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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

22.01.25

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Na última edição desta rubrica, fizemos menção de eventos que, apesar de fora do espectro normal de interesses de uma criança ou adolescente, têm impacto suficiente a nível social para lhe ficarem, ainda assim, na memória. Nessa ocasião, mencionámos efemérides como a Guerra do Golfo, a transferência de poderes sobre Macau, a guerra EUA-Iraque ou o 11 de Setembro de 2001; agora, há que juntar à lista um outro evento, que os 'millennials' mais velhos (e 'X' mais novos) certamente recordarão, e que atingia o seu clímax há pouco mais de vinte e cinco anos, obrigando à intervenção dos famosos 'boinas azuis' das Nações Unidas.

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Falamos da invasão de Timor-Leste pela Indonésia, a qual, nos anos a que este 'blog' diz respeito, se arrastava já há mais de duas décadas, sem sinais de abrandar, causando a devastação do ecossistema e infra-estruturas da área leste daquela ilha do sudeste asiático, e levando à morte de um número estimado de entre cem a cento e oitenta mil pessoas, parte mais do que significativa da população da ex-colónia portuguesa. Iniciada como confronto directo entre tropas governamentais indonésias e grupos rebeldes timorenses (uma vez deposto o governo popular deste último país), a situação rapidamente escalou para uma guerra fria, pontuada aqui e ali por violentos confrontos entre as duas facções.

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Forças guerrilheiras timorenses.

Durante os anos 80, no entanto, a situação voltou a agravar-se, tendo a frente popular timorense encontrado tanto um líder como um símbolo, na pessoa de Xanana Gusmão, que lideraria o esforço de resistência até à sua captura, em 1992. Os líderes que lhe sucederam pouco melhor sorte teriam, e as forças guerrilheiras foram, progressivamente, perdendo força, à medida que confrontos cada vez mais violentos as dizimavam. Em finais dos anos 90, as tensões eram já tais que as Nações Unidas se viram obrigadas a intervir, enviando forças de paz para a ilha.

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Xanana Gusmão, o rosto da resistência timorense.

Justamente quando tudo parecia perdido, no entanto, o novo presidente indonésio (sucessor de Suharto, 'rosto' da invasão e do invasor) decidiu, sem que nada o fizesse prever, permitir a realização de um referendo para definir se Timor-Leste seria independente, ou apenas 'região autónoma' anexada à Indonésia, como sucede com os arquipélagos ao largo da costa portuguesa. Realizada no Verão de 1999, esta votação teve, previsivelmente, um resultado esmagadoramente a favor da independência do território, o qual viria a ser ratificado em Outubro, com a independência a entrar em efeito a partir de 2002, e a pôr, efectivamente, fim a mais de um quarto de século de luta, que deixara em escombros mais de quatro-quintos da infraestrutura do território e morta grande parte dos seus habitantes. E ainda que, outro tanto tempo volvido, o conflito não passe já de uma triste memória, a mesma encontra-se, ainda assim, indelevelmente gravada na mente de qualquer português que, à época, tivesse idade suficiente para perceber o que se passava, tornando inevitável uma menção neste nosso blog nostálgico, poucos meses após a celebração dos vinte e cinco anos da sua conclusão.

14.10.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre as muitas salas de espectáculos e bares da noite lisboeta, o Rock Rendez-Vous foi, a par do Johnny Guitar, uma das mais históricas e influentes, e continua até hoje a ser das que mais memórias e nostalgia despertam entre os portugueses de uma certa idade e com gosto pela música. E ainda que os muitos concertos ali realizados tenham uma palavra a dizer no tocante a esse estatuto, é inegável que grande parte do mesmo se devia ao histórico Concurso de Música Moderna, tão sinónimo com o espaço que muitas vezes se confunde com o mesmo, naquilo a que hoje se chama um 'efeito Mandela'.

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O livre-trânsito de uma das bandas a concurso, os Gritos Oleosos.

De facto, foi o referido concurso - realizado consecutivamente entre 1984 e 1989 – que deu a conhecer grupos como os Mler Ife Dada (vencedores da primeira edição), Ritual Tejo e Sitiados, todos os quais tiveram oportunidade de gravar para a Dansa do Som, a editora ligada ao concurso e ao próprio Rock Rendez-Vous em si. Assim, não é de estranhar que, cinco anos após a última edição anual, a competição tenha sido 'revivida' a título esporádico, e proporcionado uma despedida 'em alta' para um dos grandes eventos musicais do Portugal oitentista. Isto porque o sétimo e último Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous - levado a cabo há quase exactos trinta anos, a 16 de Outubro de 1994 - teve honras de transmissão na RTP, um facto que demonstra bem a importância cultural e mediatismo que o evento havia adquirido desde a sua criação, dez anos antes.

Curiosamente, esta última edição do concurso manteve a tendência, verificada na esmagadora maioria dos seus antecessores, de atribuir a vitória a bandas que acabariam por nunca singrar, pese embora o disco lançado como prémio pela classificação no concurso. Para a História, nesta 'reencarnação' do evento, ficavam Drowning Men (mais tarde Geração X, e depois Os Vultos), Jardim Letal e Neura, nenhum dos quais é hoje lembrado ou conhecido pela esmagadora maioria da população nacional, até mesmo a que era já viva à época. O único nome 'sonante' desta edição de 1994 seria, assim, o dos Ornatos Violeta, que levavam para casa o último Prémio de Originalidade alguma vez atribuído pelo Rock Rendez-Vous, saindo assim como nome destacado da última edição de um certame histórico do panorama musical português.

A extinção do Concurso de Música Moderna não significaria, no entanto, o fim do nome Rock Rendez-Vous, o qual seria 'repescado', já no Novo Milénio, para título de uma compilação de novos talentos lançada pela Worten, em homenagem às edições do mesmo tipo que a Dansa do Som fazia sair durante o seu período áureo. E apesar de o local em si, bem como o nome, terem entretanto voltado a mergulhar nas 'brumas' da memória, haverá sempre uma certa faixa etária de portugueses para quem aquelas três palavras meio 'estrangeiradas', e o concurso que lhes estava associado, serão, eternamente, sinónimas com o melhor que se fazia, e fez, no meio pop-rock e alternativo em Portugal.

19.05.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O objectivo desta rubrica – tal como das restantes que compõem o blog – passa, normalmente, pela 'repescagem' de elementos e experiências positivas que faziam parte do Portugal dos anos 90 e inícios de 2000; no entanto, ocasionalmente, é também necessário recordar efemérides menos agradáveis, mas que deixaram ainda assim marca indelével na década em causa, bem como nas subsequentes, como foram o caso Aquaparque ou a tragédia de cariz desportivo que recordamos este Domingo, escassas vinte e quatro horas volvidas sobre o seu vigésimo-oitavo aniversário. Falamos, claro está, da morte de um adepto do Sporting como consequência da explosão de um artefacto pirotécnico, em pleno Estádio do Jamor, durante o 'derby' a contar para a final da Taça de Portugal entre os 'leões' e os rivais da Segunda Circular, a 18 de Maio de 1996.

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O momento da tragédia, captado pelas câmaras televisivas presentes no estádio.

Estavam decorridos apenas dez minutos da partida quando, como forma de celebrar o golo inaugural marcado por Mauro Airez, um membro da claque organizada benfiquista 'No Name Boys' lança um 'very light', um tipo de foguete já então proibido por lei em áreas habitadas. Não contente com essa violação da lei, Hugo Inácio decidiu fazer 'pontaria', não para o ar, mas para a bancada Sul do estádio, onde se encontravam os adeptos do Sporting, num gesto deliberado que terminaria com a morte de Rui Mendes, de trinta e seis anos.Um crime de assassinato que deveria ter feito parar o jogo, mas ao qual não foi dada, no momento, a devida importância, tendo a partida continuado, com eventual resultado de 3-1 a favor do Benfica, e respectiva consagração como vencedor da competição – uma decisão que causou, e continua a causar, polémica, sobretudo entre adeptos dos 'leões' que sentem que a perda da vida de Mendes foi trivializada pelo prosseguimento da partida.

De facto, só mais tarde a FPF viria a mostrar solidariedade para com a família do adepto falecido, doando dez por cento da receita bruta de um jogo da Selecção Nacional para ajudar às despesas da mesma, já depois de o Sporting ter custeado na íntegra o funeral. Já Hugo Inácio viria a ser detido e a cumprir quatro anos de prisão, naquela que foi a primeira de muitas passagens do adepto pela prisão em anos subsequentes – pena que parecia pouca para o crime de homicídio qualificado, num desfecho que, novamente, revoltaria os sportinguistas. Quanto aos adeptos rivais, os mesmos incorporariam, a partir desse dia, um novo som à sua panóplia de cantos e palavras de ordem – um assobio a simular um foguete, ainda hoje ouvido em qualquer partida frente ao Sporting, numa 'picardia' de inequívoco mau gosto, que trivializa ainda mais uma tragédia perfeitamente evitável, e dá a entender que os No Name Boys tiveram orgulho no sucedido – uma ideia quase grotesca de tão revoltante.

Aquele que muitos consideram, justificadamente, o dia mais negro do desporto português acabou, ainda assim, por ter alguns (pequenos) efeitos positivos, nomeadamente a imposição de controlos muito mais restritos sobre a pirotecnia no contexto de jogos dos campeonatos portugueses, por forma a assegurar que tal situação nunca mais se repetisse; há, ainda, que ressalvar o facto de o ataque em causa ter vitimado apenas um adepto, e adulto. numa bancada onde se encontravam inúmeras crianças, podendo a acção deliberada do elemento da claque benfiquista ter tido um desfecho ainda muito pior. No entanto, a verdade é que nenhum destes factos ajudará a trazer de volta à vida Rui Mendes, mártir de uma paixão que, por vezes, assume contornos bem negros. Que continue a descansar em paz, e que nunca seja esquecido.

04.05.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

De entre as datas assinaláveis da História de Portugal, apenas uma mão-cheia rivaliza, em importância, com o 25 de Abril de 1974, o dia em que uma revolução militar inteiramente pacífica põs fim a quarenta anos de ditadura fascista e restaurou a independência no seio da República Portuguesa; neste ano de 2024, tal data revestiu-se de ainda maior significado, por se terem assinalado exactas cinco décadas sobre o memorável dia, as quais foram celebradas a preceito com uma das maiores concentrações e manifestações verificadas desde então em Portugal. Quem faz parte das gerações 'X' ou 'millennial', no entanto, terá, nessa Terça-feira, recordado um outro marco relativo à Revolução dos Cravos, verificada durante a sua infância, e devidamente assinalada pela maioria das instituições nacionais: a comemoração dos vinte anos.

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Cartaz das comemorações realizadas pela Câmara Municipal de Almada.

Memoravelmente denominada '25 de Abril – 20 Anos', a campanha de organização de eventos para assinalar tal efeméride teve lugar um pouco por todo o País – embora, naturalmente, com particular incidência nas zonas metropolitanas, sobretudo a de Lisboa, local onde se desenrolou a revolução – e traduziu-se numa série de espectáculos, exposições e até eventos desportivos, que terão, sem dúvida, proporcionado Saídas de Sábado memoráveis para quem era, então, criança ou adolescente. Os corolários foram, sem dúvida, a exposição com lugar na Biblioteca-Museu República e Resistência e o espectáculo organizado pela RTP e pela Associação 25 de Abril na antiga Feira Internacional de Lisboa (FIL), transmitido em directo pela emissora estatal e que contou com apresentação de Ana Zanatti e Paulo de Carvalho; no entanto, de Norte a Sul do território, verificaram-se toda uma série de outras actividades de tanto ou maior interesse para a demografia infanto-juvenil, como o sarau de ginástica organizado pela Câmara Municipal de Almada, em que o autor deste 'blog', então a caminho dos nove anos, participou durante um inesquecível fim-de-semana daquele Abril de 1994, e que viria a ser o primeiro de uma série de eventos anuais que perduram até aos dias de hoje.

Qualquer que tenha sido o evento em que um jovem daquela altura tenha participado, no entanto, é de acreditar que o mesmo tenha ficado retido na sua lembrança como a ocasião inesquecível e irrepetível que foi, e que o tenha motivado a procurar criar memórias semelhantes aos seus filhos por ocasião da comemoração dos cinquenta anos de uma data que não deve jamais ser esquecida, ou mesmo ignorada, pelas gerações vindouras.

15.03.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Um dos principais conceitos a dar entrada na cultura popular durante a última década do século XX foi o de 'super-modelo' – aquela profissional das 'passerelles' cujo estatuto, beleza e fama a colocavam num patamar acima das suas congéneres, tornando-a naquilo a que mais tarde se viria a chamar uma 'celebridade'. Nomes como Cindy Crawford, Claudia Schiffer ou Naomi Campbell eram tanto (ou mais) figuras públicas como modelos, e as suas vidas despertavam o interesse do público seguidor de publicações 'cor-de-rosa'...e não só. Assim, é natural que os espectáculos de beleza onde estas e outras beldades desfilavam se tenham, também, revestido de interesse adicional para o público generalista, e conseguido deixar os seus 'confins' de Paris, Nova Iorque, Londres e Milão para se espalhar um pouco por todo o Mundo. Portugal não seria excepção, e a primeira metade dos anos 90 veria surgirem em solo lusitano não um, mas dois eventos anuais subordinados a esta temática, um em cada uma das duas capitais do País. Do organizado mais a Norte falaremos em tempo; esta Sexta, dedicaremos alguma atenção ao de Lisboa, cuja edição de Primavera de 2024 se acaba de encerrar há poucos dias à altura da edição deste 'post'.

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Surgida pela primeira vez como parte das Festas da Cidade, em 1990, foi, no entanto, no ano seguinte que a Moda Lisboa teve o seu arranque oficial, no formato ainda hoje utilizado, e que abrange uma série de eventos de moda realizados bi-anualmente (em Março e Outubro) ao longo de uma semana em espaços públicos, quase todos na popular e turística zona ribeirinha, tendo anos recentes visto mesmo o evento 'esticar-se' até à linha de Cascais. Em suma, um modelo em tudo semelhante ao que fazia sucesso nas grandes 'capitais da moda', e que dava aos fãs portugueses do estilismo uma oportunidade de se inteirarem das novas tendências, ou simplesmente de ver estonteantes modelos em desfile. Essa primeira edição teve, ainda, a particularidade de entrar na História como a primeira 'fashion week' fora dos grandes centros supramencionados, e de 'apresentar' Portugal ao Mundo da alta costura.

Infelizmente, não tardou até que a Moda Lisboa gerasse polémicas, e, em 1993, uma 'confusão' em torno de um convite ao estilista John Galliano levaria à suspensão do evento durante dois anos. Aquando do seu regresso, no entanto, a Moda Lisboa surgiria com ainda mais força do que tivera nas primeiras edições, e estabelecer-se-ia definitivamente como parte integrante do calendário cultural português. Desde então a esta parte, o evento apenas tem crescido, incorporando ora novas localizações para os desfiles (como o Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, em Lisboa) quer parcerias com o referido evento nortenho, e foi mesmo alvo de um documentário na RTP, aquando da quinquagésima edição, em 2020; e, a julgar pelo sucesso que cada novo evento continua a ter, parece improvável que este paradigma se altere num futuro próximo. Os adeptos da moda em Portugal podem, portanto, regozijar-se com o facto de o 'seu' evento anual continuar (quase) ininterrupto há (quase) três décadas, formando parte tão integral do calendário de eventos nacional como o Fantasporto ou os festivais de Verão, e fazendo-o sempre em grande 'estilo'...

12.09.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

No início dos anos 90, o lançamento de um jogo de computador ou consola não era, ainda, o acontecimento que chega a ser hoje em dia; a imprensa especializada estava atenta aos novos lançamentos, claro, mas no que tocava ao consumidor comum, os únicos jogos que se destacavam eram os que apareciam em programas de televisão, anúncios ou formavam o foco central de uma longa-metragem (como aconteceu, lendariamente, com 'Super Mario Bros. 3' na aventura infanto-juvenil 'O Génio'), ou os que causavam furor por outros motivos.

Um dos primeiros lançamentos a procurar alterar este paradigma foi 'Sonic The Hedgehog 2', que teve direito a dia de lançamento com 'nome' próprio (embora não muito original, já que se chamou apenas 'Sonic 2 Day') e alardeado em vários meios de comunicação; no entanto, talvez o exemplo mais famoso deste fenómeno celebra esta Quarta-feira, 13 de Setembro de 1993, exactos trinta anos, e é referente a um jogo tão popular quanto 'Sonic 2', mas bastante menos inócuo. Falamos da famosa 'Mortal Monday', que fez milhões de entusiastas dos videojogos um pouco por todo o Mundo (Portugal incluído) acorrer às lojas para adquirir a versão caseira de um dos maiores êxitos dos salões de jogos do ano anterior, o infame 'Mortal Kombat'.

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Cartaz norte-americano alusivo ao evento.

Numa época em que os lançamentos (não só de jogos de vídeo como também de filmes, séries, discos ou livros) tendiam a sofrer de intervalos de vários meses, ou até anos, entre o seu lançamento na América do Norte e a chegada à Europa, a 'Mortal Monday' fez, desde logo, História devido ao facto de a Midway ter coordenado os lançamentos americano e europeu do jogo, permitindo aos detentores de consolas da SEGA um pouco por todo o Mundo desfrutar da 'sua' versão exactamente ao mesmo tempo; já os que preferiam as consolas da Nintendo teriam de esperar mais alguns anos pela chegada do jogo aos 'seus' sistemas, já que as versões para Super Nintendo e Game Boy apenas ficariam disponíveis na 'Mortal Monday' para os consumidores norte-americanos, vindo a ser lançados na Europa apenas em Outubro de 1993 e Fevereiro de 1994, respectivamente. Ainda mais demorariam as versões para os computadores da altura, que só chegariam aos lares europeus a meio do ano seguinte, já depois de ter sido também lançado um jogo electrónico LCD alusivo ao título.

Ainda assim, esta 'décalage' costumeira e já esperada não reduz o impacto da 'Mortal Monday', uma iniciativa pioneira e extremamente bem sucedida, ainda que apenas parcialmente realizada a nível do continente europeu. 'Mortal Kombat', esse, tornar-se-ia um dos grandes clássicos da época, e daria azo a uma série de sequelas que perdura até aos dias de hoje, indo já na nona (!) geração. Da franquia em si, no entanto, falaremos em outra ocasião; por agora, ficamo-nos pela recordação de um dia que, certamente, deixou lembranças em quem nele conseguiu participar, e levar para casa um dos mais controversos e antecipados lançamentos de inícios dos anos 90...

 

09.08.23

NOTA: Por motivos de relevância temporal, esta Quarta será de Quase Tudo. Falaremos de banda desenhada nas próximas duas semanas.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

As Jornadas Mundiais da Juventude, realizadas este ano em Portugal e concluídas no passado Domingo, 6 de Junho de 2023, ficaram marcadas pela visita de Sua Santidade, o Papa Francisco – uma ocorrência que terá feito muitos dos membros das Gerações X e 'millennial' recordar a figura que ambas as gerações aprenderam a associar a esse título durante as duas últimas décadas do século XX e primeiros anos do seguinte - o malogrado e saudoso João Paulo II – e as diversas visitas que o mesmo realizou a Portugal.

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Uma das três visitas do Papa João Paulo II a Portugal.

Foram três as ocasiões em que o homem nascido Karol Wojtila na Polónia dos anos 20 visitou o país à beira-mar plantado, na outra ponta da Europa, e do 'outro lado' de Espanha em relação à sua residência na Cidade do Vaticano (três, se contarmos com a breve escala aérea que aqui realizou em 1983). A primeira, ainda nos anos 80 (em 1982) foi de peregrinação, ao Santuário de Fátima, onde passou três dias, e onde deixou a bala do atentado que quase o vitimara no ano anterior; no entanto, será das duas subsequentes que os leitores deste 'blog' mais certamente se recordarão.

A primeira destas (e segunda no total) deu-se em 1991 – novamente em Maio – e viu, além do regresso ao principal santuário católico português, João Paulo II visitar Lisboa (onde disse uma missa e realizou um encontro com jovens crentes, em pleno Estádio do Restelo) e deslocar-se até às regiões autónomas dos Açores e Madeira, num périplo impressionante para um período de apenas três dias.

Reportagem de época sobre o evento de 1991 no Restelo, em Lisboa.

A última, nove anos depois (já no dealbar do século XXI) e novamente no mês de Maio, durou apenas dois dias e destinou-se, sobretudo, a beatificar os famosos pastorinhos de Fátima, Jacinta e Francisco Marto; no entanto, o então Papa escolheu assinalar esta nova presença com um segundo donativo a Nossa Senhora de Fátima – no caso, o anel que recebera do cardeal Wyszynski no início do seu período como pontificado. Esta terceira e última visita ficou, ainda, imortalizada numa série de selos lançados pelos CTT e alusivos ao Sumo Pontífice.

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O Sumo Pontífice nos Açores, em 1991.

Pouco menos de cinco anos após esta última presença no nosso País, e cerca de seis semanas antes de completar oitenta e cinco anos, em inícios de Abril de 2005, João Paulo II viria a falecer, obrigando à eleição de um sucessor – no caso o alemão Joseph Ratzinger, conhecido como Bento XVI e que, por sua vez, seria sucedido pelo actual Sumo Pontífice, Francisco. Na memória dos jovens portugueses de então ficava, no entanto, a imagem daquele ancião benevolente, de vestes brancas e voz pausada, a percorrer Fátima no característico veículo papal – uma situação que, para a nova geração, terá como protagonista o Papa Francisco, mas que, para os seus antecessores nascidos e crescidos no último quarto do século XX, ficará para sempre associada a João Paulo II.

 

27.05.23

NOTA: Por motivos de relevância temática, este Sábado será de Saídas, e não de Saltos.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Apesar da sua rica História de descobertas e desbravamento de Mundos, Portugal não se tem, em épocas mais recentes, notabilizado pela 'exportação' de talentos (à excepção de nomes óbvios como Cristiano Ronaldo ou Salvador Sobral) nem por quaisquer feitos particularmente notáveis no campo da inovação ou internacionalização. Uma das poucas excepções a este paradigma – senão mesmo a única – teve lugar há quase exactamente vinte e cinco anos, e conseguiu, durante três meses e meio entre o final da Primavera e o início do Verão, colocar os olhos do Mundo em Portugal – e também, naturalmente, atrair visitantes de todos os cantos do Mundo.

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Falamos, é claro, da Expo '98, que já há um ano aqui abordámos, aquando dos vinte e quatro anos da sua abertura, mas cujo vigésimo-quinto aniversário também não podíamos deixar de assinalar, até por se tratar de um daqueles números que, sem serem 'redondos', não deixam ainda assim de ser marcantes.

Inaugurada a 22 de Maio de 1998 – tendo, portanto, atingido o referido marco na passada Segunda-feira – a última exposição mundial do século gozou de enorme sucesso entre o público, não só dentro de portas como internacionalmente, tendo sido consensualmente considerado um certame bem organizado, e capaz de lidar com as inevitáveis filas que se formavam, diariamente, à saída de pavilhões como o de Macau (com a sua recriação de um jardim chinês), de Portugal, da Realidade Virtual (onde só os mais 'valentes', pacientes ou sortudos conseguiam entrar, tal era o tempo de espera) ou do Conhecimento, alojado na infra-estrutura mais tarde conhecida como Pavilhão Atlântico, MEO Arena, e (actualmente) Altice Arena.

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O Pavilhão da Realidade Virtual atraía as maiores filas, devido ao seu bem conseguido espectáculo audio-visual.

Estava aí, aliás, um dos grandes trunfos da Expo '98, nomeadamente em relação à sua antecessora, organizada pelo país vizinho seis anos antes – enquanto que a área delimitada para a exposição de Sevilha '92 se encontrava ainda, à época, ao abandono, a Expo portuguesa viria, após o encerramento do certame, a contribuir com inúmeras infra-estruturas para a malha urbana portuguesa, a esmagadora maioria das quais se encontra, ainda hoje, activa e a uso: além da Altice Arena, locais como a Gare do Oriente (e respectiva estação de Metro), o 'shopping' Vasco da Gama, o Oceanário ou o próprio espaço da exposição em si – hoje chamado Parque das Nações – fazem parte do quotidiano de qualquer lisboeta, num exemplo admirável (e raro) de integração urbana.

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A Gare do Oriente, um dos vários contributos da exposição para a malha urbana lisboeta.

Esse está, no entanto, longe de ter sido o único triunfo da Expo '98 - embora se afirme como o principal legado da mesma; a par da Fundação Gil e da respectiva Casa, situada no bairro de Alvalade, em Lisboa - a exposição em si oferecia muito que ver aos visitantes (ainda que a preços algo 'inflacionados') com atractivos que iam bem além dos cinco ou seis pavilhões 'da moda', e se estendiam a restaurantes tematizados aos diversos países (como o lendário restaurante americano, com as suas fatias de 'pizza' do comprimento de um antebraço) e a periódicos eventos, normalmente com lugar na Praça Sony, com o seu ecrã gigante (que servia, também, como um excelente ponto de referência a quem se procurasse orientar durante as visitas); de concertos à exibição de jogos do Mundial de França, foram muitos, e bem marcantes, os tipos de evento de que os visitantes da Expo puderam disfrutar, caso se encontrassem no recinto à data e hora certa, claro está.

No cômputo geral, foi um Verão inteiro de grande animação, em que o certame foi local de visita praticamente obrigatória, fosse com a família ou com a escola, e em que o tema dos oceanos e dos Descobrimentos foi utilizado para, sob o auspício do simpático Gil, mascote da exposição, e da namorada Docas (duas ondas antropomórficas cujos nomes evocam, precisamente, as viagens maritimas da época Renascentista portuguesa) promover a multi-culturalidade, a interacção com outras culturas, e ainda conceitos como a ecologia e a protecção dos recursos naturais.

A vinte e cinco anos de distância, além das memórias, fica a certeza de um momento áureo na História moderna portuguesa, que afirmou este País de brandos costumes à beira-mar plantado como tão bom organizador de eventos (ou melhor) que muitos dos seus congéneres de maior projecção internacional – uma fama que o País viria, aliás, a cimentar meia-dúzia de anos depois, já no Novo Milénio, aquando do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, um evento para o qual talvez não tivesse sido considerado não fosse o estrondoso sucesso do certame que ora completa um quarto de século. Por essas e outras razões, vale bem a pena recordar o evento que demorou a 'sair do chão', foi alvo de muitas piadas e chacota à época, mas conseguiu calar todas as dúvidas, e afirmar-se como um dos mais importantes momentos da História portuguesa contemporânea.

 

31.03.23

NOTA: Este post é correspondente a Quarta-feira, 29 de Março de 1998.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Há exactos vinte e cinco anos, em Março de 1998, vivia-se já em Portugal a 'febre' de antecipação da Expo '98, o mega-evento que colocaria definitivamente o País no mapa cultural internacional esse Verão. Tal como aconteceria com o Euro 2004 alguns anos mais tarde, a vontade de apresentar um certame memorável para os visitantes estrangeiros levou a que fossem feitos consideráveis investimentos em vários campos, dos quais um dos mais notáveis foi o das infra-estruturas, o qual, além das habituais melhorias a estruturas existentes, viu ser recuperada toda uma área devoluta da cidade de Lisboa, o hoje denominado Parque das Nações.

Nesse âmbito, foram construídas - de raiz - algumas das, ainda hoje, mais reputadas e úteis infra-estruturas da capital, entre as quais se destacam uma estação de comboios, a Gare do Oriente, a principal sala de espectáculos da cidade -a NOS Arena, então conhecida como Pavilhão Atlântico - um dos grandes 'shoppings' da área metropolitana circundante (o Centro Comercial Vasco da Gama) e, claro, a décima-sexta ponte sobre o Tejo - segunda na Grande Lisboa - a Ponte Vasco da Gama, inaugurada há quase exactos trinta anos, a 29 de Março de 1998.

Esta última, em particular, deu azo a um dos eventos públicos mais recordados pela geração crescida nos anos 80 e 90, e que quase contaria como uma Saída de Sábado, não fora o seu carácter de evento único e 'a convite', que a maioria dos jovens da época apenas viu pela televisão. Falamos, é claro, da lendária feijoada comida sobre a própria ponte - numa mesa com vários quilómetros de comprimento - uma semana antes da sua inauguração, por uns impressionantes dezassete mil convidados, naquele que foi, à época, um duplo Recorde do Guinness para Portugal - pela maior ponte da Europa e pela maior mesa do Mundo.

O que quem assistiu em directo a este marco cultural do Portugal moderno também dificilmente esquecerá é o patrocínio da Fairy, marca que, nos meses imediatamente subsequentes, incorporou o evento na sua estratégia de marketing - e porque não? A verdade é que o detergente foi mesmo utilizado para lavar dezassete mil pratos, o que não só o valida como produto de qualidade, mas também constitui motivo de orgulho. Por conta da sobredita campanha, no entanto, a feijoada na 'Ponte Vasco' ficou, para os jovens da altura, indelevelmente ligada à popular marca de detergentes, da qual é, ainda hoje, indissociável.

Pelo carácter único, grandioso e marcante,  por aquilo que representou e pela infra-estrutura inegavelmente útil que ajudou a inaugurar, este evento adquiriu merecido lugar de destaque na História contemporânea portuguesa, pelo que - no ano em que se celebra um quarto de século sobre a sua ocorrência, e sobre a Expo '98 como um todo - não podíamos deixar de lhe dedicar algumas linhas neste nosso blog nostálgico - até porque, nos dias que correm, é improvável que algo deste género se torne a repetir...

01.03.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

E numa altura em que se assinala (infelizmente) um ano sobre o início da guerra na Ucrânia, faz sentido relembrar outro conflito que marcou os anos noventa, e cujo término se deu há quase exactamente trinta e dois anos. Falamos da Guerra do Golfo, o segundo conflito a envolver o Iraque no espaço de poucos anos, depois da escaramuça com o Irão que devassara o país durante a maior parte da década anterior. Esta segunda ofensiva tinha, no entanto, um adversário diferente (o outro país vizinho do Iraque, o Kuwait) e acabou por se revelar bem mais curta, durando, no total, pouco mais de seis meses – tempo ainda assim suficiente para deixar o conflito marcado na memória colectiva das três gerações que a viveram directamente, mesmo da que era demasiado nova para ter a percepção exacta do que se passava naquela terra distante.

WarGulf_photobox.jpg

Montagem de momentos da guerra.

Iniciada a 2 de Agosto de 1990 – data em que o Iraque invadiu e conquistou o Kuwait – esta ofensiva teria, de imediato, a intervenção da ONU, que impôs as habituais sanções económicas ao país governado por Saddam Hussein, ao mesmo tempo que o Reino Unido e os EUA enviavam tropas para o Médio Oriente a fim de auxiliar o exército kuwaitiano. E apesar de a esmagadora maioria dos soldados que formaram a chamada 'coalisão' terem mesmo sido norte-americanos, mais de trinta países seguiram o exemplo de George Bush pai, destacando-se de entre estes a França, a Arábia Saudita (também grande financiadora das tropas 'aliadas'), o Egipto e, sim, também Portugal. O financiamento do próprio governo kuwaitiano, bem como do Saudita, permitiu ainda a aquisição de novas tecnologias que viriam a alterar o rumo do conflito, como aviões 'camuflados', bombas inteligentes, e outras armas até então exclusivamente do domínio dos videojogos de ficção científica futurista.

Estes revolucionários recursos, bem como a estrondosa mobilização de homens para a frente de combate, permitiram à 'Coalisão' obter uma vitória rápida e avassaladora sobre as forças de Saddam Hussein, tendo o conflito em si durado apenas cinco semanas - entre 17 de Janeiro e 24 de Fevereiro de 1991 - com apenas um total de cem horas de ofensiva terrestre, tendo a restante guerra sido travada sobretudo pelo ar. Nem mesmo a tentativa de envolver Israel – jogando com as tensões entre aquele país e a maioria das nações que constituía a força aliada – conseguiu evitar a derrota do exército Iraquiano, tendo os objectivos militares da 'coalisão' sido declarados como atingidos no último dia de Fevereiro daquele ano – há quase exactamente trinta e dois anos atrás.

Apesar de curta, no entanto, esta guerra foi alvo de extensa cobertura mediática (como, aliás, sempre acontece neste tipo de situações) e grande parte dos portugueses hoje na casa dos trinta e muitos a cinquenta e poucos anos terão, certamente, memórias mais ou menos difusas de verem na televisão, durante o Telejornal, cenas e reportagens sobre o conflito, narradas pelo icónico Artur Albarran, o que torna quase obrigatório este pequeno resumo do mesmo por alturas do 'aniversário' do seu término.

Artur-Albarran.jpg

Artur Albarran, o jornalista que ficaria associado à Guerra do Golfo na mente dos portugueses.

Infelizmente, as guerras que se seguiriam não teriam, nem de longe, um desfecho tão célere nem um final tão 'feliz' – mas isso já são outras histórias; por agora, fica a recordação de um dos primeiros conflitos de que a geração de finais dos 70 e inícios dos 80 terá memória.

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