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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

01.05.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Já aqui anteriormente falámos de algumas das principais bandas do 'boom' de pop-rock nacional vivido entre inícios da década de 80 e finais da seguinte, e que daria ao movimento musical 'mainstream' nacional uma panóplia de nomes que vai dos inevitáveis Xutos & Pontapés, UHF. Delfins e GNR a bandas como Resistência, Rio Grande, Rádio Macau, Clã, Santos & Pecadores, Ornatos Violeta, Blind Zero, Quinta do Bill, Sitiados, Três Tristes Tigres, Fúria do Açúcar, Silence 4 ou a banda de que falamos esta semana, e que celebra este ano o trigésimo aniversário do lançamento do seu álbum de estreia - os Entre Aspas.

Entre Aspas.jpg

Formados logo no início da década como um duo constituído pela vocalista Viviane (grande 'cartão de visita' do grupo) e pelo seu marido, o guitarrista Tó Viegas, o projecto foi inicialmente concebido apenas com o intuito de preencher um convite para tocar no bar Morbidus, em Faro, tendo a própria designação da banda surgido da forma como assinalaram a data do concerto na sua agenda pessoal, com um sinal de 'aspas'. No entanto, esse primeiro espectáculo rapidamente se desdobrou numa carreira a tempo inteiro, tendo o casal preenchido o alinhamento com uma secção rítmica – constituída pelo baixista Luís Fialho e pelo baterista João Vieira – a tempo de conquistar o terceiro lugar no primeiro Concurso de Música Moderna da Câmara Municipal de Lisboa, realizado em 1991. Um início honroso para um percurso que teria o seu verdadeiro início no ano seguinte, quando a banda assina contracto com a multi-nacional BMG e inicia o processo de composição do seu primeiro álbum, já com Nuno Filhó no lugar do demissionário Luís Fialho.

O referido álbum, intitulado 'Entre SFF', veria a luz no ano seguinte (há quase exactos trinta anos) e contaria com a produção de Manuel Faria, ex-Trovante, que voltaria a colaborar com o grupo na versão de 'Traz Outro Amigo Também' incluída num álbum de tributo a Zeca Afonso, no ano seguinte. A par de temas próprios como 'Criaturas da Noite' e 'Voltas', este tema ajudou a cimentar a reputação da banda como um dos grandes nomes da nova vaga de pop-rock português.

A releitura de um dos mais famosos temas de Zeca Afonso feita pelo grupo em 1994.

Reputação essa, aliás, que seria cimentada pelo segundo álbum do grupo, 'Lollipop', lançado em 1995 e que contou com a produção daquele que era, à época, o nome de referência para trabalhos de pop-rock nacionais, Marsten Bailey, bem como com o contributo de dois novos integrantes, ambos de créditos firmados na cena – Filipe Valentim, ex-Rádio Macau, e Luís San Payo, ex-Pop Dell'Arte; antes da gravação do terceiro álbum ('Edelweiss', de 1997) verificar-se-ia ainda mais uma mudança, com a entrada do baterista Rui Freire a compôr aquele que seria o alinhamento dos Entre Aspas até ao final da carreira.

O dito final estava, no entanto, ainda a largos anos de distância, sendo que o grupo seguia de vento em popa, participando com dois temas na icónica colectânea 'Ao Vivo na Antena 3', em 1998 (mesmo ano em que Viviane é escolhida para dar voz a um dos temas do mega-projecto natalício 'Espanta Espíritos') e com uma versão de 'Doçuras' no não menos icónico tributo aos vinte anos de carreira dos lendários Xutos e Pontapés, lançado em 1999. Também nesse mesmo ano, é lançado o quarto álbum do grupo, 'Loja de Sonhos' produzido com a ajuda de Flak e com mistura de Joe Fossard.

A contribuição do grupo para a colectânea 'XX Anos, XX Bandas', dedicada aos vinte anos de carreira dos Xutos & Pontapés.

Infelizmente, o 'impulso' vivido pela carreira dos Entre Aspas durante a última década do século XX não sobreviveria aos primeiros anos do Novo Milénio, sendo o álbum ao vivo 'www.entreaspasaovivo.com' (lançado há quase exactos vinte e dois anos, em finais de Abril de 2001, e homónimo do hoje defunto 'site' do grupo) o último registo da banda antes da dissolução em 2005, e subsequente início da carreira a solo de Viviane. Os fãs do grupo teriam, no entanto, uma grata surpresa nove anos depois, quando, a pretexto daqueles que seriam os vinte anos de carreira do grupo, a BMG lança uma colectânea de êxitos – esta, sim, o último registo oficial de uma banda que, sem ter quaisquer daqueles 'hits' instantaneamente reconhecíveis tão típicos do pop-rock nacional de finais do século passado, conseguiu ainda assim estabelecer-se como um dos nomes na 'linha da frente' do movimento durante mais de uma década.

Mesmo após o término do grupo, no entanto, a carreira de Tó Viegas e Viviane seguiu tão firme como o seu casamento, tendo a dupla sido responsável, entre outros projectos, pelo tema 'Com Um Abraço', semi-finalista do Festival da Canção 2021 na voz de Ana Teresa – apenas uma das muitas provas de que o fim da banda que os notabilizou não correspondeu, de todo, à extinção da criatividade musical do casal, que continua a ter papel de destaque na cena 'pop' nacional moderna, mesmo que agora a partir dos 'bastidores'. Quanto aos Entre Aspas, o ano em que completariam trinta anos de carreira serviu mesmo de pretexto para uma reunião dos membros da formação clássica, e subsequente regravação do tema-estandarte do grupo, 'Criaturas da Noite'; resta esperar para ver se se trata de um regresso esporádico, ou se a carreira da banda virá, mesmo, a ganhar um 'segundo fôlego'...

A nova versão de 'Criaturas da Noite', gravada já este ano.

07.12.21

NOTA: Este post diz respeito a Segunda-feira, 06 de Dezembro de 2021.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O Natal não é, exactamente, um tema comum no que toca a colectâneas de música alternativa; normalmente, as compilações deste tipo centram-se sobretudo nos clássicos intemporais (e de domínio público) que a maioria dos comuns mortais transforma em banda-sonora para esta época do ano,

Em 1995, no entanto, a editora independente portuguesa Dínamo Discos resolveu explorar precisamente esse conceito, juntando num mesmo disco alguns dos maiores e mais conhecidos artistas da música portuguesa e fomentando uma série de colaborações, as quais viriam mais tarde a fazer parte do disco. E o mínimo que se pode dizer é que, apesar do sucesso comercial não ter sido por aí além significativo, em termos qualitativos, a empreitada valeu bem a pena.

Espanta_Espíritos.jpg

Intitulado 'Espanta-Espìritos' e lançado em Novembro (com uma capa que remete mais ao Halloween do que propriamente ao Natal), o disco apresenta doze músicas bem eclécticas e diversificadas, com as sonoridades alternativas e a temática natalícia como únicos denominadores comuns – uma característica proposital, e que assegura que a colectânea oferece algo para os fãs de todos os géneros da música alternativa, com a notória excepção do hard rock e metal, talvez por serem géneros demasiado 'de nicho' ou pouco agradáveis ao ouvido do melómano médio português.

De resto, há para todos os gostos, do pop-rock de 'Final do Ano (Zero a Zero)' (interpretado por Xana dos Rádio Macau ao lado de Jorge Palma) ao fado de 'Minha Alma de Amor Sedenta', de Alcindo Carvalho, passando pelo funk Jamiroquai-esco de '+ 1 Comboio' (novamente com Jorge Palma em dueto com um elemento dos Rádio Macau, no caso o guitarrista Flak), o rock sarcástico-cómico de 'Família Virtual' (uma inesperada colaboração entre o fadista Carvalho e os anarco-ska-punks Despe & Siga) e 'Natal dos Pequeninos' - dueto de João Aguardela, dos Sitiados, com duas crianças - ou mesmo o hip-hop de 'Apenas Um Irmão', faixa que consegue a proeza dupla de inserir, à sorrelfa, uma palavra menos própria na letra (por sinal, bem rebelde e contestatária, como era apanágio do hip-hop português da época) e de pôr Sérgio Godinho a fazer rap ao lado dos mestres Pacman (hoje Carlão) e Boss AC – e quem nunca ouviu Sérgio Godinho numa música de rap, não sabe o que anda a perder...

Ouçam por vocês mesmos...

As restantes músicas são mais tradicionais deste tipo de empreitada, e desenvolvem-se num ritmo mais calmo e baladesco – o que não significa que tenham menos qualidade. 'A Rocha Negra', em particular, é um tema assombroso, em todos os sentidos, alicerçado numa grande prestação vocal, quase 'a capella' de Tim (ainda em fase de estado de graça com os seus Xutos) e Andreia (dos desconhecidos Valium Electric), enquanto 'São Nicolau' é um bonito tema em toada pop-rock, cantado por Viviane, dos Entre Aspas. Em suma, são poucos os temas mais fracos deste registo, e mesmo esses nunca passam o limiar do aceitável-para-bom.

Não deixa, pois, de ser surpreendente que o principal contributo de 'Espanta Espíritos' para a mùsica portuguesa tenha sido a inclusão de alguns dos seus temas em álbuns 'verdadeiros' de alguns dos participantes; como colectânea, e apesar de ter sido considerado um dos vinte melhores discos de Natal lançados em Portugal pela Time Out (uma daquelas distinções tão de nicho, que acaba por fazer pouco ou nenhum sentido) o álbum esteve longe de ser um sucesso, e encontra-se largamente esquecido nos dias que correm. Uma pena, visto que – como qualquer pessoa que tenha o álbum certamente afirmará – este se trata de um projecto que merecia bastante melhor do que apenas um estatuto de culto...

24.05.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E dado que desde o início desta rubrica temos vindo a falar sobretudo de movimentos e estilos musicais – quer nacionais, como o ‘pimba’, quer importados, no caso do europop ou do rock alternativo – nada mais justo do que abordarmos, esta semana, um movimento que teve um enorme ‘boom’ em território nacional precisamente nos anos 90.

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Falamos, é claro, do pop-rock, estilo que viu alguns dos seus principais representantes nacionais de décadas anteriores entrar em fases de declínio de carreira durante a última década do século XX (casos dos Xutos & Pontapés, GNR, Rui Veloso ou UHF, entre outros) mas assistiu ao nascimento e consolidação de popularidade de outros tantos artistas e colectivos, alguns dos quais relevantes ainda hoje, quase trinta anos após o seu aparecimento. Os anos 90 foram, por exemplo, a década dos Sitiados, Silence 4, Mão Morta, Ornatos Violeta, Pólo Norte, Rádio Macau, Três Tristes Tigres, Quinta do Bill, Pedro Abrunhosa, Clã ou The Gift, entre muitos outros - isto, claro, sem esquecer bandas que transitavam da década anterior ainda no auge da sua forma, como era o caso dos Delfins ou Madredeus. Um verdadeiro panteão de nomes sonantes da música portuguesa, que fazia as delícias de qualquer melómano adepto das vertentes mais melódicas da música ‘de guitarras’.

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Alguns dos muitos artistas pop-rock portugueses de finais do século XX

Um dado curioso é que muitos destes grupos contavam com vocalizações femininas, fossem principais ou secundárias. Clã, Três Tristes Tigres, Rádio Macau, Entre Aspas, The Gift e Madredeus contavam todos com vocalistas femininas, algumas delas figuras bem populares e influentes da cena musical da época, como Xana e Viviane; dos restantes, os Silence 4 também contavam com vozes de apoio femininas (numa dinâmica muito semelhante à dos Pixies, com as devidas distâncias) e os Sitiados tinham em Sandra Baptista a sua segunda figura central, embora esta última não cantasse. Isto sem esquecer, é claro, as duas finalistas do Festival da Canção mais famosas da era pré-Salvador Sobral: Sara Tavares e Anabela (a sério, conseguem nomear o finalista de algum ano sem ser 1993 e 1994?) Enfim, uma excelente representatividade para o sexo feminino, que conseguia tão ou mais sucesso que os grupos e artistas masculinos.

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Quem se lembra?

No cômputo geral, pois, os anos 90 não podem saldar-se como nada menos do que uma década fantástica para a música pop e rock portuguesa – quer em termos comerciais, quer criativos. Bebendo das bases cimentadas na década anterior, os artistas que entraram em voga durante os 90s viriam, eles próprios, a erigir muitas das fundações que informariam a música portuguesa na década seguinte, e um pouco até aos dias de hoje, tornando a última década do século XX uma das melhores de sempre para se ser fã de música em Portugal.

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