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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

24.06.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No contexto certo, um tema musical pode ter tanto impacto, e fazer tanta diferença na percepção de um todo, quanto um logotipo ou qualquer outro elemento gráfico ou de apresentação; o do desporto não é excepção a esta regra, bastando relembrar a mais que icónica sequência de introdução dos jogos da Liga dos Campeões para comprovar esse facto. Assim, não é de surpreender que as entidades reguladoras de certos desportos, entre eles o futebol, procurem associar os seus principais eventos a um determinado tema ou canção, normalmente composto propositadamente para o certame, na esperança que o mesmo se imortalize entre o público adepto e faça perdurar na memória o evento que representa; e apesar de nem todas estas tentativas serem particularmente bem sucedidas, algumas chegam a almejar um determinado nível de tracção cultural, sendo um dos melhores exemplos a faixa sobre a qual versa o 'post' de hoje.

Falamos de 'Campione', 'malha' eurodance puramente noventista (culturalmente, ainda se estava nos anos 90 em meados de 2000) composta e interpretada pelo DJ sueco E-Type, e cujo motivo musical remete a uma canção popular holandesa de cariz patriótico, intitulada 'Oranje Boven'; para quem não é oriundo dos Países Baixos, no entanto, a melodia será 'apenas' a daquela canção do Euro 2000, ficando mais ligada àquele Verão de futebol do que a qualquer fervor patriótico. E a verdade é que, fosse qual fosse a fonte de inspiração, E-Type fez um trabalho magnífico no tocante à composição da faixa, transformando-a num daqueles 'hinos' de que basta ver o título para imediatamente evocar o refrão e batida mais do que pegajosos, e colocar até o mais empedernido dos roqueiros a trautear o pseudo-cântico de estádio que serve de base aos mesmos. Não é, pois, de admirar que o próprio cântico em si tenha, posteriormente, sido adoptado para esse mesmo propósito na 'vida real', extravasando assim os limites da música em que se insere – o que não pode deixar de ser considerado um sinal de sucesso compositivo.

É, pois, por demais evidente que 'Campione' constitui um exemplo claro de sucesso no campo das sinergias entre eventos desportivos e o mundo da música, ainda que não atingindo o nível da referida música da Champions ou ainda de 'Força', o hino do Euro 2004 da autoria de Nelly Furtado. Ainda assim, uma composição mais que merecedora de menção nestas nossas páginas, numa altura em que se celebram vinte e quatro anos não só sobre o seu lançamento, mas sobre o evento a que serviu de banda-sonora oficial.

23.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 23 de Agosto de 2022.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Quase todos os Verões têm uma música - um tema que, de tão omnipresente nas ondas de rádio e na cultura popular, acaba por servir de banda sonora a quase tudo o que se passa durante aqueles quatro meses. As épocas estivais de meados dos anos 90 não foram excepção neste particular, tendo as crianças e jovens da altura tido como 'pano de fundo' sonoro para as suas férias grandes uma sucessão de clássicos 'azeiteiros' ainda hoje apreciados, quase todos inseridos no movimento conhecido como 'europop' ou 'eurodance', de 'Saturday Night' de Whigfield a 'Boom Boom Boom Boom' dos Vengaboys, passando pelo a dada altura inescapável 'Freestyler', dos Bomfunk MCs e, claro, por 'Barbie Girl', o sucesso que apresentou ao Mundo uma banda de estética 'neon' e com uma vocalista de timbre estilo 'balão de hélio', chamada Aqua.

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O que poucos dos jovens que saltaram e deliraram ao som desta música durante aquele Verão sabiam era que essa mesma banda já contava, à época do seu aparecimento na consciência popular, com nada menos do que oito anos de carreira, tendo-se formado em 1989, sob o nome de Joyspeed, então ainda sem a vocalista Lene Nystrom; foi só depois do seu primeiro projecto enquanto grupo - a criação da banda sonora para um filme produzido na sua Dinamarca natal - que o vocalista René Dif (o icónico 'careca' com a ainda mais icónica voz quase caricaturalmente profunda) reparou na sua futura coadjuvante, quando a mesma actuava no 'ferry' de ligação entre a Noruega e a Dinamarca. A vocalista foi, então, prontamente convidada a integrar o projecto, que estabeleceria assim a sua formação definitiva.

Estabelecidos os elementos básicos, o grupo não perdeu tempo a entrar em estúdio para a gravação do seu primeiro 'single'; 'The Itsy Bitzy Spider' seria lançado em exclusivo para o mercado sueco em 1994, mas não conseguiria atingir qualquer tipo de sucesso, perdendo-se na ponta final dos 'tops' locais, e desanimando de tal forma o grupo que o mesmo prontamente cancelaria o contrato vigente que tinham com uma pequena independente daquele país. Felizmente, este primeiro revés não foi, ainda assim, significativo o suficiente para fazer os quatro músicos desistir totalmente do 'sonho' - apenas repensá-lo. Assim, o nome do grupo foi mudado para Aqua, a estética passou a girar em torno das cores vivas e tons 'neon', e a sonoridade tornou-se mais declaradamente 'pop', em vertente puramente 'bubblegum', com músicas assentes em batidas dançáveis e na propositalmente exagerada dicotomia vocal entre o ultra-roufenho Dif (que quase poderia ser o vocalista de uma das muitas bandas de thrash metal da sua região de origem) e o timbre hiper-agudo e infantilizado, ao estilo 'Betty Boop', de Nystrom.

Everdade é que o primeiro fruto comercial desta nova abordagem, a contagiante 'Roses Are Red', granjeou ao grupo o sucesso que lhes escapara sob o seu anterior nome, atingindo vendas de platina na Dinamarca natal do grupo, e permanecendo nos tops locais durante mais de dois meses - registo que o segundo 'single', a quase idêntica (mas ainda melhor) 'My Oh My', viria a eclipsar, atingindo a marca de ouro em apenas seis dias e levando o grupo ao primeiro lugar dos tops dinamarqueses.

Por muito bem-sucedidos que ambos esses lançamentos tivessem sido, no entanto, as suas prestações comerciais viriam a ser largamente eclipsadas pelo êxito meteórico do terceiro 'single' do grupo, 'Barbie Girl'. Viabilizada já depois do lançamento do álbum de estreia do grupo, 'Aquarium', no seu país natal, e também do lançamento internacional de 'Roses Are Red', a faixa serviu de 'cartão de visita' dos Aqua no mercado fonográfico mundial, e a recepção não podia ter sido melhor, tendo a música chegado ao primeiro lugar dos tops musicais do Reino Unido e Austrália, e até conseguido a proeza de entrar no 'top 10' do famoso 'Billboard 100', um feito raro para bandas europeias. Estava dado o mote para um Verão em que não haveria jovem abaixo de uma certa idade que não soubesse acompanhar, de cor, a letra da música, do diálogo inicial do Ken de Dif com a Barbie de Nystrom até ao epílogo, também em registo falado, em que Ken atira um profético 'estamos só a começar'.

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O vídeo de 'Barbie Girl' é tão icónico quanto a própria música

E era, de facto, esse o caso - 'Barbie Girl' representava apenas o início do sucesso dos Aqua, tendo, naturalmente, ajudado a impulsionar as vendas mundiais de 'Aquarium', do qual viriam a ser extraídos nada menos do que mais quatro singles: 'Lollypop (Candyman)' e a fabulosa 'Dr. Jones' (ambas em registo semelhante ao das primeiras canções lançadas pelo grupo) e 'Turn Back Time' e 'Good Morning Sunshine', o tipo de baladas totalmente plásticas que ficavam a um registo vocal de distância de ser uma faixa de Britney Spears - isto além da recuperação de 'My Oh My' para o mercado internacional. O sucesso, esse, era continuado na Europa, e em particular no Reino Unido, onde o grupo igualava as marcas de Westlife e Spice Girls (de quem, paulatinamente, aqui falaremos, tal como de Spears) nas listas de êxitos locais; só os Estados Unidos se mostravam algo 'frios' aos novos esforços do grupo, que foi, naquele país, um verdadeiro 'one-hit wonder', tendo-se eclipsado após 'Barbie Girl'.

Apesar de o sucesso atingido pelo álbum de estreia e respectivos 'singles' indicarem uma carreira longeva e produtiva, no entanto, a mesma situação se viria a comprovar no resto do Mundo aquando do lançamento do segundo álbum do grupo, o confusamente intitulado 'Aquarius', de 2000, que provou o quanto podia mudar em três anos; apesar de ainda ter contribuido um êxito para a lista pessoal do grupo (a auto-consciente 'Cartoon Heroes', que teria cabido perfeitamente no registo anterior) o momento do grupo - e do movimento 'europop' como um todo - havia passado, e os restantes 'singles' retirados do álbum teriam um desempenho relativamente anónimo nos 'tops' mundiais, ditando o final definitivo da onda de sucesso gozada pelo grupo desde o seu 'aparecimento' na cena mundial, em finais de 1996; pouco depois, a braços com um processo judicial da Mattel por uso indevido da sua personagem, a banda viria a separar-se, mas não sem antes registarem uma exibição memorável no Festival Eurovisão 2001, marcado por uma interpretação algo controversa e, digamos, 'adulta', do mega-êxito 'Barbie Girl'.

Não terminaria aí, no entanto, a carreira do grupo, já que os Aqua viriam a reunir-se para uma digressão de Verão, em 2008, aproveitando ainda para disponibilizar a sua segunda compilação de êxitos; mais surpreendente seria o aparecimento, em Setembro de 2011, de um novo álbum, 'Megalomania' - mais de uma década depois do último sinal de vida do grupo!

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'Megalomania', o surpreendente álbum de regresso dos Aqua, lançado em 2011.

Desde então, a carreira do grupo tem-se pautado por uma série de digressões periódicas, que continuam até aos dias de hoje, mesmo depois da saída do guitarrista e membro fundador Claus Noreen. Fãs de 'Barbie Girl' que queiram reviver a nostalgia daqueles anos mais simples podem, pois, assistir a uma prestação do grupo ainda este ano, ou até no próximo, transformando as 'bonecas' do 'europop' num daqueles nomes que parecem perfeitamente satisfeitos em fazer parte do circuito nostálgico do mundo musical; um final honroso para uma banda que, por um ou dois Verões em finais dos anos 90, foi uma das maiores do Mundo para toda uma geração de crianças e jovens...

11.07.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Face ao sucesso que faziam, em finais dos anos 90, os grupos vocais e de dança constituídos por jovens bem-parecidos de ambos os sexos, não foi de admirar que Portugal quisesse 'entrar na onda' e produzir as suas próprias versões deste fenómeno para 'consumo interno'. Já aqui recordámos, numa edição anterior desta rubrica, as tentativas de fabricar uma 'boy-band' 'made in Portugal'; agora, chega a altura de lembrar aqueles que foram os principais representantes lusitanos do também mega-popular movimento Europop, os Santamaria.

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Oriundos de Santa Maria de Lamas (de onde, presume-se, terá vindo a inspiração para o nome) os integrantes do grupo juntaram-se pela primeira vez em 1997, quando os irmãos Marlene e António (Tony) Lemos se juntaram a Américo Marante e a duas bailarinas para formar um grupo cuja sonoridade ficava a meio caminho entre o referido som 'Europop'/'Eurodance', muito em voga na altura, e o não menos popular 'pimba' (ou não se tratasse de um grupo português) com o qual partilhavam espaço naqueles eternos escaparates de 'cassettes' e CD's omnipresentes em todas as tabacarias e bombas de gasolina do País à época.

O primeiro fruto desta união sai menos de um ano depois, em Março de 1998, e consegue desde logo vendas impressionantes, atingindo a marca de tripla platina, sobretudo à conta do single e tema-título 'Eu Sei, Tu És...', uma daquelas músicas que se infiltra na mente pelo mero acto de ler o título, e que continua a ser, ainda hoje, o principal 'cartão de visita' do grupo junto dos ouvintes mais 'casuais' e desatentos.

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O disco de estreia do grupo foi desde logo um sucesso de vendas

Por muito sucesso que a estreia tenha feito, no entanto, o segundo disco, 'Sem Limite' - lançado logo no ano seguinte - supera-a largamente em volume de vendas, logrando atingir a quádrupla platina, e estabelecendo os Santamaria como nome de respeito dentro do movimento 'Europop', conforme comprova o dueto com a dinamarquesa Whigfield (de 'Saturday Night') no tema 'Happy Maravilha'. O quinteto nortenho terminava, assim, em alta a década, século e milénio, dando o mote para o que se verificaria nos vintes anos seguintes.

E o que se verificou foi um sucesso continuado e extraordinário, com todos os discos do grupo na primeira década do novo milénio a atingirem, pelo menos, vendas de platina, com a maioria a dividir-se entre a dupla e tripla platina (o disco menos bem sucedido deste período foi '4 Dance', de 2002, que conseguiu ainda assim mover 40.000 unidades) e a banda a ver ser-lhe atribuído um Globo de Ouro (!) para 'Melhor Grupo', em 2001, bem como um prémio relativo à mesma distinção, atribuído pela Romântica FM, em 2009

E embora os anos 2010 não tenham sido tão favoráveis ao grupo como os dez anteriores, a carreira dos lamenses segue de vento em popa, mesmo após a morte do fundador Tony Lemos, em 2020. Logo a abrir a década, o grupo foi galardoado por vendas médias superiores a 50.000 unidades para cada um dos seus discos, e desde então, foram quatro os discos de originais lançados, datando o mais recente, 'Eterno', do ano transacto. Junte-se a este número uma mão-cheia de colectâneas e um conjunto de CD e DVD ao vivo comemorativo dos quinze anos da banda, e a única conclusão a que se pode chegar é que os Santamaria ainda estão para ficar na cena musical popular portuguesa; para muito boa gente, no entanto, o grupo será sempre, apenas, aquela banda que perpetuou um dos muitos hinos 'foleiros' das 'playlists' de rádio portuguesas de final dos anos 90...

 

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