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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Sexta-feira, 10 de Janeiro de 2025.

NOTA: Por razões temáticas, este Sábado será de Saídas.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

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Como o jovem médio de finais do século XX se sentia ao regressar às aulas após o Natal, a estrear a roupa nova...

Os primeiros dias do mês de Janeiro marcam, tradicionalmente, o regresso às aulas para o segundo período lectivo, após a paragem, em Dezembro, para o Natal e Ano Novo. E, mais do que assegurar que a matéria está estudada ou os materiais em ordem, o mais importante para qualquer jovem neste recomeço é entrar 'com o pé direito' no novo ano – de preferência, tendo vestido no mesmo o ténis 'da moda' que recebeu no Natal.

Sim, o regresso às aulas após as férias de Inverno sempre foi, e continua a ser, a época por excelência para ser 'vaidoso', e 'exibir' as prendas de vestuário que se receberam no dia 25, fazendo um esforço para combinar, na primeira semana lectiva após a pausa, absolutamente TODAS as roupas novas, por mais 'estrambólicos' que fiquem os conjuntos. Para os jovens dos anos 90 e 2000, era hora de mostrar aos colegas, amigos e até rivais o blusão da Duffy, a 'camisinha' da Sacoor, o 'sweat' da Gap, Gant, Amarras, No Fear ou Quebramar, as calças de ganga da Levi's, Lois ou Charro, os ténis Converse, Redley, Airwalk ou Skechers, as botas Doc Martens, Panama Jack ou Timberland, o boné com a equipa de desporto americana 'da moda', a mochila da Monte Campo, ou mesmo acessórios como brincos, pulseiras, gargantilhas, relógios ou carteiras, artigos que nunca deixavam de causar uma reacção (fosse ela positiva ou negativa) entre os pares em causa.

Ao contrário da maioria das vivências que recordamos neste 'blog', esta continua a verificar-se até aos dias de hoje, mudando apenas as marcas e artigos cobiçados ou exibidos; assim, quem tiver filhos em idade escolar certamente estará por estes dias a viver novamente, através dos seus olhos, uma situação tão familiar quanto intemporal, que eles próprios experienciaram quando tinham a mesma idade...

02.11.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 31 de Outubro de 2024.

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Apesar de o currículo escolar português não contemplar, a qualquer dos seus quatro níveis, uma disciplina nos moldes da Economia Doméstica estudada pelos alunos britânicos ou norte-americanos, tal não invalida que as escolas portuguesas tenham, desde sempre, tentado incutir nos seus alunos algumas noções básicas de como cuidar do seu espaço ou contribuir para a vida quotidiana. E se esta tendência, outrora presente em aulas de Lavores e práticas semelhantes, se foi esfumando ao longo das décadas, nos anos 90, a mesma subsistia ainda sob a forma de ocasionais lições de culinária.

De facto, não era de todo infrequente ver uma professora do ensino primário (fase menos estruturada do processo educativo nacional, e que, como tal, oferece maior liberdade para iniciativas deste tipo) dedicar uma manhã ou tarde a ensinar aos seus alunos como preparar uma receita simples, mas saborosa; e, à falta de fornos e outros equipamentos semelhantes nas salas de aula nacionais, a escolha acabava, inevitavelmente, por recair num 'velho conhecido', que não requeria tempo de forno, ou mesmo grande iniciativa no tocante à preparação – o salame de chocolate.

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Doce marcadamente português – sendo a Itália o único outro país do Mundo onde é conhecido e confeccionado – muito popular entre a demografia infanto-juvenil, e que oferece a vantagem adicional de poder ser preparado de duas maneiras (com e sem recurso a ovos) não é de admirar que o salame de chocolate formasse parte de tantos 'ateliers' de culinária para crianças, quer no contexto das aulas, quer de iniciativas externas – quase sempre na sua versão sem ovos, dados os riscos inerentes ao uso de ovos crus, sobretudo quando consumidos por crianças. Mesmo essa variante 'simplificada', no entanto, era extremamente saborosa, e cumpria com louvor a tripla missão de ensinar rudimentos culinários às crianças, de lhes aumentar a auto-estima como resultado de um processo de confecção bem-sucedido, e de lhes proporcionar uma experiência diferente e, por isso, inesquecível, afirmando-se assim como uma escolha ideal para o efeito em causa.

Numa altura em que os cuidados e regulamentos em torno de produtos alimentares são muito mais rigorosos e exigentes, é de questionar se a prática de aulas de culinária – quer centradas em torno do salame de chocolate, quer de qualquer outro produto – continua a ser viável num contexto escolar ou educativo. Quem teve a sorte de participar numa destas sessões, no entanto, decerto a lembrará até aos dias de hoje, e quiçá nunca tenha voltado a comer um salame tão bom como o confeccionado naquele dia, na sala de aula, por si mesmo e pelos seus colegas de turma...

16.10.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Era a ameaça-mor dos professores do ensino preparatório e secundário dos anos 90; a forma quase garantida de fazer com que a parcela mais 'inocentemente' irreverente dos alunos (por oposição aos verdadeiramente indisciplinados) assumissem um comportamento mais condicente com o contexto da sala de aula. O simples receio de ver aquela meia-dúzia de linhas em cada página do pequeno livreto preenchidas com uma nota ou recado para os encarregados de educação fazia até o mais convicto dos 'gozões' repensar as suas prioridades, e concentrar-se na matéria a estudo, tornando a caderneta escolar numa das grandes 'armas' dos docentes para manter a paz ao longo do ano lectivo.

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Uma caderneta do período de 'viragem de Milénio'

Os relatos de mau comportamento estavam, claro, longe de ser a principal função da caderneta, a qual servia também como meio alternativo para convocar reuniões de pais ou comunicar visitas de estudo (à falta das tradicionais circulares) ou simplesmente para veicular recados mais generalistas. Para os alunos, no entanto, aquele pequeno livrinho de inofensiva aparência adquirido nos primeiros dias de regresso às aulas era o equivalente ao infame 'registo permanente' dos alunos norte-americanos – algo que os iria marcar não só a curto-prazo, como potencialmente num futuro mais distante, como o fim do ano lectivo, ou até mesmo o ano seguinte. Acima de tudo, a nota na caderneta era motivo de vergonha para a grande maioria dos alunos, o que, a juntar às inevitáveis consequências à chegada a casa, fazia dessa uma medida disciplinar indesejada e até temida por qualquer jovem de finais do século XX e inícios do seguinte.

Tal como tantos outros elementos da vida de então, no entanto, também as cadernetas escolares perderam preponderância com a evolução dos meios digitais, os quais, pelo seu imediatismo e celeridade, rapidamente se assumiram como principal meio de comunicação entre docentes e pais ou educadores, 'eclipsando' progressivamente a tradicional caderneta. Convenhamos, no entanto, que uma queixa por email, lida no ecrã de um computador ou telemóvel, não tem o mesmo impacto daquelas linhas escritas à mão nas páginas daquele livrinho que havia depois que tirar da mochila e apresentar fisicamente aos pais, 'rezando' para não levar uma 'descasca', fazendo desta mais uma das muitas áreas em que as gerações 'Z' e 'Alfa' não sabem a sorte que têem. Qualquer 'X' ou 'millennial', no entanto, terá porventura estremecido um pouco ao ler estas linhas, e relembrar 'rasponços' memoráveis decorrentes de travessuras na escola, e as subsequentes e inevitáveis mensagens da professora na caderneta...

19.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 17 de Julho de 2024.

NOTA: Por motivos de relevância temporal da próxima Quarta aos Quadradinhos, a mesma será lançada na Quarta-feira, 24 de Julho. O 'post' desta semana será uma Quarta de Quase Tudo.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Embora as férias de Verão sejam, tradicionalmente, um período em que os jovens procuram relaxar e afastar-se das obrigações académicas e escolares, aproveitando o clima ameno, existe sempre quem (por iniciativa própria ou dos pais) procure adiantar-se um pouco nas matérias do ano lectivo vindouro; e se, hoje em dia, esse objectivo é conseguido sobretudo através de portais educativos existentes na Internet, na era pré-digital, em que a referida plataforma era ainda incipiente, esse 'estudo avançado' era feito, maioritariamente, através de colecções de livros didácticos complementares aos utilizados na escola, e especificamente dedicados a serem utilizados durante as férias - os quais continuam, aliás, a existir até aos dias de hoje, como alternativa para quem prefira minimizar ao máximo a exposição digital dos educandos.

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Exemplo de livro de preparação de finais dos anos 90 ou inícios de 2000.

Tão-pouco ficava este tipo de livros restrito a apenas uma editora – antes pelo contrário, quase todas as casas conhecidas pelo enfoque didáctico possuíam uma edição deste tipo, renovada anualmente, de modo a manter os exercícios actualizados com os currículos dos respectivos anos. Apesar da premissa semelhante, no entanto, nem todos estes volumes eram equiparantes, sendo alguns propositalmente mais desafiantes enquanto outros, ao procurarem amenizar a 'carga mental' dos jovens discentes no período estival, acabavam por simplificar em demasia o nível dos exercícios, criando uma imagem ilusória do que seria o ano lectivo seguinte. Havia, pois, que saber escolher a colecção ou série certa, de modo a assegurar o nível adequado e desejado de preparação aquando do regresso às aulas, em Setembro. E apesar de nem toda a gente ter nostalgia por este tipo de actividade ou livro (muito pelo contrário) vale, ainda assim, a pena recordar como era feita a 'preparação de Verão' de um estudante português na época em que a Internet 2.0 era ainda um sonho na cabeça de algum informático norte-americano. 

 

23.05.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

De entre os materiais essenciais na mochila de qualquer aluno do ensino básico ou secundário – até aos dias de hoje, mas sobretudo na era pré-digital – as borrachas estavam entre os mais indispensáveis; afinal, quando grande parte do dia é passada a tirar notas em papel, convém ter maneira de corrigir quaisquer eventuais erros ou fazer quaisquer mudanças que se afigurem necessárias. Não admira, pois, que as crianças e jovens da altura (e também, ainda, as actuais) tivessem à sua disposição toda uma panóplia de borrachas, das mais normais, brancas, de marcas como a Rotring, a modelos em forma de personagens ou até com cheiro. No entanto, de todos estes modelos, apenas um se destaca imediatamente na mente de quem andou na escola naquela época; a famosa e infame borracha de tinta.

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Teoricamente equipadas com duas secções distintas, que lhes davam o tradicional visual bicolor em tons de castanho e azul, as borrachas de tinta são vistas, por alguns, como um dos maiores embustes 'oficialmente reconhecidos' da História. Isto porque a parte azul, supostamente capaz de apagar traços de tinta de caneta, revelava-se inevitavelmente aquém das expectativas, não só não eliminando por completo os referidos traços, como sucedia com a parte para lápis, mas acabando ainda mais inevitavelmente por furar até a mais grossa e resistente das folhas de papel. Não têm conta os trabalhos, textos, folhas de caderno e até testes ou pontos estragados por este tipo de borracha, que muitas vezes causava mais problemas do que os que resolvia. E, apesar de tudo isto, ao início de cada novo ano lectivo, lá constava do estojo mais uma 'tablete' castanha e azul, a qual, certamente, iria funcionar bem melhor do que as últimas dez, e apagar a escrita a tinta sem furar o papel...

Quanto mais não seja por esta capacidade de 'enganar' sucessivas gerações de jovens, bem como pela sua ubiquidade nos estojos dos mesmos (ainda que não constituísse, exactamente, uma quinquilharia) a borracha de tinta merece um apontamento neste nosso blog nostálgico; afinal, quantos objectos existem que, depois de falharem naquilo para que foram destinados, continuem a ser sucessivamente substituídos por outros exactamente idênticos?

29.02.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O dicionário Priberam de língua portuguesa define 'quinquilharia' como 'objecto de pouco valor, geralmente de pequena dimensão, como brinquedos de criança' – e poucas coisas se encaixam tão bem nessa definição como o tema do nosso 'post' de hoje. Isto porque o referido objecto era, de facto, de valor negligenciável – sendo, inclusivamente, prémio habitual das máquinas de brindes de finais do século XX – e adequado a apenas uma função, ela mesma praticamente inútil; e, no entanto, não haverá criança dos anos 90 (nem, a julgar pelos resultados de uma rápida pesquisa na Net, dos dias de hoje) que não tenha tido, e apreciado, pelo menos um exemplar do mesmo.

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Versões modernas do intemporal artigo.

Falamos dos enfeites para lápis, muitas vezes designados informalmente como 'cabeças' – aquelas pequenas figuras ou formas com um buraco na base, através do qual se inseria o lápis, criando assim uma pequena decoração para o mesmo – sendo este o único objectivo a que se destinavam tais 'bugigangas' (embora, indirectamente, ajudassem também a prevenir que os 'roedores' de lápis, como o autor deste 'blog' quando criança e adolescente, danificassem a zona da borracha ou mesmo a madeira do velho HB.) Disponíveis numa grande variedade de materiais – borracha mole, borracha dura, plástico ou madeira – e num número quase infinito de motivos e padrões, estas literais 'quinquilharias' não deixavam, pese embora a sua inutilidade, de fazer as delícias das crianças como elemento puramente estético, particularmente quando combinados com um lápis com padrão e cores semelhantes ao da 'cabeça'.

Mesmo nos mais 'básicos' lápis ´às riscas´ ou de cor sólida, no entanto, estas decorações ajudavam a dar um toque de interesse e originalidade, tornando a experiência de tirar notas, fazer um ditado ou cópia ou preencher um teste ligeiramente mais agradável e divertida. Talvez por isso, ou talvez pela sua alta disponibilidade e preço relativamente baixo, as 'cabeças' de lápis fossem presença assídua, e quase obrigatória, ao lado da caneta multicores e da borracha de cheiro, nos estojos dos alunos do ensino básico daqueles finais de Segundo Milénio – um estatuto de que, presumivelmente, continuarão a desfrutar até o uso de 'tablets' e portáteis substituir, e tornar definitivamente obsoletas, as notas escritas à mão. Ou seja, enquanto houver lápis nos estojos escolares de crianças pré-adolescentes, haverá grandes probabilidades de, algures no interior dos mesmos, se encontrar também uma versão moderna do mesmo objecto que adornou, há duas ou três décadas atrás, as pontas dos lápis dos então jovens 'millennials'...

04.10.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

As duas últimas semanas do mês de Setembro assinalavam, para os alunos portugueses das gerações 'X' e 'millennial', o regresso às aulas, com todos os trâmites e rituais nele implicados, das matrículas à compra de material e livros e, claro, a sempre importante decisão sobre a côr do carimbo a estampar no cartão da escola, e subsequente nível de liberdade e autonomia. Em meio a tudo isto, havia ainda outro componente, menos trabalhoso e consequente, mas nem por isso menos importante: a obtenção e preenchimento de um horário escolar.

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Exemplo de um horário promocional, no caso alusivo aos sumos Joi.

De facto, numa era em que a maioria dos processos eram, ainda, analógicos, aquelas folhinhas de papel ou plástico com uma grelha dividida em dias da semana e número de períodos típico de um dia de aulas constituíam a principal forma de um aluno recordar as datas, horas, ordem e até salas em que teriam lugar cada uma das suas aulas, tornando-os um auxiliar essencial para as primeiras semanas de aulas, antes de essas mesmas informações serem interiorizadas e o processo se tornar 'mecanizado' na mente do aluno.

Efectivamente, a importância dos horários era tal que, mesmo servindo apenas e só uma função utilitária, os mesmos estavam sujeitos às mesmas regras estéticas que qualquer outro elemento do 'kit' escolar; embora houvesse quem preferisse simplesmente anotar essas informações no verso do cartão da escola – que oferecia uma grelha para o efeito – a maioria das crianças e jovens procurava um horário de aspecto diferenciado, muitas vezes obtido gratuitamente como brinde numa qualquer revista juvenil, ou numa loja de material escolar, e orgulhosamente exibido no verso do 'dossier' ou na parede do quarto.

Escusado será dizer que, em plena era digital, os horários perderam toda e qualquer relevância que alguma vez pudessem ter tido; para os alunos de finais do século XX e inícios do seguinte, no entanto, esta aparentemente singela parte do processo de 'rentrée´ escolar revestia-se de uma importância que a torna, ainda hoje, memorável ao recordar os inícios de ano lectivo daquela época.

20.09.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Naquela que teria sido a primeira semana de regresso às aulas para a maioria dos 'putos' dos anos 90, vêm inevitavelmente à memória certas particularidades da vida escolar daquela época. Mas entre as memórias sobre ir comprar mochilas, cadernos, tabuadas e outros materiais, as recordações relativas ao processo de matrícula e as imagens mentais das infindáveis e icónicas circulares, surge também um aspecto algo mais esquecido por essa (agora adulta) geração, mas que, a dada altura do seu desenvolvimento, constituiu um ritual de passagem tão importante quanto o primeiro café ou a passagem de 'menino/a' a 'senhor/a' nas lojas: a obtenção do 'carimbo azul' no cartão escolar.

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Traseira de um cartão escolar português da época; o tão importante carimbo encontrava-se no verso, ou seja, na parte da frente, junto à fotografia.

De facto, numa altura em que os cartões de aluno eram, ainda, impressos em cartão, e isentos de quaisquer funcionalidades digitais, o tradicional processo de carimbagem assumia contornos cruciais para o futuro imediato de qualquer criança ou jovem daqueles finais do século XX. Isto porque a maioria das escolas, sobretudo as dirigidas ao segundo e terceiro ciclos do ensino básico, tendiam a adoptar um sistema dualitário para controlar as entradas e saídas dos alunos, quer após, quer durante as aulas; assim, apenas os alunos cujo cartão estivesse carimbado a azul eram autorizados a transpôr os portões da escola sem a presença de um adulto, sendo os portadores de cartões com carimbo vermelho obrigados a esperar pela chegada de um maior de idade, preferencialmente um dos encarregados de educação.

Não é difícil, mesmo para quem não tenha vivido aqueles tempos, perceber a importância de ser autorizado a ter no cartão o selo azul: não só o mesmo tornava possível acompanhar os amigos à saída da escola (e, quiçá, até regressar a casa totalmente sozinho!) como também sair durante os intervalos ou aquando dos famosos 'furos' – algo que, no caso do autor deste 'blog', permitia ir à drogaria da esquina comprar uma bola para o intervalo seguinte, à papelaria comprar chupa-chupas ou cromos, ou ao café comer um bolo não disponível no bar da escola. Além destas considerações mais práticas, o carimbo azul era, ainda, um sinal de confiança por parte dos pais, com fortes implicações de maturidade – um dos objectivos principais de qualquer criança ou jovem, sobretudo durante os anos da pré-adolescência.

Não é, pois, de admirar que a questão do carimbo no cartão da escola assumisse, durante a presente época do ano, tal importância para os 'putos' da geração 'millennial' portuguesa, sobretudo os residentes em ambientes citadinos, onde havia uma maior preocupação com a segurança por parte das escolas. E apesar de o advento dos cartões magnéticos e electrónicos ter vindo a extinguir por completo a prática em causa, é de acreditar que exista, presentemente, um sistema alternativo, que se revista de tanta ou mais importância para a 'geração Z' quanto um simples círculo estampado teve para a dos seus pais...

19.07.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A natureza, e todos os seus mistérios, exercem tradicionalmente um considerável fascínio junto do público jovem, em Portugal e não só; assim, não é de surpreender que muitas escolas primárias por esse Mundo fora optassem (e continuem a optar) por introduzir um elemento de sensibilização natural nos seus programas lectivos, normalmente por meio de uma 'horta' (ou simplesmente alguns vasos na parte traseira da sala) ou da interacção com um qualquer animal. E ainda que os métodos e pontos de vista em relação a estas práticas se tenham alterado consideravelmente nos últimos anos, em Portugal, em finais do século XX, um projecto deste tipo era quase sempre sinónimo com a criação de bichos da seda.

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As origens desta quase-tradição das escolas básicas portuguesas de então é pouco clara, mas serão poucos os jovens daquela época que afirmem nunca ter tentado manter vivos aqueles bicharocos dentro de uma caixa de sapatos forrada com algodão. Fosse como projecto de turma ou para 'levar para casa', a criação de larvas de 'Bombyx mori' era quase tão comum como a germinação de sementes num frasco (curiosamente, também com recurso a algodão) ou do que aqueles bonecos de estopa com 'cabelo de relva' tão populares na altura (e que também aqui terão, paulatinamente, o seu momento.) E embora a experiência raramente durasse mais do que uns dias (ou, quando muito, alguma semanas)

Tendo em conta a mudança de mentalidades referida no início deste post, não é de estranhar que esta prática tenha caído em desuso; afinal, o espectro de atenção das crianças é notoriamente curto, e muitos terão, certamente, sido os pobres 'bicharocos' sacrificados em prol destas experiências pedagógicas, fosse como resultado de negligência, fosse pela falta dos recursos e ambiente necessários à sua sobrevivência. Assim, tal como sucedeu com a adopção de animais de estimação exóticos, este é um costume cujo abandono acaba por ser positivo – o que não obsta a que o mesmo tenha feito parte integrante do processo formativo e pedagógico de toda uma geração de jovens portugueses...

05.07.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Os últimos dias do mês de Junho e inícios do seguinte representavam um período agridoce para a maioria dos estudantes do terceiro ciclo e ensino secundário de finais do século XX e inícios do Novo Milénio. Isto porque se, por um lado, as férias de Verão estavam à porta (e, muitas vezes, também as respectivas viagens de finalistas) por outro, havia ainda um enorme obstáculo a ultrapassar – nomeadamente, os exames que tendiam a ser marcados para esta época do ano. E se no caso dos finalistas do secundário os mesmos eram de âmbito nacional, já os mais novos eram sujeitos a uma espécie de 'versão de treino', normalmente de âmbito intra-escolar, mas de igual relevância para a sua média final do ano: as chamadas provas globais.

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De conceito exactamente igual ao dos exames nacionais – ou seja, um único teste que compreendia toda a matéria leccionada durante o ano escolar no âmbito daquela disciplina – as provas globais tinham, no entanto, algumas diferenças-chave de significativa relevância: por um lado, não eram criadas pelo Estado, mas sim pelo próprio departamento de professores daquela disciplina pertencentes à escola e, por outro, também não eram revistas por juízes neutros aleatoriamente escolhidos, mas sim pelos colegas do docente que havia criado o teste. Por outras palavras, cada prova global era criada pelo departamento de forma conjunta, e os testes de cada turma eram revistos por um professor que não o habitual daquela turma, de forma a obter uma opinião imparcial e sem 'conhecimento de causa' do contexto de cada aluno dentro da turma em questão. E a verdade é que, tirando ocasionais polémicas (numa das quais o próprio autor deste blog se viu envolvido, durante as provas globais do décimo-primeiro ano) este sistema funcionava de forma bastante eficiente, tendo sido mantido pelo menos durante as décadas de 90 e 2000.

Famosamente, no entanto, a época em causa assinalaria o 'início do fim' das provas globais, já que a eliminação dos 'chumbos' no ensino básico e secundário veio tornar as médias finais de ano praticamente irrelevantes, e o próprio objectivo destas provas obsoleto. De facto, enquanto que um aluno finalista do secundário em 2023 será sujeito sensivelmente à mesma experiência que os seus congéneres da geração anterior, os alunos mais novos (filhos da geração em causa) jamais saberão o que é (era)(foi) uma prova global no final do ano lectivo – pelo menos, não nos mesmos moldes em que os seus progenitores as experienciaram, em que a própria vida parecia depender de um bom resultado. Para estes, no entanto, a simples menção deste termo poderá ser suficiente para trazer à tona uma verdadeira 'enxurrada' de memórias, tanto positivas como negativas, sobre aqueles testes de 'toda a matéria' que tornavam a chegada do Verão algo mais deprimente do que o necessário...

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