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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

07.04.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

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O jogador com a camisola que o celebrizou.

No futebol português dos anos 80, 90 e 2000 (ainda mais do que no actual) existiu um conjunto bem demarcado de jogadores que, sem atingirem o nível de fama ou os altos vôos de alguns dos seus contemporâneos (nomeadamente os da chamada 'Geração de Ouro') conseguiram, ainda assim, afirmar-se como ícones de um ou mais clubes e, pela sua presença constante nos campeonatos nacionais da época, atingir o estatuto de Lendas da Primeira Divisão. Um dos principais nomes desse grupo – onde se incluem ainda jogadores como Emílio Peixe, Rui Barros ou Folha – foi um médio que, após iniciar a carreira como Cara (Des)conhecida ainda na década de 80, acabou eventualmente por fazer também parte do selecto contingente de jogadores que representaram mais do que um 'grande' em Portugal durante a sua carreira; falamos de António Manuel Pacheco Domingos (vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro apelido), o 'histórico' do Benfica que chegou, também, a representar o Sporting, e que faleceu há cerca de duas semanas – a 20 de Março de 2024 – aos cinquenta e sete anos, em consequência de um ataque cardíaco. E porque, à data da sua morte, o 'blog' se encontrava em hiato temporário, fica agora, embora já com algum atraso, a nossa merecida homenagem a uma das muitas caras icónicas do futebol nacional de finais do século XX.

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Ainda jovem, no Torralta.

Nascido em Portimão, Algarve, no primeiro dia de Dezembro de 1966, António Pacheco iniciou carreira no modesto Torralta, clube em que realizara a maior parte da sua formação enquanto futebolista. Durante a única época em que representou o emblema, o médio fez pouco mais de três dezenas de jogos, contribuindo com oito golos, marca que se provaria suficiente para lhe garantir três presenças na Selecção Nacional Sub-18 despertar o interesse do outro clube por onde Pacheco passara enquanto jovem - o Portimonense, que representara na categoria de Iniciados. Assim, com apenas dezanove anos, e exactamente meia década após ter deixado o clube da sua terra natal, o atleta voltava a vestir de preto e branco, dando assim o considerável 'salto' das divisões distritais para o principal escalão nacional.

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O plantel do Portimonense para a época 1986-87; Pacheco está em baixo, à direita.

Este desafio não intimidou, no entanto, o médio, que partiria para nova época de destaque: sem ser titular indiscutível, Pacheco logrou registar vinte e três presenças ao serviço do Portimonense, bem como nove pela Selecção Nacional Sub-21, no decurso das quais demonstrou qualidade suficiente para alargar ainda mais os seus horizontes futebolísticos. Previsivelmente, não tardou a surgir na secretaria portimonense uma oferta pelos préstimos do promissor futebolista, oriunda da capital portuguesa, e de um dos principais emblemas dos campeonatos nacionais, o Sport Lisboa e Benfica.

Face a esta oferta nada menos do que irrecusável, o jovem Pacheco não teve outra escolha senão 'fazer as malas' e mudar-se de 'armas e bagagens' para Lisboa, no Verão de 1987, para equipar de vermelho e branco. E se muitos jogadores nas mesmas condições têm uma entrada mais gradual na equipa, por forma a habituá-los ao desafio, já no caso de Pacheco, o impacto foi imediato, tendo o médio logrado participar em mais de três dezenas e meia de partidas logo na sua primeira época, e contribuído com seis golos.

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Ao serviço da Selecção Nacional A.

Estava dado o mote para seis épocas a espalhar classe na zona intermédia benfiquista, sempre como peça-chave, durante as quais levantaria por duas vezes o troféu de Campeão Nacional (em 1988-89 e 1990-91), bem como uma Taça de Portugal e uma Supertaça, além de marcar presença em duas finais da então Taça dos Campeões Europeus (hoje Liga dos Campeões). Um autêntico 'conto de fadas', que estabeleceria Pacheco como um dos grandes ícones do clube encarnado, lhe carimbaria um lugar na Selecção Nacional A (que representaria seis vezes) e só viria a terminar no 'Verão quente' de 1993, fruto de um desentendimento com o então treinador do Benfica, Toni; pouco depois, os adeptos encarnados viam, com horror, Pacheco juntar-se ao colega de sector (e membro da 'Geração de Ouro') Paulo Sousa, e atravessar a Segunda Circular, ingressando no plantel do maior rival das 'águias', o Sporting.

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Com a 'listrada' do maior rival benfiquista.

Embora muito lembrado em Alvalade, no entanto, duraria apenas duas épocas a estadia de Pacheco no referido estádio, tendo o médio sido praticamente 'carta fora do baralho' na segunda (a de 1994-95), após ter estado ao seu nível na época anterior, em que foi um dos infelizes intervenientes num dos mais famosos 'derbies' da História do futebol português. Ainda assim, e apesar das 'desavenças' com o treinador Carlos Queiroz, as três presenças do médio na sua segunda temporada de leão ao peito chegariam para adicionar novo título ao seu palmarés pessoal, com a conquista da Taça de Portugal, um ano depois de ter visto o seu antigo clube voltar a sagrar-se campeão. Em Alvalade, Pacheco foi, ainda, colega de nomes tão ilustres no 'reino do leão' como Balakov, Oceano, Iordanov, Cherbakov, Stan Valckx, Juskowiak, Jorge Cadete, Emílio Peixe, Amunike, Ricardo Sá Pinto ou mesmo Luís Figo, além de uma futura Cara (Des)conhecida, um promissor jovem de nome Nuno Valente

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A homenagem do Belenenses, um dos vários clubes por que passou após deixar o Sporting.

Sem que ainda se soubesse, começava aí o declínio da carreira de Pacheco, que as épocas seguintes transformariam naquilo a que os britânicos chamam um 'journeyman' – um jogador que transita de clube em clube, sem nunca ter grande impacto em qualquer deles. Assim, foi decerto com tristeza que os fãs do médio viram um ex-internacional português ser peça 'periférica' dos plantéis de Belenenses, Santa Clara e Atlético, bem como da Reggiana, de Itália, que lhe proporcionou a primeira e única experiência 'fora de portas' – emblemas, note-se, que, pese embora o fugaz envolvimento com o jogador, não deixaram de lhe prestar homenagem aquando da notícia do seu falecimento.

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A única 'aventura' do médio fora de Portugal foi em Itália, ao serviço da Reggiana, que também lhe prestou homenagem aquando da nota de falecimento.

Seria, pois, necessário esperar até à ponta final do Segundo Milénio para ver a carreira de Pacheco ganhar um 'segundo fôlego': uma boa época ao serviço do Estoril garantiu alguma visibilidade ao então já veterano médio, que contribuiu para a campanha dos 'canarinhos' com quatro golos em cerca de duas dezenas e meia de presenças.

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Com a camisola do Estoril-Praia, na sua 'última salva' enquanto futebolista profissional.

Não foi, no entanto, suficiente para revitalizar o interesse no jogador, que saía pela 'porta pequena' logo na época seguinte, novamente ao serviço do Atlético, clube no qual faria a transição para cargos técnicos, assumindo a posição de treinador. Seguir-se-ia nova experiência como técnico, agora na sua 'casa-mãe', o Portimonense, antes de o ex-futebolista decidir enveredar por novos rumos, com a abertura de um bar em Lagos, estabelecimento que viria a gerir até ao seu prematuro falecimento em Março de 2024.

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No papel de treinador.

Para a história fica uma carreira honrosa, mas algo prejudicada pelo temperamento rebelde, sem o qual Pacheco talvez tivesse conseguido inscrever o seu nome junto dos de alguns dos seus mais ilustres contemporâneos – o que não invalida que o médio seja, por direito próprio, uma das Lendas da Primeira Divisão portuguesa noventista. Que descanse em paz.

25.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Um dos elementos mais importantes em qualquer agremiação desportiva é a chamada 'mística' – o conjunto de valores que definem a ética profissional e desportiva da colectividade, e que se espera que os atletas da mesma sigam sempre que a representam. É, precisamente, este factor que torna tão crucial, em qualquer plantel de qualquer desporto, a presença de atletas que vejam no clube que representam a sua 'casa', ou o tenham como emblema de coração desde muito jovens, já que é, normalmente, sobre eles que recai a responsabilidade de transmitir a 'essência' do clube aos recém-chegados. O jogador de que falamos este Domingo, e que completa no dia da publicação deste 'post' cinquenta anos de idade, insere-se nessa mesma categoria, ao lado de nomes como Serifo, Kasongo, Aloísio ou o colega de equipa Martelinho, tendo sido uma das grandes figuras de um 'histórico' português da década de 90. Um verdadeiro 'Grande dos Pequenos', portanto, que muitos adeptos da época reconhecerão das páginas das icónicas cadernetas da Panini – ou, caso sejam adeptos do clube em casa, de o ver jogar em 'carne e osso'.

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O central com a camisola que o notabilizou.

Falamos de Carlos Manuel de Oliveira Magalhães, mais conhecido pelo seu 'apelido' futebolístico, Litos, defesa-central que foi lenda do Boavista e, mais tarde, representou os espanhóis do Málaga, à época 'casa' para muitos nomes bem conhecidos dos meandros futebolísticos da viragem de Milénio, com destaque para os também ídolos Edgar e Duda. Natural do Porto e formado no clube ao serviço do qual se notabilizaria anos depois, seria, no entanto, no Campomaiorense que o central faria a sua estreia como sénior, por empréstimo do emblema axadrezado, na época de 1992/93. E a verdade é que, apesar da tenra idade (atributo que tende a jogar contra atletas defensivos, sobretudo numa posição-chave como a de central) Litos não demorou a estabelecer-se como figura importante do clube alentejano, pelo qual realizou cerca de três dezenas de partidas durante a temporada em causa.

Este início auspicioso não foi, no entanto, suficiente para convencer os responsáveis boavisteiros, e a época seguinte reservava novo empréstimo a Litos, desta feita para a zona da Grande Lisboa, para representar o Estoril-Praia. Infelizmente, este segundo empréstimo foi diametralmente oposto ao primeiro, com o central a participar em apenas cerca de metade dos jogos dos 'canarinhos' na campanha de 1993/94 – o que em nada ajudava à concretização do seu sonho de jogar pelo Boavista. Por sorte, o terceiro e último empréstimo da carreira do defesa voltou a correr-lhe bastante melhor, com Litos a estabelecer-se novamente como figura importante no Rio Ave, voltando a contabilizar mais de trinta partidas e, desta feita, fazendo o suficiente para justificar não só a sua inclusão no plantel axadrezado para a época de 1995/96, mas também diversas chamadas à Selecção sub-21, onde se tornou opção a partir de 1993.

E o mínimo que se pode dizer é que Litos não desperdiçou a sua oportunidade de finalmente viver o seu sonho, 'agarrando' o lugar com unhas e dentes e dando o mote para seis temporadas como opção quase indiscutível no seio do plantel axadrezado, culminadas com a inédita conquista do título de Campeão Nacional, na primeira temporada completa do Novo Milénio – campanha, aliás, em que Litos, por essa altura já com honras de capitão de equipa, teve papel determinante, formando um esteio defensivo de respeito com uma Cara (Des)conhecida prestes a rumar a mais altas glórias, Pedro Emanuel. Foi, também, durante este período que Litos teve a honra de representar a Selecção Nacional AA da fase Geração de Ouro, pela qual disputou um total de seis partidas entre 1999 e 2001.

As excelentes prestações durante a temporada do título, e o respeito e estatuto de que gozava entre jogadores e adeptos do Boavista, propiciaram mesmo o 'salto' internacional para Litos, que, no final da época em causa, assinava pelo emblema sul-espanhol que se viria a tornar a sua segunda 'casa'.

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Ao serviço do Málaga, de Espanha.

Em Málaga, o central seria novamente opção indiscutível em quatro das cinco épocas que passou de azul e branco, encantando e conquistando os adeptos espanhóis da mesma forma que fizera com os do seu clube formador, em Portugal – pelo menos durante a primeira época, já que, nas seguintes, foi gradualmente perdendo preponderância, acabando por se desvincular do emblema aquando da descida à II Divisão espanhola, no Verão de 2006. Oportunidade perfeita para regressar a Portugal, onde rapidamente encontrou novo 'emprego' ao serviço de outro histórico, a Académica de Coimbra, pela qual militou duas épocas, tendo sido titular habitual na primeira e opção de banco esporadicamente utilizada na segunda, o que motivou nova 'aventura' pelo estrangeiro, desta vez ao serviço dos austríacos do Salzburgo; meia época sem qualquer presença no 'onze' levou, no entanto, a que Litos desse oficialmente por encerrada a carreira no final da temporada 2007/2008.

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Em campo pela Académica.

Curiosamente, para um jogador com perfil de líder, Litos nunca se aventurou por cargos técnicos (não devendo ser confundido com o treinador e ex-jogador de alcunha semelhante, alguns anos mais velho, e que chegou a passar pelo Sporting) preferindo que o seu legado se resumisse aos feitos conseguidos dentro de campo. E a verdade é que, apesar dos poucos emblemas representados, o central podia, à data da sua reforma, gabar-se de ter sido Campeão Nacional, contra todos os prognósticos, e de ter partilhado o balneário com futuras 'lendas' como Nuno Gomes, Ricardo, Petit ou o referido Pedro Emanuel – um espólio honroso, e do qual o defesa se pode, com toda a justiça, orgulhar. Parabéns, e que conte muitos.

11.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Uma das grandes 'verdades implícitas' do futebol afirma que o melhor jogador das camadas jovens nem sempre será necessariamente o detentor da melhor carreira sénior; pelo contrário, na maior parte dos casos, uma mistura de falta de sorte, falta de oportunidade, imaturidade e factores externos acaba por condenar estes jovens a uma carreira não mais que honrosa, ou até mesmo ao 'esquecimento', bastando atentar nos famosos comentários de Cristiano Ronaldo sobre o colega de formação Fábio Paim para ter uma prova 'acabada' deste mesmo fenómeno.

Outro famoso exemplo, este cerca de uma década mais 'antigo', é o do jogador que recordamos este Domingo, apenas três dias após, aos cinquenta e dois anos, ter perdido a batalha contra a leucemia: um médio ofensivo (ou 'número dez') de consumado e reconhecido talento, Campeão do Mundo de sub-20 como parte da famosa 'Geração de Ouro', mas cuja carreira nunca logrou atingir os mesmos patamares das dos seus colegas de equipa na Selecção de Carlos Queiroz, incluindo a de um seu homónimo e colega de Selecção. Falamos de João Manuel de Oliveira Pinto, normalmente conhecido pelos seus dois apelidos, para o distinguir de dois homónimos contemporâneos: o histórico defesa-central do Porto com quem partilhava os dois nomes próprios, e o referido colega de posição na Selecção sub-20 de Lisboa '91, e futura estrela de Benfica e Sporting, João Vieira Pinto.

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O jogador ao serviço da Selecção

Formado nas então já célebres escolas do Sporting - onde foi campeão nacional de Juvenis e partihou o campo com nomes como Abel Xavier ou o futuro colega de Selecção Luís Figo - João Oliveira Pinto logrou vestir a camisola dos 'leões' apenas em uma ocasião, num jogo contra o Estoril a contar para a Taça de Honra de 1991/92, em que entrou como suplente, já na segunda parte; este efémero concretizar do sonho chegou já depois de um empréstimo ao Atlético lisboeta, então satélite do clube de Alvalade, onde o médio logrou realizar meras treze partidas antes do regresso a 'casa'.

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O cromo da Panini dos tempos do Gil Vicente (crédito da foto: Cromo Sem Caderneta)

Treze seria, também, o número de encontros que João Oliveira Pinto disputaria na temporada seguinte, já desvinculado do seu clube formador e efectivo no Vitória de Guimarães 'europeu' de Pedro Barbosa, Paulo Bento, Dimas, Quim Berto e Nuno Espírito Santo – apenas o primeiro de uma longa lista de clubes pelos quais o médio passaria nas nove temporadas subsequentes. Logo na época seguinte à passagem por Guimarães, por exemplo, Pinto ingressava no mesmo Estoril Praia que defrontara no seu único jogo com a 'listada' verde e branca, marcando presença em trinta e um jogos, contribuindo ainda com um golo.

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Com a camisola do Sporting de Braga.

Por sua vez, as boas exibições pelos 'canarinhos' valer-lhe-iam a transferência para o Gil Vicente, onde apenas na segunda época se lograria afirmar, com vinte e um jogos contra os quatorze de 1994/95, o suficiente para despertar o interesse do Braga de Quim e Karoglan. E se a primeira época na 'Pedreira' correu de feição, com vinte e seis presenças na equipa principal e um golo marcado, já a segunda veria o médio perder lugar no seio do plantel, figurando em apenas oito partidas no total da época. Estava, pois, na altura de novo 'salto', que levaria João Oliveira Pinto de um extremo ao outro do País, para assinar pelo Farense. Nova época em bom plano, com trinta e duas presenças no 'onze' e três golos (um recorde de carreira) suscitariam nova 'viagem', desta feita rumo às ilhas, para representar o Marítimo.

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O médio no Farense.

Na Madeira, o médio passaria duas épocas como elemento de 'rotação' (contribuindo, ainda assim, com vinte e quatro partidas e três golos) antes de, no final da primeira época completa do Novo Milénio, rumar à Académica, da então chamada Segunda Divisão de Honra. Apesar da temporada em relativamente bom plano, seria o primeiro de sucessivos 'passos atrás' na carreira, que veriam o outrora promissor médio passar de peça importante em históricos do escalão máximo do futebol nacional para reforço parcamente utilizado de clubes de ligas secundárias ou mesmo distritais, como o Imortal, Sesimbra, Amora (último clube onde se logrou impôr, com trinta presenças e dois golos na época 2003/04) e Alfarim, onde terminaria a carreira, já perto dos quarenta anos.

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João Pinto era, actualmente, dirigente do Sindicato dos Jogadores e delegado da FPF.

Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, João Oliveira Pinto não assumiu, após pendurar as botas, a carreira de treinador, embora se tivesse mantido ligado à Federação Portuguesa e Sindicato dos Jogadores do desporto do qual, em tempos, fora tido como uma das grandes esperanças, mas onde, fosse por que razão fosse, nunca se conseguira afirmar ao nível desejado. Ainda assim, a imagem que fica após a sua 'partida' é a de um jogador tenaz, talentoso, e a quem apenas faltou uma 'pontinha' de sorte para chegar a ser mais do que aquilo a que os britânicos se referem como um 'journeyman'; um caso, portanto, semelhante ao dos inúmeros outros jovens de que falávamos no início deste texto, e que deveria ser 'caso de estudo' para os mesmos nas Academias deste País, como símbolo de perserverança, esforço e ética profissional em prol da manutenção da carreira. Que descanse em paz.

27.02.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Em geral, a carreira de um jogador português de sucesso segue um percurso determinado: 'descoberta' num qualquer clube regional, formação num 'grande', um ou outro empréstimo, eventual afirmação nesse mesmo 'grande' ou num dos diversos emblemas históricos de estatura ligeiramente menor que estes (como Braga, Guimarães ou Marítimo) e, potencialmente, uma saída para um clube estrangeiro, normalmente já depois de esse mesmo jogador ter captado a atenção dos adeptos e, muitas vezes, dos seleccionadores nacionais dos diversos escalões.

No entanto, apesar de comum, esta fórmula não é imutável; muito pontualmente, aparece um jogador que se desvia desta norma, sem por isso deixar de conseguir fazer um percurso de sucesso dentro da sua profissão de eleição. É precisamente esse o caso do homem de quem falamos hoje, um jogador cujos feitos são por demais conhecidos – bateu, por exemplo, o recorde de Eusébio de golos internacionais por Portugal, que manteve até Cristiano Ronaldo o superar, e foi o primeiro português a marcar em duas fases finais de Mundiais – e que se afirmou como uma das mais importantes figuras da turma das Quinas da fase pós-Geração de Ouro...sem nunca ter jogado ao mais alto nível em Portugal.

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De facto, aquando da sua primeira chamada à Selecção (para um jogo contra a Arménia, em 1997) Pedro Miguel Carreiro Resendes – conhecido para o futebol pela alcunha que atravessou gerações na sua família, Pauleta – jogava já no Salamanca, aonde chegara vindo directamente da Segunda Divisão de Honra portuguesa, onde chamara a atenção dos espanhóis enquanto goleador dos 'canarinhos' do Estoril. Nessa época (apenas a sua segunda enquanto jogador profissional), Pauleta apontara uns estonteantes dezoito golos em 29 partidas, demonstrando a veia finalizadora que, mais tarde, viria a pôr não só ao serviço da Selecção Nacional, como também de emblemas bem maiores.

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O Estoril da época 1996-97

Antes da fama e glória internacional ao serviço do Salamanca, La Coruña, Bordéus e Paris Saint-Germain, e da humilde 'reforma' no minúsculo São Roque, no entanto (antes mesmo da época de revelação no Estoril) já Pauleta vinha demonstrando o seu 'faro' de golo ao serviço de emblemas dos seus Açores natais, primeiro como amador ao serviço do Santa Clara (ainda longe da estatura de que goza hoje em dia), Operário e Angrense, e mais tarde no União Micaelense, emblema com quem assinou o primeiro contrato profissional e por quem viria a contribuir com onze golos em 23 partidas, nos primeiros passos do que viria a ser uma carreira lendária. Para trás ficava, ainda, um breve período como formando no FC Porto, por quem assinara no seu último ano de júnior, antes de as saudades de casa o levarem de volta às ilhas – uma circunstância que não deixa de fazer pensar como teria sido a carreira do goleador português se tivesse despontado a Norte, e num dos maiores clubes lusitanos, em vez de no contexto insular e de divisões inferiores em que na verdade se revelou.

Tal como se desenrolou, no entanto, a carreira do 'Milhafre dos Açores' continua a afirmar-se como talvez a mais inusitada de sempre para um jogador de Selecção, e a colocá-lo em lugar de destaque no panteão dos craques de verde e vermelho vestidos; nada mau para um açoriano que nunca chegou a jogar na Primeira Divisão nacional...

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