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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

06.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A figura é familiar para qualquer adepto que tenha acompanhado os Campeonatos Nacionais de futebol de inícios da década de 90, e também para quem tenha tido interesse no campeonato italiano da segunda metade da mesma década e inícios da seguinte: um 'centralão' de expressão plácida e cabelo à 'roqueiro' dos anos 80, que, assim soava o apito, se tornava verdadeiramente intratável, servindo como esteio defensivo não só dos clubes por onde passou como também da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro', com a qual participou em três Campeonatos Europeus (em 1996, 2000 e 2004) e um Mundial, de má memória, em 2002. Falamos, claro está, de Fernando Manuel Silva Couto, autêntica 'lenda' do FC Porto que, ao lado de nomes como Jorge Costa e Aloísio, garantia solidez no sector mais recuado dos 'Dragões' de inícios da década.

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Fernando Couto, ainda adolescente, com a camisola que o notabilizaria.

O que poucos saberão (ou se recordarão) é que Fernando Couto não ficou imune ao habitual processo de empréstimos comum a quase todos os jovens jogadores de um clube 'grande'. Apesar de se ter destacado o suficiente nas camadas jovens do Espinho e Lusitânia de Lourosa para despertar o interesse do Porto, e de ter sido, por uma vez, aposta 'de banco' de Tomislav Ivic na época 1987-88 (ainda em idade de júnior), o jovem Fernando rapidamente se veria 'enviado' para outras paragens, como forma de amadurecer e desenvolver o seu promissor futebol. Ou seja, até um jogador tão famoso e talentoso como Fernando Couto foi, a dado ponto da sua carreira, uma Cara (Des)conhecida em clubes menores do panorama futebolístico nacional.

No caso do central, foram duas as 'paragens' nesta fase da sua carreira, com resultados diametralmente opostos; no Famalicão, realizaria apenas uma partida durante a época 1988-89 (algo que não o impediu de alinhar ao lado de nomes como Rui Costa e João Vieira Pinto no Campeonato do Mundo de sub-20, em Riade, que Portugal viria mesmo a conquistar), enquanto que na Académica, seria figura importante, alinhando em vinte e quatro partidas e contribuindo mesmo com dois golos no decurso da época 1989-90, na qual amealhou também sete presenças na Selecção Nacional Sub-21. Pode, pois, dizer-se que foi enquanto membro do plantel dos 'Estudantes' que Couto verdadeiramente se afirmou como um talento a ter em conta – algo que não passou despercebido aos responsáveis do Futebol Clube do Porto, que o reintegrariam no plantel no início da época seguinte, desta vez de forma permanente.

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O jogador na Académica, ao lado de Abel Silva, seu companheiro na Selecção Sub-20 que conquistara o Mundial de Riade no Verão de 1989.

O resto da história é bem conhecido: quatro épocas de alto nível ao serviço do Porto, coroadas com seis títulos, que o tornariam peça indiscutível da Selecção Nacional portuguesa levariam à mudança para o campeonato italiano, onde faria mais uma excelente época ao serviço do Parma, ajudando à conquista da Taça UEFA por parte dos italianos. Na segunda época, teria menos proeminência, mas faria, ainda assim, o bastante para assegurar um contrato com o Barcelona de Romário, onde faria mais uma época de alto nível e (apesar de menos utilizado após a chegada de Louis Van Gaal) adicionaria uma Taça dos Vencedores das Taças ao seu palmarés, em 1996-97.

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Couto no Barcelona.

Na época seguinte, dar-se-ia a maior mudança da sua carreira, no caso o regresso ao Calcio para ser ídolo da Lazio, clube com o qual é mais frequentemente associado e onde permaneceria até ao final da época 2003-04, criando uma relação com clube e adeptos que apenas uma disputa salarial viria a quebrar.

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Na Lazio, onde passou a maior parcela da sua carreira e onde se tornou ídolo dos adeptos.

O resultado desse desentendimento seria um regresso ao Parma, onde, aos trinta e cinco anos, Couto provaria que ainda tinha muito para dar ao futebol, realizando mais duas épocas de grande nível antes de 'perder gás' na terceira, a de 2007-08, que acabaria também por ser a sua última,depois de já se ter 'despedido' da Selecção quatro anos antes, após ter 'passado o testemunho' a Ricardo Carvalho durante o Euro 2004. Uma saída em alta, portanto, para um dos mais históricos jogadores portugueses de sempre – e que torna ainda mais difícil acreditar que, em tempos, o mesmo tenha andado 'perdido' em empréstimos por esse Portugal afora.

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Com a camisola do Parma.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos futebolistas que abordamos nesta rubrica, Fernando Couto nunca escolheu enveredar pela carreira de treinador, preferindo ser recordado, acima de tudo, pelo seu legado em campo – algo que procurámos, precisamente, fazer nas breves linhas deste 'post', como forma de homenagear um dos melhores defesas centrais portugueses de sempre na semana em que completou cinquenta e quatro anos. Parabéns, Fernando, e obrigado por tudo.

24.07.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

Quando se fala dos campeonatos portugueses da década de 90, há alguns nomes que vêem imediatamente à baila, seja pelo talento invulgar, pela falta do mesmo, ou simplesmente por parecerem já fazer parte da 'mobília' no início de cada nova época. Nesta nova rubrica, o Portugal Anos 90 propõe-se recordar as carreiras de algumas dessas Lendas do Campeonato Nacional.

E para começar, nada melhor do que recordar um nome que será lembrado com saudade ou com antagonismo (dependendo do clube do coração) pela maioria dos adeptos que ainda recordem esses tempos: Aloísio Pires Alves, 'centralão' do FC Porto conhecido por ser – a par de Jorge Costa ou Paulinho Santos - uma das principais caras daquelas equipas extremamente físicas que os 'Dragões' apresentavam no início da década, e um dos últimos resistentes das mesmas (a par do referido Jorge Costa) a sobreviver à transição para o 'novo' Porto europeu, no virar do milénio.

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O central com a camisola com que se tornou sinónimo

Nascido em Pelotas, Rio Grande do Sul, a 16 de Agosto de 1983, Aloísio iniciou a sua carreira profissional dezanove anos depois, ao serviço do Internacional de Porto Alegre, onde permaneceria seis épocas e realizaria mais de cem jogos, ajudando a equipa a conquistar três campeonatos estaduais, bem como a atingir uma inédita segunda posição na Série A brasileira (então conhecida como Copa União) em 1987.

A preponderância que assumia no seio da equipa gaúcha, bem como o elevado nível exibicional que mantinha, acabaram eventualmente por propiciar o sonho de qualquer jogador sul-americano, nomeadamente, o de se transferir para um grande clube europeu. No caso de Aloísio, foi o Barcelona quem mostrou interesse, acabando mesmo por assinar contrato com o jogador no início da época 1988/89. Surpreendentemente (ou talvez não), Aloísio conseguiu corresponder às expectativas associadas a tal transferência, encontrando o seu espaço no Barça dos anos pré-'dream team', pelo qual alinhou um total de 48 vezes ao longo de duas épocas, uma das quais na final da Taça dos Campeões Europeus (hoje, Liga dos Campeões) da época 1988/89, que terminaria com o triunfo dos 'blaugrana' frente à Sampdoria por 2-0. As suas boas exibições ao serviço dos catalães valer-lhe-iam ainda, nessa mesma época, a chamada à Selecção Nacional brasileira, pela qual realizaria seis jogos, a juntar aos quatro que já lograra ao serviço dos Sub-20, ainda nos tempos do Internacional.

Apesar de se afirmar como parte importante da equipa catalã em ambas as épocas em que alinhou com o seu escudo, no entanto, Aloísio viria mesmo a embarcar em nova aventura a tempo da época 1990/91, galgando as montanhas transmontanas para assinar pelo Futebol Clube do Porto, então em fase dominante no contexto do Campeonato Nacional da I Divisão. Do resto, reza a história: no total, foram onze épocas (mais de metade da carreira total do brasileiro) e quase quinhentos jogos oficiais ao serviço dos 'Dragões', ao longo dos quais conquistou dezanove títulos (incluindo um penta-campeonato, louvor que partilha com apenas cinco outros jogadores em toda a História do clube), formou parte integrante de uma fortíssima defesa portista nos primeiros anos da década, alinhou em pelo menos 28 dos trinta e poucos jogos do campeonato em todas as épocas à excepção da última, e conquistou um lugar como figura maior não só da 'mística' portista, como dos campeonatos da década de 90 como um todo - o que torna mais que merecida a sua inclusão na lista de Lendas do Campeonato Nacional daquela época, e a honra de inaugurar mais esta nova rubrica do nosso blog.

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Aloísio com os quatro uniformes da sua carreira

21.11.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Para a maioria das pessoas – incluindo os desportistas – a rota para o sucesso é longa e árdua. Embora haja quem pareça já ter nascido ali, no topo da cadeia alimentar da sua respectiva área, a verdade é que, a maior parte das vezes, até as mais distintas carreiras têm início nos locais mais insólitos e inesperados. Nesta nova rubrica aqui no Anos 90, vamos relembrar onde andavam algumas das caras mais icónicas do desporto português, antes de serem famosos.

E começamos, desde logo, com um exemplo perfeito do tipo de percurso acima descrito: a história de Anderson Luís de Sousa, um médio brasileiro que, no decorrer dos anos 2000, se viria a tornar um dos jogadores mais instantaneamente reconhecíveis do mundo do futebol, passeando a sua classe primeiro ao serviço de um FC Porto em transição da fase 'sarrafeira' para a fase de conquista da Europa, e mais tarde do Barcelona, do Chelsea e da Selecção Nacional portuguesa. O que poucos saberão, no entanto, é que antes de viver estes anos de glória, Deco – como era mais comummente conhecido – militou em dois outros 'históricos' do futebol português, ambos entretanto tombados: nada mais, nada menos do que o Alverca (aqui por empréstimo do 'clube-pai' Benfica, juntamente com o colega de equipa e histórico dos ribatejanos, Caju) e Sport Comércio e Salgueiros.

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Deco alinhou pelo Alverca e Salgueiros, nas épocas de 1997-98 e 1998-99, respectivamente

Sim, um dos jogadores mais claramente predestinados da sua geração começou a sua ascensão para o sucesso do mesmo modo que tantos outros: descoberto no seu Brasil natal por um 'grande', mas cedo 'despachado' para um clube satélite, onde acaba por se afirmar. No caso de Deco, no entanto, a excelente época realizada no clube ribatejano - onde foi, ao lado do conterrâneo e colega de equipa Caju, uma das figuras de proa, com 32 jogos e 12 golos - não foi suficiente para conseguir uma segunda oportunidade no Benfica de Souness, demasiado ocupado a arranjar lugares de plantel para os seus 'boys' para reparar na pérola que tina debaixo do seu nariz. No início da época de 98-99, naquele que foi considerado posteriormente como um 'erro histórico', Deco viria a desvincular-se definitivamente do Benfica, clube pelo qual nunca chegara a calçar, e rumaria a Norte, para se juntar ao Salgueiros, seguindo Nandinho (outra aposta falhada do clube da Luz) na direcção inversa. Uma época assolada por lesões levaria a que o hoje luso-brasileiro alinhasse apenas doze vezes pelo histórico clube nortenho, mas mesmo com poucas aparições e muito azar, Deco conseguiu mostrar o seu talento a ponto de despertar o interesse do Porto, que o viria a contratar ainda antes do fim da temporada. O médio estreava-se, assim, na elite do futebol mundial da melhor maneira – com um título de campeão nacional, que quase fazia esquecer a época desafortunada que acabara de viver.

O resto da história é bem conhecido – títulos europeus com o Porto, transferências para o Barcelona e depois Chelsea, participação em algumas das melhores campanhas da selecção nacional portuguesa, e eventual regresso a 'casa' para alinhar pelo Fluminense. Uma carreira verdadeiramente de 'top' mundial, que é difícil de acreditar que começou com a dispensa de uma equipa que ficou na história pelo seu elevado volume de 'mancos', mas que não teve lugar para um dos últimos grandes 'números dez' puros do futebol moderno. No entanto, como se disse no início deste texto, por vezes a vida tem destas coisas – e Deco não será, certamente, o último exemplo que aqui vemos disso mesmo...

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