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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

07.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 06 de Setembro de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Numa era em que os 'remakes' e 'reboots' se contam entre os géneros de filme mais produtivos em Hollywood e não só, e em que todas as maiores propriedades nostálgicas já viram ser-lhes aplicado tal tratamento, não é de admirar que toque a vez a franquias e personagens menos lembrados, ou com estatuto de culto. O mais recente exemplo desta mesma tendência estreou em Portugal há cerca de duas semanas, pouco mais de trinta anos após o original que o inspirou, e ao qual presta homenagem; e visto que tal data recaiu durante o período de férias do Anos 90, nada melhor do que aproveitar esta primeira Sessão após o hiato para recordar, oportunamente, esse primeiro filme, enquanto o seu sucessor ainda se encontra em cartaz nas salas lusitanas.

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Chegado ao nosso País em pleno Verão de 1994 – estreou a 15 de Julho – a primeira adaptação oficial da banda desenhada 'The Crow' trazia um ambiente tudo menos estival, fielmente passado das páginas do material de base para o grande ecrã. Talvez por isso 'O Corvo' tenha rapidamente assumido contornos de culto entre as franjas mais alternativas da sociedade, com especial incidência nos movimentos gótico e 'heavy metal', para quem a estética sombria e narrativa de tendências poéticas eram sobremaneira apelativas.

Uma pena, pois, que a adaptação cinematográfica do 'comic' independente pouco mais tenha para oferecer do que esses mesmos aspectos estéticos. De facto, um desempenho carismático de Brandon Lee (filho de Bruce) no papel do protagonista homónimo não chega a ser suficiente para colmatar o argumento algo superficial, que reduz a relativa profundidade da narrativa da BD a uma simples história de vingança igual a tantas outras. Ainda assim, não faltam ao benjamim do clã Lee oportunidades para se afirmar como a estrela de acção perfeitamente viável que se teria, sob outras circunstâncias, certamente tornado, e o jovem enfrenta com desenvoltura as múltiplas cenas de pancadaria e tiroteios em que o seu personagem se vê envolvido.

E seria, precisamente, no decurso de um desses tiroteios que se daria a tragédia pela qual o filme é hoje, sobretudo, lembrado, quando Brandon foi fatalmente atingido por uma bala verdadeira, por oposição ao simulacro em borracha que deveria ter sido instalado no seu lugar. Uma morte envolta em inevitável controvérsia, e que ceifava o jovem actor aos apenas vinte e oito anos, pondo um ponto final macabro naquela que poderia ter sido uma carreira honrosa, nas passadas do pai, e cuja sombra assola inevitavelmente o filme, sobrepondo-se às criadas pelos artefactos cénicos do filme.

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Apesar da trágica perda do seu actor principal, no entanto, os estúdios de Hollywood não desistiram de adaptar as histórias d''O Corvo'; pelo contrário, o filme daria azo a nada menos do que três sequelas antes de ser refeito e iniciar nova continuidade. A primeira destas, 'O Corvo: Cidade dos Anjos', surgia quase exactamente três anos após o lançamento do original, novamente no Verão – estreou em Portugal a 1 de Agosto de 1997 – e trazia 'mais do mesmo', agora com Vincent Perez no papel do justiceiro. O grande relevo, no entanto, não vai para a estrela principal, e sim para a inusitada presença de Iggy Pop no papel de um dos vilões, a qual acentua ainda mais a ligação entre esta série de filmes e o movimento do rock pesado, do qual Iggy foi um dos pioneiros, como líder da banda The Stooges. Apesar do convidado 'de peso', no entanto, o filme falhou redondamente nas bilheteiras mundiais, tendo sido alvo de críticas manifestamente negativas por parte da imprensa especializada.

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Foi, portanto, com surpresa que os poucos fãs da franquia ainda restantes receberam, em 2001, uma segunda sequela alusiva ao espírito vingador. Chegado a Portugal a 8 de Junho de 2001, 'O Corvo 3: Pena Capital' traz Eric Mabius no papel de Alex Corvis, regressado dos mortos para ilibar o próprio nome num caso de homicídio, ao lado de Kirsten Dunst, então a poucos meses de filmar 'Tudo Por Elas'. Fruto da péssima recepção do filme anterior, esta terceira parte apenas teve direito a exibição limitada nos cinemas, tendo essencialmente sido lançado em formato 'direct-to-video', com orçamento e valores de produção a condizer, e sofrido o mesmo fado da maioria das produções do género, ou seja, o quase total esquecimento.

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Não ficava ainda por aqui, no entanto, a saga d''O Corvo', sendo que sairia ainda uma quarta parte, em 2005, novamente em formato 'direct-to-video', e que, apesar disso, conta com um elenco de luxo. Senão veja-se: em contraste com os anónimos actores do filme anterior (com excepção de Dunst) 'O Corvo: A Reencarnação' conta com a participação de Edward Furlong (de 'Exterminador Implacável 2' e 'América Proibida'), Tara Reid (de 'American Pie: A Primeira Vez'), David Boreanaz (o Angel de 'Buffy, Caçadora de Vampiros'), Dennis Hopper, Danny Trejo, do lutador Tito Ortiz e até da cantora Macy Gray, então 'em alta' entre a demografia-alvo do filme. Talento até demais para uma quarta parte de uma franquia há muito moribunda, e que era, mais uma vez, alvo de enormes críticas por parte da imprensa especializada.

Felizmente, ao contrário de franquias como 'Halloween' ou 'Sexta-Feira, 13', os criadores dos filmes d''O Corvo' souberam onde parar, deixando 'morrer' definitivamente a série antes de a mesma se adentrar ainda mais na espiral descendente em que já se encontrava. O filme de 2024 é, pois, uma oportunidade para 'começar de novo', e voltar a despertar interesse na obra de James O'Barr, a qual – ao contrário do que as suas adaptações cinematográficas poderiam indicar – tem algum mérito artístico, e merece ser conhecida ou relembrada por fãs de banda desenhada de teor obscuro e gótico. Já os filmes podem ser votados ao esquecimento onde já se encontram, sendo o original o único dos quatro digno de uma Sessão de Sexta nostálgica e de cérebro totalmente 'desligado'...

19.04.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A mistura cinematográfica de acção e aventura com toques de humor e romance foi, desde o início da História da Sétima Arte, uma das mais populares combinações entre o grande público, um paradigma que se mantém até aos dias de hoje – ou não fosse esta a fórmula-padrão para qualquer 'blockbuster' de super-heróis ou ficção científica lançado nos últimos quinze anos. Apesar deste apelo perene, no entanto, o género sofre, como qualquer outro, de 'altos e baixos' de popularidade, e o final dos anos 90 representava um dos períodos 'baixos'. O dealbar da era mais 'futurista', 'extrema' e 'radical' da História da humanidade não tinha lugar para aventuras 'à moda antiga', e a maioria dos filmes mais populares da época iam, propositadamente, na direcção contrária, apresentando estéticas sombrias e heróis sorumbáticos e sem grande apetência para interacções sociais, e menos ainda para ligações românticas - e os que não iam ou se traduziam em, na melhor das hipóteses, entradas menores nas respectivas franquias, ou, na pior, lendários 'flops' . Em meio a este paradigma, no entanto, um filme tentou 'resgatar' o clássico 'cocktail' que produzira, em décadas anteriores, mega-sucessos como a trilogia 'Indiana Jones', e acabou por dar início a, não uma, mas duas franquias distintas em décadas subsequentes.

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Falamos de 'A Múmia', um 'remake' do filme com o mesmo nome lançado pela icónica Hammer em 1932 protagonizado por Brendan Fraser e Rachel Weisz que chegava às salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos, a 16 de Abril de 1999 – curiosamente, duas semanas antes da sua estreia em solo norte-americano – e cuja toada ao estilo comédia de acção imediatamente captava o interesse da 'geração Matrix', que crescera a ver a trilogia original de Lucas e Spielberg na televisão, e acolhia de bom grado uma actualização da fórmula 'incrementada' pelos novos recursos tecnológicos. E a verdade é que o primeiro capítulo da nova franquia excedia expectativas, conseguindo 'acertar' tanto no tom leve mas intenso que caracterizara as aventuras de Indy, como também na estética 'anos 30' e até na química do par romântico, que transcende o ecrã, e que apenas se viria a destacar ainda mais na sequela. De facto, só as interpretações de Fraser e Weisz fazem com que valha a pena 'gastar' duas horas de uma noite de final de semana com o filme, ou, melhor ainda, fazer uma Sessão de Sexta dupla com a sua igualmente divertida sequela; no entanto, há muito mais do que gostar nesta nova encarnação d''A Múmia', das paisagens desérticas de Marrocos aos efeitos especiais da lendária Industrial Light & Magic, de George Lucas, passando pela trilha sonora do não menos famoso Jerry Goldsmith.

Dado o envolvimento de todos estes nomes, e a boa recepção de que gozou por todo o mundo aquando da estreia, não é de admirar que este primeiro filme da franquia tenha rapidamente tido direito a uma sequela, com o óbvio título de 'A Múmia Regressa' lançada já no Novo Milénio, e que, apesar da duvidosa adição ao elenco de personagens de um 'puto esperto' – um dos piores personagens-tipo do cinema moderno – e do infame efeito especial durante a batalha climática com o Rei Escorpião (sim, esse mesmo), consegue manter e a até superar o nível do primeiro filme, afirmando-se como um dos melhores 'filmes de família' de inícios do século XXI, e valendo bem a visualização ao lado do seu antecessor.

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Talvez o legado mais importante da sequela, no entanto, tenha sido a personagem do referido Rei Escorpião, interpretada por um lutador da WWF à época acabado de se lançar na carreira cinematográfica, e de quem ninguém esperava mais do que o fraco nível atingido por antecessores como Hulk Hogan – um tal de Dwayne Johnson, conhecido como 'The Rock', e que, em 2002, daria vida à encarnação anterior do Rei Escorpião, um guerreiro residente num mundo de 'espadas e sandálias' puramente fantástico, a remeter às velhas aventuras de Conan, o Bárbaro.

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Este filme, por sua vez, faria tal sucesso entre o público-alvo que se transformaria, ele próprio, no ponto de partida de uma franquia, que renderia nada menos do que mais quatro filmes, embora todos já sem o contributo de 'The Rock', que seria substituído por uma sucessão de lutadores da UFC com talentos dramáticos consideravelmente mais limitados. Escusado será dizer que as restantes aventuras do Rei Escorpião são tão fracas como qualquer outra continuação de baixo orçamento destinada ao mercado do vídeo e DVD, merecendo bem o esquecimento a que são hoje em dia votadas; o mesmo, no entanto, não se pode dizer do original, um filme de aventura familiar 'tão mau que é bom', e que fará certamente as delícias de um público jovem e pouco exigente.

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'A Múmia', essa, voltaria apenas mais uma vez na presente encarnação - já depois de muitos imitadores terem, sem sucesso, tentado ocupar o seu trono nos anos subsequentes - numa aventura que via Jet Li juntar-se a Fraser e Maria Bello (que substituía Weisz), no papel do Imperador Dragão, o novo vilão que o casal deve combater. Apesar de perfeitamente aceitável, no entanto, o nível desta segunda continuação ficava bastante aquém do dos originais, sendo o filme bastante 'esquecido' (porque pouco memorável) e tendo, inadvertidamente, lançado a franquia para um limbo de vários anos, do qual só um 'desastre' encabeçado por Tom Cruise a retiraria – e para muito pior...

Apesar deste desaire, no entanto, os primórdios da franquia continuam a constituir excelentes comédias de acção de índole familiar - os chamados 'filmes de família' de molde clássico – tendo sido responsáveis pela ressurreição, qual múmia do Antigo Egipto, de um género que se julgava morto e enterrado, mas que estes filmes vieram provar ainda ter 'pernas para andar' no panorama cinematográfico da viragem de Milénio. Quanto mais não seja por isso, os filmes de Stephen Sommers merecem ser recordados (e elogiados) por alturas do vigésimo-quinto aniversário da estreia do original...

19.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Para a maioria das crianças e jovens dos anos 80 e 90, Robin Williams é conhecido, sobretudo, pelos seus dotes cómicos, ombreando com nomes como Eddie Murphy, Tim Allen, Rowan Atkinson ou Jim Carrey no panteão de grandes actores de comédia da época; para os espectadores mais velhos, no entanto, o malogrado actor era, também, famoso pela sua versatilidade, sendo capaz de interpretar de forma convincente (embora sempre imbuída da sua fisicalidade e dramatismo propositadamente exagerados) papéis mais 'sérios'. A própria filmografia do actor demonstra explicitamente essa dicotomia, com filmes como 'Papá Para Sempre', 'Flubber – O Professor Distraído' ou a versão original do 'Aladdin' da Disney a serem contrapostos com magníficas interpretações dramáticas em obras como 'Bom Dia Vietname', 'O Bom Rebelde', ou o filme que inspira esta Sessão extra, por ocasião do trigésimo-quarto aniversário da sua estreia em Portugal.

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De facto, apesar de tecnicamente o post da passada Quinta-feira servir 'função dupla' como Sexta com Style, não poderíamos deixar de aproveitar a ocasião de falar de um dos filmes mais marcantes do início dos anos 90, no exacto dia em que, no primeiro mês da nova década, o mesmo surgia nos cinemas lusitanos, dando-nos, assim, a 'desculpa' perfeita para o incluirmos neste nosso 'blog'. Falamos de 'O Clube dos Poetas Mortos', clássico do género dramático que, fosse no cinema ou, mais tarde, através do mercado de vídeo, teve impacto directo sobre pelo menos duas gerações de cinéfilos, pela sua bem conseguida mistura de drama 'para chorar' com elementos relativos ao processo de amadurecimento, com que o público-alvo facilmente se conseguia identificar.

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O ´professor' e 'alunos' nos quais se centra o filme.

Guiado por uma magnífica interpretação de Williams como o novo professor de Literatura de uma escola privada norte-americana determinado a fazer 'sair da casca' os seus alunos, o filme conta, ainda, com 'performances' de alto nível por parte dos jovens actores que compõem a turma, com destaque para um jovem Ethan Hawke e para Robert Sean Leonard, futura 'cara conhecida' de várias séries de televisão. E apesar de o tempo se ter encarregue de tornar certas falas e cenas 'meméticas' ao ponto de quase parecerem paródias, a verdade é que é difícil negar a qualidade de escrita e interpretação das mesmas, e do filme em geral, e a validade da sua mensagem – embora, neste último caso, seja fácil a um espectador mais experiente oferecer contrapontos a várias das ideias do filme. Para o público-alvo, no entanto, as mensagens de auto-determinação, auto-descoberta e rejeição do destino por outros traçado terão sido por demais eficazes, explicando o estatuto de culto de que o filme continua a gozar.

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A cena mais icónica do filme.

Acima de tudo, o filme de Peter Weir faz parte daquele contingente de obras cinematográficas que se recusa a 'envelhecer', podendo tão facilmente ter sido rodado no ano transacto como três décadas antes - como foi o caso – e que, por isso, continuam a constituir uma excelente experiência fílmica, mesmo para a geração habituada a efeitos especiais mirabolantes e ritmos de acção frenéticos. Isto porque, conforme acima notámos, as mensagens transmitidas pela obra continuam a afirmar-se como universais, o que, aliado ao excelente elenco, poderá fazer com que a geração digital levante o olhar do TikTok durante duas horas, e se delicie com uma Sessão de Sexta ainda hoje acima da média - teoria que pode ser testada seguindo este link...

08.12.23

NOTA: Por motivos de relevância, todas as Sextas-feiras de Dezembro serão Sessões.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje em dia, os filmes de super-heróis, ou simplesmente baseados em obras de banda desenhada, são um dos géneros mais prolíficos, bem-sucedidos e de maior orçamento do panorama cinematográfico. No entanto, quem já era fã deste tipo de filme antes do advento dos Multiversos Cinematográficos Marvel e DC sabe que nem sempre foi esse o caso, antes pelo contrário, e que os filmes baseados em BD's tiveram, durante várias décadas, custos de produção baixíssimos e níveis de qualidade que oscilavam entre o aceitável e o tenebroso. De facto, já nos primeiros anos do Novo Milénio, era ainda possível sentir o receio dos 'nerds' de todo o Mundo sempre que era anunciado um novo filme do estilo, mesmo depois de terem já havido vários exemplos do género de qualidade muito acima da média. E se os 'Batmans' de Tim Burton e Joel Schumacher e os 'X-Men' de Bryan Singer são, normalmente, creditado como os primeiros filmes a contribuir para o inverter da tendência, a verdade é que o género 'quadradinhos no grande ecrã' produzia, na mesma altura, outro filme de algum sucesso, sobre cuja estreia em Portugal se celebram na próxima semana vinte e cinco anos.

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Surgido nas salas lusas a 11 de Dezembro de 1998 (mesmo dia em que era lançado o muito diferente 'Pai Para Mim...Mãe Para Ti', de que falámos na última edição desta rubrica), 'Blade' baseava-se no personagem da Marvel com o mesmo nome, um 'híbrido' de vampiro e humano conhecido como 'dhampir', que utiliza as suas habilidades vampíricas para caçar e eliminar os 'puros sangues', em cenas bem 'sangrentas', repletas de acção com armas brancas e do tipo de artes marciais que viria a ganhar (ainda mais) popularidade com o lançamento de 'Matrix', no ano seguinte.

No papel do enigmático e sorumbático personagem surgia Wesley Snipes, actor em tempos tido como revelação (actuou em filmes como 'New Jack City', por exemplo) mas cuja carreira ficara marcada pela combinação de um temperamento complicado com abuso de substâncias, que o vira embarcar em obras de muito menor calibre – embora ainda tivesse conseguido trabalhar com um dos grandes heróis de acção dos anos 80 e 90, Sylvester Stallone, durante a segunda 'fase áurea' deste último, ao representar o vilão em 'Homem Demolidor', de 1994. No entanto, 'Blade' é geralmente tido como o filme que permitiu trazer Snipes de volta à ribalta, numa trajectória semelhante à que Eddie Murphy encetava no mesmo período, com a sua participação vocal em 'Mulan' e o sucesso de 'Doutor Doolittle'.

E a verdade é que, sem ser nenhum portento cinematográfico, 'Blade' resulta bem para aquilo que é – um veículo para Snipes, que nada mais pretende do que oferecer noventa minutos de entretenimento descartável para adolescentes e fãs do personagem. A referida demografia respondeu, aliás, em peso, tornando 'Blade' num dos primeiros verdadeiros sucessos de um género até então representado por obras medianas, como 'O Juiz', ou declaradamente fracas.

Tendo em conta este sucesso, não é de surpreender que Snipes tenha voltado a vestir a capa de cabedal do 'dhampir' dos quadradinhos, não uma, mas duas vezes – a primeira em 2002, sob a direcção do 'lunático' Guillermo del Toro, num filme considerado uma versão melhorada e alargada do seu antecessor, e a segunda em 2004, para o menos consensual 'Blade III: Trinity', que conseguiu ainda assim um desempenho meritório nas bilheteiras tanto nacionais quanto mundiais. Já a série baseada no personagem, também com argumento de David S. Goyer (que escrevera todos os filmes e realizara o terceiro) mas com o 'rapper' Sticky Fingaz no lugar do demissionário Snipes, não chegou a estrear em Portugal.

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Os dois filmes que completam a trilogia, também eles bastante bem sucedidos.

É fácil de perceber, portanto, que apesar de algo esquecida vinte anos passados, a trilogia 'Blade' não deixou de marcar época entre os adolescentes das gerações 'X' e 'millennial', aos quais ofereceu, precisamente, aquilo que procuravam: acção bem sangrenta e com a estética de 'cabedal negro' tão apreciada naqueles anos de viragem de Milénio. Além disso, a série explora o reavivar de interesse em vampiros, iniciado com 'Entrevista com o Vampiro', de 1995, e que viria, em anos subsequentes, a inspirar várias versões do conto de Drácula, além, claro, da inescapável 'Saga Crepúsculo'. Em finais de 1998, no entanto, os vampiros estavam, ainda, muito longe de brilhar ao sol, sendo Blade um muito melhor exemplo de como modernizar as míticas criaturas, e o seu primeiro filme um clássico nostálgico menor para a geração crescida durante os anos 90.

20.10.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Embora, em Portugal, seja tradição 'importada' – e recente – o Halloween tem, para países como os Estados Unidos, um significado especial, traduzido na iconografia própria (e, para muitos jovens americanos, altamente nostálgica), em rituais como o 'Doces ou Travessuras' (o famoso 'trick or treat') e a criação de disfarces ligados ao terror e, claro, na escolha de filmes próprios para a época, os quais se tendem a dividir em duas grandes categorias: as comédias familiares como 'Hocus Pocus' e 'A Família Addams' (muitas delas passadas, precisamente, na também chamada Noite das Bruxas) e os filmes de terror, de entre os quais se destaca a franquia que leva o mesmo nome da própria celebração, e que, em finais dos anos 70, revelou ao Mundo uma jovem chamada Jamie Lee Curtis.

Tal como sucedeu a todas as outras franquias de terror da mesma época, no entanto, os anos seguintes viram o seu vilão (o verdadeiramente sinistro Michael Myers, que perde apenas para o Leatherface de 'O Massacre da Serra Eléctrica' como assassino mais assustador do cinema de terror) ser muito 'mal tratado', numa série de sequelas de qualidade decrescente que contribuíram para retirar a Michael uma parte significativa da sua mística. Ainda assim, e ao contrário do que aconteceu com os contemporâneos Jason Voorhees e Freddie Krueger, viria a ser lançada a Michael uma 'corda de salvação', sob a forma de um novo capítulo, comemorativo dos vinte anos dos seus primeiros ataques, e com execução bastante mais cuidada em relação aos filmes anteriores da franquia.

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O DVD nacional do filme

Chamava-se 'Halloween H20: O Regresso', estreou nos cinemas norte-americanos há quase exactos vinte e cinco anos (mesmo a tempo do Halloween) e, apesar de apenas ter chegado ao nosso País em Março (!!!) do ano seguinte, constitui a Sessão de Sexta perfeita para a altura do ano que se aproxima - como, aliás, já demos a entender quando o incluímos, juntamente com alguns dos filmes acima referidos, na nossa Sessão de Sexta Especial de Halloween, há quase exactos dois anos; aproveitamos, agora, nova aproximação da referida data para lhe dedicarmos algumas linhas mais alargadas e específicas, por alturas de um 'aniversário' marcante para qualquer obra mediática.

Como o próprio título dá a entender, 'H20' (não confundir com H2O) tem lugar vinte anos após o original, ou seja, no ano de 1998. Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), irmã do assassino mascarado e única vítima a ter sobrevivido a repetidos ataques por parte do mesmo, descobre que não consegue escapar ao seu passado quando o irmão a descobre na pequena cidade californiana onde reside sob um nome falso, e prontamente enceta nova tentativa de acabar com a sua vida de uma vez por todas. Na 'linha de mira' do assassino estão também o filho adolescente de Strode, John (interpretado pelo jovem galã da altura, Josh Hartnett) que organiza com os amigos uma festa de Halloween particular longe dos adultos e de outros jovens, tornando-se assim alvos fáceis para Myers, e Will Brennan, companheiro de Laurie que, juntamente com a mesma e com um segurança da escola, tenta proteger os jovens do tresloucado assassino, para quem os mesmos seriam, de outra forma, alvos fáceis.

Uma receita sem muito de inovador, e que recorre mesmo a alguns (senão a todos) os clichés dos chamados 'slasher movies', mas cujo segredo reside em saber precisamente o que o público de filmes como 'Sei O Que Fizeste No Verão Passado' espera e pretende de uma obra deste tipo, e oferecer, precisamente, isso, sem o tipo de tentativas de inovação ou experimentação que haviam morto, aos poucos, as franquias concorrentes 'Pesadelo em Elm Street' e 'Sexta-Feira 13'. Ao contrário de muitos dos filmes de ambas, 'Halloween H20: O Regresso' é, só e apenas, o que apregoa ser: uma revisão e actualização do conceito do original de John Carpenter, já longe da qualidade do mesmo, mas ainda assim criado com assumido respeito e apreço pelas bases por ele estabelecidas. Assim, e embora não suplante (e ainda menos substitua) o mesmo, este primeiro reviver de uma franquia ainda hoje vive merece bem o investimento de menos de hora e meia por parte dos entusiastas do terror 'pop', seja como parte de uma 'maratona' mais alargada de todos os títulos da série, seja por si mesmo, como 'refeição rápida' para saciar a vontade de apanhar uns 'sustos' frente ao ecrã na noite de Sexta-feira de Halloween.

21.04.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 80 e 90 viram nascer diversos novos sub-géneros cinematográficos, quer dirigidos a um público adulto, quer às crianças e jovens; e, destes, um dos mais prolíficos e bem-sucedidos foi o chamado 'slasher movie' – aquele género de filme em que um assassino mascarado persegue indefesas vítimas adolescentes, por motivos normalmente revelados no fim do filme.

Tendo em 'Halloween', de 1979, a sua obra-génese, este género dominou as salas de cinema tanto na década seguinte (em que títulos como 'Sexta-Feira 13', 'Pesadelo em Elm Street' ou o próprio 'Halloween' geraram séries de sequelas aparentemente intermináveis) como nos anos 90, quando uma semi-paródia do género intitulada 'Gritos' ajudou, ironicamente, a despertar o interesse de toda uma nova geração por este estilo de filme. Como consequência (previsível, diga-se de passagem) o público jovem assistiu, durante a década seguinte, ao aparecimento de uma verdadeira 'torrente' de filmes de terror nestes moldes, alguns dos quais viriam a fazer tanto sucesso quanto 'Gritos', e a gerar tantas sequelas (como a série 'Destino Final') mas cuja grande maioria não almejava a ser mais do que entretenimento descartável, destinado a gerar uns 'cobres' no imediato, mas sem pretensões a clássico do género.

O filme de que falamos esta semana – e que celebrou recentemente o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nas salas lusas – ficas lgures entre estas duas vertentes: o seu estatuto de 'primeiro seguidor' de 'Gritos' confere-lhe alguma distinção e memorabilidade extra por comparação com produtos posteriores, mas a obra em si rendeu, à época, uma única sequela, não tendo chegado aos píncaros de popularidade gozados pela franquia rival, e sendo hoje, sobretudo, lembrado como um dos vários filmes parodiados no primeiro 'Um Susto de Filme', alguns anos depois.

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Falamos de 'Sei o Que Fizeste no Verão Passado', estreado 'por cá' na Primavera (a 3 de Abril de 1998) e que trazia nos papéis principais os então ícones da cultura adolescente Sarah Michelle Gellar (a eterna protagonista de 'Buffy, a Caçadora de Vampiros', e que também marcaria presença na primeira sequela de 'Gritos', lançada no mesmo ano), Jennifer Love Hewitt, Ryan Phillippe e o 'bonitão' Freddie Prinze Jr. Um elenco feito 'à medida' para levar o público-alvo às salas de cinema, e que se encontrava bem escudado pela experiente Anne Heche, no papel da irmã do homem atropelado pelos quatro jovens protagonistas durante um passeio de carro, e que volta para se vingar dos mesmos da maneira mais extrema possível.

Este elenco de jovens (e não tão jovens) talentos é, aliás, crucial para credibilizar um filme que, a nível de guião, pouco ou nada acresce ao género, traduzindo-se essencialmente na habitual hora e meia de pessoas bonitas a gritar enquanto tentam fugir de um assassino, e a tomar todas as habituais decisões erradas que resultam na sua inevitável morte (à exepção, claro está, do casalinho principal.) Ou seja, exactamente a mesma fórmula que informara as obras originais do género, quinze a vinte anos antes, e que já na altura era parodiada de forma mais ou menos 'brutal' pelo referido 'Gritos 2', e mais tarde por 'Um Susto de Filme', já no Novo Milénio – algo que até nem é de estranhar, dado a inspiração do filme ter vindo de um livro publicado em 1973, anos ANTES do primeiro filme do género ser concebido.

Ainda assim, talvez pelo factor 'novidade' para o público jovem da altura (que não conhecia, necessariamente, os referidos pioneiros do género) o filme conseguiu suplantar esta falta de originalidade e afirmar-se como um relativo sucesso de bilheteira, capaz de gerar uma 'pegada cultural' suficiente para justificar uma sequela no ano seguinte.

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Com o óbvio título de 'Ainda Sei o Que Fizeste o Verão Passado', este segundo (e último) capítulo traz novamente Love Hewitt e Prinze Jr na pele do casal principal, aos quais se juntam outros nomes culturalmente relevantes para os jovens da altura, como Brandy, Mekhi Phifer e Matthew Settle. Desta feita, a trama desenrola-se num cenário paradisíaco – que irá, claro, tornar-se de pesadelo para o grupo de protagonistas, e sobretudo para a Julie de Hewitt, de quem o assassino pretende vingar-se após os eventos do primeiro filme. Uma sequela que – mais uma vez – adopta uma fórmula típica, sem grandes inovações ou novidades, mas que conseguiu ainda assim ser um sucesso de bilheteira.

É, portanto, pouco claro porque é que 'Sei o Que Fizeste...' foi incapaz de se tornar numa franquia a nível de 'Gritos', 'Destino Final' ou de qualquer das séries originais do género 'slasher'; ainda assim, quem era de uma certa idade em 1997 certamente terá pelo menos algumas memórias deste filme, cuja relevância (à época, mais do que actualmente) lhe confere o merecido direito a uma menção nesta nossa rubrica ao quarto de século da sua estreia em Portugal.

13.01.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos estilos cinematográficos mais prolíficos e bem sucedidos dos anos 80 e 90 – a par do cinema de acção – foi a comédia, especificamente a dirigida a um público mais jovem. Senão, veja-se: só os primeiros anos da década a que este blog diz respeito viram ser lançados filmes como 'Sozinho em Casa', 'Beethoven', 'Papá Para Sempre', 'Jamaica Abaixo de Zero', 'Doidos À Solta' e 'A Máscara', além de duas 'duologias' normalmente mencionadas em conjunto: a de 'Bill e Ted', e aquela cujo primeiro filme completa daqui a precisamente uma semana trinta anos sobre a sua estreia em Portugal – 'Wayne's World', ou como é conhecida nos países lusófonos, 'Quanto Mais Idiota Melhor'.

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Apesar do título nacional dantesco, e que faz diminuir, desde logo, a vontade de assistir ao filme, a película que ajudou a lançar a carreira cinematográfica de Mike Myers – e que é, ainda hoje, o mais bem-sucedido exemplo de uma longa-metragem derivada do popularíssimo 'Saturday Night Live' – é muito melhor do que possa parecer à partida, que inclui alguns momentos de sátira subtil em meio às piadas propositamente básicas em torno dos dois protagonistas, e que consegue a proeza de 'cair no gosto' da mesma demografia que parodia: os fãs de 'rock' e 'heavy metal' clássico.

Muito deste sucesso deve-se às interpretações sem mácula de Myers e Dana Carvey como Wayne e Garth, os dois 'idiotas' do título, cujo programa de televisão amador produzido na sua cave para a rede de TV 'aberta' da sua pequena cidade se vê, subitamente, elevado ao estatuto de fenómeno nacional, depois de um produtor de escrúpulos duvidosos (Rob Reiner) ver nele uma oportunidade de facturar sobre a 'cultura jovem' da época, da qual o programa em causa inclui muitos dos principais elementos. O que se segue são noventa minutos de sátira à estrutura das grandes corporações, referências musicais aos principais artistas 'electrificados' da época (de Peter Frampton a Meat Loaf e Alice Cooper, ambos os quais fazem inesperadas e inusitadas participações especiais) e pelo menos um momento 'memético', em que Wayne, Garth e os restantes membros do seu grupo fazem 'headbanging' ao som de 'Bohemian Rhapsody', dos Queen. Um filme que, apesar de datado nas suas referências e atmosfera, ainda se 'aguenta' surpreendentemente bem três décadas volvidas, e pode render boas gargalhadas a qualquer fã deste tipo de comédia.

A melhor cena do filme, e um dos grandes momentos da Hstória da comédia noventista.

O mesmo, infelizmente, não se pode dizer da sequela. Lançado apenas um ano após o original, como era apanágio das segundas partes da época, 'Quanto Mais Idiota Melhor 2' tem alguns momentos inspirados, mas os mesmos perdem-se numa história algo desconexa, daquelas que mais parece um conjunto de situações 'retalhado' para parecer um todo coeso.

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Desta feita, Wayne e Garth tentam organizar um festival na sua área de residência, mas deparam-se com inúmeras complicações – uma premissa que, tal como aconteceu com o primeiro filme, poderia render alguns bons momentos de sátira à burocracia que tende a rodear a organização de eventos públicos, mas que acaba por ser gasta por entre visitas místico-espirituais a Jim Morrison e Sammy Davis Jr e participações especiais dos Aerosmith que pouco mais são que uma cópia deslavada das cenas de Alice Cooper no original. Tal como naquela obra, também o segundo filme tem o seu 'momento memético' – derivado de uma história contada, a dado ponto, por um suposto ex-'roadie' de Ozzy Osbourne – e algumas passagens inspiradas (além de uma Kim Basinger lindíssima como interesse romântico em moldes 'MILF' para Garth) mas o produto em geral fica muito abaixo do seu antecessor, sendo mais uma das muitas sequelas 'apressadas' criadas apenas para prolongar o sucesso da franquia, sem grandes considerações artísticas ou qualitativas – mas que, ainda assim, consegue ser melhor do que a esmagadora maioria dos produtos semelhantes feitos em décadas subsequentes.

No geral, aliás, qualquer dos dois filmes de Wayne e Garth continua a constituir uma excelente aposta para quem não queira mais da sua Sessão de Sexta do que dar umas boas gargalhadas nostálgicas – uma proeza admirável em tratando-se de filmes produidos numa era sócio-cultural tão diferente da actual como o foram os primeiros anos da década de 90...

25.11.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos que viveram um 'estado de graça' durante os anos 90, a comédia foi um dos principais; a primeira metade da década, em particular, forneceu uma série de verdadeiros clássicos ao género, muitos deles protagonizados pelo binómio Robin Williams e Jim Carrey, responsáveis por êxitos como 'Doidos À Solta', 'Papá Para Sempre', 'A Máscara', 'A Gaiola das Malucas' ou a duologia 'Ace Ventura', (quase) todos eles tão bem-sucedidos entre o público jovem como entre os mais velhos. Para lá desse eixo, no entanto, existia todo um outro género de filme de comédia, mais declaradamente apontado a um público juvenil, e cujo humor se baseava na falta de inteligência dos seus protagonistas, normalmente adolescentes; era o Mundo das ainda hoje hilariantes duologias 'Bill e Ted' e 'Quanto Mais Idiota Melhor', e é também o 'habitat' natural do filme que hoje abordamos, uma 'cópia' de segunda linha do conceito que conseguiu, ainda assim, afirmar-se como um 'clássico menor' entre os fãs deste tipo de película.

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Falamos de 'O Rapaz da Pedra Lascada' ('Encino Man' no original e 'California Man' em vários pontos da Europa), filme que completa este fim-de-semana trinta anos sobre a sua estreia em Portugal, e que ajudou a revelar ao Mundo aquele que viria a ser outro nome de monta da comédia noventista e dos anos 2000: Brendan Fraser, que surge aqui no seu primeiro papel principal como o cavernícola homónimo, desenterrado de um quintal suburbano (!) e subsequentemente retirado de um bloco de gelo pelo habitual duo de protagonistas desmiolados (no caso Sean Astin, o futuro Sam Gamgee de 'O Senhor dos Anéis', e Pauly Shore, um dos muitos pretendentes falhados ao trono de Mike Myers, Keanu Reeves e Jim Carrey) que prontamente decidem inscrevê-lo na escola secundário que ambos frequentam.

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O trio de protagonistas do filme, dois dos quais se viriam, num futuro próximo, a tornar verdadeiras estrelas de cinema.

É claro que esta decisão rapidamente dá azo ao tipo de peripécias bem típico e esperado neste estilo de filme, e que poderão ou não arrancar uns sorrisos ao espectador, dependendo da sua tolerância para a variante humorística em causa. Isto porque 'O Rapaz da Pedra Lascada' não é mais nem menos do que um filme perfeitamente dentro da média para o estilo em que se insere, e daquilo que a Disney vinha produzindo durante aqueles anos ao nivel dos filmes de acção real - ou seja, longe do nível dos líderes 'Bill e Ted' ou 'Quanto Mais Idiota...' (ou até de 'Jamaica Abaixo de Zero', futuro clássico infanto-juvenil da mesma companhia lançado no ano seguinte) mas passível de proporcionar bons momentos cinematográficos a um espectador menos exigente numa tarde de fim-de-semana de chuva.

Nos dias que correm, no entanto, não há como negar que o principal mérito desta película é o de ter servido de plataforma de impulso para a carreira não só de Fraser (que meia-dúzia de anos depois estaria a combater múmias em CGI e a ser seduzido por uma Elizabeth Hurley em 'fase imperial') e de Astin como também de Robin Tunney, futura protagonista principal feminina de 'Prison Break' e 'O Mentalista' (de entre o restante elenco, destaque ainda para Michael DeLuise, filho do então também hiper-requisitado Dom, e que viria posteriormente a participar em séries como 'Rua Jump, 21' e 'Gilmore Girls'.) Quanto mais não seja pela sua importância enquanto 'trampolim' para estas futuras estrelas do cinema e televisão, 'O Rapaz da Pedra Lascada' merece, no trigésimo aniversário da sua estreia em terras lusas, ser 'desenterrado' (passe a piada) do esquecimento, e 'brindado' com estas breves linhas, à laia de retrospectiva.

20.08.22

NOTA: Este post é correspondente a Sexta-feira, 19 de Agosto de 2022.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Independentemente do tipo de educação e contexto que tenham tido durante a infância, há filmes que todos os portugueses se lembram de ter visto, pelo menos uma vez, durante esse período, seja por terem sido daqueles filmes que 'tinham' de se ver - à maneira de um 'Parque Jurássico', 'Space Jam' ou dos filmes lançados uma a duas vezes por ano pela Disney - ou simplesmente por se terem tornado 'clássicos' do aluguer em vídeo ou das emissões televisivas. O advento da TV Cabo - com os seus canais exclusivamente dedicados a filmes e, como tal, obrigados a mostrar repetidas vezes o mesmo material - veio exacerbar ainda mais esta tendência, e apresentar a toda uma geração mais uma série de 'clássicos' das tardes de fim-de-semana.

Um dos mais relembrados de entre essa 'safra' de filmes é 'Voando P'ra Casa', uma ficcionalização de uma história verídica sobre o elo entre uma jovem e um bando de gansos do Canadá, que revelou ao Mundo a promissora Anna Paquin, e que completa no próximo fim-de-semana um exacto quarto de século sobre a sua estreia cinematográfica em Portugal, a 29 de Agosto de 1997. Não terá, no entanto, sido nessa altura que a maioria dos jovens portugueses terá visto o filme, que, conforme acima referimos, se tornou presença assídua (quase perene) na grelha do Canal Hollywood e, mais tarde, de outros canais de cinema dos pacotes de cabo, onde pode ser visto até aos dias de hoje.

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Baseado numa obra autobiográfica da autoria de Bill Lishman, 'Fly Away Home' (de seu título original) conta a história da jovem canadiana Amy Alden (Paquin, então com apenas treze anos) que, após a morte da mãe, é forçada a ir morar com o pai (Jeff Bridges), de quem terá de aprender como se aproximar; o seu processo de adaptação é, então, 'espelhado' na descoberta de um ninho de gansos do Canadá, também órfãos, que Amy acolhe e se empenha em criar o melhor que pode. Inevitavelmente, no entanto, chega a hora de ter que devolver os gansos à liberdade, um desafio que Amy terá de se esforçar por superar...

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Anna Paquin com as verdadeiras estrelas do filme.

Há bons motivos para 'Voando P'ra Casa' ser considerado um clássico entre os filmes de família modernos; para além da constante repetição em diferentes canais do Cabo, a película tem tudo o que se requer de uma obra deste tipo: animais bebés fofinhos, momentos sentimentais (positivos e negativos), drama quanto baste, cenas marcantes e memoráveis (quem não se lembra de Amy a acompanhar os gansos na sua bicicleta, numa das cenas finais?) e também alguns momentos mais leves. Sem grandes coadjuvantes (além, é claro, dos com penas e asas), Paquin e Bridges provam-se mais do que à altura de 'carregar' às costas o filme com a primeira em particular a chamar a atenção pela interpretação adulta e multi-facetada. Apesar de não ser particularmente bem realizado ou 'espalhafatoso' (não que precisasse) é um filme que se vê muito bem até aos dias de hoje, e que certamente agradará a fãs de obras semelhantes, como a duologia 'Babe', também eles clássicos infanto-juvenis da época (e de que aqui, paulatinamente, falaremos); uma película, portanto, que vale bem a recordação por ocasião do vigésimo-quinto aniversário da sua estreia em Portugal.

05.08.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas últimas edições desta rubrica, temos dedicado atenção à carreira de Will Smith, que – na segunda metade dos anos 90 – progredia de mega-sucesso em mega-sucesso, transformando o actor numa das maiores estrelas de cinema da década, a par de um Robin Williams ou Jim Carrey; no entanto, nas imortais palavras do tio do Homem-Aranha, Ben Parker, 'grande poder acarreta grande responsabilidade', e o facto é que, já no final da década, século e milénio, Smith utilizou o seu poder para fazer uma escolha irresponsável – e quase deitou a sua carreira a perder com a mesma.

A escolha em causa foi a de aceitar o papel principal na adaptação para cinema da clássica série dos anos 60 'Wild Wild West' (encabeçada por Barry Sonnenfeld, com quem Smith trabalhara no mega-sucesso 'Homens de Negro') em detrimento de outro projecto, um ambicioso filme de ficção científica realizado por uma dupla de irmãos... Sim, Smith recusou mesmo o papel de Neo em 'Matrix', para representar um ex-coronel do exército americano do século XIX numa comédia de acção com estética de 'western cyberpunk' – um conceito tão confuso quanto o próprio filme em si.

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Não há como 'dourar a pílula' – 'Wild Wild West' foi uma bomba, daquelas de tais proporções que continuam a ser recordadas mais de duas décadas após o seu lançamento. Apesar de bem aceite pelo autor deste blog, ali por alturas do seu décimo-quarto aniversário, o filme foi pessimamente recebido tanto pela crítica como pelos fãs, tornando-se um 'ponto negro' na filmografia não só de Smith como de actores do calibre de Kevin Kline, Kenneth Branagh ou mesmo Salma Hayek, então em 'estado de graça'.

O mais curioso é que o filme tinha tudo para dar certo, desde um realizador já com provas dadas no género da comédia de acção até um elenco de luxo; o todo, no entanto, acabou por ser bem menos que a soma das partes, não obstante alguns elementos visuais memoráveis – como o corpo de aranha do vilão Dr. Loveless, de Branagh – e um tema-título contagiante, interpretado pelo próprio Smith (que já cantara o equivalente em 'Homens de Negro') com alguns convidados de primeira categoria. Nada, no entanto, que chegasse para evitar a 'derrocada' do filme nas bilheteiras de todo o Mundo – 'derrocada' essa que quase se verificava, também, nas carreiras dos principais envolvidos...

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O 'tanque-aranha' de Loveless é talvez o elemento mais memorável do filme.

Felizmente, o tempo provou que Smith tinha carisma suficiente para ultrapassar uma má escolha (pelo menos uma que não envolvesse altercações físicas com colegas de profissão) tendo o actor oriundo de Filadélfia continuado a gozar de enorme sucesso nas duas décadas subsequentes, embora agora, maioritariamente, em papéis mais sérios; já Branagh e Kline souberam aproveitar as suas credenciais para 'endireitarem' as respectivas carreiras, enquanto Hayek, jovem e bonita, não teve quaisquer problemas em recuperar deste 'tropeção'. A 'bomba' em que todos participaram – e que celebra este ano exactos vinte e três anos sobre a sua estreia em Portugal – acabou, assim, por não ter grandes consequências, àparte a sua inclusão na lista de crédito dos respectivos actores, que decerto prefeririam apagá-la dos registos; infelizmente para eles, tal não é possível, e 'Wild Wild West' servirá, para sempre, como exemplo de como uma má escolha pode, potencialmente, levar a consequências muito drásticas...

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