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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

25.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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As transmissões de jogos de futebol têm, tradicionalmente e consistentemente, estado entre os segmentos com maior 'share' de audiências da televisão em sinal aberto em Portugal. Mesmo depois do advento da Sport TV (e, mais tarde, de redes como a Eleven Sports ou dos canais privados de cada clube) os jogos exibidos na RTP, SIC e TVI não deixam de atrair números invulgares de público para cada uma dessas estações, o que se afirma como natural num país com tanto gosto e apetência pelo desporto-rei como é o nosso. Ainda assim, situações em que a emissora depende activamente do futebol para sair de uma crise de audiências não deixam de constituir casos extremos, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo; e, no entanto, era precisamente esse o contexto em que a RTP se encontrava nos primeiros meses da viragem do Milénio, e que levou a emissora estatal a empregar medidas drásticas nesse Verão, aquando da realização do Campeonato Europeu de Futebol.

Isto porque, como detentora de acções na Sport TV, a RTP dividiria, normalmente, o 'pacote' de direitos de transmissão dos jogos com a emissora privada, exibindo apenas partidas selectas em sinal aberto, numa práctica que se mantém até aos dias de hoje; no caso do Euro 2000, no entanto, tal partilha não teve lugar, tendo a RTP retido os direitos de todas as vinte e sete partidas - de um total de trinta e uma - que logrou conseguir transmitir (as restantes quatro viriam a ser exibidas no 'outro' canal de desporto da TV Cabo da época, o Eurosport, que mostraria também algumas das partidas da RTP em diferido, numa emissão que dedicava vinte e quatro horas diárias à competição), obrigando a Sport TV a transmitir apenas debates sobre os jogos da competição, nos horários em que normalmente os estaria a exibir. Tais acções deviam-se à crise de resultados que a emissora estatal atravessava por comparação às rivais privadas, sendo que apenas o futebol conseguia equiparar a estação da 5 de Outubro às de Carnaxide ou Queluz.

Quando somada a uma série de 'picardias' entre o canal público e o seu 'sócio' privado – com a Sport TV a negar à RTP direitos de transmissão em directo dos jogos do FC Porto na Liga dos Campeões do ano transacto (obrigando a que os mesmos fossem exibidos em diferido, com uma hora de atraso), e a emissora estatal a 'vingar-se' bloqueando, no último momento, o acesso do canal codificado ao particular Portugal-Itália – esta atitude tornou inviável qualquer colaboração futura entre os dois canais, tendo a Sport TV procurado associar-se à SIC no tocante à partilha de direitos televisivos de eventos de desporto, iniciada com a transmissão conjunta do Open do Estoril em Ténis. Já a RTP beneficiria mesmo do 'choque na veia' proporcionado por um dos melhores Euros de sempre, ao qual se seguiram, quase de imediato, os Jogos Olímpicos de Sydney, também cobertos na quase totalidade pela emissora estatal. Um Verão de sucesso para as 'duas' RTPs, portanto - muito por conta daquilo a que a imprensa da época chegou a chamar uma 'overdose' de desporto – mas que, ao mesmo tempo, mudaria para sempre o paradigma e estrutura de partilhas e alianças para a transmissão de eventos desportivos em Portugal, numa alteração cujos efeitos se continuam a fazer sentir até aos dias de hoje, e que parece dar razão à máxima que diz que 'nunca é apenas futebol'...

18.01.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

No início da década de 90, o termo 'televisão' em Portugal designava, quase exclusivamente, os dois canais estatais, as RTP 1 e 2, que se veriam acrescidos, alguns anos mais tarde, dos dois canais privados, a SIC (surgida em 1992) e a TVI (que aparecia no ano seguinte); quem quisesse ter mais canais, poderia recorrer à futurística tecnologia da TV por satélite, que permitia captar emissões tão excitantes como as da RTP Madeira, TVE, e – com sorte – um Eurosport desta vida, provavelmente com imagem tremida (ou com a famosa 'areia') e som a condizer. Pouca gente imaginava que o conceito de 'TV por cabo' pudesse, no contexto português, alguma vez vir a ser mais do que uma daquelas coisas que aparecem nos filmes e séries norte-americanos, e que estão tão longe da realidade lusitana que se tornam de difícil compreensão.

A verdade, no entanto, é que esta tecnologia estava mais próxima do que se pensava – no cômputo geral, não se passaria mais do que meia década até a TV Cabo se encontrar implementada em Portugal, com várias operadoras a oferecer serviços de fibra óptica de Norte a Sul do País. Corria ainda o ano de 1994 quando a Portugal Telecom, através da subdivisão PT Multimédia, introduzia o serviço em Portugal Continental, mudando para sempre as vidas de milhões de cidadãos, entre eles muitas crianças e jovens.

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Logotipo original do serviço

Curiosamente, no entanto, a TV Cabo perfila-se como um exemplo de uma tecnologia que não entrou em Portugal por via da capital, ou mesmo da outra grande cidade, o Porto; numa inversão do habitual fluxo dos acontecimentos, o primeiro território a adoptar os novos cabos de fibra óptica seria a Região Autónoma da Madeira, que iniciaria a transmissão de programas por cabo ainda em 1993, largos meses antes de esta inovação chegar ao espaço continental, em Maio de 1994, já acompanhada de uma mascote, a toupeira Fibras.

Uma vez apresentado ao grande público, no entanto, este serviço gozou de uma adesão sempre crescente, muito graças ao número perfeitamente alucinante de canais que oferecia. Espectadores habituados a quatro canais, com – quanto muito – mais um punhado obtido via satélite, tinham agora a oportunidade de escolher de entre uma variedade de canais generalistas e especializados, tanto nacionais como estrangeiros – ainda que, no caso da maioria destes últimos, sem recurso a legendas. Para as crianças e jovens, em particular – habituados a que a proposta para a sua faixa etária se resumisse a blocos específicos – a ideia de ter não um, mas DOIS canais totalmente dedicados à programação infantil (um dos quais, o Canal Panda, com conteúdos dobrados e legendados em português) era nada menos do que entusiasmante, sendo que o acesso a esses canais viria a moldar as memórias televisivas de infância de toda uma geração – basta referir que, sem a existência do Canal Panda e do Cartoon Network, nunca teríamos podido ver as icónicas dobragens espanholas de Doraemon e Captain Tsubasa, nem tão-pouco criações originais do canal norte-americano, como Johnny Bravo, Dexter's Laboratory, Cow and Chicken ou as Powerpuff Girls.

Mais – desses inícios já de si auspiciosos, a TV Cabo apenas viria a consolidar o seu crescimento, aumentando e ampliando cada vez mais a sua oferta, e adicionando canais 'premium' apenas acessíveis mediante subscrição, como era o caso da Sport TV ou dos famosos 'Telecines', que ofereciam ainda mais opções e escolha a quem estivesse disposto a pagar por eles; e mesmo quem não queria incorrer em custos extra continuava a ter muito que ver, sendo que o serviço oferecido pela TV Cabo nesses primeiros anos não só justificava o preço mensal de adesão ao serviço como contribuía para o volume crescente fidelização entre os clientes, que, ao longo dos anos, foram abandonando progressivamente a TV por satélite para se mudarem de 'armas e bagagens' para o novo serviço.

O resto da história é por demais conhecido: a longo prazo, a TV por cabo tornar-se-ia o 'standard' dos lares portugueses, sendo cada vez mais raros aqueles que continuavam apenas com os 'velhos' quatro canais – uma situação que se exacerbou já no final da década, quando os pacotes de Cabo passaram, também, a incluir Internet sem fios. Estava eliminada a última desculpa para não ter o serviço, e quebrada a resistência da maioria dos portugueses, permitindo à PT (hoje NOS) assumir a hegemonia de mercado e implementar nos lares portugueses aquilo com que, menos de dez anos antes, a maioria deles apenas sonhava: a televisão por cabo, tal como esta era entendida em países como os Estados Unidos. Lá diz o velho ditado, 'mais vale tarde do que nunca'.

11.07.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

E se no último Domingo Desportivo falámos da SportTv, o principal canal desportivo ‘made in Portugal’, hoje, abordaremos o outro grande canal de desporto disponível à época em Portugal: o Eurosport.

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Chegado ao nosso país a 5 de Fevereiro de 1989, ainda por TV satélite, e mais tarde incorporado nos primeiros pacotes da recém-chegada TV Cabo, em meados da década de 90, o canal de origem francesa tinha, sobre a sua congénere portuguesa, duas grandes vantagens: por um lado, a referida longevidade, que ajudara a tornar a sua ‘marca’ bem conhecida entre o público-alvo e, por outro, o facto de não ser um canal Premium e, portanto, não acarretar quaisquer custos extra para os utilizadores de qualquer dos dois serviços onde surgia. Quando aliados à programação de qualidade que exibia, estes dois argumentos eram mais que suficientes para tornar o Eurosport um clássico junto dos fãs nacionais de desporto.

O outro grande trunfo deste canal era o ecletismo, que – ao contrário da referida SportTv – não se limitava às modalidades mais conhecidas; pelo contrário, o Eurosport parecia ter orgulho em mostrar desportos praticamente desconhecidos ou ignorados em Portugal (e no Mundo) e que iam desde a natação à equitação, do snooker ao ténis de mesa e do ski ao ‘curling’ - foi, aliás, através deste canal que muitos jovens ouviram pela primeira vez falar deste estranho desporto sobre o gelo. Esta aposta declarada na diversidade tornava, também, o Eurosport no melhor recurso para assistir a provas ou resumos olímpicos, sendo a cobertura feita pelo canal a este tipo de eventos invariavelmente excelente (como, aliás, se passava também com o ciclismo).

Mas é claro que a programação do Eurosport não se resumia apenas a estes eventos menos consensuais e comerciais. O canal sabia que teria de conjugar esta tentativa de diversidade com aquilo que o público verdadeiramente queria ver, sob risco de perder audiências; assim, além dos eventos atrás elencados, o canal dedicava, também, algum do seu tempo de antena aos inevitáveis jogos de futebol. No entanto, mesmo aqui, o Eurosport marcava a diferença, preterindo os habituais jogos dos principais campeonatos em favor de jogos internacionais, sobretudo, de competições internacionais jovens; efectivamente, antes de a SportTv diversificar a sua programação e do advento do canal 11, o Eurosport era o melhor recurso para quem quisesse acompanhar torneios, Mundiais e Europeus de sub-21, sub-19 e até camadas mais jovens, o que sem dúvida terá atraído uma grande porção do público amante de desporto para o canal francês.

Tal como a sua congénere portuguesa fundada nove anos depois, também o Eurosport ainda persiste nas grelhas de programação da TV Cabo; no entanto, ao contrário da sua ‘rival’ paga, o canal francês aparece muito ‘enterrado’ na lista de canais, longe da preponderância que obteve em finais da década de 90 e inícios da seguinte. Ainda assim, o clássico canal desportivo retém um núcleo fiel de adeptos, cativados pelo ecletismo que o Eurosport continua – ainda – a advogar. E enquanto o canal francês dificilmente voltará a gozar do estatuto que então tinha entre os fãs de desporto, é bom saber que podemos continuar a contar com este ‘clássico’ entre os muitos canais atualmente disponíveis na TV Cabo…

 

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