Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

31.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Domingo, 30 de Março de 2025.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A passagem de um jogador talentoso de um clube de média dimensão para um de maior nomeada é comum ao ponto de ser um passo esperado na carreira de qualquer atleta; menos habitual, no entanto, é ver um futebolista fazer o percurso inverso, dando um 'passo atrás' enquanto ainda vive o auge da carreira. Não sendo de todo inaudita, esta situação prima pela raridade, o que torna ainda mais surpreendente constatar que um dos seus mais famosos exemplos teve lugar em Portugal, na década de 1990.

download.jpeg

Isto porque, ao assinar pelo Benfica no Verão de 1997 (em plena 'era Graeme Souness') o checo Karel Poborsky trazia já honras de campeão checoslovaco (pelo Slavia Praga) e inglês (pelo Manchester United de Alex Ferguson), bem como de semi-finalista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões (pelos mesmos clubes, respectivamente) e de internacional indiscutível do seu país, tendo inclusivamente sido 'carrasco' de Portugal no icónico Euro '96, ao marcar o único golo do jogo dos quartos-de-final, uma 'chapelada' a Baía após excelente trabalho individual que ditaria o afastamento das Quinas da competição. Um palmarés mais 'decorado' que o habitual para um jogador que ingressasse no Campeonato Nacional português, e que tornava de imediato Poborsky numa das grandes 'estrelas' dessa edição da competição.

E a verdade é que, na Luz, o checo, 'tapado', em Manchester, pelo indiscutível David Beckham, viria mesmo a conseguir relançar a carreira, afirmando-se como uma das peças preponderantes dos plantéis por onde passou nas suas três épocas e meia de águia ao peito, como um dos melhores jogadores dos últimos Campeonatos do século XX, e como uma das pouquíssimas contratações acertadas feitas pelo técnico escocês durante o seu infame período ao comando dos 'encarnados'. Médio rápido e tecnicista, o checo não tardou a mostrar a sua valia, e a sua icónica 'cabeleira' aloirada tornou-se praticamente sinónima com qualquer lance de perigo criado pela equipa do Benfica durante aqueles anos finais do Segundo Milénio.

Tudo o que é bom chega ao fim, no entanto, e Poborsky, como tantos outros jogadores antes de si, viria mesmo a deixar o Benfica, já nos primeiros meses do Novo Milénio, e pouco após a 'prenda de Natal' que foi o regresso de Toni ao comando técnico do clube da Luz. O destino era ainda outro país a adicionar ao currículo, e ainda outro clube de média-grande dimensão europeia – no caso a Lazio, onde fez uma época e meia 'ao seu nível', embora optasse por não renovar contrato e, ao invés, regressar à sua República Checa natal, no caso para o 'lado oposto' da cidade de Praga, onde vestiria a camisola do Sparta, rival acérrimo do mesmíssimo Slavia onde se afirmara, cerca de uma década antes.

Uma 'traição' que, no entanto, correria bem ao jogador, que se tornaria o atleta mais bem pago da República Checa e juntaria mais dois campeonatos e uma Taça ao seu palmarés, antes de escolher abraçar o desafio de regressar ao clube que o formara, o modesto Dynamo Ceske Budejovice, onde ainda faria mais de duas dezenas e meia de aparições nas ligas secundárias checas, marcando dez golos, antes de 'pendurar' de vez as botas. Pelo meio, participaria ainda em mais três icónicos torneios internacionais, os Campeonatos Europeus de 2000 (na Bélgica e Holanda) e 2004 – esse mesmo, o realizado em Portugal, onde a sua Selecção seria eliminada pela da...Grécia – e o Campeonato Mundial de 2006, após o qual se retiraria também do futebol internacional.

download (2).jpeg

Ao contrário de muitos dos seus colegas e contemporâneos de que aqui falamos, no entanto, o checo escolheu não transitar para cargos técnicos após o encerramento de carreira (excepção feita aos dois anos que passou como director técnico da Selecção checa), preferindo dedicar-se ao trabalho de escritório (quer no seu clube formador, quer no Sindicato dos Jogadores checo) e ser lembrado pelos seus feitos em campo, e como membro de uma das melhores gerações de sempre da República Checa, tendo partilhado o campo com nomes como Pavel Nedved ou Tomás Rosicky. Em fim-de-semana de aniversário (completou cinquenta e três anos) façamos-lhe, pois, a vontade, e recordemos a sua bem-sucedida passagem por Portugal, e o estatuto icónico que adquiriu junto dos adeptos do Benfica durante a mesma.

16.03.25

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O mundo do futebol profissional tende a dividir-se em dois tipos de jogador: os talentos natos, que se tornam estrelas e centram em si todas as atenções, e os mais utilitários, mas tão ou mais necessários para o bom funcionamento de uma equipa – os chamados jogadores de 'fato-macaco'. É de um dos mais famosos representantes nacionais deste segundo tipo – ainda hoje conhecido em 'praça pública' - que falaremos neste 'post', no fim-de-semana em que celebra cinquenta e três anos de idade.

images (3).jpeg

O jogador com algumas das camisolas que representou na carreira.

Filho 'do meio' de um quinteto de irmãos futebolistas (de um total de treze crianças!), José Luís da Cruz Vidigal viria mesmo a ter a carreira mais honrosa de entre os três, conseguindo elevar o seu futebol a um patamar que nem os dois irmãos mais velhos, Beto e Lito, nem os dois mais novos, Toni e Jorge, alguma vez viriam a almejar. Antes dos habituais 'saltos' que marcam o percurso de qualquer jogador promissor – primeiro para um 'grande' e, depois, para o estrangeiro – a trajectória do futuro internacional português, companheiro de Selecção dos membros da 'Geração de Ouro' no Euro 2000, desenrolava-se de forma exactamente análoga à dos irmãos, tendo tido início no modesto mas histórico O Elvas (do qual foi elemento-chave entre a estreia em 1992 e a saída em 1994, tendo realizado sessenta jogos) e continuado na periferia de Lisboa, novamente de amarelo e azul, embora desta feita num patamar mais alto, ao serviço do Estoril-Praia.

A estadia na Amoreira - sobre a qual se comemoram esta temporada exactas três décadas - duraria apenas uma época, mas daria ao jovem de vinte e um anos tempo mais que suficiente para explanar as suas qualidades, tendo deixado apontamentos suficientes ao longo dos vinte e sete jogos que realizou para justificar a chamada às Selecções Sub-21 e Sub-23 e suscitar o interesse de um dos 'grandes' da vizinha capital. No caso, seria o Sporting, recém-sagrado vencedor da Taça de Portugal, quem asseguraria a contratação do médio defensivo no Verão de 1995, no caso como elemento de 'apoio' a um plantel onde a sua posição estava assegurada por nada menos do que Emílio Peixe, Oceano e Carlos Xavier. E se esta concorrência 'de peso' poderia fazer crer que a estadia de Vidigal nos 'Leões' de Lisboa seria curta e inexpressiva, a verdade é que o jogador desafiou todas as expectativas, fazendo cinco épocas de leão ao peito e conseguindo mesmo afirmar-se como elemento importante dos plantéis por onde passou, numa fase que culminaria com a titularidade absoluta na época de 1999/2000, em que foi peça-chave na quebra do 'jejum' de dezoito anos do clube de Alvalade, com a conquista do Campeonato Nacional – proeza que, curiosamente, seria repetida pelo seu irmão mais novo dois anos depois!

Montagem dos melhores momentos de Vidigal no Sporting.

Como é evidente, o alto rendimento do jogador nessa época agudizou o interesse no seu perfil por parte de clubes estrangeiros, algo a que a participação na excelente campanha portuguesa no Euro 2000 veio ainda acrescer. Assim, foi sem surpresas que, nos primeiros meses do Novo Milénio, os adeptos leoninos viram o seu destruidor de jogo rumar a paragens mais apetecíveis, nomeadamente a Itália, país onde passaria os oito anos seguintes – representando sobretudo as cores do Nápoles e do Livorno, excepção feita a uma breve passagem pela Udinese - e onde acabaria mesmo por jogar durante mais um ano do que em Portugal, país ao qual só regressaria já em final de carreira, mas ainda a tempo de fazer dezassete jogos no escalão principal, com a camisola do Estrela da Amadora, fechando de forma honrosa uma bonita carreira.

Ao contrário de tantos outros jogadores já aqui abordados, no entanto – e do próprio irmão mais velho – Luís Vidigal escolheu não fazer a transição para cargos técnicos após o fim de carreira; ao invés, o antigo médio-defensivo viria a manter-se relevante na opinião pública enquanto analista desportivo, cargo que ainda hoje desempenha, podendo ser ouvido semanalmente nas transmissões televisivas de jogos do campeonato e não só, tendo o legado futebolístico do seu clã sido deixado a cargo do sobrinho, André, filho do malogrado Beto. Uma nova etapa na carreira de um nome menos fulgurante, mas não menos importante, do que outros da sua geração, e bem merecedor deste destaque no seu fim-de-semana de aniversário. Parabéns, e que conte muitos.

16.02.25

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Quando se fala na Geração de Ouro do futebol nacional, a memória tende a relembrar fantasistas como Luís Figo, Rui Costa ou João Vieira Pinto, ou esteios defensivos como Paulo Sousa ou a dupla Fernando Couto e Jorge Costa: no entanto, como qualquer outra equipa, a referida Selecção contava também com uma série de 'coadjuvantes', cujo papel era mais discreto, mas não menos importante nas dinâmicas e organização da equipa. É, precisamente, a um desses jogadores – dono de uma carreira mais do que honrosa, mas significativamente menos lembrado que os seus colegas - que dedicaremos este Domingo Desportivo, no dia em que completa cinquenta e seis anos de idade.

776082_med__20210424162209_dimas.jpg

O jogador ao serviço de Portugal no Euro 2000.

Nascido em Joanesburgo, na África do Sul, Dimas Manuel Marques Teixeira – vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro nome próprio – voltaria ainda criança a Portugal, onde viria a explorar mais a fundo a sua apetência por futebol. E a verdade é que, apesar de um começo relativamente tardio – tinha já dezasseis anos quando iniciou a formação – o futuro internacional português foi ainda mais do que a tempo de transformar esse gosto numa carreira internacional, vivendo o sonho de muitos jovens ao estrear-se, aos dezoito anos, pela histórica Académica de Coimbra, onde fizera os seus dois únicos anos de formação. Curiosamente (ou talvez não) a tenra idade não impediu que Dimas se afirmasse como peça-chave do plantel dos Estudantes durante as três épocas que ali passou, sendo que apenas na última realizaria menos de trinta jogos, compensando este facto com um recorde de golos que vigoraria durante toda a sua carreira, marcando sete. Ao serviço da histórica agremiação, o defesa conseguiria ainda as primeiras internacionalizações jovens, representando a selecção Sub-21 por duas vezes e a Sub-23 por três.

Esta preponderância, aliada às boas exibições tanto no primeiro escalão como no secundário, após descida, não poderia deixar de atrair o interesse de outros emblemas, e, no início da época de 1990/91, Dimas faria a primeira de muitas transferências na sua carreira, mudando-se para os arredores de Lisboa para representar o Estrela da Amadora, finalista derrotado da Taça de Portugal poucas semanas antes. Ali, continuou a confirmar as boas indicações que deixara no seu clube de origem, com duas épocas em grande nível, sendo 'totalista' na primeira, com trinta e oito presenças, e peça importante na segunda, em que almejou vinte e oito. Sete golos no total das duas épocas (apenas menos um do que marcara em três épocas em Coimbra) punham o corolário nesta fase da carreira do jogador, que rapidamente se viu a rumar a ainda mais um histórico do futebol português, desta feita localizado mais a Norte.

1 - 92 93 Vitoria.jpg

Com a camisola do Vitória SC.

De facto, a época de 1992/93 via Dimas surgir como nova adição ao plantel do Vitória de Guimarães, responsável por revelar para o futebol muitos e bons executantes, e onde o lateral-esquerdo somaria e seguiria na sua carreira, realizando mais duas épocas como titular quase indiscutível no flanco esquerdo, embora agora com menor veia goleadora, almejando apenas um golo no decurso dos dois anos que passou na Cidade-Berço. Ainda assim, nesta fase da carreira, e com apenas vinte e quatro anos, Dimas era já, mais do que uma promessa, uma certeza do futebol nacional da época, pelo que o 'salto' para um grande era já mais do que expectável – salto esse que viria a acontecer há pouco mais de trinta anos, no início da época de 1994, quando Dimas regressava a Lisboa, desta vez para equipar de vermelho, ao serviço do Benfica.

33 - 95 96 a.jpg

No primeiro dos dois rivais da Segunda Circular que representou...

Em termos de notoriedade, o lateral-esquerdo atingiu aqui o ponto alto da sua carreira, sendo pedra basilar da equipa durante as duas temporadas e meia que ali passou (como, aliás, já vinha sendo seu apanágio) e completando quase uma centena de partidas de águia ao peito, durante as quais almejou cinco golos. Terá sido nesta fase do percurso de Dimas que o adepto 'comum', menos atento a equipas que não os três 'grandes', terá tomado conhecimento do lateral-esquerdo, não só pelas suas prestações no Campeonato Nacional da I Divisão como também pela presença na Selecção Nacional AA, com a qual disputou tanto a fase de apuramento para o Euro '96 como o próprio certame, sendo primeira opção para o 'seu' lado da defesa durante todo o torneio. Não é, pois, de admirar que, na temporada seguinte, o lateral tenha sido alvo de interesse internacional, e dado com naturalidade o segundo 'salto' do percurso de qualquer futebolista; o destino era Itália, onde Dimas iria representar o mais lendário clube da sua carreira – a Juventus.

E se a 'aventura' internacional tende a não correr bem a muitos futebolistas, tal não foi o caso com Dimas, que, apesar de nunca conseguir a titularidade absoluta como sucedera nos seus outros clubes, conseguiu ainda assim realizar mais de quatro dezenas de jogos com a camisola listrada da 'Vecchia Signora' antes de rumar à Turquia, para representar o Fenerbahce, enquanto jogador do qual voltaria a representar Portugal no seu segundo torneio internacional, o memorável Euro 2000, onde seria novamente titular na esquerda. Um ano e meio e menos de três dezenas de jogos depois, o lateral rumaria à Bélgica, onde jogaria durante seis meses, contabilizando treze aparições pelo Standard de Liège, antes de rumar novamente a Portugal, e a Lisboa, desta vez para jogar do outro lado da Segunda Circular, no grande rival do seu antigo clube.

120px-Dimas.jpg

...e no segundo.

Se Dimas esperava relançar a carreira no Sporting recém-coroado Campeão Nacional após jejum de quase duas décadas, no entanto, tal plano saiu gorado após o defesa contrair uma lesão no joelho, que o levaria a perder definitivamente a luta pela ala esquerda com o colega de Selecção Rui Jorge. Ainda assim, duas partidas na sua segunda época (antes de rumar por empréstimo ao Marselha, onde realizaria apenas mais quatro) foram suficientes para dar a Dimas o título de campeão nacional, apesar do papel irrisório que desempenhara nessa conquista. Seria com essa conquista quase 'oferecida' que, no final da época de 2001/2002, Dimas encerraria uma carreira honrosa, que inscrevia o seu nome na lista dos maiores jogadores portugueses de sempre a nível interno.

5492.jpg

No breve período como treinador-adjunto.

Tal como muitos outro nomes que relembramos nestas páginas, no entanto, não terminava aí a carreira do agora ex-lateral no Mundo do futebol, já que Dimas tentaria uma transição para a carreira de adjunto, ao lado de José Morais. No entanto, a mesma não duraria mais do que uma época no Barnsley (que terminou com o duo despedido após despromoção) e dois períodos de poucos meses nos ucranianos do Karpaty Lviv e no Jeonbuk, da Coreia do Sul. Assim, é sobretudo pela sua capacidade física, disponibilidade e ritmo de jogo enquanto jogador de campo que o ex-internacional continua a ser lembrado, e é pela sua preponderância nessa capacidade que merece esta homenagem aquando do seu aniversário. Parabéns, e que conte ainda muitos.

14.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sábado, 13 de Julho de 2024.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

download (2).jfif

A bola de 1992.

Enquanto centro nevrálgico do jogo de futebol – sendo mesmo a razão do prefixo do mesmo – a bola acaba por ser um elemento tão icónico quanto os próprios equipamentos ou chuteiras dos jogadores, apesar de, muitas vezes, menos notável ou notório. Ainda assim, têm havido, ao longo dos últimos cinquenta anos, várias bolas oficiais da FIFA e UEFA cujo 'design' e escolha de cores e padrões as torna particularmente memoráveis, e suscita a compra de um sem-número de réplicas por parte dos jovens fãs do desporto-rei. Os anos 90 não foram, de forma alguma, excepção a esta regra; de facto, ainda que as bolas oficiais dos Campeonatos Europeus daquela década ficassem longe das cores vivas e 'designs' memoráveis do Novo Milénio, as mesmas revelavam, ainda assim, suficiente 'personalidade' para justificarem serem as escolhidas do público-alvo em causa.

download (1).jfif

O modelo de 1996.

Da responsabilidade da Adidas, fabricante único das competições internacionais desde o seu início, as três bolas oficiais dos Europeus de finais do século XX (a Etrusco Único de 1992, Questra Europa de 1996 e Terrestra Silversteam de 2000) apresentavam a mesma base no tradicional branco, mas marcavam a diferença através de padrões bem distintos, embora nem sempre particularmente originais. A Etrusco, por exemplo (modelo que 'transitava' do Mundial de Itália '90) era uma simples bola preta e branca, com o habitual e frequentemente imitado padrão da Adidas: painéis lisos no meio, com um 'friso' a toda a volta. Já a Questra Europa, usada apenas no Euro '96, marcava a diferença através das cores usadas no friso (azul e vermelho) que evocavam a anfitriã Inglaterra sem, ao mesmo tempo, serem declaradamente alusivas à icónica Union Jack. Por sua vez, a Terrestra Silverstream, utilizada apenas no Europeu de 2000, apostava num conceito menos declaradamente localizado e de cariz mais inovador, substituindo a clássica cor branca dos painéis por um elegante prateado, que tornava de imediato a bola mais apelativa para os jovens da viragem do Milénio, época em que o futurismo estava em alta em todos os sectores da sociedade.

download.jfif

O esférico de 2000.

Três bolas tão semelhantes quanto distintas, portanto, cada uma das quais desenhada para apelar às sensibilidades dos adeptos da época e, idealmente, garantir que os mesmos levavam para casa uma réplica de um dos três esféricos, por oposição às igualmente apelativas, e mais baratas, bolas não oficiais com os painéis decorados com bandeiras dos diferentes países do Mundo – um paradigma que, aliás, se mantém até aos dias de hoje, tendo sem dúvida ajudado a informar o 'design' da bola do Campeonato Europeu prestes a concluir-se algumas horas após a publicação deste 'post'...

13.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 11 de Julho de 2024.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Enquanto competições máximas do futebol ao nível internacional (ou seja, de Selecções) é natural que tanto os Mundiais como os Campeonatos Europeus motivem publicações especiais por parte dos periódicos desportivos um pouco por todo o Mundo. E escusado será dizer que, num país tão fanático pelo desporto-rei como Portugal, essa naturalidade assume contornos de inevitabilidade, tendo os adeptos nacionais, ao longo dos anos, 'aprendido' a contar com múltiplos suplementos e destacáveis, ou até mesmo revistas individuais, com foco nos diversos certames. O primeiro Europeu do Novo Milénio não foi, de todo, excepção a essa regra, antes pelo contrário, tendo visto surgir nas bancas lusitanas não apenas uma, mas duas revistas especiais a ele dedicadas, ambas com o então Bola de Ouro Luís Figo como figura de capa, ele que era o 'porta-estandarte' da Selecção Nacional na era pré-Cristiano Ronaldo.

download.jfif

A primeira destas duas, da responsabilidade do jornal 'Record', revestia-se de especial interesse por apresentar uma abordagem algo diferente do habitual: além das habituais 'fichas' de jogadores e factos sobre a competição, a publicação em causa trazia, à laia de 'biografias' dos elementos da Selecção Nacional da época, uma série de textos assinados por autores tão consagrados quanto Manuel Alegre ou Carlos Tê, além de outras figuras ligadas ao mundo das artes e letras, como os cineastas João Botelho e Joaquim Leitão. Já os 'distintos adversários' das outras selecções participantes no certame eram 'apresentados' por especialistas dos respectivos países, com natural destaque para nomes ligados ao jornalismo desportivo. A completar esta ambiciosa edição estavam oito 'guias turísticos' das principais cidades onde a competição se desenrolaria, elaborados 'in loco' por correspondentes do jornal. Uma publicação inovadora e ambiciosa, portanto (sobretudo para os parâmetros algo conservadores do jornalismo desportivo) que terá, certamente, justificado em pleno os quinhentos escudos do preço de capa, até mesmo para quem não era fã do desporto-rei.

image.webp

Sobre a 'outra' publicação alusiva ao Europeu de 2000 – fornecida como suplemento do jornal 'Expresso' – existe bastante menos informação; no entanto, a capa sugere que os conteúdos da mesma se insiram numa linha bastante mais típica e 'clássica' do que a seguida pela congénere de 'Record', com dados sobre os jogadores, estádios e países participantes, além de um guia TV com as datas e horas da exibição televisiva dos jogos, quase todos transmitidos em directo pela RTP. Um suplemento de valor inegável, mas que fica muito longe da ambiciosa e demarcada proposta do jornal de António Tadeia. Ainda assim, sem dúvida uma peça de coleccionador, a qual, tal como a revista de 'Record', valerá sem dúvida a pena adicionar à colecção de um adepto com interesse na História das publicações sobre futebol em Portugal, talvez ao lado das revistas dos Mundiais editadas por 'A Bola' e 'Record', e da publicação sobre a 'Geração de Ouro' sugerida pela primeira alguns anos depois...

08.07.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

1655992079.jpeg

Apesar de não ser imediatamente óbvia, a relação entre os mundos do futebol e da música tem, tradicionalmente, sido simbiótica. De sucessos 'pop' adaptados a cânticos (e vice-versa) a músicas especificamente conotadas com o desporto-rei, ou mesmo tematizadas em torno deste, têm sido muitos os exemplos desta sinergia desde que o futebol se tornou um espectáculo globalista e massificado; quando a este paradigma se junta também a vertente comercial a que o desporto em causa vem, cada vez mais, sucumbindo, a existência de discos oficiais para as competições internacionais da UEFA e FIFA torna-se lógica ao ponto de parecer óbvia.

E de facto, foram poucos os Campeonatos do Mundo ou Europeus dos últimos trinta anos a não se fazerem acompanhar de um álbum oficial repleto de 'malhas' evocativas do ambiente em torno da competição em causa; o primeiro grande exemplo desta tendência deu-se em 1996, quando a Inglaterra juntou dois dos seus grandes 'amores' num só conjunto de doze faixas a que chamou 'The Beautiful Game', e voltou a ser assim com quase todas as competições subsequentes, logo a começar pelas duas seguintes, nomeadamente o Mundial de França '98 e o Euro 2000. É ao álbum oficial deste último que, em época de novo Europeu, dedicamos abaixo algumas linhas.

Por comparação a 'The Beautiful Game' e até ao álbum do France '98, o disco do Euro 2000 revela desde logo uma abordagem algo distinta, mais centrada na coesão musical e criação de atmosferas do que no investimento em grandes nomes da música mundial. De facto, onde o disco de '96 trazia nomes como Jamiroquai, New Order, Primal Scream, Supergrass, Blur ou Pulp, e o de '98 contava com Ricky Martin (com a imortal 'The Cup of Life') Youssou N'Dour, Gypsy Kings, Daniela Mercury, Chumbawamba e Skank, entre outros, o único nome mais imediatamente reconhecível do álbum de 2000 será o dos pop-rockers Republica, ficando as restantes faixas a cargo de DJs e artistas de música electrónica relativamente desconhecidos fora da esfera do Europop e Euro-disco. E apesar de a estratégia escolhida até fazer sentido, dado o campeonato em causa ter sido realizado em dois dos 'centros nevrálgicos' deste estilo de música, a verdade é que essa falta de variedade e grandes nomes limitou severamente o potencial público-alvo do álbum, limitando o seu apelo a quem gostava de música electrónica na sua vertente mais 'azeiteira'.

Não quer isso dizer, no entanto, que o álbum fosse um falhanço total; nenhum conjunto de músicas encabeçado pela monstruosa 'Campione 2000' merece esse epíteto. No entanto, quando comparado aos seus dois antecessores, e a alguns lançamentos posteriores, este é, sem dúvida, um lançamento mais limitado (por definição) e, como tal, menos presente na memória colectiva dos fãs de futebol. Uma pena, já que um dos melhores Europeus de sempre merecia, decididamente, ter gozado de uma banda sonora à altura do futebol praticado...

07.07.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

download.png

Goste-se mais ou menos dos jogadores convocados, o apoio à Selecção Nacional de futebol masculino sénior está entranhado no âmago de qualquer adepto português, teimando em surgir sempre que as Quinas surgem em mais um Mundial ou Europeu – algo que vem sendo recorrente de há três décadas a esta parte. No entanto, a maioria dos adeptos mais velhos será, também, rápida a admitir que a Selecção de hoje já não desperta a mesma paixão do grupo desse tempo, centrado em elementos da lendária Geração de Ouro e que apresentava o verdadeiro 'futebol champanhe', dando 'espectáculo' e entusiasmando os adeptos independentemente do resultado.

E esta última condicionante é mais importante do que parece, já que um dos principais elementos associados a 'essa' Selecção Nacional era o azar. De facto, jogasse melhor ou pior, Portugal parecia sempre soçobrar nos momentos-chave, fosse por falta de sorte, fosse por o adversário lhe ser legitimamente superior. O auge desta tendência (apenas desfeita, de forma inacreditável, em 2016) foi, claro, a derrota frente à massa adepta caseira, em pleno Estádio da Luz, na final do Euro 2004; no entanto, o problema já vinha, a essa data, mais 'de trás', tendo ambas as participações das Quinas em competições internacionais durante os anos 90 redundado em esperanças desfeitas quase 'à última hora'.

De facto, logo no seu regresso aos palcos internacionais, em 1996 (Europeu que iniciaria a referida tendência de apuramentos sucessivos que perdura até aos dias de hoje) Portugal logrou efectuar uma fase de grupos honrosa, até dominadora, e foi favorecido com um sorteio bastante razoável para os quartos-de-final, evitando os 'tubarões' e defrontando a República Checa, hoje Chéquia. O 'presente' revelar-se-ia, no entanto, 'envenenado', com um golo monumental do futuro benfiquista Karel Poborsky (então jogador do Manchester United) a ditar a eliminação da equipa fortemente favorita para esse jogo, e a lançar a 'outra' tendência de Portugal em Europeus, esta mais negativa que a anteriormente mencionada.

A 'maldição' continuaria (e de forma ainda mais dolorosa) quatro anos depois, quando uma das melhores selecções portuguesas de sempre realizaria uma fase de grupos irrepreensível (encabeçada por uma reviravolta histórica contra a Inglaterra) e 'dinamitaria' a Turquia nos quartos, garantindo o acesso a uma meia-final de má memória, em que levou a França campeã do Mundo dois anos antes a prolongamento, para depois ser 'atraiçoada' por uma mão de Abel Xavier em plena área, que Zidane converteria em corações partidos de Norte a Sul de Portugal.

Vistos isoladamente, cada um destes casos pode parecer apenas coincidência, ou azar; no entanto, todo o adepto português sabe que os mesmos marcaram o início de uma tendência que apenas seria contrariada duas décadas depois, no único jogo que Portugal talvez não merecesse ganhar. E numa altura em que a 'maldição' volta a 'atacar' em pleno (tendo Portugal acabado de soçobrar nos 'penalties' frente à França, nos quartos-de-final do Euro 2024) convém que não se perca a memória de onde tudo começou...

02.07.24

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

UEFA_Euro_2000_-_EA_Sports.jpg

Enquanto desporto mais popular a nível global, não é de admirar que o futebol tenha sido, desde o dealbar dos jogos de vídeo, um dos temas mais populares em torno dos quais centrar um título interactivo; e se, nos primórdios da tecnologia, se afirmava algo complicado transladar as emoções do desporto-rei para o ecrã da televisão ou computador, a acelerada evolução da tecnologia verificada a partir de meados da década de 80 permitiu uma aproximação gradualmente cada vez mais realista das partidas virtuais às verdadeiras, a qual prossegue em fluxo até aos dias de hoje. E se os jogos da viragem de Milénio não dispunham das tecnologias foto-realistas disponíveis hoje em dia, a verdade é que conseguiam já proporcionar uma experiência bastante fidedigna à realidade de um jogo de futebol, conseguindo assim conquistar os corações (e carteiras) dos adeptos do desporto-rei.

Não é, pois, de estranhar que a segunda metade dos anos 90 e primeira metade da década seguinte tenha assistido a uma época áurea para os jogos de futebol (e de desporto em geral), com múltiplas franquias a disputarem, de forma mais ou menos bem-sucedida, o 'trono' dividido por duas míticas séries, ambas 'em alta' até aos dias de hoje: 'FIFA', da EA Sports, e 'International Superstar Soccer', da Konami, que, já no Novo Milénio, adoptaria nova designação, ainda hoje vigente: 'Pro Evolution Soccer'. E se em termos de jogabilidade e realismo era esta última a clara vencedora, a 'rival' e 'co-monarca' tinha um considerável 'trunfo na manga' – nomeadamente, a licença oficial para produzir os jogos alusivos às competições internacionais de Selecções. De facto, desde o Mundial de 1994 que a companhia americana dispunha de autorização para criar os títulos oficiais de cada novo certame, um poder de que apenas uma vez não tiraram partido, quando permitiram que a licença oficial do Europeu de 1996 fosse atribuída à Gremlin, criadora da série 'terceira classificada' na 'guerra' do futebol interactivo dos anos 90, 'Actua Soccer', e que lançava um jogo muito semelhante aos da referida franquia.

Seria um erro que a Electronic Arts não voltaria a cometer, recuperando e cimentando a exclusividade ao longo das duas competições seguintes, cujos jogos ajudaram, também, a estabelecer a fórmula ainda hoje vigente para jogos alusivos a certames internacionais – nomeadamente, uma versão 'condensada' do título 'FIFA' do ano anterior, ao qual são removidos todos os aspectos relativos ao futebol de clubes e campeonatos nacionais, ficando o foco exclusivamente limitado à competição em causa. Foi assim, primeiro, com 'World Cup '98' – uma versão mais 'básica' e menos entusiasmante do excelente 'FIFA '98: Road to the World Cup' – e voltou a ser assim com o jogo oficial do Euro 2000, que se afirmava mais uma vez como um título da série 'FIFA' com menos equipas e opções.

Enquanto que o título oficial do França '98 era, em tudo, semelhante ao jogo 'principal' lançado no ano anterior, no entanto, 'UEFA Euro 2000' (lançado poucos meses antes do evento em causa, para PC e PlayStation) oferece uma particularidade interessante em relação a 'FIFA 2000', constituindo uma actualização gráfica considerável em relação ao mesmo, e posicionando-se como uma espécie de 'ponte' entre este e o título seguinte da série, 'FIFA 2001', que seria lançado ainda antes do final desse ano. Assim, e devido a este facto, o jogo em questão acaba por se afirmar como 'caso único' no contexto da série 'FIFA', não sendo visualmente idêntico nem ao seu antecessor, nem ao seu sucessor, ou a qualquer outro jogo da série.

Ficam-se por aí as 'novidades', no entanto, já que em termos de jogabilidade e sonoplastia, 'Euro 2000' é um típico título da EA Sports da época, com o habitual (e excelente) comentário de John Motson e Mark Lawrenson e o mesmo conjunto de acções simplistas que resultavam, nove em cada dez vezes, em golo. Edições posteriores introduziriam inovações às mecânicas da série, mas em 'Euro 2000', continua a bastar a habitual combinação de corrida, passe, drible, centro, e pressão rápida na tecla ou botão de remate para garantir o sucesso – embora, agora, em ritmo mais lento, já que o detalhe gráfico limitava a velocidade do jogo, sobretudo na versão para PC.

Por virtude desta falta de originalidade, 'Euro 2000' acaba por ser recomendado apenas a completistas, fãs da competição em causa, ou adeptos patriotas desejosos de 'corrigir' a História e levar a Selecção Nacional da fase Geração de Ouro à final do certame; quem apenas deseje disputar umas partidas de futebol 'sem compromisso' ficará, certamente, melhor 'servido' com qualquer dos dois 'FIFAs' próximos a este jogo, ou até com as edições de 1998 ou 1999 do jogo em causa. Ainda assim, em tempo de Europeu, seria um 'crime' não fazer menção ao jogo que ajudava a EA Sports a entrar no Novo Milénio da mesma forma que saíra do anterior – como força hegemónica no campo da simulação de futebol.

 

25.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

download.jfif

As transmissões de jogos de futebol têm, tradicionalmente e consistentemente, estado entre os segmentos com maior 'share' de audiências da televisão em sinal aberto em Portugal. Mesmo depois do advento da Sport TV (e, mais tarde, de redes como a Eleven Sports ou dos canais privados de cada clube) os jogos exibidos na RTP, SIC e TVI não deixam de atrair números invulgares de público para cada uma dessas estações, o que se afirma como natural num país com tanto gosto e apetência pelo desporto-rei como é o nosso. Ainda assim, situações em que a emissora depende activamente do futebol para sair de uma crise de audiências não deixam de constituir casos extremos, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo; e, no entanto, era precisamente esse o contexto em que a RTP se encontrava nos primeiros meses da viragem do Milénio, e que levou a emissora estatal a empregar medidas drásticas nesse Verão, aquando da realização do Campeonato Europeu de Futebol.

Isto porque, como detentora de acções na Sport TV, a RTP dividiria, normalmente, o 'pacote' de direitos de transmissão dos jogos com a emissora privada, exibindo apenas partidas selectas em sinal aberto, numa práctica que se mantém até aos dias de hoje; no caso do Euro 2000, no entanto, tal partilha não teve lugar, tendo a RTP retido os direitos de todas as vinte e sete partidas - de um total de trinta e uma - que logrou conseguir transmitir (as restantes quatro viriam a ser exibidas no 'outro' canal de desporto da TV Cabo da época, o Eurosport, que mostraria também algumas das partidas da RTP em diferido, numa emissão que dedicava vinte e quatro horas diárias à competição), obrigando a Sport TV a transmitir apenas debates sobre os jogos da competição, nos horários em que normalmente os estaria a exibir. Tais acções deviam-se à crise de resultados que a emissora estatal atravessava por comparação às rivais privadas, sendo que apenas o futebol conseguia equiparar a estação da 5 de Outubro às de Carnaxide ou Queluz.

Quando somada a uma série de 'picardias' entre o canal público e o seu 'sócio' privado – com a Sport TV a negar à RTP direitos de transmissão em directo dos jogos do FC Porto na Liga dos Campeões do ano transacto (obrigando a que os mesmos fossem exibidos em diferido, com uma hora de atraso), e a emissora estatal a 'vingar-se' bloqueando, no último momento, o acesso do canal codificado ao particular Portugal-Itália – esta atitude tornou inviável qualquer colaboração futura entre os dois canais, tendo a Sport TV procurado associar-se à SIC no tocante à partilha de direitos televisivos de eventos de desporto, iniciada com a transmissão conjunta do Open do Estoril em Ténis. Já a RTP beneficiria mesmo do 'choque na veia' proporcionado por um dos melhores Euros de sempre, ao qual se seguiram, quase de imediato, os Jogos Olímpicos de Sydney, também cobertos na quase totalidade pela emissora estatal. Um Verão de sucesso para as 'duas' RTPs, portanto - muito por conta daquilo a que a imprensa da época chegou a chamar uma 'overdose' de desporto – mas que, ao mesmo tempo, mudaria para sempre o paradigma e estrutura de partilhas e alianças para a transmissão de eventos desportivos em Portugal, numa alteração cujos efeitos se continuam a fazer sentir até aos dias de hoje, e que parece dar razão à máxima que diz que 'nunca é apenas futebol'...

24.06.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No contexto certo, um tema musical pode ter tanto impacto, e fazer tanta diferença na percepção de um todo, quanto um logotipo ou qualquer outro elemento gráfico ou de apresentação; o do desporto não é excepção a esta regra, bastando relembrar a mais que icónica sequência de introdução dos jogos da Liga dos Campeões para comprovar esse facto. Assim, não é de surpreender que as entidades reguladoras de certos desportos, entre eles o futebol, procurem associar os seus principais eventos a um determinado tema ou canção, normalmente composto propositadamente para o certame, na esperança que o mesmo se imortalize entre o público adepto e faça perdurar na memória o evento que representa; e apesar de nem todas estas tentativas serem particularmente bem sucedidas, algumas chegam a almejar um determinado nível de tracção cultural, sendo um dos melhores exemplos a faixa sobre a qual versa o 'post' de hoje.

Falamos de 'Campione', 'malha' eurodance puramente noventista (culturalmente, ainda se estava nos anos 90 em meados de 2000) composta e interpretada pelo DJ sueco E-Type, e cujo motivo musical remete a uma canção popular holandesa de cariz patriótico, intitulada 'Oranje Boven'; para quem não é oriundo dos Países Baixos, no entanto, a melodia será 'apenas' a daquela canção do Euro 2000, ficando mais ligada àquele Verão de futebol do que a qualquer fervor patriótico. E a verdade é que, fosse qual fosse a fonte de inspiração, E-Type fez um trabalho magnífico no tocante à composição da faixa, transformando-a num daqueles 'hinos' de que basta ver o título para imediatamente evocar o refrão e batida mais do que pegajosos, e colocar até o mais empedernido dos roqueiros a trautear o pseudo-cântico de estádio que serve de base aos mesmos. Não é, pois, de admirar que o próprio cântico em si tenha, posteriormente, sido adoptado para esse mesmo propósito na 'vida real', extravasando assim os limites da música em que se insere – o que não pode deixar de ser considerado um sinal de sucesso compositivo.

É, pois, por demais evidente que 'Campione' constitui um exemplo claro de sucesso no campo das sinergias entre eventos desportivos e o mundo da música, ainda que não atingindo o nível da referida música da Champions ou ainda de 'Força', o hino do Euro 2004 da autoria de Nelly Furtado. Ainda assim, uma composição mais que merecedora de menção nestas nossas páginas, numa altura em que se celebram vinte e quatro anos não só sobre o seu lançamento, mas sobre o evento a que serviu de banda-sonora oficial.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub