo dia de Outubro de 1998) e viria a afirmar-se como um sucesso não só durante a sua exibição original como também em décadas subsequentes, nas quais continuou em alta rotação no mercado de vídeo e DVD, bem como na televisão, e reteve a sua relevância no contexto de conversas sobre cinema. Falamos de 'Doidos Por Mary', o filme mais conhecido por incluir uma cena em que, durante um jantar romântico, a personagem principal aplica o que pensa ser gel no cabelo, passando as cenas seguintes com um penteado tão estranho como icónico.

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A cena que imortalizou e catapultou a película dos irmãos Farrelly.

Há, no entanto, mais atractivos do que apenas uma piada bem conseguida no filme dos irmãos Farrelly, eles próprios mestres do estilo escatológico, ou 'gross-out'. Isto porque, em meio a todas as piadas sobre fluidos usados de forma mais do que indevida, o filme traz uma mensagem até algo feminista, em que os personagens mais abertamente misóginos ou machistas (ou mesmo apenas falsos) são prontamente desmascarados, e sofrem as consequências pelas suas acções, sendo o personagem mais genuíno e honesto, ainda que menos atraente ou atractivo (o Ted de Ben Stiller), o escolhido pela titular Mary, um dos papéis mais icónicos da lindíssima Cameron Diaz, uma beldade sem medo de gozar consigo própria, como bem o comprova a cena acima descrita.

É, precisamente, esse balanço entre piadas hilariantemente absurdas (nem todas escatológicas – também há aqui alguns óptimos diálogos) e uma vertente mais honestamente sentimental que ajuda a tornar 'Doidos Por Mary' um clássico num campo sobrepovoado, mas em que a maioria dos filmes têm dificuldade em gerir esta dicotomia; como tal, e ainda que nem tudo tenha 'envelhecido' bem no filme dos Farrelly, o mesmo continua a ser uma excelente escolha para ver com os amigos ou familiares, acompanhado de bebidas e aperitivos, ou mesmo como Sessão de Sexta em conjunto com um parceiro com tanto sentido de humor quanto a personagem feminina – pela qual é bem possível que fiquem, também eles, 'Doidos'...

 

03.11.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A década de 90 é unanimemente reconhecida, hoje, como um dos melhores períodos para o cinema de animação; afinal, foi nesse período de dez anos no final do século XX que se verificaram a chamada 'Renascença' dos estúdios Disney (que produziriam uma série de filmes ainda hoje icónicos e míticos, ao ritmo de um por ano, durante a grande maioria dos anos 90), a ponta final do período áureo de Don Bluth (iniciado na década anterior), o surgimento da Dreamworks como grande potência dentro do meio e, talvez mais significativamente, o nascimento da animação 3D, pela mão da inovadora Pixar, que, em tempo, aqui terá o seu espaço.

E se não eram muitos os que, à época arriscavam apostar nessa nova tecnologia – que conjugava a falta de créditos firmados com o preço exorbitante, numa combinação muito pouco apelativa – a verdade é que a referida Dreamworks resolveu mesmo dar esse 'salto', e seguir nas passadas da concorrente associada à Disney; e embora viesse a ser na década seguinte que a companhia de Jeffrey Katzenberg verdadeiramente 'abraçaria' a tecnologia, os anos 90 deixaram, ainda, pelo menos um exemplo de animação 3D criada pela mesma, o qual celebra dentro de poucos dias (a 6 de Novembro) um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

Trata-se de 'Antz', que em Portugal levou o título de 'Formiga Z', conseguindo a proeza de, ao mesmo tempo, perder o trocadilho original e acabar por criar um novo. Isto porque o protagonista do filme se chama, precisamente, Z, dando ao título português um cariz biográfico que o original não tinha, e que se conjuga bem com o enredo do filme, que se centra precisamente sobre a crise existencial vivida pela referida formiga, e pelas suas tentativas falhadas de escapar da sociedade totalitária e ditatorial que habita, e de ganhar a mão da princesa das formigas.

Esta sinopse é, por si só, suficiente para dar a perceber o principal atractivo de 'Formiga Z' – nomeadamente, o facto de ser uma resposta adulta e sardónica ao que a rival Pixar vinha fazendo, e especificamente ao segundo filme da companhia, 'Uma Vida de Insecto', estreado no mesmo ano nos EUA mas que, paradoxalmente, viria a chegar a Portugal apenas quatro meses depois, já no início de 1999. Assim, o primeiro 'filme de formigas' para muitas crianças da época terá sido aquele em que uma formiga com a voz (no original) e atitude de Woody Allen discute temas sérios e adultos com o seu melhor amigo, o típico personagem 'brutamontes', que na versão original conta com a voz de Sylvester Stallone – uma experiência, diga-se, absolutamente incomum, numa era em que a Dreamworks ainda era mais conhecida pelos seus épicos pseudo-Disneyanos do que pelas comédias subversivas que a tornariam famosa na década e século seguintes.

Talvez por isso 'Formiga Z' tenha sido, e continue a ser, um filme polarizante, tanto entre os críticos como junto do público, que (pelo menos à época) esperava 'mais um' filme animado para 'matar' hora e meia com os pequenotes no cinema, e se deparava com uma espécie de versão animada das comédias negras realizadas e protagonizadas por Allen; a verdade, no entanto, é que apesar de 'Uma Vida de Insecto' ser vastamente superior do ponto de vista técnico, este talvez seja o mais interessante dos dois 'filmes de formigas', ainda que passe longe de constituir uma obra-prima. Talvez mais relevante seja a possibilidade de este filme ter encorajado a Dreamworks a prosseguir a via da animação 3D, a qual, três anos depois, lhe daria o filme (e franquia) com o qual é ainda hoje sinónima; por outras palavras, sem 'Formiga Z' talvez não tivesse havido 'Shrek'. Quanto mais não seja por isso, esta primeira 'aventura' da Dreamworks por terrenos 3D merece destaque, quando se assinala um quarto de século sobre a sua estreia nos ecrãs nacionais.

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