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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.01.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Algumas figuras da chamada 'cultura pop' podem ser consideradas imortais, atravessando e influenciando várias gerações de crianças e jovens. De Zorro e Sherlock Holmes a Doctor Who e Harry Potter, a lista destes heróis é mais vasta do que, à partida, possa parecer – e um dos mais incontornáveis nomes nela contidos é o do agente secreto britânico James Bond.

De facto, apesar de ser pouco provável que algum jovem – português ou não – do último meio século tenha lido as obras escritas originais de Ian Fleming, é um dado quase adquirido que o mesmo terá visto pelo menos um dos filmes que, desde essa altura, vêm sendo dedicados ao herói. Com origem nos anos 60 – quando eram, ainda, contemporâneos dos próprios livros, e os mesmos estavam, ainda, a ser lançados – a franquia 007 conseguiu a proeza de, exactos sessenta anos após aquela primeira incursão com 'Dr. No' (de 1962) continuarem a atrair espectadores às salas de cinema, com o mais recente filme da série, lançado em 2021, a continuar a tendência de obras que, sem serem revolucionárias ou espectaculares, se traduzem ainda assim em duas horas de entretenimento de qualidade.

Esta definição pode, sem dúvida, aplicar-se a qualquer dos quatro filmes da era em que o agente foi interpretado por Pierce Brosnan (até então conhecido, sobretudo, pelos seus papéis em comédias familiares) os quais ajudaram a introduzir Bond a toda uma nova audiência, que era talvez demasiado nova para ter visto a última incursão do agente secreto no grande ecrã, 'Licença Para Matar', de 1989, e com Timothy Dalton no papel principal. De facto, para a geração nascida ou crescida nos anos 90 e 2000, Pierce Brosnan FOI James Bond – pelo menos até Daniel Craig herdar e redefinir o papel do agente britânico, já em pleno Novo Milénio. Assim, numa altura, em que o segundo destes filmes acaba de celebrar vinte e cinco anos sobre a sua estreia nacional (a 18 de Dezembro de 1997), nada melhor do que recordar, ainda que brevemente, a era em que o actor irlandês vestia o 'smoking' do distinto aficionado de Martinis.

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As bases para a 'fórmula´ dos filmes da era Brosnan seriam estabelecidas com 'GoldenEye', filme de 1995 que, hoje em dia, é mais lembrado pela actuação de Sean Bean, no papel do vilão Trevelyan, e pela extremamente bem sucedida adaptação electrónica lançada para Nintendo 64 em 1996. De resto, trata-se do típico 'filme-pipoca', com muitas explosões, cenas de acção mirabolantes e argumento simultaneamente simplista e complexo em demasia, que marcaria tanto esta franquia quanto a 'concorrente' 'Missão Impossível', de Tom Cruise.

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Esta mesma 'receita' alavancaria os dois filmes seguintes, 'O Amanhã Nunca Morre' (de 1997) e 'O Mundo Não Chega' (de 1999), duas obras muito semelhantes (até ao nível dos cartazes, como se pode constatar nesta mesma publicação) e que, como tal, se tendem a confundir na mente dos fãs mais 'casuais' de Bond. Ainda assim, e conforme referido no início desta publicação, qualquer dos dois representa uma excelente forma de 'matar' duas horas numa tarde ou noite mais 'preguiçosa', sobretudo para fãs da referida 'Missão Impossível' ou da franquia 'Kingsman'.

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A quadrilogia Brosnan encerrar-se-ia já no novo milénio, e de forma algo controversa, já que 'Morre Noutro Dia', de 2002, é geralmente tido como um dos piores filmes não só dessa era, mas de toda a série; ainda assim, o filme (que seguia a mesma fórmula dos anteriores) foi relativamente bem-sucedido, ainda que não o suficiente para prolongar a 'era Brosnan' – o filme seguinte, 'Casino Royale', de 2005, marcaria a estreia do quinto (e, até hoje, último) actor a vestir a pele do agento britânico, Daniel Craig. E ainda que o declarado afastamento deste último após o filme de 2021 marque o fim de mais uma era para a franquia, não é de crer que a mesma venha a terminar tão cedo – afinal, como o próprio título daquele filme indicava, o espião britânico encontra-se, regra geral, 'Sem Tempo Para Morrer'

28.10.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de não serem totalmente verídicos – havendo vários exemplos que justificam a ida ao cinema – os axiomas de que 'as sequelas nunca são tão boas como os originais' e 'as terceiras partes de filmes nunca são boas' têm o seu quê de verdade, havendo igualmente vários exemplos demonstrativos disso mesmo; é, pois, fácil de perceber que, quando a terceira parte de uma popular (e, até então, excelente) série de filmes é anunciada mais de cinco anos após a primeira sequela, o sentimento vigente entre os fãs da referida franquia seja um misto de entusiasmo pelo regresso de uma das suas propriedades intelectuais favoritas e apreensão pela projectada perda de qualidade do filme.

Imagina-se, pois, que terá sido sensivelmente esta a reacção dos fãs de 'Alien – O Oitavo Passageiro', ao saberem que estava em preparação uma segunda sequela das aventuras de Ellen Ripley na sua luta continuada contra os aterrorizantes Xenomorphs, as criaturas que tornaram famoso o artista H. R. Giger, e que ainda hoje continuam a constituir um dos melhores exemplos de efeitos práticos do cinema moderno. E se o nome de David Fincher ao comando dava algumas garantias de qualidade – mesmo estando o realizador ainda longe do renome que ganharia com 'Fight Club' e 'Se7en – Sete Pecados Mortais', meia década mais tarde – a verdade é que este acabou, mesmo, por ser um dos 'exemplos de capa' da 'maldição das terceiras partes', ficando 'Alien 3' muito aquém das expectativas dos aficionados do 'Alien' de Ridley Scott e de 'Aliens', a sequela bem mais 'bombástica' e 'explosiva' dirigida por James Cameron.

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A responsabilidade por este fracasso não foi, no entanto, totalmente do realizador, tendo Fincher (ele próprio uma 'segunda escolha' após o abandono de um tal Vincent Ward, algo impensável hoje em dia) sofrido com a interferência constante dos produtores e do estúdio que financiava o projecto, bem como com um processo de filmagens, ele próprio, algo tumultuoso, e que incluiu mesmo dias de filmagens sem argumento!

Tendo tudo isto em conta, é, pois, um milagre que 'Alien 3' tenha feito sucesso por toda a Europa (incluindo em Portugal, onde se completaram há precisamente um mês trinta anos sobre a sua estreia) e sido mesmo nomeado para um Óscar (no campo dos efeitos visuais) e vários prestigiosos prémios do campo da ficção científica, como os Saturnos e os Hugos, além de um MTV Movie Award para melhor sequêmcia de acção. A verdade, no entanto, é que – visto como um filme por si só – a obra de Fincher até tem algum mérito recuperando e exacerbando o tom de ficção científica pura e dura do primeiro 'Aliens', e conseguindo dar a cada um dos três primeiros filmes da série uma identidade própria (uma versão alternativa, conhecida como Assembly Cut e lançada em 2003, é, aliás, bastante do agrado dos fãs); no entanto, não é menos verdade que a terceira parte da franquia representa, também, o início do seu declínio, o qual se viria a confirmar de forma retumbante com o filme seguinte da série.

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De facto, se 'Alien 3' havia dado algumas indicações de que a franquia 'Alien' talvez não voltasse aos seus tempos áureos, 'Alien - A Ressurreição' (que completa em fins do próximo mês de Fevereiro vinte e cinco anos sobre a sua estreia em solo nacional) serve de confirmação a esse mesmo facto. Mal recebido tanto pelos fãs como pela crítica especializada, o filme apresenta, pela primeira vez, um tom declaradamente comercial, de 'blockbuster', e sem um pingo da identidade que os seus três antecessores haviam almejado – isto apesar da presença do francês Jean-Pierre Jeunet na cadeira de realizador, ele que se notabilizaria anos depois com o muito aclamado 'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain', e de Joss Whedon (ele mesmo, de 'Buffy, A Caçadora de Vampiros') como argumentista.

Dado este notório decréscimo de qualidade, não é, pois, de admirar que a terceira sequela de 'Alien' tenha também sido a menos bem sucedida até então, o que não invalida que tenha feito 161 milhões de dólares no mercado global, e sido nomeada para vários prémios Saturno; a enorme distância a que ficou dos Óscares, no entanto, revelava que a franquia perdera o respeito dos 'decision-makers' da indústria cinematográfica, uma tendência que apenas se viria a exacerbar com os capítulos seguintes da série. Esses já ficam, no entanto, fora do âmbito deste nosso blog, pelo que (felizmente) podemos deixar a franquia 'Alien' num ponto ainda relativamente digno da sua trajectória, e fingir que a terceira e quarta partes foram mesmo os piores dissabores que a mesma sofreu. Oxalá tal fosse verdade...

30.09.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Na passada edição das Quartas aos Quadradinhos, falámos de como o Juiz Dredd – um dos mais populares super-heróis de culto, e porta-estandarte da '2000 AD', uma das mais bem-sucedidas revistas de BD britânicas – tinha 'passado ao lado' dos leitores portugueses dos anos 90, tendo o seu impacto entre os bedéfilos nacionais da época sido praticamente nulo; nesse post, referimos ainda que esse mesmo facto era tanto mais surpreendente quanto o justiceiro de Mega City havia sido alvo de uma adaptação cinematográfica nessa mesma década, e com ninguém menos do que Sylvester Stallone (um dos maiores e mais reconhecíveis heróis de acção de finais do século XX) no papel do vingador futurista. Agora, na nossa habitual rubrica sobre filmes e cinema da época a que este blog diz respeito, chega a altura de analisar o referido filme, e a razão pela qual não conseguiu ter impacto no destino do personagem em Portugal.

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O cartaz do filme era, há que admitir, apelativo.

Produzido e lançado em 1995 (muito antes de os filmes baseados em BD terem algum tipo de respeito entre a demografia cinéfila, e com alguma razão) como 'blockbuster' de Verão, 'O Juiz' (um daqueles nomes tão incrivelmente genéricos como perfeitamente desnecessários) foi, à altura, apenas mais um exemplo do porquê de este tipo de filmes ter demorado tanto tempo a fazer a transição do seu nicho de culto para uma apreciação mais generalista; isto porque, apesar do orçamento considerável, o filme acaba por ser vitimizado por muitos dos problemas que assolavam a maioria dos 'filmes de BD' na era pré-'Homens de Negro' (e, mais tarde, 'X-Men', o verdadeiro revolucionador deste paradigma). Apesar do 'casting' perfeito para o papel principal – Sly não só tem a musculatura 'de respeito', mas também a laconicidade 'mastigada' que caracteriza Dredd – os restantes aspectos do filme deixam algo a desejar, com alguns a serem efectivamente detrimentais à apreciação do mesmo, como a presença do insuportável Rob Schneider no seu habitual papel de 'tagarela que tenta ter piada, e falha', ou o facto de o filme ter começado como um 'Maiores de 16' e ter 'vindo ao Mundo' como um 'Maiores de 12', tendo as alterações sido feitas literalmente semanas antes da data planeada para lançamento. E se a ideia de um Juiz Dredd 'para toda a família', soa absurda, é porque o é, já que a BD original não faz qualquer tentativa nesse sentido - antes pelo contrário, a violência gráfica explícita é uma das suas principais características!

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Stallone foi a escolha perfeita para Dredd; infelizmente, o restante filme não ficava à altura desta escolha.

O que resta, depois de todo o 'retalhar' feito pela Paramount e pelo próprio Stallone, é um filme que não sabe muito bem o que quer ser (obra de ficção científica relativamente 'séria' ou entretenimento leve para toda a família) e acaba por falhar todos os alvos a que aponta; não é, pois, de surpreender que, mesmo com uma forte campanha de 'marketing' e publicidade por detrás, a película de Danny Cannon seja hoje em dia lembrada, sobretudo, pelos aficionados de filmes de série B, ou de culto – coisa que 'Juiz Dredd' nunca quis ser, antes pelo contrário, Tão-pouco surpreende que o nome do Juiz de Mega City tenha continuado a andar 'pelas ruas da amargura' entre os cinéfilos e bedéfilos generalistas (em Portugal e não só) durante mais de uma década e meia após o lançamento do filme, até o excelente 'Dredd', de 2012 (com Karl Urban no papel principal) ter redimido a sua 'honra' e posto o nome Dredd nas bocas tanto de toda uma nova geração, pronta a receber de braços abertos mais material alusivo ao personagem, como dos ex-jovens a quem o filme original, da 'sua' época, havia desapontado ou simplesmente passado despercebido; e ainda que o mesmo também não tenha sido suficiente para 'lançar' definitivamente o Juiz no panorama bedéfilo português da década desde então decorrida, pelo menos permitiu ao personagem da DC britânica 'sair de cena' em alta – missão em que o seu antecessor falhou rotundamente...

09.09.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já anteriormente aqui abordámos o facto de, apesar de o género da ficção científica ter rendido muito mais clássicos nos anos 80 do que na década seguinte, os poucos grandes filmes do género que saíram durante os anos 90 terem, quase universalmente, adquirido o estatuto de clássicos desde a sua estreia; de 'O Exterminador Implacável 2' e 'O Dia da Independência' a 'Matrix' e 'Episódio I - A Ameaça Fantasma', a lista de mega-producções de temática futurista da última década constituiu um verdadeiro ror de êxitos de bilheteira, os quais almejaram também, muitas vezes, o consenso entre a sempre exigente crítica especializada.

Curiosamente, o ano de 1997 acabou por ser particularmente prolífero nesse campo, oferecendo às salas de cinema mundiais vários filmes de qualidade dentro deste género. De 'Homens de Negro' já aqui falámos; a 'O Enigma do Horizonte', atempadamente chegaremos; no entrementes, chega a altura de falar de um filme que celebrou há pouco mais de duas semanas o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nas salas portuguesas – facto que, por um lapso de calendarização, não chegámos na altura a assinalar. Neste 'post', corrigimos esse erro, e dedicamos finalmente umas linhas a 'O Quinto Elemento'.

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Realizado pelo excêntrico francês Luc Besson, conhecido pelos seus filmes de acção estilosos e com cenas 'a mil à hora', 'O Quinto Elemento' destoa um pouco na filmografia do cineasta, tendo muito pouco a ver com o anterior 'Léon, o Profissional', com o futuro mega-sucesso 'Taken' ou com a série 'Taxi', onde Besson foi guionista e produtor; onde esses eram filmes relativamente simples, de ambiente (mais ou menos) realista e focados na acção pura e dura, a longa-metragem de 1997 leva-nos até um futuro distante, claramente influenciado pelo clássico 'Blade Runner', e adopta um tom mais próximo deste do que da habitual linha 'Guy-Ritchie-parisiense' das obras de Besson. Em comum com muita da restante obra do francês, o filme tem a componente visual – repleta de penteados e perucas mirabolantes, a concorrer com o inevitável 'neon' que qualquer filme futurista tem que incluir – e o cuidado no desenvolvimento de personagens marcantes, com particular destaque para o andrógino empresário da vida nocturna Ruby, interpretado por Chris Tucker, hoje em dia talvez o elemento mais icónico e lembrado do filme.

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O excêntrico e andrógino Ruby de Chris Tucker é um dos personagens mais memoráveis do filme

Estes pequenos toques ajudam, em grande medida, a colmatar a história, que nada tem de especial, sendo a habitual trama sobre um polícia futurista (o Korben Dallas de Bruce Willis), também claramente herdada de 'Blade Runner', mas que é, ainda assim, apresentada e contada com competência acima da média, proporcionando duas horas de entretenimento garantido - como é, aliás, apanágio do realizador francês.

Em suma, 'O Quinto Elemento' é um filme bem típico da época estival (apesar do ambiente escuro e pós-apocalíptico) e que constituiu, à época da sua estreia, uma desculpa mais do que válida para escapar do sol de finais de Agosto para o frescor de uma sala de cinema; hoje, vinte e cinco anos depois desse momento, a obra de Luc Besson, além de continuar a 'aguentar-se' bastante bem, tem o prestígio adicional de não só ter inspirado futuras incursões do cineasta pelo ramo da ficção científica – como 'Lucy' ou o mais recente 'Valerian e a Cidade dos Mil Planetas' – como também se contar entre os melhores lançamentos do género a sair da década de 90, tendo-se merecidamente tornado um clássico dos videoclubes da viragem de milénio. Razões mais que suficientes para que lhe dediquemos (ainda que já atrasadamente) esta mão-cheia de parágrafos...

05.08.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas últimas edições desta rubrica, temos dedicado atenção à carreira de Will Smith, que – na segunda metade dos anos 90 – progredia de mega-sucesso em mega-sucesso, transformando o actor numa das maiores estrelas de cinema da década, a par de um Robin Williams ou Jim Carrey; no entanto, nas imortais palavras do tio do Homem-Aranha, Ben Parker, 'grande poder acarreta grande responsabilidade', e o facto é que, já no final da década, século e milénio, Smith utilizou o seu poder para fazer uma escolha irresponsável – e quase deitou a sua carreira a perder com a mesma.

A escolha em causa foi a de aceitar o papel principal na adaptação para cinema da clássica série dos anos 60 'Wild Wild West' (encabeçada por Barry Sonnenfeld, com quem Smith trabalhara no mega-sucesso 'Homens de Negro') em detrimento de outro projecto, um ambicioso filme de ficção científica realizado por uma dupla de irmãos... Sim, Smith recusou mesmo o papel de Neo em 'Matrix', para representar um ex-coronel do exército americano do século XIX numa comédia de acção com estética de 'western cyberpunk' – um conceito tão confuso quanto o próprio filme em si.

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Não há como 'dourar a pílula' – 'Wild Wild West' foi uma bomba, daquelas de tais proporções que continuam a ser recordadas mais de duas décadas após o seu lançamento. Apesar de bem aceite pelo autor deste blog, ali por alturas do seu décimo-quarto aniversário, o filme foi pessimamente recebido tanto pela crítica como pelos fãs, tornando-se um 'ponto negro' na filmografia não só de Smith como de actores do calibre de Kevin Kline, Kenneth Branagh ou mesmo Salma Hayek, então em 'estado de graça'.

O mais curioso é que o filme tinha tudo para dar certo, desde um realizador já com provas dadas no género da comédia de acção até um elenco de luxo; o todo, no entanto, acabou por ser bem menos que a soma das partes, não obstante alguns elementos visuais memoráveis – como o corpo de aranha do vilão Dr. Loveless, de Branagh – e um tema-título contagiante, interpretado pelo próprio Smith (que já cantara o equivalente em 'Homens de Negro') com alguns convidados de primeira categoria. Nada, no entanto, que chegasse para evitar a 'derrocada' do filme nas bilheteiras de todo o Mundo – 'derrocada' essa que quase se verificava, também, nas carreiras dos principais envolvidos...

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O 'tanque-aranha' de Loveless é talvez o elemento mais memorável do filme.

Felizmente, o tempo provou que Smith tinha carisma suficiente para ultrapassar uma má escolha (pelo menos uma que não envolvesse altercações físicas com colegas de profissão) tendo o actor oriundo de Filadélfia continuado a gozar de enorme sucesso nas duas décadas subsequentes, embora agora, maioritariamente, em papéis mais sérios; já Branagh e Kline souberam aproveitar as suas credenciais para 'endireitarem' as respectivas carreiras, enquanto Hayek, jovem e bonita, não teve quaisquer problemas em recuperar deste 'tropeção'. A 'bomba' em que todos participaram – e que celebra este ano exactos vinte e três anos sobre a sua estreia em Portugal – acabou, assim, por não ter grandes consequências, àparte a sua inclusão na lista de crédito dos respectivos actores, que decerto prefeririam apagá-la dos registos; infelizmente para eles, tal não é possível, e 'Wild Wild West' servirá, para sempre, como exemplo de como uma má escolha pode, potencialmente, levar a consequências muito drásticas...

22.07.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Mesmo depois do incidente ocorrido durante a cerimónia dos Óscares deste ano, continua a ser seguro considerar Will Smith uma das mais conhecidas celebridades do Mundo. Um raro caso de sucesso a duas frentes (além de um dos actores mais bem pagos da actualidade, conseguiu também enorme sucesso com a sua carreira discográfica) o natural de Filadélfia é uma daquelas caras instantaneamente reconhecíveis até para os mais distraídos – e é difícil negar que grande parte desse reconhecimento deve-se ao que o artista construiu durante a década de 90.

De facto, foi durante a última década do século XX que Smith viveu o apogeu da sua carreira, apresentando-se ao Mundo por meio da mítica 'sitcom' 'O Príncipe de Bel-Air' (que, paulatinamente, aqui merecerá destaque) e fazendo posteriormente a transição para o grande ecrã através de uma série de filmes de grande orçamento e ainda maior sucesso, iniciada em 'Os Bad Boys', de 1995 (que o lançou como actor de cinema e marcou outra estreia cinematográfica, no caso a do realizador Michael Bay), e que incluiu ainda dois mega-'blockbusters', que cimentaram definitivamente o estatuto do actor: primeiro 'O Dia da Independência', de Roland Emmerich, em 1996, e depois, no ano seguinte, o filme que abordamos neste texto, 'Homens de Negro'.

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Estreado por terras lusas há quase exactos 25 anos – a 28 de Julho de 1997 – a adaptação da BD homónima a cargo de Barry Sonnenfeld foi um dos maiores sucessos daquele ano, muito por conta da incrível química entre Smith e o seu coadjuvante, o veterano Tommy Lee Jones. No papel de dois agentes intergalácticos cuja missão é localizar e apreender extra-terrestres infiltrados entre os humanos – conhecidos apenas pelas suas iniciais, J e K – os dois actores elevam aquele que era já um guião de qualidade, tirando o máximo proveito dos seus 'tipos' opostos (o habitual homem pacato e carismático de Smith e o 'durão' de poucas palavras e com cara de poucos-amigos de Jones) para criar uma parelha dicotómica, mas que se prova capaz de trabalhar em conjunto para resolver a missão encomendada pelo seu chefe, Z; juntem-se a esta receita actuações secundárias de enorme qualidade, 'bonecos' impagáveis (como Frank, o carlino falante que se tornou imagem de marca da série) e uma mistura perfeita de humor, acção e ficção científica, e não é de admirar que 'Homens de Negro' tenha 'caído no gosto' da juventude portuguesa – como, aliás, já se passara no resto do Mundo.

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Cartaz da primeira sequela, lançada em 2002

Este sucesso prolongou-se, aliás, suficientemente no tempo para manter a 'marca' 'Homens de Negro' relevante não só até à estreia nacional da série animada baseada no filme (de que já aqui falámos num post recente), em 1999, como até à estreia da primeira sequela, cinco anos após o original e de há quase exactamente duas décadas a esta parte; previsivelmente, esse reconhecimento ajudou a que o segundo filme conhecesse, também, considerável sucesso – que, aliás, merecia, ficando quase ao nível do primeiro em termos de guião e desempenhos.

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Os dois últimos filmes da série já não conheceram o sucesso dos seus antecessores

O mesmo, infelizmente, não se pode dizer das duas sequelas seguintes, sendo que o terceiro filme (lançado DEZ ANOS depois de 'Homens de Negro II', e há quase exactamente uma década) apresentava uma fórmula já algo 'estafada' e a perder gás, enquanto que o quarto, de 2019 (já sem o envolvimento de qualquer dos actores principais do original) é universalmente considerado um daqueles 'remakes' desnecessários, cujo único intuito é capitalizar numa vaga percepção de nostalgia em relação ao 'franchise' em causa; nada, no entanto, que retire o mérito ao filme original, que continua – exactamente um quarto de século após a sua estreia em Portugal – a constituir uma excelente forma de passar duas horas em família, numa tarde chuvosa.

 

 

08.07.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje em dia, o nome de Michael Bay é imediatamente evocativo de filmes 'blockbuster' repletos de explosões, efeitos especiais, enredos sem grande substância (com algumas excepções, como o surpreendente 'A Ilha') e, provavelmente, com o envolvimento de Megan Fox algures – no fundo, o realizador representa uma espécie de James Cameron com as ambições megalómanas substituídas por uma dose 'extra' de impacto visual.

Em meados dos anos 90, no entanto, a situação era algo distinta, sendo Bay apenas mais um dos muitos realizadores de 'videoclips' musicais com ambições de fazer a transição para o mundo do cinema, a exemplo de um McG, por exemplo; e, como muitos dos seus semelhantes, o californiano viria mesmo a almejar o seu objectivo ainda nessa mesma década, e logo com um filme de acção de grande orçamento, e com o envolvimento de uma das maiores estrelas de cinema (na altura, ainda em ascensão) da era moderna.

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Falamos de 'Os Bad Boys', comédia policial que comemora no próximo fim-de-semana os vinte e sete anos da sua estreia em Portugal, e que junta Martin Lawrence e Will Smith (que cimentaria aqui as credenciais que o levariam a ser escolhido para 'O Dia da Independência' e 'Homens de Negro', dois dos mais bem-sucedidos filmes da década) como uma dupla de polícias com sentido de humor, ao mais puro estilo 'Arma Mortífera' ou 'Hora de Ponta' – ainda que, claro, bem mais 'cool' do que os 'trapalhões' Chris Tucker e Jackie Chan, ou os rezingões 'demasiado velhos para esta treta' interpretados por Mel Gibson e Danny Glover.

De facto, todo o filme é bastante mais 'estiloso' do que a maioria das produções suas contemporâneas (ou não se tratasse de uma película de Michael Bay), tendo mais em comum, do ponto de vista visual, com o que se viria a fazer no género alguns anos depois, já perto do final da década. Pode, pois, dizer-se que, pelo menos neste aspecto, Bay esteve 'à frente do seu tempo'; pena que, no que toca aos restantes parâmetros, 'Os Bad Boys' esteja longe de ser uma obra-prima, ainda que não deixe de ser um exemplo perfeitamente aceitável de 'filme de Sábado à tarde'.

Independentemente da qualidade, no entanto, a verdade é que a estreia de Bay como realizador fez sucesso suficiente para justificar uma sequela, já no novo milénio, e que, previsivelmente, mais não faz do que repetir a fórmula do original, utilizando a química entre Smith e Lawrence para 'carregar' mais uma historieta que pouco mais é do que um pretexto para tiros, perseguições automóveis e as famosas explosões de que o realizador se tornou sinónimo.

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Ainda que tão ou mais bem-sucedida do que o original, no entanto, 'Os Bad Boys II' não deu azo a nova sequela...pelo menos não no imediato, já que, DEZASSETE anos depois da estreia da segunda parte, o mundo do cinema viu a série ser elevada, à laia de 'presente' pelo seu vigésimo-quinto aniversário ao estatuto de trilogia, com a estreia de 'Bad Boys Para Sempre' ('Bad Boys For Life') que voltava a juntar a dupla de comediantes – agora mais velha e menos 'em forma' – para 'mais uma corrida, mais uma viagem' repleta de todos os elementos que os fãs da série certamente esperavam – à excepção de um enredo, claro está.

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Tendo em conta as idades avançadas dos protagonistas, e no rescaldo do 'estalo ouvido no Mundo inteiro', é, no entanto, muito pouco provável que alguma vez volte a ser produzido outro episódio da saga d''Os Bad Boys' – embora, a julgar pelo exemplo da supramencionada série 'Arma Mortífera', será mesmo melhor seguir o ditado que aconselha a 'nunca dizer nunca'... Enquanto se espera que Bay recupere e reviva a carreira do ostracizado e excomungado Will Smith, no entanto, resta recordar o filme que apresentou ao Mundo um deles, cimentou o segundo como 'mega-estrela', e ofereceu ao chamado 'cinema-pipoca' moderno o seu mais conhecido e divisivo realizador.

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