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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

16.06.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Domingo, 15 de Junho de 2025.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Veio com selo de jogador de Selecção, para jogar num histórico, e acabou na então II Divisão B nacional; mais tarde, passou 'despercebido' por um grande, singrou noutro, e foi convidado a representar a Selecção Nacional Portuguesa, apesar de ter nacionalidade brasileira; já em fim de carreira, ainda foi campeão da Liga de Honra com apenas uma mão-cheia de aparições; pelo meio, gravou o seu nome nos anais da História do futebol português, tanto pelo talento como pelo caricato percurso que empreendeu. Falamos de Luiz Bonfim Marcos, mais conhecido como Lula, o 'centralão' que, ao longo dos anos 90, impressionou pela sua estatura e capacidade de 'mandar' no sector mais recuado da defesa de vários clubes históricos dos campeonatos nacionais, quer ao nível mais alto, quer em contextos mais discretos.

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Com a camisola do Famalicão.

'Caído de pára-quedas' em Famalicão em 1988 – sem nada saber sobre a localidade, ou mesmo o país para onde vinha jogar – Lula não começou da forma mais auspiciosa a sua estadia naquele que se tornaria o seu país de acolhimento, sendo 'apanhado' nas teias de um caso de secretaria que atiraria o 'Fama' – cujo plantel havia sido formatado para competir no patamar principal – para a II Divisão B. Para seu crédito, o brasileiro não se queixou; antes, tomou parte activa no restabelecer da equipa aos escalões profissionais, tendo o clube, logo no ano seguinte, 'saltado' a então II Divisão de Honra para de novo se integrar entre os maiores nomes do desporto-rei em Portugal. Cumprindo a promessa feita aos jogadores, a direcção famalicense libertou Lula e dois dos seus compatriotas, tendo o defesa regressado ao seu país-natal para jogar no Sport Recife.

Durou apenas alguns meses, no entanto, esse regresso ao Brasil, sendo que, no dealbar dos anos 90, Lula regressava a Famalicão, por pedido expresso de Abel Braga, para se afirmar como peça-chave dos famalicenses durante as próximas duas épocas. Tais eram o seu talento e potencial, de facto, que o jogador foi mesmo equacionado para jogar pela Selecção...portuguesa, provando que a naturalização de jogadores estrangeiros (sobretudo brasileiros) remonta a muito antes de Deco. E apesar de esse pedido, em particular, ter sido recusado, Lula ficou mesmo no 'radar' dos dirigentes portugueses, sobretudo do seleccionador Carlos Queiroz, que chamaria mesmo o jogador para jogar no Sporting após assumir o comando técnico dos 'Leões'. Por essa altura, já Lula era campeão paulista e da Taça Libertadores, pelo São Paulo, mas ainda assim, aquiesceu em vir jogar para aquele que era um dos principais clubes do seu 'outro' país.

Mais uma vez, no entanto, o azar bateu à porta, já que Lula foi incapaz de fazer uso da sua dupla nacionalidade, contando como estrangeiro num plantel já no limite imposto pelas regras de então; o central acabou, assim, por ficar cinco meses sem jogar em Alvalade, antes de procurar relançar a carreira com uma mudança para Leiria. Esta estratégia resultou e, longe de polémicas e azares, o brasileiro foi capaz de relançar a carreira, tanto nessa época na cidade do Lis como na seguinte, em que regressou à capital para ser peça-chave de outro histórico nacional, o Belenenses, onde partilhou plantel com futuros 'grandes' como Ivkovic, Paulo Madeira ou Mauro Airez, e onde encontrou maior prazer em jogar, de entre todos os clubes da sua carreira.

As suas boas exibições ao longo dessas duas épocas voltaram, naturalmente, a valer-lhe o interesse de um 'grande', desta vez mais próximo da sua 'base' original em Famalicão. Lula viria mesmo, assim, a vestir a camisola listada de um dos principais clubes de Portugal...só que listada de azul, e não de verde. Seria, de facto, ao serviço do FC Porto, e não do Sporting, que o brasileiro passaria as duas temporadas seguintes, embora sem nunca se afirmar, e não chegando às duas mãos-cheias de presenças pelos então hegemónicos 'Dragões' nortenhos – números, ainda assim, suficientes para o sagrarem bicampeão nacional, com participação em dois dos inéditos cinco títulos ganhos pelo conjunto da Invicta durante esse período, mas que não chegaram para evitar que o jogador rumasse novamente ao Brasil em finais da época de 1997-98, desta feita para representar o Vitória Esporte Clube.

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Numa das escassas aparições que fez pelo FC Porto.

Não terminaria aí, no entanto, a ligação de Lula a Portugal, já que, nos primeiros meses do Novo Milénio, o defesa regressaria ao nosso País para ganhar a edição de 1999-2000 da II Liga ao serviço do Paços de Ferreira, pesem embora as apenas oito presenças com a camisola dos 'castores'. Só então o brasileiro diria, definitivamente, adeus a Portugal, para rumar à 'reforma dourada' dos campeonatos chineses, onde actuaria ainda durante mais três épocas e meia, ao serviço de dois clubes, antes de pendurar definitivamente as botas, em 2003, já com trinta e sete anos praticamente completos. Como registo de uma carreira que não conta com quaisquer cargos técnicos, fica um percurso repleto de altos, baixos, 'carambolas' e momentos inusitados, mas que – talvez por isso mesmo – garante a Lula um lugar na galeria dos 'figurões' dos campeonatos de futebol portugueses de há trinta anos; nem bem Grande dos Pequenos, nem bem Lenda da Primeira Divisão, mas ainda assim mais que merecedor de espaço nestas nossas páginas, por ocasião dos seus cinquenta e nove anos. Parabéns, e que conte muitos.

06.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A figura é familiar para qualquer adepto que tenha acompanhado os Campeonatos Nacionais de futebol de inícios da década de 90, e também para quem tenha tido interesse no campeonato italiano da segunda metade da mesma década e inícios da seguinte: um 'centralão' de expressão plácida e cabelo à 'roqueiro' dos anos 80, que, assim soava o apito, se tornava verdadeiramente intratável, servindo como esteio defensivo não só dos clubes por onde passou como também da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro', com a qual participou em três Campeonatos Europeus (em 1996, 2000 e 2004) e um Mundial, de má memória, em 2002. Falamos, claro está, de Fernando Manuel Silva Couto, autêntica 'lenda' do FC Porto que, ao lado de nomes como Jorge Costa e Aloísio, garantia solidez no sector mais recuado dos 'Dragões' de inícios da década.

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Fernando Couto, ainda adolescente, com a camisola que o notabilizaria.

O que poucos saberão (ou se recordarão) é que Fernando Couto não ficou imune ao habitual processo de empréstimos comum a quase todos os jovens jogadores de um clube 'grande'. Apesar de se ter destacado o suficiente nas camadas jovens do Espinho e Lusitânia de Lourosa para despertar o interesse do Porto, e de ter sido, por uma vez, aposta 'de banco' de Tomislav Ivic na época 1987-88 (ainda em idade de júnior), o jovem Fernando rapidamente se veria 'enviado' para outras paragens, como forma de amadurecer e desenvolver o seu promissor futebol. Ou seja, até um jogador tão famoso e talentoso como Fernando Couto foi, a dado ponto da sua carreira, uma Cara (Des)conhecida em clubes menores do panorama futebolístico nacional.

No caso do central, foram duas as 'paragens' nesta fase da sua carreira, com resultados diametralmente opostos; no Famalicão, realizaria apenas uma partida durante a época 1988-89 (algo que não o impediu de alinhar ao lado de nomes como Rui Costa e João Vieira Pinto no Campeonato do Mundo de sub-20, em Riade, que Portugal viria mesmo a conquistar), enquanto que na Académica, seria figura importante, alinhando em vinte e quatro partidas e contribuindo mesmo com dois golos no decurso da época 1989-90, na qual amealhou também sete presenças na Selecção Nacional Sub-21. Pode, pois, dizer-se que foi enquanto membro do plantel dos 'Estudantes' que Couto verdadeiramente se afirmou como um talento a ter em conta – algo que não passou despercebido aos responsáveis do Futebol Clube do Porto, que o reintegrariam no plantel no início da época seguinte, desta vez de forma permanente.

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O jogador na Académica, ao lado de Abel Silva, seu companheiro na Selecção Sub-20 que conquistara o Mundial de Riade no Verão de 1989.

O resto da história é bem conhecido: quatro épocas de alto nível ao serviço do Porto, coroadas com seis títulos, que o tornariam peça indiscutível da Selecção Nacional portuguesa levariam à mudança para o campeonato italiano, onde faria mais uma excelente época ao serviço do Parma, ajudando à conquista da Taça UEFA por parte dos italianos. Na segunda época, teria menos proeminência, mas faria, ainda assim, o bastante para assegurar um contrato com o Barcelona de Romário, onde faria mais uma época de alto nível e (apesar de menos utilizado após a chegada de Louis Van Gaal) adicionaria uma Taça dos Vencedores das Taças ao seu palmarés, em 1996-97.

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Couto no Barcelona.

Na época seguinte, dar-se-ia a maior mudança da sua carreira, no caso o regresso ao Calcio para ser ídolo da Lazio, clube com o qual é mais frequentemente associado e onde permaneceria até ao final da época 2003-04, criando uma relação com clube e adeptos que apenas uma disputa salarial viria a quebrar.

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Na Lazio, onde passou a maior parcela da sua carreira e onde se tornou ídolo dos adeptos.

O resultado desse desentendimento seria um regresso ao Parma, onde, aos trinta e cinco anos, Couto provaria que ainda tinha muito para dar ao futebol, realizando mais duas épocas de grande nível antes de 'perder gás' na terceira, a de 2007-08, que acabaria também por ser a sua última,depois de já se ter 'despedido' da Selecção quatro anos antes, após ter 'passado o testemunho' a Ricardo Carvalho durante o Euro 2004. Uma saída em alta, portanto, para um dos mais históricos jogadores portugueses de sempre – e que torna ainda mais difícil acreditar que, em tempos, o mesmo tenha andado 'perdido' em empréstimos por esse Portugal afora.

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Com a camisola do Parma.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos futebolistas que abordamos nesta rubrica, Fernando Couto nunca escolheu enveredar pela carreira de treinador, preferindo ser recordado, acima de tudo, pelo seu legado em campo – algo que procurámos, precisamente, fazer nas breves linhas deste 'post', como forma de homenagear um dos melhores defesas centrais portugueses de sempre na semana em que completou cinquenta e quatro anos. Parabéns, Fernando, e obrigado por tudo.

22.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 21 de Agosto de 2022.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

Apesar de o mundo do futebol ser dos que mais exalta os seus 'craques', nem todos os jogadores mais memoráveis da História do desporto-rei foram, necessariamente, sobredotados ou prodígios de talento; muitos deles destacaram-se por outras qualidades, como a raça, a entrega, a dedicação a um determinado clube, a aparência bizarra ou original, ou simplesmente a longevidade no seio de uma determinada liga. O homem de quem vamos, nas próximas linhas, traçar um esboço de carreira faz, precisamente, parte deste segundo lote - apesar de ter chegado a ser internacional portuguêm em plena era da Geração de Ouro e a jogar no Real Madrid, dificilmente será recordado como um portento técnico; quaisquer memórias positivas a ele associadas terão, precisamente, a ver com os factores acima elencados, em particular a sua dedicação a um clube específico do campeonato português.

Falamos de Carlos Secretário, eterno defesa-direito do FC Porto da fase hegemónica, e que dedicou ao emblema nortenho nove das suas quinze épocas como profissional de futebol - mais de metade do total da sua carreira - apenas entrecortadas por uma passagem algo 'desastrada' pelo referido Real Madrid, por quem não conseguiu almejar mais do que treze jogos antes de voltar à 'casa de partida', para mais seis épocas. Conforme é apanágio desta secção, no entanto, não é nessas épocas ao mais alto nível que nos focaremos; pelo contrário, neste post, contaremos a história futebolística de Secretário enquanto foi uma Cara (Des)conhecida do panorama desportivo português.

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O defesa ao serviço da Selecção das Quinas, em 1999

Nascido em S. João da Madeira a 12 de Maio de 1970, foi, com naturalidade, no clube local que o jovem Secretário iniciou a sua formação futebolística, já relativamente tarde, aos 14 anos; os quatro anos que mediariam até à sua estreia como sénior veriam, ainda, o lateral passar pelas academias de Sporting e Porto, iniciando-se aí, aos dezassete anos, a relação do atleta com a agremiação azul e branca. A estreia como profissional, no entanto, dar-se-ia não no seio do clube das Antas, mas (ainda) mais a Norte, em Barcelos, onde um Secretário de apenas dezoito anos amealharia vinte e nove jogos e dois golos ao serviço do clube local, o Gil Vicente.

De Barcelos, o atleta rumaria, na época seguinte, a Penafiel, onde permaneceria por duas épocas, afirmando-se como presença quase indiscutível na equipa; no total, foram sessenta e quatro jogos com a camisola dos penafidelenses, com mais dois golos a juntar à conta pessoal do defesa. Nas duas épocas seguintes, ao serviço do Famalicão e Braga, respectivamente, o defesa conseguiria a proeza de totalizar números exactamente iguais, terminando cada uma das épocas com exactamente trinta e uma exibições e...dois golos!

Seria aqui, no final da época 1992-93 (e já como internacional sub-21 por Portugal) que Secretário chegaria, finalmente, à sua casa (quase) definitiva, onde viria a 'morar' por duas vezes: primeiro entre 1993 e 1996, contabilizando 86 jogos e mantendo a sua média de dois golos por época (num total de seis) e depois entre 1998 e 2004, período durante o qual alinharia praticamente cento e trinta vezes pelo clube das Antas, ainda que sem qualquer golo. Pelo meio, ficavam a referida (e azarada) passagem pelo campeonato espanhol, e umas nada despiciendas trinta e cinco internacionalizações AA, com duas competições internacionais disputadas ao serviço das Quinas (os Campeonatos Europeus de 1996 e 2000) e um golo marcado.

Apesar do seu longo e honroso vínculo ao FC Porto, no entanto, não seria nas Antas que Secretário viria a terminar carreira; ao invés, a última época do futebolista seria disputada ao serviço do Maia, tendo o lateral alinhado por vinte e quatro vezes com a camisola do clube dos arredores do Porto. Seria, aliás, também no Maia que Secretário iniciaria a sua nova carreira, a de treinador, que o veria passar por diversos clubes amadores e semi-profissionais dos campeonatos português (Lousada, Arouca, Salgueiros 08 e Cesarense) e francês (Lusitanos Saint-Maur e Créteil Lusitanos, clube que actualmente orienta); e apesar de não ter tanto 'brilho' como a sua carreira de jogador, esta nova etapa do ex-internacional português não deixa de ser honrada e honrosa, merecendo tanto respeito quanto foi atribuído à sua profissão passada. Numa altura em que o ex-defesa enfrenta problemas de saúde - tendo, por esse motivo, sido homenageado no último 'derby' entre Sporting e Porto - não queríamos, pois, deixar de homenagear o ex-atleta, a quem enviamos também votos de rápidas melhoras, e de que a carreira de treinador venha a ser tão notável como a de jogador profissional.

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