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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

15.02.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os jogos de computador e consola eram, nos anos 90, um mundo completamente diferente do que são hoje em dia; dito assim, pode parecer um lugar-comum perfeitamente óbvio, mas a verdade é que a maioria dos 'gamers' de hoje em dia – e até muitos dos que conheceram esse mundo já na metade final da década – tendem a não ter a perspectiva de exactamente QUÃO acentuados foram os avanços tecnológicos no campo da programação informática durante os últimos anos do século XX. Prova disso mesmo é que, na mesma época em que jogos como Tomb Raider e Final Fantasy VII revolucionavam indelevelmente o mercado dos jogos de computador e consola, muitos de nós continuavam a perder horas esquecidas em frente a algo com este aspecto:

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Sim, o mítico Elifoot – o precursor de Championship Manager criado em 1987 por um português, André Elias, e cuja sequela, lançada dois anos depois, se viria a tornar, nas quase quatro décadas subsequentes, um dos títulos de 'shareware' mais famosos e saudosamente recordados de sempre.

Para quem já passou nem que fossem uns minutos com o referido Championship/Football Manager (ou títulos semelhantes como o 'esquecido' Premier Manager) Elifoot 2 parecerá básico ao ponto de ser constrangedor. Longe das nuances táctico-financeiras do 'franchise' da Eidos (ou mesmo do mais simples mas ainda assim intrincado sistema da série da Gremlin Interactive) o jogo apresenta a simulação futebolística reduzida à sua expressão mais básica: compram-se jogadores (utilizando a avançadíssima táctica negocial de lhes oferecer um ordenado cinco vezes maior do que o que exigiam), espera-se que os outros não comprem melhores, escolhe-se uma táctica no ecrã de jogo, ao intervalo fazem-se duas substituições, e pouco mais. Existe uma tentativa de abordar outros aspectos inerentes ao trabalho de um treinador – é possível renegociar contratos, expandir as instalações do estádio ou verificar a saúde das finanças do clube – mas tudo é apresentado de forma tão directa e simplista que estes aspectos acabam por nunca aprofundar especialmente a jogabilidade. Uma espécie de 'versão Fisher-Price' dos jogos de estratégia futebolística, portanto, que oferece muito pouco para satisfazer o treinador virtual moderno.

10190-elifoot-ii-3.jpg

O sistema de leilões extremamente simplista permitia comprar qualquer jogador para qualquer clube ou divisão, desde que se oferecesse o ordenado mais alto de entre todas as propostas, resultando em contratações perfeitamente mirabolantes

Não era, no entanto, ao 'gamer' calejado por anos de simuladores de futebol que Elifoot 2 se dirigia; todo o aspecto e interface do jogo parece pensado para permitir que trabalhadores de escritório aborrecidos possam fazer uma 'jogatina' 'à sorrelfa' nos computadores da empresa, sem que os chefes se apercebam que as letras amarelas sobre fundo preto nos ecrãs dos subalternos não são de uma base de dados ou folha de computação. O jogo não é, nem pretende ser, CM ou FM; trata-se, conforme já foi referido, de um precursor de ambos, um pioneiro do género dos simuladores futebolísticos, que viria a estabelecer algumas das bases do género para anos vindouros - como a possibilidade de inclusão de vários jogadores num sistema de turnos, que o Championship Manager original não possuía. E, desse ponto de vista, Elifoot não pode ser considerado nada menos do que um sucesso.

Elifoot (1).png

Neste ecrã, só havia uma opção possível: 'Alt + F12 - Seleccionar Melhores' - nem que com isso se acabasse com uma equipa constituída exclusivamente por pontas-de-lança...

De facto, houve pouco quem, durante os anos 90, não pusesse de lado os outros 'managers' para, durante umas horas, se entreter a artilhar a equipa do Felgueiras ou Leça com uma frente de ataque composta por Cadete e Acosta, permitindo-lhe assim 'levar tudo à frente' na quarta divisão portuguesa, e ser promovido à seguinte com vinte pontos de avanço sobre os adversários. Apesar de declaradamente simples, sobretudo graficamente – demasiado simples, pensar-se-ia, para atrair um público cada vez mais habituado a avaliar a qualidade de um jogo com base nos seus aspectos visuais – o título de André Elias 'caiu mesmo no gosto' dos jovens portugueses, tornando-se um dos poucos lançamentos 'dos primórdios' da informática noventista a ainda ser amplamente jogado e apreciado entre o público-alvo quase uma década depois.

De facto, a influência do jogo foi tanta que quem perguntar a um 'gamer' fã de futebol daquela época pelos nomes de alguns dos jogos clássicos da sua juventude, certamente verá este título aparecer entre as primeiros menções da lista. Fosse pelo orgulho de ter uma produção nacional com tal qualidade, fosse pelo factor vício (que o título possui, e a um nível considerável) ou mesmo pela 'novidade' de poder o Leça, Felgueiras, Salgueiros e Campomaiorense em vez dos habituais 'gigantes' europeus, o jogo foi mesmo um sucesso – e, a julgar pela sua procura nos dias que correm, continua a ser.

De facto, desde os seus anos áureos de gravação e distribuição em disquetes nos pátios de escolas de Norte a Sul de Portugal, a série Elifoot não parou de crescer, primeiro através das habituais versões modificadas (que substituíam as equipas portuguesas por emblemas do Brasil, o outro país onde o título fez história, ou mesmo da Liga dos Campeões) através da 'sequela melhorada' Elifoot 98 – que aproximava o título da estética Championship Manager, sem sacrificar a sua identidade – e, já no século XXI, através de uma versão para o telemóvel, que permite recriar toda a emoção daquelas partidas virtuais da infância a partir do bolso, e a qualquer momento.

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As versões mais recentes de Elifoot já se aproximam bastante dos títulos mais bem sucedidos do género, e parecerão certamente familiares a quem já os tenha jogado.

E apesar de nenhuma destas inovações ter tido o sucesso do original ou da sua ainda mais popular sequela, a verdade é que qualquer uma delas demonstra que, pelo menos da parte do público português, o apetite por Elifoot continua bem vivo; de facto, este mítico e aparentemente imortal jogo continua, ainda hoje, a ser produzido, datando a versão mais recente de 2020 - uma prova de que, por vezes, os conceitos mais bem sucedidos são mesmo os mais simples...

Querem recordar o Elifoot 2? Cliquem aqui! E cliquem aqui para saber como editar as equipas e plantéis do jogo, para criarem a vossa versão de sonho.

 

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