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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

25.06.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Por muitas mudanças que o futebol português sofra ao longo das décadas e séculos – com remodelações no formato dos campeonatos ou a adição de novas competições – uma constante se mantém imutável: a Taça de Portugal, último troféu do ano para os clubes portugueses, que tanto pode constituir 'mais um' galardão para a vitrine como a última oportunidade de conseguir 'salvar' uma época, para clubes a quem a temporada tenha corrido menos bem. Isto, claro está, além daquelas ocasiões em que 'há Taça', e em que um clube mais pequeno consegue eliminar um claro favorito (o chamado fenómeno 'tomba-gigantes') ou até atingir as fases finais da competição. E apesar de este ser um fenómeno relativamente raro, uma final entre dois emblemas de menor expressão no futebol português, ou que não insiram nos três ou quatro 'grandes', não é, de todo, inédita, antes pelo contrário; de facto, só na década de 90, aconteceu duas vezes, uma no final da temporada 1998/99 com Beira-Mar e Campomaiorense como protagonistas e da qual já aqui falámos anteriormente, e outra, logo no início da década, com outros dois históricos do futebol luso em confronto directo.

Falamos da primeira final da Taça dos anos 90 (ou última dos anos 80, conforme o ponto de vista), cuja finalíssima seria disputada há pouco mais de vinte e três anos, no habitual palco do certame – o Estádio Nacional do Jamor, nos arredores de Lisboa - e veria o Estrela da Amadora levar de vencida o Farense de Paco Fortes por 2-0, após empate a uma bola na primeira mão. E porque, por ocasião do aniversário dessa partida, preferimos focar a carreira de Ricardo Sá Pinto, emendamos agora essa omissão, dedicando algumas linhas a mais esse momento histórico do futebol português.

Para quem tinha idade suficiente para ter sido adepto, nenhum destes dois clubes será, de todo, desconhecido; pelo contrário, tanto o Estrela de João Alves como o Farense treinado por Paco Fortes trarão, de imediato, memórias relacionadas com alguns dos mais reconhecíveis e históricos jogadores do futebol nacional daquela época – alguns dos quais acabaram, mesmo, por atingir mais altos vôos, como o referido Paulo Bento ou ainda o guardião Lemajic, do Farense, ambos os quais se tornariam reforços do Sporting Clube de Portugal em épocas vindouras, com o guardião a representar ainda, antes disso, outro histórico, o Boavista, e Bento o 'rival' lisboeta dos leões, o SL Benfica. O médio (então com apenas vinte anos) seria, aliás, um dos destaques deste jogo, a par do influente e irrequieto Baroti, ao conseguir um golo de antologia, num remate de primeira de fora da área que seria o momento do jogo, não fosse o outro golo, uma 'chapelada' primorosa obtida por outro então jovem, o avançado Ricardo. Outros dos nomes instantaneamente reconhecíveis e presentes em campo naquela tarde de Verão de 1990 incluíam Pedro Barny e Bobó (que acabaria expulso) do lado do Estrela, e Formosinho e Nelo pelo Farense.

E porque o vencedor da Taça de Portugal tem acesso directo à principal competição europeia (então conhecida como Taça dos Vencedores das Taças), o Estrela teve ocasião de adicionar também essa honra ao seu historial logo na época seguinte; tal como sucederia com o Beira-Mar meia década mais tarde, no entanto, também o conjunto de João Alves não almejaria grandes 'surpresas' na competição, sendo excluído logo na segunda eliminatória pelos belgas do RFC Liège. Ainda assim, um momento histórico para os amadorenses, e que apenas cimentaria a sua reputação junto dos adeptos lusos.

Ambos os clubes continuariam, aliás, a ser figuras frequentes no mais alto escalão do futebol português ao longo da década seguinte, antes de o Novo Milénio trazer um revés nas fortunas de ambos, que os 'atiraria' para as divisões inferiores; numa altura em que, pela primeira vez desde aquele tempo, os dois clubes competirão juntos no principal campeonato lusitano, nada melhor do que recordar o mais histórico de todos os encontros entre os dois, disputado quando ambos se encontravam no seu auge, e que entra, merecidamente, para o panteão de jogos lendários do futebol português moderno.

Resumos televisivos de ambos os jogos transmitidos à época.

 

04.12.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa altura em que um treinador português é notícia no seu país natal por ter batido a selecção do mesmo, num jogo em que esta era favorita, nada melhor do que recordar os anos mais 'obscuros' da sua carreira de futebolista.

Falamos, é claro, de Paulo Jorge Gomes Bento, hoje seleccionador da Coreia do Sul, mas mais conhecido por ter treinado o Sporting Clube de Portugal durante alguns dos seus melhores anos no início do Milénio, altura em que se notabilizou pela sua peculiar cadência ao falar em conferências de imprensa. Muito antes disso, no entanto – uma década antes, para ser mais preciso – já o lisboeta se havia notabilizado dentro dos relvados, como peça importante das estratégias de ambos os rivais de Lisboa durante os anos 90 e inícios de 2000.

O que muitos adeptos menos atentos tendem a esquecer, no entanto, é que, muito antes de envergar a águia benfiquista ou o leão do Sporting, Paulo Bento já se havia destacado numa série de equipas de menor dimensão, entre elas dois históricos das divisões profissionais portuguesas: o Estrela da Amadora, por quem alinhou nas duas primeiras épocas da década de 90, realizando um total de trinta e sete partidas e celebrando a conquista de uma Taça de Portugal, e o Vitória de Guimarães, onde passou três anos (vários deles ao lado do também futuro 'seleccionável' e seu colega nos 'leões', Pedro Barbosa) e onde foi peça fulcral, realizando perto de cem partidas e contribuindo com treze golos – presumivelmente, o tipo de desempenho que terá chamado a atenção do clube da Luz, para onde se transferia no início da época 1994-95 (a tempo de participar 'naquele' derby) e da Selecção Nacional do início da fase Geração de Ouro, pela qual realizaria os primeiros jogos logo em 1992. Para trás ficava, ainda, o Futebol Benfica, outro histórico do futebol luso, onde Bento faria a primeira época como sénior (após passar os anos formativos no extinto Académico de Alvalade e ainda no Palmense) realizando vinte partidas e marcando dois golos.

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O jogador ao serviço de Estrela da Amadora e Guimarães, as duas equipas onde se notabilizou

Apesar do início auspicioso, no entanto, pode dizer-se que foi após a passagem para o Benfica que a carreira de Paulo Bento verdadeiramente 'descolou', tendo o médio defensivo ganho lugar preponderante (embora não cativo) na 'águia' de meados da década, realizando perto de cinquenta jogos e marcando dois golos antes de 'agarrar' a oportunidade internacional oferecida pelo Oviedo. No total, foram quatro épocas no país vizinho, durante as quais o português se afirmou como peça fulcral da equipa espanhola, realizando mais de cento e trinta jogos e marcando quatro golos ao longo da sua estadia na La Liga.

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Bento nos tempos do Benfica e Oviedo, respectivamente

Assim, foi sem surpresas que os adeptos portugueses (e a sua Lisboa natal) acolheram de volta o médio, pouco depois da viragem do Milénio, e agora do outro lado da Segunda Circular lisboeta, onde realizaria quatro épocas de verde e branco, uma das quais veria o clube lisboeta conseguir o seu segundo título em três temporadas, e atingir uma histórica 'dobradinha' sob a alçada do romeno Lazlo Boloni.

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O médio nos 'leões'.

Alvalade continuaria, aliás, a ser a 'casa' do médio mesmo depois de 'penduradas as botas' em 2004, tendo Bento transitado directamente para as funções de treinador da equipa de juniores leonina e, uma época depois, da equipa principal, função que desempenharia durante quatro anos, sempre com resultados extremamente consistentes; assim, e apesar dos atritos que marcaram o final da sua estadia em Alvalade, o treinador continua a ser tido como um dos melhores a passar pelo Sporting nas últimas décadas, a par de Boloni, Augusto Inácio ou Jorge Jesus.

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Bento na transição para treinador, ao serviço do Sporting.

Após a saída do Sporting, a carreira de treinador de Bento daria o 'salto' máximo, vindo o mesmo a ser contratado para o cargo de seleccionador nacional português, que assumiu durante a fase de preparação para o Euro 2012 e que viria a deixar seis anos depois, logo no início da qualificação para o Euro 2016. Após este revés, o português tornar-se-ia um de muitos a explorar as oportunidades oferecidas pelo campeonato brasileiro (o chamado Brasileirão), tomando as rédeas do Cruzeiro – cargo que viria a ocupar apenas por alguns meses, antes de regressar à Europa para treinar o Olimpiacos da época 2016-17. A temporada seguinte vê-lo-ia rumar à China, para treinar o Chongqing Lifang, da liga chinesa (outro destino habitual para treinadores portugueses) antes de ser convidado a treinar a Coreia do Sul, selecção que comanda desde 2018 e com quem agora faz História no Mundial do Qatar. Apenas mais um ponto alto numa carreira recheada deles, e que pode parecer quase inacreditável ter começado num clube como o Futebol Benfica, e que faz do médio uma das mais notáveis Caras (Des)conhecidas do futebol português...

16.10.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Uma das narrativas mais frequentes e típicas do futebol moderno é a do jovem que, após demonstrar talento acima da média durante os seus anos formativos, é incapaz de dar o 'salto' para um nível competitivo mais exigente. De facto, esse percurso verifica-se vezes suficientes para se poder considerar o seu oposto como a excepção, ao invés da regra; por outras palavras, por cada jogador que atinge um patamar superior na sua carreira, há múltiplos (provavelmente seus colegas nas sempre enganadoras selecções jovens) que 'ficam pelo caminho', tendo de se contentar com um percurso honrado nas divisões inferiores, ou – na melhor das hipóteses – em clubes de meio da tabela do escalão principal.

Nos anos 90, a situação não era, de todo, diferente, estando também reunidas as condições para que um jovem que se destacava nas selecções 'Sub' acabasse como 'andarilho' por entre clubes históricos da I e II Divisão portuguesas da época, sem nunca conseguir almejar a mais após a transição para sénior. Foi esse o caso – entre tantos outros – de Luís António Soares Cassamá (vulgo Bambo), ponta-de-lança guineense naturalizado português que, após uns primeiros anos auspiciosos, acabou por embarcar na inevitável trajectória descendente.

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Produto das academias do Boavista, responsáveis pela revelação de nomes como João Vieira Pinto, Nuno Gomes, Ricardo ou Bosingwa, Bambo parecia, inicialmente, capaz de seguir a mesma trajectória do que qualquer destes, tendo sido presença assídua nas Selecções de formação entre os escalões de sub-16 e sub-21 (as então chamadas 'esperanças'); a passagem para sénior, no entanto, viu ter início a habitual 'dança' entre emblemas secundários, com o avançado a almejar apenas onze jogos com a camisola dos axadrezados antes de transitar, primeiro, para a União de Leiria (onde realizou dezassete jogos e marcou um golo durante a época 1994-95) e depois para o Estrela da Amadora, primeira equipa onde verdadeiramente se impôs, jogando vinte e três partidas e conseguindo três golos na época e meia que ali passou.

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O inevitável cromo da Panini do jogador, aqui nos tempos da União de Leiria

O mercado de Inverno de 1996 traria, no entanto, nova mudança, embarcando o guineense em nova aventura, agora no Farense, para apenas seis meses (e outros tantos jogos) depois se mudar para Felgueiras, onde registou a sua melhor fase em termos de golos, com sete em dezoito partidas; estes números valeram-lhe, no final da época 96/97, nova mudança, desta feita para a Madeira, mas a sua incapacidade de se impôr no Nacional insular (conseguindo apenas sete jogos no decurso de uma época) forçaram a nova 'descida de nível', passando o avançado a representar o Esposende. Mais uma época (com vinte partidas e um golo) e mais uma mudança para Bambo, que regressava aos escalões profissionais com a camisola da Naval; no entanto, o ano e meio seguinte apenas 'rendeu' dúzia e meia de partidas, e o dealbar do novo milénio via Bambo 'tropeçar' novamente para os escalões inferiores, como um dos novos membros do plantel do Ribeira Brava.

Uma última tentativa de se impôr via, na época seguinte, o avançado rumar a França, para representar o Grenoble Foot, antes de a falta de sucesso também no estrangeiro o levar a pendurar definitivamente as botas no final da época 2000/01, pondo, com apenas vinte e sete anos, um ponto final numa carreira que nunca conseguiu chegar a cumprir aquilo que parecia prometer nos seus primórdios – narrativa, conforme já referimos, desapontantemente frequente no Mundo do futebol.

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O avançado chegou a alinhar pela equipa de jogadores desempregados do Sindicato da FPF.

Tal como muitas outras que lhe são semelhantes, no entanto, a história de Bambo tem final feliz – terminada a carreira, o jogador foi ao encontro da irmã, em Inglaterra, e acabou por encontrar uma nova vocação como...designer de moda, tendo a sua primeira colecção sido lançada durante a estação Outono/Inverno de 2015. Um desfecho que, longe de ser o idealizado por Bambo vinte anos antes, não deixa no entanto de ser honroso, permitindo-lhe brilhar por mérito próprio, e afastar definitivamente o estigame de ser apenas mais uma 'promessa adiada' do futebol nacional. Que a actual carreira lhe traga o sucesso que o futebol nunca lhe proporcionou, são os votos do Anos 90!

 

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