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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.06.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 20 de Junho de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O início dos anos 90 viram ter lugar uma mudança de paradigma no tocante ao produto cinematográfico de Hollywood, em mais do que uma vertente. Para além das mudanças na apresentação e estética dos filmes considerados 'blockbusters', assistiu-se também a um influxo de realizadores estrangeiros – nomeadamente asiáticos e europeus – que trouxeram consigo as influências do cinema dos seus respectivos países e regiões, incorporando nos seus filmes elementos estilísticos e temáticos a que os espectadores norte-americanos não estavam necessariamente habituados, e estabelecendo assim uma reputação como criadores de 'cinema de autor' que, ao mesmo tempo, conseguia ser bem aceite pelas massas. E se John Woo e seus comparsas se centravam sobretudo no estilo, com recurso à câmara lenta e inclusão de simbologia visual, o contingente europeu preferia destacar-se pela inclusão de temáticas humanistas e filosóficas naquilo que, regra geral, seria apenas 'mais um' filme de acção ou suspense. Um dos melhores exemplos desta abordagem estreou nas salas de cinema nacionais há pouco mais de trinta anos (a 28 de Abril de 1995) e granjeou imediatamente o estatuto de obra de culto para amantes de 'thrillers' mais cerebrais e menos imediatistas.

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Falamos de 'Léon – O Profissional', o 'thriller' responsável por lançar em Hollywood não só os seus dois actores principais – o francês Jean Reno e uma jovem Natalie Portman, para quem este era o primeiro papel cinematográfico – como também o seu realizador, Luc Besson, que rapidamente ficaria conhecido como um dos melhores 'balanceadores' de estilo e conteúdo do período em causa. E a verdade é que essas qualidades ficam bem vincadas neste filme, que, apesar de longe dos excessos visuais de 'O Quinto Elemento' e outros filmes do realizador, tem um estilo visual próprio, que complementa uma trama centrada, não em tiros e cenas de acção, mas no relacionamento do titular assassino a soldo com a menina que resgata após a morte dos pais – um elemento que Reno e, sobretudo, Portman (em extraordinária actuação para uma criança de apenas 13 anos e sem qualquer experiência no ramo) conseguem transmitir de forma exímia, dando ao filme um 'centro' emocional que muitas outras obras do estilo nunca chegam a almejar.

Não admira, pois, que 'Léon – O Profissional' seja ainda hoje alvo de elogios por parte da crítica especializada, e conste das listas de favoritos de muitos cinéfilos (nacionais e não só) com preferência por filmes com alguma 'substância' a ancorar os momentos de emoção e acção. Mais – nas três décadas subsequentes, o filme quase não 'envelheceu', quer do ponto de vista visual quer a nível do enredo e temáticas, continuando a constituir uma excelente base para uma Sessão de Sexta, e a justificar algumas breves linhas a seu respeito neste nosso 'blog' nostálgico.

06.06.25

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Na última edição desta rubrica, celebrámos os trinta anos da estreia nacional de 'Lendas de Paixão', um dos filmes que ajudaram a consagrar Brad Pitt enquanto actor principal. Nessa ocasião, mencionámos também um projecto anterior do galã, tão ambicioso e bem-recebido quanto aquele, e em que havia sido dirigido por Robert Redford; nada melhor, portanto, do que nos debruçarmos agora sobre esse filme.

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Produzido em 1992 e adaptado da obra semi-autobiográfica de Norman McLean, 'Duas Vidas e o Rio' (no original, 'A River Runs Through It') traz Pitt no papel do mais novo dos dois filhos de um pregador presbiteriano do Montana rural, no caso o mais rebelde, por oposição ao irmão mais sensato (e autor da obra que serve de base ao filme), interpretado por Craig Shaeffer. O principal fio condutor da relação dos dois, tanto entre si como com o pai – que o filme explora ao longo de um período de cerca de trinta anos – é o gosto pela pesca, que levam a cabo no titular rio que passa perto da sua propriedade.

Como a sinopse dá a entender, trata-se de um filme minimalista, centrado nos relacionamentos dos três protagonistas, e contado num ritmo deliberado – uma descrição algo antagónica aos 'blockbusters' tanto da época como da actualidade, que privilegiam a acção, mas que permite a Pitt mostrar todas as qualidades que já nessa época possuía, ob a tutela de um antigo actor (e realizador mais que competente) como o é Redford. De facto, trata-se de um de uma série de papéis que o jovem actor aceitava na esperança de mostrar ser mais do que uma 'cara bonita' – o que, infelizmente, não impediria totalmente a sua estigmatização como sendo isso mesmo, a par do contemporâneo Leonardo DiCaprio, com quem rivalizava nos corações das adolescentes de então, e que aceitara já, ele próprio, projectos mais personalizados, como sejam 'Gilbert Grape' e 'A Vida Deste Rapaz'. Quanto a Pitt, partiria deste filme para 'Lendas de Paixão' e, daí, para uma carreira, em larga medida, bem menos 'comercial' do que poderia parecer à primeira vista, com filmes como 'Clube de Combate' e 'Seven – Sete Pecados Mortais' a sobreporem-se às inevitáveis comédias românticas n sua filmografia. Foi com 'Duas Vidas e Um Rio', no entanto, que Pitt principiou a delinear o 'caminho' que o tornaria numa das maiores estrelas de Hollywood, o que constitui razão suficiente para dedicarmos umas breves linhas a este excelente filme.

29.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 28 de Março de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Como um dos escritores mais populares e prolíferos da era moderna, não é de espantar que Stephen King tenha visto a grande maioria da sua obra ser adaptada ao formato cinematográfico; mais surpreendente é verificar que, apesar da qualidade invariavelmente elevada dos contos do escritor, a referida obra se pauta pela irregularidade, com quase tantos filmes 'de culto' ou declaradamente maus quanto obras-primas imortais. De facto, basta um olhar de relance à filmografia do escritor para perceber que, para cada 'Carrie', 'Shining', 'Conta Comigo', 'Misery – O Capítulo Final' ou 'It – Capítulo I' (ou mesmo um 'Cujo' ou 'Cemitério Vivo') existe um 'Potência Máxima', 'Os Estranhos' ou 'A Torre Negra'. Ainda assim, no tempo presente, o saldo geral pauta-se, ainda, pela positiva, muito por conta de filmes como os dois que abordamos nas próximas linhas – curiosamente, ambos dirigidos pelo mesmo realizador, afectos à mesma temática, considerados obras-primas do seu tempo, e com estreias nacionais separadas por exactamente cinco anos, e com 'aniversários' marcantes no início da próxima semana.

De facto, os dias 31 de Março tanto do ano de 1995 como do ano 2000 veriam chegar às salas de cinema nacionais um filme adaptado de um romance de Stephen King, ambientado numa prisão, e com interpretações merecedoras de elogios e prémios, nomeadamente Óscares (sete para um e quatro para outro, tendo ambos ganho o de Melhor Filme); primeiro 'Os Condenados de Shawshank', com Tim Robbins e Morgan Freeman, e depois 'À Espera de Um Milagre', com Tom Hanks, Sam Rockwell e o malogrado Michael Clarke Duncan. Ambos continuam, três décadas e duas décadas e meia (respectivamente) após o seu lançamento, a afirmar-se como de visualização obrigatória para fãs do género, fazendo assim por merecer as breves linhas que aqui lhes dedicamos.

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Sobre 'Os Condenados de Shawshank', pouco mais há a dizer do que aquilo que tanto a imprensa especializada como o próprio público já sabe – nomeadamente, que se trata de um dos melhores filmes sobre prisões de todos os tempos, com interpretações magistrais de ambos os seus actores principais e muitos momentos memoráveis. Adaptação fiel do conto original (curiosamente, publicado na mesma compilação de onde saiu 'O Corpo', a inspiração para 'Conta Comigo', e dois outros contos que dariam ambos origem a filmes), a película de Frank Darabont narra os esforços do padeiro Andy Dufresne e do velho 'Red' Ellis para escaparem da prisão – mediante um buraco escavado por trás de um 'poster' da actriz Rita Hayworth – e dos laços de amizade que se criam entre os dois homens (e também alguns outros reclusos) como resultado da experiência modificadora que vivem. Uma temática que facilmente poderia cair no facilitismo da 'lamechice' ou da acção pseudo-profunda, mas que prefere (e bem) focar-se no aspecto humano, oferecendo uma perspectiva multifacetada que realça tanto a tragédia da vida prisonal como o humor que os próprios reclusos conseguem nela injectar. O resultado é, como já acima apontámos, um filme absolutamente essencial para qualquer cinéfilo, e que pouco ou nada envelheceu nas quase exactas três décadas desde a sua estreia.

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Não contente com uma obra-prima no seu portefólio, no entanto, Darabont voltaria a penetrar no 'filão' Stephen King cinco anos depois, para trazer ao grande ecrã um dos melhores livros do escritor, 'The Green Mile'. O resultado, que em Português se chamou 'À Espera de Um Milagre', trazia os mesmos ingredientes que haviam feito sucesso em 'Shawshank' – as interpretações marcadamente humanas, a abordagem complexa aos temas do enredo, e o foco nas pequenas situações e 'nuances' dos protagonistas – os quais, previsivelmente, voltaram a resultar num 'cozinhado apetitoso' para qualquer cinéfilo. E se, em 'Shawshank', não havia uma interpretação a destacar, por todas serem magníficas (embora tenha sido Freeman a ganhar o Óscar de Melhor Actor Principal), aqui o realce vai todinho para Michael Clarke Duncan, que, no papel do injustamente condenado John Coffey, terá feito lacrimejar em pleno cinema muitos 'homens feitos' - efeito que, aliás, continua a surtir até aos dias de hoje. E com razão, já que o seu desempenho de um personagem complexo e difícil é magistral, daquelas em que o actor se 'perde' no personagem ao ponto de fazer o espectador esquecer que se trata de um filme. Para seu crédito, o habitualmente 'canastrão' Tom Hanks e o previsivelmente excelente (e levemente tresloucado) Sam Rockwell ajudam a manter alto o nível geral de interpretação, mas é Duncan a verdadeira 'estrela', devendo a sua actuação servir, por si só, de incentivo para quem desconheça este magnífico filme, tendo-lhe merecidamente valido o Óscar de Melhor Actor Secundário na cerimónia desse ano.

Em suma, dois filmes com muito mais em comum do que apenas a data de estreia em Portugal, mas que essa e outras coincidências não poderiam deixar de 'fadar' a um 'post' conjunto, a poucos dias da data dos trigésimo e vigésimo-quinto aniversários da referida efeméride.

01.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A psique humana, com as suas diversas 'nuances' e desvios, sempre serviu como uma das melhores fontes para material artístico – fosse ele literário, musical ou cinematográfico – não tendo o final do século XX sido, de todo, excepção a esta regra. Antes pelo contrário, só no mundo do cinema, a última década do Segundo Milénio viu serem produzidos uma série de clássicos dentro do género do 'thriller' psicológico, de 'Se7en – Sete Pecados Mortais' a 'Clube de Combate'. 'Conhece Joe Black?' ou ao filme que abordamos nesta Sessão de Sexta, no final da semana em que se comemoram os vinte e cinco anos da sua estreia nas salas de cinema portuguesas, a 28 de Janeiro de 2000.

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Com a sua complexa e difícil temática em torno da obsessão e de outros impulsos menos desejáveis do subconsciente humano, 'Beleza Americana' está longe de ser o tipo de filme que apele à juventude, normalmente mais virada para tramas de acção, ficção científica ou comédia; no entanto, a presença da bela Mena Suvari – à época em alta entre a demografia juvenil, após a sua participação em 'American Pie – A Primeira Vez' – como parte de uma dupla de protagonistas adolescentes levou muitos menores de idade às salas de cinema para ver a longa-metragem de estreia do hoje conceituado Sam Mendes, acabando os mesmos por ter uma experiência, quiçá, algo distinta do esperado.

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Mira Sorvino e Kevin Spacey na cena mais icónica do filme.

Ainda assim, apesar da primeira impressão algo 'enganosa', qualquer pessoa que tenha visto 'Beleza Americana' terá pouco que apontar à reputação do filme, que merece largamente os elogios críticos que então lhe foram dispensados, bem como os galardões que amealhou – a saber, três Globos de Ouro (incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento) e nada menos do que seis Óscares, incluindo as três categorias principais – Melhor Filme, Actor e Actriz – e ainda as relativas à cinematografia, música e edição de imagem, o que, na era pré-'Senhor dos Anéis', representava um consenso e domínio crítico poucas vezes visto em tais cerimónias.

Não é, pois, de espantar que a película de Mendes se tenha rapidamente afirmado como um dos muitos 'clássicos' estreados num dos melhores anos da História do cinema moderno – um estatuto que continua a merecer mesmo após um quarto de século, e um sem-número de mudanças no paradigma cinematográfico, talvez pela ausência de efeitos especiais e outros 'truques' que acelerem o seu envelhecimento, ou talvez apenas pela qualidade de execução que apresenta em todos os seus aspectos. Um candidato mais que merecedor, portanto, a uma das nossas 'celebrações' retrospectivas, poucos dias após o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nacional.

19.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

'Eu vejo pessoas mortas.' Nos primeiros meses do Século XXI e do Terceiro Milénio, esta frase (ou alguma variação da mesma) era praticamente inescapável, sendo reproduzida, referenciada ou parodiada nos mais diversos meios e veículos de comunicação, sobretudo os de índole humorística, podendo facilmente inserir-se no restrito grupo de elementos mediáticos que constituíam 'memes' mais de uma década antes de esse termo ser criado ou penetrar na cultura popular. No entanto, toda esta exposição mediática acabava por constituir uma 'faca de dois gumes', já que o foco exclusivo nessa única linha de diálogo acabava por quase eclipsar a criação mediática da qual era proveniente – nomeadamente, um dos maiores (e melhores) filmes da viragem do Milénio.

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Estreado nas salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos (a 14 de Janeiro de 2000, menos de duas semanas após o início do novo ano, século e Milénio), 'O Sexto Sentido' conseguia a proeza de fazer da sua estrela principal o elemento menos falado e elogiado da sua produção, recaindo as atenções quase exclusivamente nos dois nomes que ajudou a lançar, a saber, o realizador indo-americano M. Night Shyamalan e a 'mini-estrela' Haley Joel Osment, então com apenas onze anos, cuja personagem (uma criança com poderes psíquicos) era responsável pela famosa linha que ainda hoje simboliza o filme. E a verdade é que, ainda mais do que Bruce Willis (o referido actor principal, aqui em interpretação incaracteristicamente subtil e cheia de 'nuances') ambos estes nomes mereciam plenamente a aclamação de que eram alvo, o primeiro pela realização acima da média e inesperada conclusão do argumento, e o segundo por uma prestação muito acima da de outros actores da sua idade, ficando famosa a comparação entre esta sua actuação e a de Jake Lloyd como Anakin Skywalker em 'Guerra das Estrelas Episódio I – A Ameaça Fantasma', alguns meses antes. E embora ambos ficassem aquém do seu potencial em termos de carreira - com Shyamalan a revelar rapidamente ter apenas um único truque na manga (as conclusões cada vez menos inesperadas) e Osment a deixar o Mundo do cinema poucos anos depois, ainda adolescente - neste seu filme de estreia em particular, ambos pareciam ter pela frente futuros auspiciosos nas suas respectivas profissões.

Foi, portanto, sem surpresas que o público cinéfilo (português e não só) viu 'O Sexto Sentido' tornar-se num dos maiores sucessos daquele primeiro ano do 'novo calendário', e inscrever o seu nome na História do cinema como um dos 'clássicos modernos' do género 'thriller' psicológico. E ainda que, hoje em dia, o mesmo seja lembrado sobretudo graças 'àquela' frase (e às suas incontáveis paródias) não restam dúvidas de que se trata mesmo de um filme acima da média, merecedor de toda a atenção que mereceu aquando do seu lançamento, e também da homenagem que ora lhe prestamos, no final da semana em que se celebra um exacto quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

22.11.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os últimos anos do século XX foram palco de uma das periódicas, mas nem sempre perceptíveis mudanças de paradigma no tocante a filmes dirigidos a um público alargado, que viu os 'blockbusters' leves e divertidos e dramalhões sisudos de meados da década darem, progressivamente, lugar a filmes que amalgamavam os dois géneros, conseguindo a proeza de ser declaradamente comerciais e, ao mesmo tempo, ter alguma substância, além de apresentarem um tom consideravelmente mais sério do que muitos dos seus antecessores. Este novo paradigma ficava muitíssimo bem ilustrado em filmes como 'Matrix', 'Equilibrium', 'O Projecto Blair Witch', 'O Sexto Sentido', 'Homem Na Lua' ou o filme de que falamos neste post, sobre cuja estreia em Portugal se comemoraram há cerca de dez dias os vinte e cinco anos; e porque essa data coincidiu com a pausa para 'recarregar baterias' deste nosso 'blog', nada melhor do que aproveitar esta oportunidade para rectificar esse erro, e falar de 'Clube de Combate'.

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Ainda hoje conceituado e desanimadoramente actual, o clássico de David Fincher – baseado num não menos clássico livro do autor de culto Chuck Palahniuk – 'aterrava' nas salas de cinema a 12 de Novembro de 1999, a tempo de injectar uma dose considerável de psicose e trauma psicológico ao normalmente 'leve' mercado cinematográfico de Natal. Com os papéis principais divididos entre Edward Norton – do não menos perturbante 'América Proibida' – e Brad Pitt – em plena fase de afirmação como actor 'sério', após a excelente prestação em 'Seven – Sete Pecados Mortais' – com a 'ajuda' da especialista em personagens psicologicamente desequilibradas, Helena Bonham Carter, o filme afirmava-se desde logo como desafiante devido à longa duração. De facto, numa época em que a maioria dos filmes se cingia ainda à marca das duas horas, Fincher 'esticava' a história de Tyler Durden, do seu 'comparsa' no titular Clube de Luta (do qual nunca se sabe o nome) e da disfuncional namorada deste, Marla Singer, a quase duas horas e meia, as quais permitiam explorar cada recôndito das psicoses dos três personagens, a caminho de uma das mais clássicas 'reviravoltas' da História do cinema, poucos meses antes de 'O Sexto Sentido' ter definido o novo padrão para as mesmas.

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O icónico duo de protagonistas do filme.

O resultado é um filme declaradamente e propositalmente pesado, mas cuja exploração de problemas psicológicos, violência explícita (geradora, à época, de enorme controvérsia) e 'frases de efeito' marcantes não podiam deixar de agradar ao sector mais velho da geração 'millennial' (bem como aos 'X' mais novos), os quais acorreram aos cinemas naquele mês de Novembro, para ajudar a tornar o filme de Fincher num sucesso de bilheteiras tão grande em Portugal como o fôra no resto do Mundo, e fazer dele um dos filmes mais memoráveis de um ano já de si recheado de êxitos que se viriam a afirmar mais ou menos intemporais. E ainda que 'Clube de Combate' talvez não seja o maior destes – 1999 foi, afinal de contas, o ano de lançamento de 'Matrix', 'O Projecto Blair Witch', 'O Sexto Sentido', 'American Pie' ou 'Notting Hill', entre outros – o filme de David Fincher merece ainda assim, sem qualquer dúvida, um lugar nesse panteão, como uma das obras contemporâneas que melhor balanceia a seriedade do cinema independente com elementos de 'blockbuster', na única época da História da Sétima Arte em que essa combinação poderia almejar sucesso generalizado.

12.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Uma das primeiras Saídas de Sábado deste nosso blog foi ao cinema, para recordar a experiência de ir, com os pais ou amigos, ver um filme 'da moda' numa sala de bairro, ou num dos muitos 'multiplexes' que iam surgindo por esse País fora, como parte integrante dos 'shopping centers' que se vinham, também eles, espalhando pelo território continental. No entanto, havia ainda uma terceira categoria de cinema – e segundo tipo de filme – não contemplados por esse primeiro artigo; é, precisamente, essa mesma categoria que iremos abordar nesta Sessão de Sexta, a qual terá um cariz algo mais intelectual do que de costume. Isto porque, esta Sexta, recordaremos as mostras e ciclos de cinema independente, prática corrente dos anos 90 e 2000 que, como tantas outras abordadas nestas páginas, tem vindo progressivamente a perder fôlego ao longo dos últimos quinze anos, mas que fez as delícias de duas gerações de jovens cinéfilos portugueses, apresentando-lhes filmes aos quais, de outra forma, não teriam necessariamente acesso na era pré-serviços de 'streaming'.

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A Medeia Filmes foi uma das principais distribuidoras de cinema independente e de autor em Portugal.

De facto, numa época em que eram poucos e selectos os lançamentos em VHS (e mesmo, mais tarde, em DVD) estes ciclos temáticos ou exibições num número limitado de salas mais pequenas eram a única forma de contacto com um certo tipo de cinema mais 'de autor', mais condicente com um clima mais sério e introspectivo do que com as pipocas e música-ambiente das salas de 'shopping'. Certos cinemas mais históricos ou menos centrais das grandes capitais (e não só) faziam mesmo da exibição deste tipo de filme o seu principal factor distintivo, destacando-se orgulhosamente das salas mais 'comerciais' e apelando abertamente a um público mais cinéfilo, como era o caso, entre outros, dos cinemas King ou Star, ambos na zona de Roma/Alvalade, em Lisboa. E embora o advento do Novo Milénio, a chegada do DVD e a considerável expansão no volume e cariz dos lançamentos disponíveis em edição nacional tenham, inevitavelmente, causado uma mudança no teor deste tipo de iniciativa, a mesma gozou, ainda, de mais uma década de enorme visibilidade, com as salas e cinematecas a aproveitarem as potencialidades do novo formato, muitas vezes exibindo o filme directamente a partir do mesmo.

Ainda assim, estes espaços mais pequenos viram-se incapazes de travar o progressivo avanço dos mega-cinemas comerciais, e a organização de ciclos e mostras de cinema passou, progressivamente, para o domínio das associações privadas, universidades, e outros espaços semelhantes, onde se mantém até aos dias de hoje, tendo a maioria das salas conhecidas por mostrarem filmes 'alternativos' soçobrado ao inevitável domínio dos filmes da Disney, Marvel, Star Wars e outros 'blockbusters' semelhantes. Os cinéfilos da Geração Z vêem-se, assim, obrigados a recorrer à Internet (ou às colecções de filmes dos pais) para conhecerem alguns dos mesmos clássicos que os seus antecessores tiveram o privilégio de ver em ecrã gigante, numa qualquer sala ao fundo de umas escadas ou na divisão do fundo de um centro comercial de bairro, vinte ou trinta anos antes...

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