22.04.24
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
O conceito de grupos formados por familiares musicalmente inclinados não é, de todo, nova; de facto, desde o dealbar da música moderna que, de uma forma ou de outra, irmãos, irmãs, primos ou até pais e filhos se têm juntado para gravar, ou simplesmente interpretar ao vivo, temas do seu estilo favorito. Dos grupos vocais dos primórdios à sua evolução natural nas décadas de 70 e 80 – quando Jackson 5 e The Osmonds adaptavam o mesmo som de base a demografias diametralmente distintas – este tipo de banda tem sido uma das pedras basilares do mercado 'pop', tendo mesmo acabado por influenciar estilos mais enérgicos ou agressivos.
Assim, não é de surpreender que também os anos 90 tenham tido os seus diversos representantes deste estilo de grupo, na sua maioria constituídos por adolescentes do chamado 'Midwest' norte-americano – aquela longa faixa de vários estados no 'coração' do território onde pouco ou nada acontece de particularmente entusiasmante, e a vida se desdobra entre casa, a escola, a igreja e um ou outro ponto de encontro para os jovens da terra. Num ambiente como este, a música acaba por ser um dos poucos meios de 'agitar' um pouco o quotidiano, e, dada a importância da família na cultura maioritariamente cristã daquela parte do Mundo, é natural que dali saiam inúmeros grupos musicais de e para jovens, e que muitos deles sejam constituídos por familiares directos. Foi o caso, na última década do século XX, de colectivos como The Moffats, Kelly Family, e o grupo que lhes 'abriu as portas' à fama – um trio de 'meninos-bonitos' loiros, de cabelo comprido e vozes angelicais, mas capazes de compôr e interpretar os seus próprios temas, que, no Verão de 1997, gozaram de um insólito e até inesperado momento de fama, e conseguiram pôr boa parte do Mundo ocidental a entoar um refrão perfeitamente 'nonsense'.
A banda, tal como era à época.
Filhos de um músico de Tulsa, Oklahoma, no Sul dos Estados Unidos, Isaac, Taylor e Zac Hanson iniciaram-se nas lides musicais ainda em idade de instrução primária, interpretando temas 'a capella' e versões de temas clássicos de rock'n'roll. Nessa primeira fase, todos os três rapazes tocavam piano, mas a evolução musical dos irmãos rapidamente viu Isaac encarregar-se da guitarra e o pequeno Zac, então com pouco mais de seis anos, gravitar para a bateria. Surgem então as primeiras gravações oficiais, dois álbuns independentes lançados localmente em 1994 e 1996, o segundo dos quais continha uma versão embriónica daquele que viria a ser o maior sucesso do trio, do qual tirava também o nome. Os seus contactos dentro da indústria musical permitiam também aos 'manos' tocar no festival South by Southwest, um conceituado evento de música alternativa, onde acabariam por ser descobertos por um agente, que rapidamente os começa a apresentar a editoras discográficas. Após várias 'negas' da parte de executivos que os viam como pouco mais do que uma curiosidade, a Mercury decide apostar no grupo, lançando, em 1997, o seu primeiro álbum distribuído a nível global, 'Middle of Nowhere'.
A capa do álbum que catapultaria a banda para o estrelato.
E se a capa amarelo-canário do disco e a tenra idade dos intérpretes poderiam levar a pensar numa literal 'boy-band' ou grupo declaradamente infantil, os irmãos Hanson surpreendiam com um álbum de sonoridade adulta, alicerçado num 'pop-rock' com toques e 'tiques' 'country' - ou não fossem os rapazes do sul dos EUA – pronto para a rotação nas rádios alternativas norte-americanas. Ou melhor, era esta a sonoridade de onze das doze músicas do disco (treze, na versão em CD); a outra era uma 'cançoneta' pop-rock que escondia uma temática surpreendentemente adulta (o fluxo de relações interpessoais efémeras vivido por qualquer ser humano) por detrás de um refrão feito de sons desconexos e improvisos vocais, que deixava a nu a tenra idade dos integrantes. Uma candidata improvável a 'single' e mega-sucesso, talvez – mas seria precisamente nisso que se viria a tornar aquando do seu lançamento mundial, sobre o qual se celebraram na semana transacta (concretamente a 15 de Abril) exactos vinte e sete anos.
De facto, contra todas as probabilidades, 'MMMBop' 'cairia no gosto' da geração contemporânea dos três irmãos – então com dezasseis, catorze e onze anos – e 'tomaria de assalto' as ondas radiofónicas mundiais no Verão de 1997, durante o qual eram poucos os jovens que não conhecessem (e cantarolassem) aquela sequência de sons incrivelmente 'viciante' que compunha o refrão da música. Esperassem-no ou não, os 'manos' Hanson eram agora mega-estrelas em 'miniatura' ao nível do que tinha sido, anos antes, um Macaulay Culkin, com direito a presenças em programas de televisão como 'The Weird Al Show', 'Melrose Place' e 'Space Ghost: Coast to Coast', da Hanna-Barbera, e a turnês mundiais repletas de jovens da sua idade prontos a entoar com eles o famoso estribilho.
O 'single' de 'MMMBop'.
A 'sede' por novo material por parte desta mesma base de fãs viria também a justificar a reedição de um dos álbuns independentes do grupo, agora renomeado 'Three Car Garage', e do inevitável disco de Natal, 'Snowed In', no espaço de poucos meses! Esse mesmo espaço de um ano (entre 1997 e 1998) veria, também, os irmãos figurarem entre os artistas mais novos de sempre a serem nomeados para um Grammy, e lançarem no mercado a sua biografia oficial – de jovens que, recorde-se, ainda não haviam saído da adolescência - ou, num dos casos, sequer ENTRADO na mesma! A popularidade do grupo assumia, assim, contornos de 'febre' – e, como qualquer febre (física ou social), também esta não demoraria a passar.
O segundo álbum do grupo já não almejaria o mesmo sucesso da estreia.
De facto, no espaço que mediou entre o sucesso vindo do 'meio do nada' e o disco seguinte do grupo, 'This Time Around', de 2000, Isaac, Taylor e Zac amadureceram, assumiram um visual mais roqueiro – a condizer com a nova sonoridade em que apostavam – e perdiam o 'factor fofura' que os fizera dar nas vistas três anos antes. Em conjunção com a absorção da Mercury pela Def Jam – da qual resultava um menor orçamento promocional – esta mudança precipitou o declínio de popularidade do trio, que se viu obrigado a financiar a turnê desse segundo álbum por conta própria, e teve de se contentar com audiências bem mais modestas.
Os Hanson nos dias de hoje.
Este típico ciclo de 'ascensão e queda' não desmotivou, no entanto, o grupo, que – entre a organização de acções filantrópicas e retiros para músicos - prosseguiu a carreira nessa vertente mais discreta, lançando um novo álbum imperetrivelmente a cada três anos durante toda a primeira década do Novo Milénio, até 2013, data em que se verificou um maior hiato, que seria quebrado em 2017, com uma turnê orquestrada comemorativa dos vinte anos de 'Middle of Nowhere' e novo disco de Natal. Quatro anos depois, surge o sétimo disco de originais, rapidamente precedido do oitavo (e, até agora último) lançado em 2022, já depois de os irmãos se terem visto envolvidos em controvérsias derivadas das suas posições conservadoras, sobretudo no tocante às vacinas e restrições aplicadas aquando da pandemia de COVID-19. O típico final algo 'deprimente' para artistas que, na mente de toda uma geração, serão para sempre aqueles adolescentes loiros e de cabelos compridos a divertirem-se à grande no lendário videoclip de um dos maiores sucessos do pop-rock noventista, capaz de fazer qualquer 'millennial' regredir à infância ou adolescência durante três minutos e meio...