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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

09.06.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Numa altura em que Portugal ainda 'ecoa' com o impacto da passagem dos Guns'n'Roses pela normalmente pacata cidade de Coimbra, nada melhor do que recordamos a primeira (e não menos memorável, embora por razões diferentes) visita do grupo de Axl Rose a Portugal, há pouco mais de trinta e três anos, a 2 de Julho de 1992.

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Embora a sua formação e ascensão se tenha dado em finais dos anos 80, em inícios da década seguinte, a 'trupe' californiana tinha ainda reputação e renome suficientes para encher o antigo Estádio José Alvalade (que ainda nem sonhava em ser XXI, e que era então um dos locais mais frequentes para grandes concertos na capital, onde também tocariam GNR e Bon Jovi, entre muitos outros) com cerca de cinquenta mil pessoas, e gerar entre os jovens portugueses da época - que só conheciam a banda dos discos, videoclips no 'Top +', reportagens no lendário 'Blitz', e eventualmente um ou outro álbum pirata - aquele tipo de burburinho que apenas os artistas mais famosos e conceituados são capazes de suscitar. Todos antecipavam uma grandiosa noite de 'rock'n'roll' pleno do tipo de excessos característicos de Axl e companhia, e a aproximação da data apenas fazia crescer o entusiasmo e excitação por ver de perto aqueles que eram, a par dos Bon Jovi e dos recém-consagrados Nirvana, as maiores estrelas de 'rock' da época.

A noite haveria, no entanto, de se saldar em desilusão para os cinquenta milhares de 'almas' que 'maltrataram' o antigo relvado do Sporting Clube de Portugal, já de si 'estafado' após uma longa época de futebol. Entre a prestação frouxa dos Soundgarden (a antítese completa do que eram os Guns, tanto a nível musical como de atitude perante a vida) e o acidente que viria a ditar o rumo do restante evento, o resultado final acabou por não encher as medidas ao público, 'salvando-se' a movimentada actuação dos Faith No More, também eles uma escolha algo peculiar para banda de abertura. E seria mesmo Mike Patton o 'culpado' pelo que se seguiria, ao incentivar a audiência a atirar-lhe a ele as garrafas de plástico que arremessavam entre si. O público não se fez rogado, 'inundando' o palco de 'projécteis' com 'recheio' e dando muito que fazer aos funcionários do evento. Tanto assim que, sem mãos a medir, um dos ditos-cujos acabaria por se 'esquecer' de uma garrafa em palco, na qual Axl Rose viria a tropeçar logo no início do concerto principal, 'estatelando-se' ao comprido.

Para seu crédito, o vocalista não se deixou logo dominar pelo seu famoso 'génio', cantando ainda dois temas deitado no chão. No entanto, acabaria mesmo por 'desaparecer' para as traseiras do palco durante cerca de dez minutos, obrigando os colegas da formação clássica dos Guns a improvisar. Mesmo após a volta, Axl vinha mal-disposto, e chegaria mesmo a parar mais uma vez o concerto ao ver alguém atirar um 'very light'. Ao contrário do que acontecera em outras ocasiões, no entanto, os Guns terminariam mesmo o seu 'set', tocando cerca de duas horas; no entanto, os percalços vividos afectariam mesmo a 'performance' dos músicos, a qual ficaria aquém das expectativas de quem pagara bom dinheiro (cinco mil escudos, uma 'fortuna' para a época) para ver as super-estrelas de 'rock' norte-americanas.

Ainda assim, e apesar do ligeiro desapontamento, quem esteve no 'velhinho' Alvalade naquela noite de Verão de 1992 teve a oportunidade de ver uma das maiores bandas de sempre, no seu auge e com a formação clássica – algo que, meros anos depois, se afiguraria impossível, e que acaba por fazer valer bem o preço do bilhete, mesmo para um concerto 'arrasado' 'a posteriori' pela crítica especializada, e que esteve longe de ser um clássico à altura da fama do nome que o encabeçava. Para quem quiser recordar, fica abaixo o vídeo do concerto completo, que permite 'mergulhar' em toda uma outra era...

22.01.25

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Na última edição desta rubrica, fizemos menção de eventos que, apesar de fora do espectro normal de interesses de uma criança ou adolescente, têm impacto suficiente a nível social para lhe ficarem, ainda assim, na memória. Nessa ocasião, mencionámos efemérides como a Guerra do Golfo, a transferência de poderes sobre Macau, a guerra EUA-Iraque ou o 11 de Setembro de 2001; agora, há que juntar à lista um outro evento, que os 'millennials' mais velhos (e 'X' mais novos) certamente recordarão, e que atingia o seu clímax há pouco mais de vinte e cinco anos, obrigando à intervenção dos famosos 'boinas azuis' das Nações Unidas.

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Falamos da invasão de Timor-Leste pela Indonésia, a qual, nos anos a que este 'blog' diz respeito, se arrastava já há mais de duas décadas, sem sinais de abrandar, causando a devastação do ecossistema e infra-estruturas da área leste daquela ilha do sudeste asiático, e levando à morte de um número estimado de entre cem a cento e oitenta mil pessoas, parte mais do que significativa da população da ex-colónia portuguesa. Iniciada como confronto directo entre tropas governamentais indonésias e grupos rebeldes timorenses (uma vez deposto o governo popular deste último país), a situação rapidamente escalou para uma guerra fria, pontuada aqui e ali por violentos confrontos entre as duas facções.

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Forças guerrilheiras timorenses.

Durante os anos 80, no entanto, a situação voltou a agravar-se, tendo a frente popular timorense encontrado tanto um líder como um símbolo, na pessoa de Xanana Gusmão, que lideraria o esforço de resistência até à sua captura, em 1992. Os líderes que lhe sucederam pouco melhor sorte teriam, e as forças guerrilheiras foram, progressivamente, perdendo força, à medida que confrontos cada vez mais violentos as dizimavam. Em finais dos anos 90, as tensões eram já tais que as Nações Unidas se viram obrigadas a intervir, enviando forças de paz para a ilha.

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Xanana Gusmão, o rosto da resistência timorense.

Justamente quando tudo parecia perdido, no entanto, o novo presidente indonésio (sucessor de Suharto, 'rosto' da invasão e do invasor) decidiu, sem que nada o fizesse prever, permitir a realização de um referendo para definir se Timor-Leste seria independente, ou apenas 'região autónoma' anexada à Indonésia, como sucede com os arquipélagos ao largo da costa portuguesa. Realizada no Verão de 1999, esta votação teve, previsivelmente, um resultado esmagadoramente a favor da independência do território, o qual viria a ser ratificado em Outubro, com a independência a entrar em efeito a partir de 2002, e a pôr, efectivamente, fim a mais de um quarto de século de luta, que deixara em escombros mais de quatro-quintos da infraestrutura do território e morta grande parte dos seus habitantes. E ainda que, outro tanto tempo volvido, o conflito não passe já de uma triste memória, a mesma encontra-se, ainda assim, indelevelmente gravada na mente de qualquer português que, à época, tivesse idade suficiente para perceber o que se passava, tornando inevitável uma menção neste nosso blog nostálgico, poucos meses após a celebração dos vinte e cinco anos da sua conclusão.

14.10.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre as muitas salas de espectáculos e bares da noite lisboeta, o Rock Rendez-Vous foi, a par do Johnny Guitar, uma das mais históricas e influentes, e continua até hoje a ser das que mais memórias e nostalgia despertam entre os portugueses de uma certa idade e com gosto pela música. E ainda que os muitos concertos ali realizados tenham uma palavra a dizer no tocante a esse estatuto, é inegável que grande parte do mesmo se devia ao histórico Concurso de Música Moderna, tão sinónimo com o espaço que muitas vezes se confunde com o mesmo, naquilo a que hoje se chama um 'efeito Mandela'.

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O livre-trânsito de uma das bandas a concurso, os Gritos Oleosos.

De facto, foi o referido concurso - realizado consecutivamente entre 1984 e 1989 – que deu a conhecer grupos como os Mler Ife Dada (vencedores da primeira edição), Ritual Tejo e Sitiados, todos os quais tiveram oportunidade de gravar para a Dansa do Som, a editora ligada ao concurso e ao próprio Rock Rendez-Vous em si. Assim, não é de estranhar que, cinco anos após a última edição anual, a competição tenha sido 'revivida' a título esporádico, e proporcionado uma despedida 'em alta' para um dos grandes eventos musicais do Portugal oitentista. Isto porque o sétimo e último Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous - levado a cabo há quase exactos trinta anos, a 16 de Outubro de 1994 - teve honras de transmissão na RTP, um facto que demonstra bem a importância cultural e mediatismo que o evento havia adquirido desde a sua criação, dez anos antes.

Curiosamente, esta última edição do concurso manteve a tendência, verificada na esmagadora maioria dos seus antecessores, de atribuir a vitória a bandas que acabariam por nunca singrar, pese embora o disco lançado como prémio pela classificação no concurso. Para a História, nesta 'reencarnação' do evento, ficavam Drowning Men (mais tarde Geração X, e depois Os Vultos), Jardim Letal e Neura, nenhum dos quais é hoje lembrado ou conhecido pela esmagadora maioria da população nacional, até mesmo a que era já viva à época. O único nome 'sonante' desta edição de 1994 seria, assim, o dos Ornatos Violeta, que levavam para casa o último Prémio de Originalidade alguma vez atribuído pelo Rock Rendez-Vous, saindo assim como nome destacado da última edição de um certame histórico do panorama musical português.

A extinção do Concurso de Música Moderna não significaria, no entanto, o fim do nome Rock Rendez-Vous, o qual seria 'repescado', já no Novo Milénio, para título de uma compilação de novos talentos lançada pela Worten, em homenagem às edições do mesmo tipo que a Dansa do Som fazia sair durante o seu período áureo. E apesar de o local em si, bem como o nome, terem entretanto voltado a mergulhar nas 'brumas' da memória, haverá sempre uma certa faixa etária de portugueses para quem aquelas três palavras meio 'estrangeiradas', e o concurso que lhes estava associado, serão, eternamente, sinónimas com o melhor que se fazia, e fez, no meio pop-rock e alternativo em Portugal.

04.05.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

De entre as datas assinaláveis da História de Portugal, apenas uma mão-cheia rivaliza, em importância, com o 25 de Abril de 1974, o dia em que uma revolução militar inteiramente pacífica põs fim a quarenta anos de ditadura fascista e restaurou a independência no seio da República Portuguesa; neste ano de 2024, tal data revestiu-se de ainda maior significado, por se terem assinalado exactas cinco décadas sobre o memorável dia, as quais foram celebradas a preceito com uma das maiores concentrações e manifestações verificadas desde então em Portugal. Quem faz parte das gerações 'X' ou 'millennial', no entanto, terá, nessa Terça-feira, recordado um outro marco relativo à Revolução dos Cravos, verificada durante a sua infância, e devidamente assinalada pela maioria das instituições nacionais: a comemoração dos vinte anos.

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Cartaz das comemorações realizadas pela Câmara Municipal de Almada.

Memoravelmente denominada '25 de Abril – 20 Anos', a campanha de organização de eventos para assinalar tal efeméride teve lugar um pouco por todo o País – embora, naturalmente, com particular incidência nas zonas metropolitanas, sobretudo a de Lisboa, local onde se desenrolou a revolução – e traduziu-se numa série de espectáculos, exposições e até eventos desportivos, que terão, sem dúvida, proporcionado Saídas de Sábado memoráveis para quem era, então, criança ou adolescente. Os corolários foram, sem dúvida, a exposição com lugar na Biblioteca-Museu República e Resistência e o espectáculo organizado pela RTP e pela Associação 25 de Abril na antiga Feira Internacional de Lisboa (FIL), transmitido em directo pela emissora estatal e que contou com apresentação de Ana Zanatti e Paulo de Carvalho; no entanto, de Norte a Sul do território, verificaram-se toda uma série de outras actividades de tanto ou maior interesse para a demografia infanto-juvenil, como o sarau de ginástica organizado pela Câmara Municipal de Almada, em que o autor deste 'blog', então a caminho dos nove anos, participou durante um inesquecível fim-de-semana daquele Abril de 1994, e que viria a ser o primeiro de uma série de eventos anuais que perduram até aos dias de hoje.

Qualquer que tenha sido o evento em que um jovem daquela altura tenha participado, no entanto, é de acreditar que o mesmo tenha ficado retido na sua lembrança como a ocasião inesquecível e irrepetível que foi, e que o tenha motivado a procurar criar memórias semelhantes aos seus filhos por ocasião da comemoração dos cinquenta anos de uma data que não deve jamais ser esquecida, ou mesmo ignorada, pelas gerações vindouras.

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