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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

06.11.21

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

Em posts recentes nesta mesma rubrica, falámos das cordas de saltar e dos jogos infantis de rua; hoje, vamos falar de uma actividade que se inseria aproximadamente na intersecção destes dois 'vectores' de brincadeira, e que constituiu uma verdadeira 'febre' entre as crianças dos anos 90, sobretudo as raparigas – o jogo do elástico.

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Sim, o jogo do elástico – aquela brincadeira que consistia em fazer passar um pedaço de elástico ou tecido, de forma oval, pela parte anterior das pernas de duas crianças colocadas frente a frente, de modo a que este ficasse preso e retesado entre as mesmas, permitindo a uma terceira criança demonstrar a sua destreza e coordenação motora através da execução de verdadeiras 'coreografias' de saltos dentro, fora e por entre o referido elástico, que ia gradualmente sendo puxado cada vez mais acima das pernas dos participantes, aumentando assim o nível de dificuldade dos saltos.

Dito desta forma até parece complicado – fazendo até lembrar aqueles manuais de instruções que tornavam um processo perfeitamente simples em algo desnecessariamente rebuscado e detalhado – mas, na prática, esta era daquelas brincadeiras em que o princípio era tão simples quanto as regras, sendo estas transmitidas, sobretudo, por via oral, ou por experiência. Por outras palavras, nunca ninguém teve de ser ensinado a jogar ao elástico – embora houvesse, sim, quem precisasse de ser ensinado a melhorar a sua técnica, de modo a conseguir competir com os maiores 'craques' do recreio ou do bairro.

E a verdade é que, apesar de simples, o jogo do elástico era tudo menos fácil, sobretudo para quem não tinha grande coordenação motora (acreditem, quem vos escreve sabe do que fala), sobretudo porque requeria mais prática e maior habilidade do que o seu 'parente' mais próximo, o jogo da corda. E embora num jogo de elástico ninguém arriscasse apanhar com uma corda em tensão na cabeça, havia sempre o risco de tropeçar e ir 'de cara ao chão' – ou, pior ainda, de traseiro...

Talvez por isso este jogo atraísse sobretudo o público feminino, tradicionalmente menos preocupado com questões de orgulho ou reputação, bem como mais tolerante a erros e curvas de aprendizagem; fosse qual fosse a razão, no entanto, não há como negar que o rácio de rapazes que jogava ao elástico era extremamente reduzido, sendo este desde sempre considerado um jogo 'de meninas' - a ponto de na popular série 'Squid Game', da Netflix, ser o principal exemplo dado sempre que a utilidade de ter uma mulher na equipa é trazida à baila.

Infelizmente, este é daqueles jogos que, desde a sua época áurea em finais do segundo milénio, tem gradualmente vindo a desaparecer dos recreios, pátios e jardins do nosso país; e dizemos 'infelizmente' por se tratar de uma brincadeira não só tradicional, mas que também ajuda com o desenvolvimento da coordenação motora, destreza e reflexos. Resta esperar que uma qualquer Nintendo desta vida lance um jogo de 'elástico virtual' - talvez como parte de um pacote de 'fitness' ao estilo Wii Sports – para que a nova geração possa, pelo menos parcialmente, re-descobrir este clássico dos recreios portugueses no tempo dos seus pais...

24.10.21

NOTA: Este post corresponde a Sábado, 23 de Outubro de 2021.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

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Qualquer criança que interaja pelo menos uma vez com um grupo da sua faixa etária adquire conhecimentos e herda tradições que ninguém sabe muito bem de onde vieram, nem como foram perpetuados, mas que toda a gente sabe como funcionam; e nenhum exemplo ilustra melhor este fenómeno do que os jogos infantis, nomeadamente os disputados na rua, que se afirmam como verdadeiros estudos de caso no que toca à transmissão de conhecimentos adquiridos entre as crianças.

Quer o futebol de rua, nas suas diferentes permutações – 'baliza a baliza', 'toques'. 'todos contra todos', fintas, penalties – quer os jogos mais convencionais, como a 'Macaca', 'Mamã Dá Licença', 'Barra do Lenço', 'Estátuas', 'Macaquinho do Chinês', elástico, corda, futebol humano, apanhada ou escondidas, são brincadeiras que qualquer criança, de qualquer época, soube e sabe jogar, sem precisar de ser ensinada. Sim, as regras podem por vezes variar – levando a situações de algum desconforto quando se joga com um grupo diferente do habitual e as regras a que estamos habituados passam a ser consideradas 'batota' – mas a essência da brincadeira permanece a mesma, e é conhecida e compreendida sem ser necessária qualquer explicação.

No futebol, por exemplo, podem ou não valer 'bujas', mas o jogador mais fraco continua a ir à defesa, e o mais gordo à baliza; na apanhada ou escondidas, a récita a declamar à chegada ao 'coito' pode variar, mas a acção de bater com a mão no local designado antes de quem está a apanhar continua a dar ao jogador o direito de 'salvar todos', e iniciar uma nova ronda de jogo. Estas são convenções ancestrais, já observadas pelos nossos pais ou avós, e que continuarão certamente a ser observadas pelas gerações vindouras – isto, claro, se todas estas brincadeiras não se tornarem, entretanto, estritamente virtuais...

Seja qual for o futuro destes jogos, no entanto, restam algumas certezas; por um lado, que os mesmos se continuarão a afirmar como estudos de caso para a transmissão inata e oral de tradições e conhecimentos inatos, e por outro, que nada conseguirá apagar a memória de muitos bons momentos vividos em disputas renhidas de um ou vários dos mesmos, fosse durante o recreio, no bairro após a escola ou, sim, durante um Sábado aos Saltos...

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