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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 19 de Julho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já aqui por várias vezes referimos a existência de videojogos licenciados como a grande marca de sucesso de qualquer franquia infanto-juvenil de finais do século XX; no entanto, existe outro indicador, apenas ligeiramente abaixo desse, que denota que uma propriedade intelectual tem tracção junto do público-alvo – o lançamento de um filme de longa-metragem com os seus personagens. As criações de Hanna-Barbera, que viviam, nos anos 90, um surpreendente 'segundo fôlego', não foram diferentes nesse aspecto, tendo a referida década e o início da seguinte visto serem lançados uma série de filmes alusivos aos mais diversos grupos de personagens criados pela dupla em meados do século XX.

De facto, dos principais núcleos saídos da imaginação de William e Joe, apenas um não teve, até à data, direito a adaptação para longa-metragem – a futurista família Jetson. Dos restantes, dois protagonizariam filmes ainda nos anos 90, e outros dois na década seguinte, entre 2000 e 2010. E se estes últimos ficam, já, fora do âmbito deste nosso blog, os dois primeiros merecem ser recordados, por terem sido (de uma forma ou de outra) marcos do cinema infanto-juvenil de finais do século XX. De um deles, falaremos na próxima Sessão de Sexta, que sairá dias antes de se comemorar o trigésimo aniversário do seu lançamento em Portugal; este post será, pois, dedicado a relembrar o outro, que atingiu há cerca de três semanas esse mesmo marco. E por, nessa altura, termos escolhido falar de 'Libertem Willy', outro clássico do cinema infantil da época, nada melhor do que celebrarmos agora, ainda que tardiamente, essa efeméride – ainda que, à altura do seu lançamento, o referido filme se tenha revelado largamente desapontante.

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Até mesmo o cartaz prometia algo que os fãs queriam ver, mas que ficava muito longe do que o filme apresentava.

Isto porque 'Tom e Jerry: O Filme' (que chegava às salas portuguesas a 1 de Julho de 1994, com quase dois anos de atraso sobre os seus EUA natais, num dos piores casos de 'décalage' cultural da época) cometia o erro simples, honesto, mas irreparável de tentar ser aquilo que não era, e que ninguém queria que fosse – nomeadamente, um típico filme infantil, com a clássica estrutura criada e implementada pela Walt Disney. De facto, ao pensar num filme protagonizado pelo gato e rato mais famosos da televisão (e ainda com a popularidade em alta, graças à repetição dos episódios clássicos nos diversos canais abertos e de TV Cabo portugueses, e de séries como 'Tom and Jerry Kids') a maioria dos fãs imaginaria uma hora e meia de caos, numa espécie de versão alargada das velhas curtas dos anos 40 e 50, por oposição a um filme em que Tom e Jerry falam (!), travam amizade (!!) e defendem uma jovem orfã de parentes malvados (!!!).

Sim, 'Tom e Jerry: O Filme' pouco mais é do que uma versão mal disfarçada do primeiro filme de Bernardo e Bianca (à época já com duas décadas de vida) que revela um total e perfeitamente estarrecedor desconhecimento da dupla de personagens sobre a qual supostamente se centra, e que, precisamente por esse facto, não logrou convencer o jovem público, que antecipava humor violento e pastelão – uma premissa que talvez não 'segurasse' um filme de noventa minutos, mas que poderia ser utilizada para, pelo menos, ancorar uma história característica da dupla e coerente com as suas aventuras passadas, talvez com Tom a ter de proteger a casa onde ambos vivem, ou de percorrer a cidade para evitar uma situação lesante para a sua pessoa. Estes são apenas dois dos muitos argumentos que se poderiam criar em torno de Tom e Jerry sem os descaracterizar completamente, e sem ter de recorrer a mais palavras do que as poucas ocasionalmente proferidas por Tom – dois factores que, inevitavelmente, teriam resultado num muito melhor filme do que o apresentado pela Hanna-Barbera. Pior – a primeira cena do filme apresenta precisamente aquilo que os fãs esperavam, elevando-lhes as expectativas com uma clássica (e hilariante) perseguição para depois os defraudar apresentando algo totalmente incaracterístico.

Em suma, apesar da boa animação e do orçamento razoável para a época, 'Tom e Jerry: O Filme' dá um gigantesco 'tiro no pé', conseguindo algo que parecia quase impossível: desperdiçar a premissa fácil e lucrativa de um filme centrado na dupla titular. Por esse motivo, e ao contrário da maioria dos filmes que passam nestas nossas Sessões, o mesmo apenas deve ser mostrado às novas gerações como exemplo do que NÃO fazer ao criar um filme licenciado, dado por pais que ainda lembram vivamente a desilusão que sentiram ao sair do cinema naquele Verão de 1994. Para esse efeito, fica abaixo o 'link' para o filme completo, em versão original; vejam por vossa própria conta e risco...

06.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 05 de Julho de 2024.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Já aqui anteriormente referimos o final dos anos 80 e início da década de 90 como, talvez, a era em que se fizeram maiores e mais concertados esforços para sensibilizar a juventude mundial para questões ecológicas. Alvo de campanhas municipais ou até nacionais um pouco por todo o Mundo, não é de admirar que a referida temática tenha, também, inspirado um sem-número de filmes e séries infantis na mesma época. E apesar de a esmagadora maioria destes se inserir no campo da animação, talvez por ser mais fácil veicular tal mensagem sem as restrições impostas pela realidade, não tardou até que também os produtores de filmes de acção real principiassem a explorar este filão, dando origem a nova série de clássicos infanto-juvenis para ver e rever durante uma Sessão de Sexta em família, um dos quais comemorou recentemente três décadas sobre a sua estreia em Portugal. E por, nessa ocasião, estarmos 'distraídos' com outras temáticas, deixamos aqui, agora, e ainda que com algum atraso, a justa homenagem a um filme que marcou a infância de muitos 'millennials', portugueses e não só, e fez parte de muitas colecções de VHS em anos subsequentes.

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O icónico cartaz do filme

Falamos de 'Libertem Willy', um dos muitos sucessos infanto-juvenis lançados pela Warner Brothers em inícios dos anos 90, e que chegava às salas de cinema lusitanas a 17 de Junho de 1994, quase um ano após a sua estreia nos EUA (como, aliás, era habitual à época) mas ainda a tempo de obter tanto sucesso em solo nacional como no resto do Mundo. Mais sério e sóbrio do que os antecessores 'Beethoven' (de 1992) e 'Dennis, O Pimentinha' (também de 1993), o filme conseguia ainda assim cativar o jovem público através de uma história simples, mas plena de impacto, e veiculada de uma forma que apenas parece levemente condescendente quando vista por um prisma adulto – ou seja, perfeita para a demografia a que a película se destina.

O centro nevrálgico da referida história segue, aliás, uma fórmula já bem testada, e inspiradora de clássicos de décadas passadas, como 'Old Yeller' ou 'Kes' – nomeadamente, a relação entre um jovem pré-adolescente e um animal. No caso, a metade humana da equação é Jesse (interpretado por Jason James Richter, um dos muitos proto-ídolos adolescentes da época) um rapaz de doze anos cuja infância algo atribulada encontra novo sentido após entrar em contacto com Willy, uma baleia-orca protagonista do espectáculo principal de um parque aquático. À medida que a relação entre ambos se aprofunda – incentivada pela treinadora de Willy, Rae, vivida por Lori Petty – Jesse resolve devolver o seu novo amigo ao mar onde nasceu e pertence, 'recrutando' a referida funcionária do parque, entre outros 'voluntários à força' para o ajudar na sua missão. E embora o fim esteja sempre longe de qualquer dúvida, é fácil 'embarcar' na aventura em si ao lado de Jesse, algo que o público infantil não hesitou em fazer, tornando o filme num retumbante sucesso e inscrevendo-o no vasto panteão de filmes de família memoráveis daquela década.

Curiosamente, no entanto – e também algo ironicamente, tendo em conta a sua mensagem – 'Libertem Willy' gerou tanto interesse pela sua história e aspectos técnicos como pelas condições em que era mantida a sua 'estrela' animal, Keiko. Com o movimento de libertação de golfinhos e orcas em pleno andamento à época de lançamento do filme – a mesma iniciativa que, anos depois, teria repercussões em Portugal, através da controvérsia em torno do Zoomarine – não tardaram a surgir reportagens acusatórias, que denunciavam o cativeiro da orca amestrada, cuja falta de espaço e água demasiado quente e clorídica haviam resultado em problemas físicos e de saúde. Não foi, pois, de admirar que, em consequência do filme, tenham sido postos em marcha esforços para 'Libertar Willy' (ou antes, Keiko), os quais viriam a render frutos quase uma década depois, quando, já no Novo Milénio, o animal foi – tal como a congénere fictícia que interpretava – liberto no mar, após mais de duas décadas de vida em cativeiro. Uma controvérsia de que o filme jamais se libertaria (passe o trocadilho), mas que acabou por ter um final feliz, e não beliscar a reputação da obra em si.

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A primeira sequela de Willy, lançada em 1995...

A liberdade de Keiko não deixou, no entanto, de se repercutir directamente nas duas sequelas a que o filme, previsivelmente, daria origem nos anos imediatamente subsequentes ao seu lançamento. Efectivamente, tanto 'Libertem Willy 2' como a terceira parte (subtitulada 'O Resgate') substituíam uma orca verdadeira por um boneco animatrónico, ao estilo do 'Tubarão' de Spielberg, evitando assim novas controvérsias em torno da crueldade animal. No restante, no entanto, ambos os filmes procuravam oferecer uma experiência ao nível do original, com a ajuda da maioria do elenco original.

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...e a segunda, de 1997.

De facto, ao contrário do que acontecia com as sequelas dos referidos 'Dennis o Pimentinha' ou 'Beethoven', ambas as continuações das aventuras de Jesse e Willy contam com os actores originais de regresso aos seus papéis do primeiro filme, algo que ajuda a credibilizar ambas as sequelas. Também os enredos de ambos os filmes mostram algum cuidado, com a segunda parte (de 1995) a prender-se com a tentativa de reunir Willy com a sua nova família após um derrame de petróleo no oceano e a terceira, de 1997 a ver Jesse e os seus aliados a contas com um grupo de baleeiros que procuram capturar Willy. Apesar de bem conseguidas, no entanto, nenhuma das duas sequelas logrou almejar o sucesso do original, com o 'falhanço' do terceiro a ditar o fim da franquia centrada na baleia-orca mais famosa do cinema...

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A inesperada terceira sequela, lançada em 2010

...pelo menos até, em plena 'febre' dos 'remakes', a Warner Brothers decidir trazer de volta Willy, numa quarta parte lançada directamente para o mercado DVD. Naturalmente, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' já não conta com qualquer dos actores de década e meia antes, entretanto já envelhecidos, e introduz uma nova protagonista, Kirra, uma jovem australiana que percorre o mesmo trajecto emocional do antecessor Jesse quando uma orca fica presa no parque aquático pertencente ao seu avô. Uma história já algo 'batida', mas bem-sucedida na principal função de um 'remake', a de apresentar a trama original a toda uma nova demografia; para quem viu o filme de 1993, no entanto, o principal motivo de interesse será mesmo a localização do filme, que se passa agora na África do Sul, derivando assim das habituais paisagens norte-americanas e dando um toque de exotismo ao filme. De resto, 'Libertem Willy 4 – A Fuga da Baía do Pirata' é um típico filme para crianças directo para DVD, com tudo o que isso implica.

Felizmente, e ao contrário de outras franquias infanto-juvenis, 'Libertem Willy' soube onde 'parar', tendo saído de cena com relativa dignidade e sem conspurcar o espírito do original com infindáveis sequelas cada vez mais tolas e infantis, e menos imbuídas do mesmo. E apesar de, enquanto franquia, não ter gozado do sucesso esperado, a série da Warner Brothers não deixou, ainda assim, de oferecer às crianças noventistas pelo menos um clássico imorredouro das Sessões de Sexta ou de fim-de-semana – o que, só por si, quase justifica a existência de todo o resto da franquia, e a torna digna de ser recordada, quase exactas três décadas após as crianças portuguesas da época terem tido, pela primeira vez, contacto com o filme original.

22.03.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 90 representaram uma das épocas áureas para os filmes de família, com inúmeras propostas de elevada qualidade, tanto no tocante a películas de animação (com a Renascença Disney e o florescer da Pixar e da Dreamworks) como no campo da acção real, que rendeu clássicos como 'Sozinho em Casa', 'Beethoven', 'Libertem Willy', 'Space Jam', 'Pequenos Guerreiros', 'Voando P'ra Casa', 'Papá Para Sempre', 'Matilda, A Espalha Brasas', 'Jamaica Abaixo de Zero' ou 'Dennis o Pimentinha', entre muitos outros. A esta lista há, ainda, que juntar um filme sobre cuja estreia nacional se celebram este fim-de-semana exactos vinte e cinco anos, e que marcou toda uma geração de 'millennials' portugueses mais novos.

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Falamos de 'Babe - Um Porquinho Na Cidade', a sequela do já de si bem-sucedido 'Um Porquinho Chamado Babe', lançado em Portugal no Natal de 1995, e que voltava a apresentar os jovens espectadores ao suíno titular, 'estrela da companhia' na quinta do Sr. Hoggett, após a sua vitória no concurso de pastoreio, nas últimas cenas do filme original; é, precisamente, desse ponto que parte esta sequela, que segue Babe na sua primeira aventura fora da quinta, e o lança num ambiente urbano totalmente desconhecido para o herói animal. Está, assim, dado o mote para uma hora e meia de peripécias estilo 'peixe fora de água' (ou, neste caso, 'porco') à medida que Babe se vê obrigado a usar de toda a sua coragem para enfrentar o novo desafio de sobreviver num ambiente hostil - uma premissa que, sem ser exactamente original, nunca deixa de render uma boa trama para um filme infantil.

E é, precisamente, isso que 'Babe - Um Porquinho na Cidade' é - um bom filme infantil ou 'de família', alicerçado nos sempre 'confiáveis' animais falantes e 'fofinhos' com vozes de celebridades sobre os quais se centravam tantos outros filmes da época, e que 'envelheceu' suficientemente bem para não aborrecer as crianças das hiperactivas gerações 'Z' e 'Alfa', podendo assim constituir uma boa aposta para uma Sessão de Sexta (ou Sábado) em família, que permita aos mais novos conhecer mais um bom filme para a sua faixa etária, e aos pais 'matar saudades' de quando o viram no cinema, em pequenos, nos idos de Março de 1999...

03.11.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A década de 90 é unanimemente reconhecida, hoje, como um dos melhores períodos para o cinema de animação; afinal, foi nesse período de dez anos no final do século XX que se verificaram a chamada 'Renascença' dos estúdios Disney (que produziriam uma série de filmes ainda hoje icónicos e míticos, ao ritmo de um por ano, durante a grande maioria dos anos 90), a ponta final do período áureo de Don Bluth (iniciado na década anterior), o surgimento da Dreamworks como grande potência dentro do meio e, talvez mais significativamente, o nascimento da animação 3D, pela mão da inovadora Pixar, que, em tempo, aqui terá o seu espaço.

E se não eram muitos os que, à época arriscavam apostar nessa nova tecnologia – que conjugava a falta de créditos firmados com o preço exorbitante, numa combinação muito pouco apelativa – a verdade é que a referida Dreamworks resolveu mesmo dar esse 'salto', e seguir nas passadas da concorrente associada à Disney; e embora viesse a ser na década seguinte que a companhia de Jeffrey Katzenberg verdadeiramente 'abraçaria' a tecnologia, os anos 90 deixaram, ainda, pelo menos um exemplo de animação 3D criada pela mesma, o qual celebra dentro de poucos dias (a 6 de Novembro) um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

Trata-se de 'Antz', que em Portugal levou o título de 'Formiga Z', conseguindo a proeza de, ao mesmo tempo, perder o trocadilho original e acabar por criar um novo. Isto porque o protagonista do filme se chama, precisamente, Z, dando ao título português um cariz biográfico que o original não tinha, e que se conjuga bem com o enredo do filme, que se centra precisamente sobre a crise existencial vivida pela referida formiga, e pelas suas tentativas falhadas de escapar da sociedade totalitária e ditatorial que habita, e de ganhar a mão da princesa das formigas.

Esta sinopse é, por si só, suficiente para dar a perceber o principal atractivo de 'Formiga Z' – nomeadamente, o facto de ser uma resposta adulta e sardónica ao que a rival Pixar vinha fazendo, e especificamente ao segundo filme da companhia, 'Uma Vida de Insecto', estreado no mesmo ano nos EUA mas que, paradoxalmente, viria a chegar a Portugal apenas quatro meses depois, já no início de 1999. Assim, o primeiro 'filme de formigas' para muitas crianças da época terá sido aquele em que uma formiga com a voz (no original) e atitude de Woody Allen discute temas sérios e adultos com o seu melhor amigo, o típico personagem 'brutamontes', que na versão original conta com a voz de Sylvester Stallone – uma experiência, diga-se, absolutamente incomum, numa era em que a Dreamworks ainda era mais conhecida pelos seus épicos pseudo-Disneyanos do que pelas comédias subversivas que a tornariam famosa na década e século seguintes.

Talvez por isso 'Formiga Z' tenha sido, e continue a ser, um filme polarizante, tanto entre os críticos como junto do público, que (pelo menos à época) esperava 'mais um' filme animado para 'matar' hora e meia com os pequenotes no cinema, e se deparava com uma espécie de versão animada das comédias negras realizadas e protagonizadas por Allen; a verdade, no entanto, é que apesar de 'Uma Vida de Insecto' ser vastamente superior do ponto de vista técnico, este talvez seja o mais interessante dos dois 'filmes de formigas', ainda que passe longe de constituir uma obra-prima. Talvez mais relevante seja a possibilidade de este filme ter encorajado a Dreamworks a prosseguir a via da animação 3D, a qual, três anos depois, lhe daria o filme (e franquia) com o qual é ainda hoje sinónima; por outras palavras, sem 'Formiga Z' talvez não tivesse havido 'Shrek'. Quanto mais não seja por isso, esta primeira 'aventura' da Dreamworks por terrenos 3D merece destaque, quando se assinala um quarto de século sobre a sua estreia nos ecrãs nacionais.

06.10.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O género cinematográfico dos 'animais falantes' teve, nos anos imediatamente antes e depois da viragem do Milénio, a sua época áurea. Ao passo que os filmes centrados em animais do período mais clássico – entre os anos 50 e 70 – preferiam que fossem as acções dos protagonistas a construir e conduzir a narrativa, os seus congéneres de finais do século XX e inícios do seguinte não deixavam qualquer informação importante ao acaso, fazendo questão de transmiti-la na voz de uma qualquer celebridade, super-imposta aos movimentos labiais (acidentais ou gerados por computador) de um qualquer 'bicho'. E a verdade é que, no que toca a animais para 'fazer' falar, os papagaios estão inegavelmente entre as escolhas mais naturais, dada a sua habilidade intrínseca para aprender e reproduzir sons.

Está, assim, explicada a linha de pensamento por detrás de 'Paulie – O Papagaio Que Falava Demais', um filme cuja premissa é, literalmente, o reconto, por parte de um papagaio falante, das suas aventuras depois de ser separado da sua família adoptiva, e que procurava, claramente, almejar o mesmo nível de sucesso dos dois 'Regresso a Casa' ou da então incipiente franquia 'Doutor Doolittle'. E apesar de não ser, hoje em dia, lembrado com a mesma nostalgia de qualquer dessas duas propriedades, a verdade é que a película não deixa de constituir uma boa alternativa para uma tarde de fim-de-semana em família, até por não se dar aos excessos pseudo-cómicos de qualquer dos seus 'concorrentes'.

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Capa do DVD nacional do filme (crédito da foto: OLX).

De facto, no cômputo geral dos filmes de animais da década de 90, 'Paulie' é um filme menos frenético e hiperactivo do que 'Doutor Doolittle' ou 'Beethoven', colocando maior ênfase na aventura e nas relações interpessoais do que nas piadas constantes, sem no entanto perder o humor trazido pela interpretação de Jay Mohr como o personagem principal – sendo que, neste aspecto, o mesmo se aproxima sobremaneira do supramencionado 'Regresso a Casa' e respectiva sequela, ou ainda dos dois capítulos da saga 'Babe', o segundo dos quais produzido no mesmo ano. Efectivamente, apesar de as peripécias de Paulie se prestarem a vários momentos cómicos, sempre pontuados pelos 'dichotes' do papagaio, e dos diversos e caricatos humanos com quem se cruza, o cerne do filme reside, sobretudo, na carga emocional de ver o 'bicharoco' perder a família e acabar como cobaia num laboratório, sem que tal destino lhe retire a esperança e o optimismo, apesar do adivinhado fim trágico que se avizinha – um desfecho que, podendo ser algo 'forte' para a geração actual, não era totalmente incomum em filmes infantis mais clássicos, em que nem sempre tudo acabava bem.

Em suma, apesar de estar longe de ser um clássico ao nível dos restantes filmes mencionados neste 'post', 'Paulie' não deixa de constituir uma forma agradável de 'matar' uma hora e meia, capaz de manter as crianças interessadas sem aborrecer (muito) os adultos; perfeito, portanto, para um qualquer fim-de-tarde deste 'Verão de S. Martinho' antecipado que se vive actualmente em território português.

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