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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.07.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui anteriormente falámos dos diversos tipos de bonecas e bonecos para todas as idades disponíveis em finais do século XX e que, além do próprio conceito de emularem uma figura (mais ou menos) humana, partilhavam ainda uma outra característica: o facto de serem frágeis, e poucas vezes resistirem ao manuseamento tipicamente 'bruto' a que eram sujeitos pelo seu público-alvo, a ponto de Barbies ou Action Man sem cabelo, braços ou pernas serem comuns o suficiente para se tornarem um estereótipo, presente inclusivamente em filmes como 'Toy Story'. Assim, não foi de estranhar que, durante a década de 70, uma companhia americana procurasse criar um boneco que evitasse esse tipo de problema – uma figura que acabaria por se chamar Stretch Armstrong e que, nas décadas seguintes, chegaria a todo o tipo de mercados ao redor do Mundo, entre eles Portugal, onde 'aterraria' precisamente nos anos 90.

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As duas versões do boneco, ambas comercializadas em Portugal nos anos 90, e a primeira relançada em 2016.

Distribuído em terras lusas pela Famosa – conhecida sobretudo como a companhia comercializadora dos Nenucos – Stretch Armstrong trazia como principal atractivo o facto de poder ser puxado, esticado e 'maltratado' das mais diversas formas sem se partir nem danificar. Isto porque o corpo do boneco, à excepção da cabeça, era feito de borracha e recheado com um gel especial, que permitia que a figura se mantivesse 'esticada' durante alguns momentos antes de, quase como por magia, regressar à sua forma original – uma proposta irresistível para a grande maioria das crianças daquele fim de século, que podiam, assim, 'abusar' do boneco sem sofrer as normalmente inevitáveis consequências.

De referir que a versão mais conhecida em Portugal do boneco é a segunda, de feições exageradas e roupa de ginásio preta, originalmente lançada nos EUA entre 1993 e 1994 juntamente com uma série de outras figuras, como o cão Fetch Armstrong e o irmão malvado de Stretch, Wretch Armstrong, todos capazes de 'esticar' quase até ao infinito; já a versão original não tinha família nem mascote, e apresentava a aparência típica de um lutador de luta-livre dos anos 70 e 80, com cabelo loiro, tronco nu e uma 'tanga' azul. Ambos estiveram disponíveis no nosso País à época, tendo o segundo sido mesmo relançado já nos anos 2010, podendo ainda ser adquirido.

No fundo, apesar de não ser dos brinquedos mais conhecidos ou falados daquele final de século XX, Stretch Armstrong veio colmatar uma das principais lacunas das bonecas e figuras de acção, e dar às crianças da época algo que elas activamente procuravam num brinquedo desse tipo, merecendo por isso esta pequena homenagem nas páginas deste nosso blog.

23.01.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os anos 90 (tal como a década anterior) são, hoje em dia, justamente lembrados como uma era em que a indústria de fabrico e comercialização de brinquedos obedecia a certos padrões em termos do que era ou não popular. Os rapazes da época, por exemplo, privilegiavam brinquedos ligados à banda desenhada ou aos desenhos animados, ou simplesmente que tivessem um aspecto atractivo, como no caso dos carros telecomandados; já as raparigas procuravam linhas de brinquedos que reflectissem aspectos do quotidiano, fossem eles o dia-a-dia das mães de bebés recém-nascidos, das donas de casa, ou até de uma super-modelo com mansão, carro descapotável e namorado igualmente atraente. Havia, claro, brinquedos que desafiavam esta 'regra', mas até mesmo esses sucumbiam, aqui e ali, aos estereótipos sobre aquilo que as crianças verdadeiramente procuravam – basta atentar nas linhas marcadamente 'sexuadas' oferecidas pela LEGO na época, por exemplo.

Foi com panorama vigente que, ainda nos anos 80, a espanhola Famosa – também responsável pelo Nenuco, pelas Barriguitas e por vários outros dos brinquedos favoritos das meninas da época – decidiu lançar internacionalmente os bonecos e cenários que criara ainda na década anterior, e a que chamara Pin Y Pon (conhecido em Portugal, devido à sua grafia estilizada, como Pinypon.) E como seria de esperar, um dos primeiros mercados abrangidos por esta expansão foi, precisamente, o do país vizinho, onde estes bonecos aterraram algures nos anos 80, prontos para mais de duas décadas de sucesso entre a criançada.

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Com um design estilizado e 'fofinho' (muito semelhante ao que hoje inspira os popularíssimos Funko Pops) e dimensões reduzidas – maiores que uma figura da Lego, mas menores que uma da Playmobil – Pin (o rapaz) e Pon (a rapariga) eram dirigidos a um público mais jovem do que qualquer das suas concorrentes (sensivelmente o mesmo a que se destinava a linha Duplo da LEGO) e traziam como principal atractivo o facto de os seus cabelos serem totalmente removíveis, podendo assim qualquer figura usar o 'penteado' de qualquer outra - uma característica que era acentuada pelo facto de, na maioria das vezes, os bonecos usarem apenas pijamas estilo 'onesie' de cor uniforme, impedindo assim, propositadamente, a distinção entre sexos. Também à semelhança do que sucedia com as mini-figuras da LEGO, certos conjuntos de Pinypon traziam, além do cabelo, alguns acessórios extra, como chapéus, que eram também intercambiáveis, oferecendo assim ainda mais possibilidades a cada brincadeira.

É claro que, para além dos bonecos em si, esta linha oferecia também alguns cenários onde os colocar, a maioria baseada em locais corriqueiros, onde crianças da idade dos dois bonecos se poderiam realisticamente encontrar; no entanto, como seria de esperar numa linha deste tipo, certos destes cenários pendiam mais para a vertente da realização de algumas das mais frequentes fantasias infantis, apresentando locais como circos ou marchas, em que o casalinho de bonecos era protagonista principal.

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Exemplo de um cenário da linha

No cômputo geral, esta era uma linha bastante sólida do ponto de vista conceptual, mas que – como tantas vezes sucede – não tardou a sofrer alterações, em parte impostas pelas alterações no mercado de brinquedos, e pela necessidade de se manter relevante e continuar a vender. Primeiro, os bonecos passaram a ter caras detalhadas, em substituição dos olhos negros e sem pupilas de anteriormente; depois, ganharam articulações; e por fim (já no século XX, e após um hiato de três anos na produção da linha) reinventaram-se com um 'design' estilo 'anime', que os torna praticamente irreconhecíveis para quem com eles brincou nos simples e honestos primórdios dos anos 80 e 90.

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As três gerações de Pinypon

Ainda assim, há que dar mérito a esta linha da Famosa por se ter conseguido 'aguentar' nas prateleiras de brinquedos durante cinco décadas, mesmo depois de a maioria dos brinquedos deste tipo terem perdido totalmente a atenção do público alvo; nesse capítulo, os Pinypons rivalizam apenas com linhas e marcas do calibre da LEGO (que também se viu obrigada a mudar com os tempos), a Barbie, a Polly Pocket ou os referidos Nenucos. Pena que, ao contrário da maioria destas, o tenham feito à custa de uma identidade própria que, no início da sua trajectória, era precisamente o que os distinguia da concorrência...

14.11.21

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Quando se pensa em bonecas dos anos 90, o primeiro pensamento da maioria das ex-crianças daquele tempo irá, por esta ordem, para as Barbies (e suas respectivas derivadas), os Nenucos ou as Polly Pockets; no entanto, existiu à época uma outra linha de bonecas, não menos famosa enquanto esteve disponível, mas que hoje se encontra um pouco esquecida (pelo menos em Portugal) por comparação com as suas contemporâneas: as Barriguitas.

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Facilmente reconhecíveis, mesmo fora da embalagem, por serem consideravelmente mais pequenas do que as outras bonecas bebés – até os Nenucos mais pequenos tinham o dobro do tamanho – as Barriguitas destacaram-se, aquando da sua criação e distribuição inicial, por serem uma das primeiras linhas a incluir acessórios que não apenas o biberom (como roupas e chapéus, entre outros), e a primeira de sempre a apresentar bonecas de outras etnias que não apenas caucasianas – duas características que, aliadas ao tamanho invulgarmente reduzido, ajudaram a que a linha da Famosa se destacasse das restantes competidoras, encontrasse o seu nicho bem definido de mercado, e servisse de inspiração a mil-e-uma bonecas bebés da 'loja dos 300', e mais tarde chinesas.

No entanto, e apesar do sucesso de que gozaram durante as duas últimas décadas do século XX, também as Barriguitas acabaram por sucumbir ao mesmo fado de tantas outras linhas de que aqui falamos, com a redução gradual do interesse da geração seguinte de crianças a levar a sucessivas mudanças estéticas e de abordagem, até a linha se tornar virtualmente irreconhecível por comparação àquela que havia deliciado as meninas dos anos 90.

Ao contrário de muitos outros brinquedos abordados nestas páginas, no entanto, as bonecas da Famosa nunca chegaram a desaparecer completamente, sendo inclusivamente alvo de uma das famosas colecções em fascículos da Planeta deAgostini (!!) na qual surgiam vestidas a rigor, com trajes tradicionais de diferentes partes do Mundo. Mais recentemente, já nos últimos dois anos, a linha foi mais uma vez reimaginada, voltando as bonecas da mesma a assumir o seu aspecto original, com o qual haviam feito sucesso entre as crianças dos anos 80 e 90; resta, pois (e como sempre) saber se a presente geração de rapariguinhas terá interesse suficiente pelos bebés da Famosa para permitir o renascimento dos mesmos enquanto potência de mercado...

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Uma das novas Barriguitas para 2021

01.08.21

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Poucas ex-crianças portuguesas dos anos 90 conseguirão negar que as bonecas eram o principal brinquedo ‘para meninas’ daquela década. Bastava visitar a ala ‘feminina’ de uma qualquer loja de brinquedos ou hipermercado (particularmente na altura do Natal) para nos vermos subitamente rodeados por um verdadeiro 'mundo’ de cor-de-rosa, cor obrigatória nas caixas quer da mega-popular Barbie, quer de alternativas mais originais como as Polly Pocket, quer daquele que foi, e é, o mais famoso representante do conceito de ‘boneco bebé’ - o Nenuco.

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O formato mais tradicional do boneco

Criado em Espanha pela Famosa – à época também sinónima de brinquedos para raparigas no nosso país – o Nenuco teve a sua génese, como tantos outros brinquedos da ‘nossa’ época, na década anterior, tendo o boneco original da famosa série sido lançado no início dos anos 80. No entanto, embora tenha atingido um sucesso considerável durante esse período, foi mesmo na década seguinte que o nome do boneco bebé penetrou definitivamente no léxico infanto-juvenil português, tendo-se tornado quase de imediato sinónimo com este tipo de brinquedo na mente do seu público-alvo, para quem qualquer boneco deste tipo era invariavelmente conhecido como ‘um Nenuco’.

E houve muitos, mas mesmo muitos bonecos deste tipo, desde os mais simples, que traziam uma roupinha e talvez alguns acessórios, até aos famosos modelos com funções especiais, como simulação de choro, de períodos de sono, ou até de funções escatológicas. Qualquer que fosse a variante no entanto, era quase certo que encontraria enorme aceitação entre o público feminino de uma certa idade, que invariavelmente contava mais do que um destes bonecos na prateleira do quarto ou caixa de brinquedos.

Para além do conceito em si – o qual é, inegavelmente, apelativo para o seu público-alvo - grande parte deste sucesso devia-se aos lendários anúncios para os diferentes bonecos da linha, que eram presença constante nos intervalos de programas infantis (bem como na programação generalista por alturas do Natal) com as suas melodias ‘açucaradas’ e imagética típica. Tal como acontecia com os anúncios de carros telecomandados ou figuras de acção entre os rapazes, estes ‘spots’ tinham um apelo quase irresistível para as meninas da época, que se já queriam um Nenuco, o passavam a querer ainda mais!

Um anúncio típico da linha, neste caso já do final da década 

Não que o Nenuco precisasse deste ‘auxiliar de popularidade’; de facto, nem mesmo o fim da era dos anúncios para crianças – ou, mais tarde, o progressivo desinteresse das crianças por brinquedos convencionais – conseguiram fazer esmorecer a presença cultural deste boneco, que recentemente celebrou umas honrosas quatro décadas no mercado com uma edição especial comemorativa do seu tradicional formato ‘boneca e acessórios’.

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A edição comemorativa dos quarenta anos da linha no mercado

E ainda que se possa facilmente prever o fim eventual deste ‘período de graça’ (afinal, nada dura para sempre, e ainda menos quando se trata de um produto infantil) a verdade é que o Nenuco já excedeu, em muito, a sua esperança média de vida no século da tecnologia digital – o que, sem dúvida, deixará altamente satisfeitas as suas adoptantes originais, hoje mães de bebés de carne e osso, mas para sempre nostálgicas quanto aos seus primeiros ‘filhos’…

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