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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

12.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 10 de Julho de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

No tocante a franquias ou séries de obras literárias destinadas a um público infanto-juvenil, poucas são as que conseguem tracção durante mais do que um par de anos, sendo de louvar sempre que isso acontece. Portugal não é excepção a essa regra, tendo-se tal fenómeno apenas verificado com um número muito restrito de propriedades, de 'gigantes' como 'Harry Potter' a séries como 'Diário de Um Banana' ou 'Uma Aventura' (esta última já quadragenária, e ainda e sempre o porta-estandarte da literatura infanto-juvenil portuguesa). Nos anos 90, juntavam-se ainda a esta lista as várias colecções de Enid Blyton, as quais, apesar de serem, na altura, tão longevas quanto é agora 'Uma Aventura', continuavam a cativar os jovens das gerações 'X' e 'millennial', os quais haviam herdado ou ouvido falar dos livros através dos pais, que os haviam 'devorado' com a mesma idade.

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Alguns dos títulos de cada uma das colecções.

Não é, pois, de surpreender que, perante este sucesso continuado (que motivou mesmo a reedição da colecção original d'Os Cinco' com novas capas 'fotográficas') tenha também havido quem procurasse capitalizar sobre os 'nomes de marca' idealizados pela autora inglesa em inícios do século XX; surpreendente foi, apenas, a proveniência de tais obras, que eram oriundas, não da Grã-Bretanha natal de Blyton, mas da bastante menos previsível França, onde, nos anos 80, eram lançadas duas colecções de 'Novas Aventuras' dos dois grupos de personagens mais famosos e conhecidos da autora – os referidos Cinco e o Clube dos Sete. Essas mesmas colecções viriam, poucos anos depois (concretamente em 1996), a 'aterrar' em solo nacional, pela mão da Editorial Notícias, prontas a serem adquiridas por 'legiões' de jovens insuspeitos, que não imaginavam terem aqueles livros sido escritos por alguém que não Enid Blyton. E, no entanto, era precisamente esse o caso - as Novas Aventuras dos Cinco ficavam a cargo de um tal Claude Voilet, não sendo conhecidos os nomes dos autores dos novos casos do Clube dos Sete, os quais operavam, evidentemente, em regime de 'escrita fantasma', para manter a ilusão de se tratarem de novas obras da autora britânica.

Apesar destes esforços, no entanto (e das traduções a cargo de grandes nomes do ramo, como Adolfo Simões Muller) bastava ler algumas linhas de um destes livros para perceber que os mesmos não constituíam 'artigo genuíno'. Tanto a escrita abaixo da média como as próprias temáticas de cada história eram completamente desfasados do estilo conversacional e antiquado de Blyton, sendo estas 'Novas Aventuras' apenas 'digeríveis' por quem conseguisse abstrair-se do facto de as personagens terem o mesmo nome e personalidades dos livros originais; quem esperasse algo ao nível da colecção principal acabaria, inevitavelmente, desapontado. Não é, assim, de estranhar que ambas as colecções apenas tenham durado alguns (poucos) anos nas bancas antes de caírem no quase esquecimento, dando lugar a ainda mais reedições 'modernizadas' (e, por vezes, actualizadas) das duas dezenas de aventuras originais de Blyton – um facto que não deixa de vincar a diferença entre uma obra verdadeiramente transcendente e intemporal e uma 'imitação barata' com o propósito único de fazer dinheiro. Neste caso, tal como no dos Corn Flakes da Kellogg's, 'o original é sempre o melhor' – e as crianças portuguesas de finais do século XX souberam percebê-lo.

 

03.07.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Quem já nasceu na década de 90, sobretudo a partir de meados da mesma, certamente terá a mesma reacção à expressão 'Abram alas para o Noddy!' que os 'bebés' da década anterior têm ao genérico da 'Rua Sésamo' – nomeadamente, começar de imediato a cantar o tema de abertura da referida série, numa daquelas vagas de nostalgia que só as propriedades mais adoradas da infância e adolescência conseguem proporcionar. 

De facto, para quem já não conviveu com Poupas, Ferrão e os restantes amigos, Noddy foi – a par dos Teletubbies e quiçá do Ruca – A personagem de infância por excelência, companheiro de muitos momentos bem passados em frente à televisão em inícios do século XXI. O que muitos dos espectadores devotos dessa série talvez não tenham sabido é que a mesma era já a segunda incursão do boneco de madeira criado por Enid Blyton nas ondas televisivas, não só nacionais como mundiais – a verdadeira estreia de Noddy e dos restantes habitantes da Terra dos Brinquedos dera-se mais de meia década antes, com a bem menos famosa série auto-intitulada do personagem, produzida pela Cosgrove Hall entre 1992 e 1994 e exibida na 'culta e adulta' RTP2 um par de anos depois.

Genérico da série original.

Originalmente intitulada 'Noddy´s Toyland Adventures', esta série tem uma premissa muito semelhante à da sua mais 'ilustre' sucessora, seguindo a cada episódio as aventuras de Noddy e do seu inseparável amigo Orelhas Grandes, um gnomo de jardim, enquanto os dois viajam pela Terra dos Brinquedos no icónico carro amarelo de Noddy (imortalizado no genérico português da série de 2002) procurando resolver os problemas corriqueiros dos seus habitantes, ou aqueles que eles próprios causam com a sua ingenuidade e propensão para acidentes. O tom geral, tal como sucede com os livros, é um 'slice of life' ligeiro e 'fofinho', mas não totalmente inofensivo, perfeitamente adequado ao público-alvo de crianças em idade pré-escolar e primária.

A razão para esta primeira série de Noddy ser bastante menos conhecida ou popular que a sua sucessora é, assim, pouco clara, podendo potencialmente prender-se com o maior e melhor volume de séries e programas infanto-juvenis transmitidos em Portugal em meados dos 90, por comparação com o início do Novo Milénio; seja qual for o motivo, no entanto, ambos os programas (bem como a 'tri-quela' 'A Loja do Noddy') são bem merecedores de serem apresentados a uma nova geração falha de conteúdos infantis de qualidade e, certamente, pronta a acolher de 'braços abertos' o 'palhacito' Noddy e os seus amigos brinquedos.

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