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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.07.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Na nossa última publicação, falámos dos cavalos de pau, um tipo de brinquedo hoje obsoleto mas que, nos anos 90, constituía ainda uma excelente forma de passar um Sábado aos Saltos. Para quem não era adepto de grandes 'coboiadas' ou 'cavalgadas', no entanto (ou simplesmente para crianças mais novas) existia uma outra opção, a qual podia por si mesma dar azo a um Domingo Divertido: os cavalinhos de baloiço.

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Lá por casa existia um modelo exactamente igual a este...

Uma espécie de versão mais encorpada (e estática) dos cavalos de pau, os cavalos de baloiço eram presença frequente nos quartos de cama ou de brinquedos de crianças em idade pré-escolar, quando um brinquedo deste tipo era ainda capaz de encantar, e proporcionavam uma espécie de cruzamento entre o referido cavalo de pau e uma versão gratuita dos brinquedos de moeda tão populares à época. Requerendo apenas um pequeno impulso – que podia ser dado tanto pela criança como por um adulto – e controlo firme sobre os manípulos situados de cada lado da cabeça (já que, nestes casos, tendia a não haver rédeas) estes brinquedos eram a forma ideal de viver as fantasias de ser 'cowboy', cavaleiro ou príncipe encantado sem grande esforço, e sem quaisquer acidentes resultantes em 'nódoas negras', arranhões e outras 'mazelas' típicas da infância. Não é, pois, de espantar que os mesmos continuassem a gozar de enorme popularidade entre as crianças das décadas de 80 e 90, as quais certamente relembrarão uma qualquer variação do tradicional modelo pintado de vermelho e branco, que ilustra este post.

À semelhança dos cavalos de pau, é também ainda hoje possível encontrar para venda versões modernas dos cavalos de baloiço, sobretudo em lojas especializadas em brinquedos de índole mais clássica; tal como com os seus 'irmãos' mais 'magricelas', no entanto, é difícil imaginar o interesse que um produto desta índole possa ter para a 'geração iPad', para quem até mesmo os referidos brinquedos de abanar movidos a créditos já têm de ter animações a acompanhar. Quem viveu num tempo mais simples e menos tecnológico, no entanto, certamente terá, após ler este 'post', despertado memórias remotas de muitos Domingos Divertidos passados 'a cavalo' de um destes 'bravos alazões', a dar largas a uma imaginação que cada vez mais vai faltando às crianças modernas...

14.07.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

O desempate a 'penalties' é um dos elementos-chave de qualquer competição futebolística com formato eliminatório, seja ela um Mundial, um Campeonato da Europa como o que vive os seus últimos instantes à data da edição deste post, ou simplesmente uma taça interna de um qualquer país do Mundo. Com a sua mistura de nervos, emoção e aquela sensação de que tudo pode acontecer, e podem surgir novos heróis, não é de admirar que este seja um momento que muitas companhias produtoras de jogos e brinquedos tenham vindo desde há muito a tentar recriar, com maior ou menor grau de sucesso; ainda menos surpreendente é o facto de uma dessas tentativas fazer parte da gama do Subbuteo, a popular simulação miniaturizada do desporto-rei que fez as delícias dos jovens adeptos dos anos 80 e 90.

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Contendo apenas um jogador, um guarda-redes, uma bola e uma baliza, o jogo de penalties do Subbuteo constituía uma excelente alternativa para quem não tinha posses para comprar um jogo 'inteiro' – ou mesmo só duas equipas completas – para quem tinha menos paciência e queria 'saltar logo para o fim', ou apenas para quem era fãs de desempates da marca de grandes penalidades; e até mesmo quem tinha um jogo de Subbuteo completo era, muitas vezes, incapaz de resistir à apelativa simplicidade de um 'jogo de penalties', fazendo deste 'kit' um popular e versátil acrescento à gama principal da linha.

Escusado será dizer que, numa era da História em que o futebol simulado é, cada vez mais, vivido em ambientes interactivos hiper-realistas, um brinquedo simples como este se afigura tão pitorescamente obsoleto como o próprio jogo-base a que serve de complemento. Para quem se recorda de estar ajoelhado ou deitado no chão do quarto, a tentar simultaneamente marcar e defender um golo numa qualquer final imaginada de um campeonato europeu, este singelo conjunto de acessórios – e o 'post' a que deu azo neste nosso blog – terão, sem dúvida, desbloqueado boas memórias...

16.06.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Numa era em que tudo parece disponível à distância de dois ou três 'cliques' e algumas semanas de espera, pode parecer caricato pensar que, há meras três décadas, muitas crianças e jovens tinham, ainda, de 'improvisar' as suas próprias brincadeiras, com recurso a materiais 'genéricos' e muita imaginação; e se alguns destes casos foram já abordados no nosso 'post' sobre o faz-de-conta, a brincadeira que abordamos hoje é tão ou mais icónica do que as ali elencadas, sobretudo para quem era adepto ou entusiasta de futebol. Numa altura em que tem início mais um Euro, nada melhor, portanto, do que recordar um 'desporto' tão popular que ainda hoje se disputam campeonatos nacionais oficiais do mesmo! Falamos, é claro, do 'futebol de caricas', a alternativa ao algo dispendioso Subutteo criada pela criativa geração 'X' (e fomentada pela existência, à época, de caricas personalizadas com as caras de jogadores de futebol) e prontamente adoptada, também, pela sua sucessora, dado o seu excelente balanço de custo, tempo e diversão.

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Como o próprio nome indica, a premissa deste jogo passa por disputar uma partida de futebol em que os 'jogadores' são caricas de garrafa de sumo ou cerveja, cada uma das quais devidamente 'decorada', no interior, com o nome e número do jogador representado. Uma vez alinhadas as duas 'equipas' – e colocado na baliza o 'guarda-redes' de rolha – as mecânicas são mais ou menos as mesmas do referido Subutteo, consistindo na simulação de uma partida de futebol sem recurso a árbitro e em que as jogadas são criadas por via de 'piparotes' nas caricas que constituem as duas equipas. Ganha, claro, quem marcar mais golos, normalmente com uma bola improvisada ou 'emprestada' de um jogo de Subutteo. Uma brincadeira que, com a sua combinação quase perfeita de desafio, customização, improviso, simplicidade e diversão, não podia deixar de 'cair no gosto' de duas gerações habituadas a transformar tudo num jogo ou brinquedo.

Escusado será dizer, no entanto, que o apelo desta 'modalidade' não se transferiu para as gerações seguintes, para quem o próprio Subutteo se afigura já algo obsoleto. Não é, pois, de surpreender que sejam os agora adultos das demografias 'X' e 'millennial' a manter vivo o espírito desta actividade, e a re-apresentá-la a todo um novo público através de participações em programas de televisão e da organização de torneios e ligas oficiais de cariz anual. Quem sabe, no entanto, estas iniciativas não tenham sido suficientes para despertar novo interesse no 'desporto' mais económico da História de Portugal...?

11.05.24

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já vem sendo tema recorrente deste nosso 'blog' o facto de a criança dos anos 90 precisar de pouco para se divertir. De facto, à falta de brinquedos elaborados, era sempre possível inventar um jogo ou brincadeira com recursos mínimos ou mesmo inexistentes; conversamente, o mais simples dos elementos - como uma bola, uma folha de papel ou duas tampas de panela – era capaz de proporcionar um Sábado aos Saltos mais do que divertido, quer a solo, quer na companhia de amigos. Um dos mais famosos exemplos deste paradigma é o produto de que falamos neste 'post', o qual, pela sua simplicidade, portabilidade e tendência para ser usado no exterior, acaba por se inserir não só no âmbito dos Sábados aos Saltos, mas também dos Domingos Divertidos (já que também era bastas vezes utilizado dentro de portas) ou mesmo das Quintas de Quinquilharia, já que cabia num bolso ou estojo de lápis; pela sua associação a tardes solarengas, no entanto, escolhemos falar do mesmo no contexto dos fins-de-semana, dedicando-lhe um 'post' híbrido que cobrirá os dois próximos dias deste blog.

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Falamos das icónicas bolas de sabão (ou 'bolinhas' de sabão), vendidas nos mais variados locais (de drogarias de bairro a tabacarias ou lojas dos 'trezentos') em não menos icónicos tubos de plástico multicolorido nos últimos anos do século XX, e cuja mera fotografia será, certamente, motivo de nostalgia para qualquer criança ou jovem da época. Isto porque, pelo seu preço acessível e excelente balanço custo-benefício (especialmente por poderem ser 'recarregados' com uma simples mistura de água e detergente, proporcionando um 'ciclo de vida' potencialmente infinito), os referidos tubos eram regularmente utilizados como 'brindes de passeio' ou mesmo adquiridos sem necessidade de recurso a qualquer contexto especial, apenas como forma de passar um Sábado aos Saltos ou Domingo Divertido de sol. E a verdade é que havia poucas sensações tão boas quanto a de ver sair daquela argola redonda na ponta do tubo 'milhões' de bolas translúcidas, que se espalhavam em todas as direcções – ou, melhor ainda, uma única bola de tamanho gigante, cuidadosamente gerada e admirada em êxtase durante alguns segundos, antes do inevitável rebentamento (natural ou provocado). Não menos divertida era a subsequente 'senda' para tentar rebentar tantas bolas quanto possível, uma actividade tão inexplicavelmente catártica quanto o manuseamento de plástico-bolha, e que apenas aumentava o 'factor diversão' daquele simples tubo de água e sabão.

A contribuir ainda mais para este aspecto estava, também, o tradicional jogo em ponto miniatura contido na tampa de cada tubo, e que, muitas vezes, influenciava a escolha de qual cor de tubo levar. Isto porque cada uma das cores tinha, normalmente, um topo diferente, e embora todos os jogos contidos nos mesmos se inserissem nos moldes de um labirinto, havia sempre alguns mais atractivos e apelativos que outros. E ainda que estas micro-actividades tendessem a perder o interesse muito antes da solução aquosa contida nos tubos, as mesmas não deixavam, ainda assim, de acrescer ainda mais um elemento ao apelo destes tubos.

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Exemplo da 'versão moderna' deste divertimento.

Ao contrário do que sucede com muitos dos produtos de que falamos nesta e noutras rubricas, as bolas de sabão não desapareceram do mercado, nem tão-pouco perderam o interesse para as gerações mais novas; o formato tradicional conhecido e disfrutado pelas gerações 'X' e 'millennial' foi, no entanto, substituído por algo mais próximo de um brinquedo clássico, normalmente 'apetrechado' com luzes LED e moldado na forma de uma varinha mágica ou pistola espacial de dispensação automática, o que se pode considerar retirar parte da diversão e 'magia' à experiência, tornando ainda mais difíceis 'proezas' como a criação de bolas gigantes. O princípio-base, no entanto, mantém-se inalterado, provando que na simplicidade continua, por vezes, a estar o ganho, e que certos conceitos conseguem manter-se verdadeiramente intemporais, e sobreviver à crescente influência da tecnologia no quotidiano infanto-juvenil – pelo menos, até ser criada uma 'app' que simule a criação de bolas de sabão e que substitua a experiência autêntica por outra mais virtual; resta, pois, esperar que tal nunca aconteça, e que as gerações vindouras continuem a encontrar o mesmo prazer e deleite que os seus pais derivaram do simples acto de moldar uma solução de água e detergente em bolas e as 'atirar' para a atmosfera.

28.04.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Conforme já várias vezes afirmámos nestas mesmas páginas, não era necessário à criança portuguesa dos anos 80, 90 ou mesmo 2000 nada de muito complexo para garantir um Domingo Divertido. Apesar de as referidas décadas coincidirem com o dealbar das consolas, computadores pessoais, jogos electrónicos portáteis e mesmo telemóveis, os mesmos não eram, ainda, peça obrigatoriamente integrante da vida quotidiana dos jovens lusitanos, abrindo espaço a outros 'entreténs', menos tecnológicos e mais puramente tradicionais, muitas vezes praticamente isentos de quaisquer recursos adicionais. E apesar de o tema do post de hoje não fazer parte desse último lote – eram, afinal, necessários materiais para a sua utilização – a verdade é que o mesmo não deixa de constituir o tipo de diversão simples e tradicional que cada vez mais se vai perdendo na sociedade digital moderna.

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Falamos dos livros para colorir, que ainda hoje continuam a fazer as delícias das crianças mais artisticamente inclinadas nos mais diversos formatos e feitios - mais finos (da grossura aproximada de uma revista) ou com centenas de páginas, licenciados ou 'genéricos', com ou sem autocolantes, passatempos e outros elementos extra, comprados na tabacaria ou na loja 'dos trezentos' ou chinesa. Desde que os desenhos sejam minimamente atraentes (o que nem sempre é garantia, especialmente nos exemplares mais baratos e menos cuidados) e que haja 'à mão' canetas de feltro ou lápis de cor, um volume deste tipo pode garantir não apenas um, mas inúmeros Domingos Divertidos à criança pré-adolescente ou mais nova – pelo menos até se esgotarem os desenhos, ou uma brincadeira mais atractiva lhes captar a atenção. Assim, e tendo em conta que os mesmos se podiam facilmente adquirir até mesmo em lojas generalistas ou viradas para gamas de preços económicas, os livros para colorir ofereciam uma excelente relação preço-qualidade, explicando porque constituíam um dos 'presentes de ocasião' mais comuns durante passeios e saídas de fim-de-semana.

Tal como acima referimos, esta continua também a ser uma ocupação de tempos livres relativamente intemporal, ainda que a era digital tenha vindo trazer algumas mudanças, como o reaproveitamento de imagens do Deviantart ou outros 'websites' virados para a ilustração. Talvez mais significativo, no entanto, seja o facto de a maioria dos pais 'millennial' preferir, talvez, investir em ilustrações digitais (ou, no limite, impressas da net) que permitem obter o mesmo efeito de forma ainda mais simples, e totalmente gratuita. Ainda assim, enquanto as crianças e jovens mostrarem apetência pelo acto de colorir, é de duvidar que este tipo de publicações se extinga completamente, devendo as mesmas continuar a propiciar muitos Domingos Divertidos às gerações vindouras, como o fizeram para as de finais do século XX.

14.04.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

A imagem do cavalinho de baloiço em madeira sempre foi um dos mais tradicionais elementos significantes da fase mais inocente da infância. Um daqueles brinquedos verdadeiramente intemporais, presentes em quartos de criança desde há séculos, este tipo de produto não deixa de marcar presença em todo e qualquer quarto de brinquedos de criança visto num filme ou série de televisão, ou mesmo descrito nas páginas de um livro; e se, hoje em dia, o mesmo é utilizado quase exclusivamente como parte de uma estética propositalmente 'retro' e nostálgica, em finais do século XX, os cavalinhos de baloiço surgiam ainda como parte integrante da selecção de brinquedos de muitas crianças portuguesas, normalmente num modelo muito específico e extremamente popular à época, cuja fotografia ilustra este 'post'.

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O modelo cujas diversas variações deliciaram as crianças portuguesas de finais do século XX. (Crédito da foto: OLX)

Para quem cresceu na época em que nem tudo tinha, ainda, de dispôr de um ecrã com imagens e sons berrantes, o apelo de um destes brinquedos é fácil de perceber e explicar, sendo que o mesmo constituía uma espécie de versão gratuita e sem limite de tempo dos populares brinquedos 'de moeda' tão frequentemente encontrados, à época, em centros comerciais e à porta de cafés. E apesar de os cavalinhos de baloiço se tornarem desajustados a partir de uma idade muito mais precoce que os referidos brinquedos electrónicos, as crianças mais pequenas não deixavam, ainda assim, de conseguir derivar considerável diversão dos mesmos antes de 'evoluírem' para os cavalos de pau ou veículos electrónicos, e daí para as bicicletas, patins em linha, skates, 'karts' e outros meios de locomoção mais avançados.

Hoje em dia, um brinquedo deste tipo pode parecer (e é) quase picaresco na sua simplicidade, uma relíquia de uma era que, apesar de ainda não muito distante, já ficou, definitivamente, 'para trás', sendo impossível a um jovem actual vislumbrar que interesse poderiam ter grande parte dos elementos que a marcaram – sendo os cavalinhos de baloiço um exemplo perfeito disso mesmo. Para quem teve, ou teve oportunidade de usar, um dos tradicionais equídeos em madeira pintados de vermelho e branco, no entanto, o 'post' que agora se conclui terá (espera-se) ajudado a remeter a mente a um tempo mais inocente, em que alguns minutos a 'cavalgar' nos mesmos constituíam uma excelente maneira de passar um 'bom bocado'...

19.03.24

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 17 de Março de 2024.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

O final dos anos 90 viu gerar-se entre a juventude portuguesa um gosto especial pelos jogos de fantasia, encabeçados pelo icónico e ainda hoje longevo Magic: The Gathering, cuja fama motivou o lançamento de inúmeros outros jogos de cartas (ou 'trading card games', ou TCG), muitos deles licenciados, mas que nem mesmo esse atractivo adicional conseguiu tornar bem-sucedidos. Enquanto esses 'sucedâneos' e 'imitadores' de Magic falhavam redondamente, no entanto, a comunidade de fãs de jogos 'role-playing' de tabuleiro via surgir e expandir-se gradualmente um verdadeiro candidato a rivalizar com o universo da Wizards of the Coast, embora num formato substancialmente diferente. Tratava-se de Warhammer 40.000, jogo hoje bem conhecido dos fãs de 'RPGs de mesa' do Mundo inteiro, mas que, naqueles finais de século XX, começava apenas timidamente a surgir na consciência colectiva da juventude lusitana.

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Criado em 1987, nos inevitáveis Estados Unidos da América, seria apenas cerca de uma década depois - por alturas da sua terceira edição, lançada em 1998 - que 'Warhammer 40K' chegaria verdadeiramente a um Portugal que, à época, se começava timidamente a abrir a influências e movimentos menos 'ortodoxos' e mais 'underground', de que são exemplos o 'rock' alternativo, os desenhos animados para adultos, ou o jogo sobre o qual versa este 'post'. 'Warhammer 40.000' tirou proveito desta conjuntura para ganhar visibilidade entre a comunidade jovem portuguesa - tarefa que, desde logo, não se afirmou de todo fácil. Sem a penetração global de que gozava 'Magic', e com a BDMania e lendária Devir Arena lisboeta ainda a alguns anos de abrirem e as lojas 'para nerds' ainda exclusivamente no domínio da imaginação, os soldadinhos e criaturas fantásticas da Games Workshop requeriam alguma 'exploração' e 'know-how' para serem encontrados e adquiridos, o que limitava a penetração inicial do jogo entre o seu público-alvo, ainda demasiado ocupado a virar terrenos de 'mana' para lançar a jogo criaturas devastadoras em universos de jogos de cartas.

Ainda assim, à medida que a sociedade portuguesa ia 'abraçando' cada vez mais os jogos e actividades 'alternativas' dos grupos de auto-proclamados 'nerds' e 'geeks', 'Warhammer 40K' ia, ele próprio, ganhando tracção, tendo-se inevitavelmente chegado a um ponto em que os entusiastas do jogo se podiam reunir em lojas próprias e pintar meticulosamente as suas figurinhas antes de as lançar no tabuleiro para enfrentar o exército inimigo. Tal paradigma talvez não tivesse sido possível, no entanto, sem aquela primeira geração que adquiriu os 'orcs', monstrengos e cavaleiros humanos e, sem se dar ao trabalho de os pintar, os fez enfrentarem-se em batalhas altamente simplificadas no chão do quarto, ou até no degrau de uma soleira de porta, 'abrindo' assim, ainda que inconscientemente, caminho para tudo o que se seguiu nesse campo durante os vinte anos seguintes...

03.03.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

No último Domingo Divertido, há já várias semanas, virámos a nossa atenção para os Micro Machines da Concentra, uma de duas gamas de carros em miniatura a chegar a Portugal na década de 90; nada mais justo, pois, do que debruçarmo-nos agora sobre a segunda dessas colecções, e única sobrevivente até aos dias de hoje – os Hot Wheels, da Mattel.

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Fundamentalmente semelhantes aos Micro Machines, na medida em que se tratavam de carrinhos de brincar a escalas muito reduzidas, e com aparência entre o desportivo e o futurista, os Hot Wheels tinham um importante diferencial em relação à gama da Concentra, que lhes permitiu reter a sua popularidade até aos dias de hoje – as suas pistas. De facto, pese embora a ausência de um apresentador 'tagarela' a debitar mil palavras por minuto nos anúncios televisivos, a Hot Wheels punha especial foco nos circuitos nos quais as crianças e jovens podiam utilizar os carros - os quais incluíam, invariavelmente, pelo menos um 'looping', como convinha às melhores pistas de carros da época. Isto porque, enquanto que a abordagem dos Micro Machines era, sobretudo, centrada no tamanho reduzidíssimo das miniaturas, a Hot Wheels jogava mais com o factor 'espectáculo', enfatizando o facto de os seus carros serem especialmente desenhados para realizarem proezas e façanhas espectaculares – uma narrativa que se prolongou, inclusivamente, aos jogos interactivos da série.

Talvez por isso os Hot Wheels tenham conseguido não só fazer concorrência aos carrinhos da Galoob/Concentra – pese embora a sua chegada relativamente tardia ao mercado luso, já na ponta final da década de 90 - mas também superá-los, 'resistindo' a todas as flutuações e 'modas' no mercado dos brinquedos e mantendo-se firmes nas prateleiras das lojas de brinquedos, supermercados e hipermercados do século XXI. Assim, quem quiser mostrar aos filhos aquilo com que brincava quando tinha a mesma idade (ou, quem sabe, 'abrir-lhes o apetite' para a própria gama em si) pode facilmente fazê-lo com uma rápida visita a uma grande superfície, por oposição a ter de 'vasculhar' nas caixas de arrumação da infância – apenas mais uma vantagem daquela que, a quase três décadas de distância, se pode dizer ter sido a grande vencedora da 'guerra' de carrinhos em miniatura dos anos 90.

04.02.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Como já aqui foi mencionado numa edição anterior desta rubrica, os carrinhos de modelo, em escala reduzida, estiveram entre os brinquedos mais populares dos anos 90, em especial junto do público masculino. Quer se tivesse ou não uma das famosas e icónicas garagens, os carrinhos reuniam as características perfeitas para serem peça fulcral em qualquer Domingo Divertido – nomeadamente, a excelente relação entre preço, qualidade, e 'factor diversão' que proporcionavam, e que faziam com que a maioria dos rapazes da época (e também, adivinha-se, muitas raparigas) tivessem caixas cheias de diferentes modelos, prontos a serem empregues numa qualquer corrida ou 'campeonato de destruição' durante uma tarde de fim-de-semana em casa. E apesar de a grande maioria dos conteúdos destas mesmas caixas consistir, normalmente, de veículos da Matchbox ou congéneres de 'marca branca' comprados na loja 'dos trezentos', havia também altas probabilidades de encontrar, em meio a estes, pelo menos um carro da gama Micro Machines.

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De facto, os anos 90 (sobretudo a primeira metade) representaram o período áureo da gama de carrinhos a escala super-reduzida distribuídos em Portugal pela inevitável Concentra. Grande parte deste sucesso devia-se, como nos seus EUA natais, tanto à aparição dos minúsculos carrinhos no mega-sucesso 'Sozinho em Casa' - onde formam a base de uma das mais memoráveis armalhidas montadas por Kevin – como aos bem-conseguidos anúncios aos diferentes modelos da marca, 'debitados' ao melhor estilo 'relato de futebol de rádio' por um 'dobrador' com uma missão espinhosa – igualar a velocidade de discurso de John Moschitta Jr., o 'homem dos Micro Machines' original, cujo nome consta do livro de recordes do Guinness precisamente por esse feito. E a verdade é que o esforço do 'substituto' português em nada prejudicava a essência dos anúncios, que contavam ainda com um 'jingle' memorável, que ajudava a compôr ainda mais o 'ramalhete' – e a tornar os Micro Machines parte integrante das listas de Natal e anos de muitas crianças da época, pese embora o preço proibitivo por comparação aos carrinhos mais 'normais'.

Outra vertente que ajudava a distinguir os Micro Machines dos seus congéneres a escalas menos exageradas era a presença de pistas, muitas das quais 'disfarçadas' de edifícios ou veículos gigantes – uma daquelas propostas feitas à medida para cair no gosto das crianças noventistas, e que, suspeita-se, conseguiria mesmo algum sucesso nos dias de hoje. Assim – e apesar de, como os carros, não serem exactamente baratas – estas pistas não deixaram, certamente, de marcar presença nos quartos dos pequenos fãs da gama em causa, ajudando a tornar a experiência de brincar com os Micro Machines ainda mais entusiasmante.

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Uma das pistas da gama.

Face a todo este sucesso, não é, também, de estranhar que a marca tenha tido direito a adaptações para jogo de vídeo, todas elas bastante bem cotadas entre os adeptos do formato da altura, bem como a nada menos que três 'ressurreições': a primeira logo após a venda da licença à Hasbro, em finais dos anos 2000, a primeira em conjunção com o primeiro episódio da terceira saga 'Guerra das Estrelas', em mados da década de 2010, e a terceira já em inícios de 2020, encontrando-se esta, ainda hoje, disponível em certos mercados. Assim - e apesar de, em Portugal, a sua relevância se ter há muito, esfumado - é ainda bem possível que os elementos mais novos da chamada 'geração Z' venham a descobrir estes veículos, tal como sucedeu com os seus pais três décadas antes, e tornem a trazer o nome Micro Machines para a ribalta; até lá, ficam as memórias daquela linha de carrinhos tão pequenos que quase se podiam qualificar para a secção Quintas de Quinquilharia deste nosso blog...

07.01.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por diversas vezes apontámos os anos 90 como a época áurea dos jogos de tabuleiro, em que este tipo de diversão se libertou definitivamente do formato simplista que tivera em décadas transactas, e explorou novas possibilidades dentro do campo dos dados e casas. De 'Piloto Piruetas' ao jogo oficial da Eurodisney, passando pelo Pictionary e por 'maravilhas' da Tomy, como 'Screwball Scramble' e 'Kong Man', muitos foram os títulos que fizeram concorrência aos tradicionais Monopólio e Trivial Pursuit durante os últimos anos do século XX. Há quase exactos trinta anos, no entanto – no Natal de 1993 – a mais recente 'estrela da companhia' não era qualquer dos títulos apontados, mas sim um jogo da 'inevitável' Majora, cujo misterioso título, temática de fantasia medieval e elaborado anúncio televisivo faziam antever uma experiência épica, cheia de portas deslizantes e armadilhas.

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Infelizmente, terão sido várias as crianças portuguesas a descobrir, para seu enorme desapontamento, que 'O Labirinto Mágico' era apenas 'mais um' jogo bidimensional, e que todos os elementos prometidos pelo anúncio se traduziam numas quantas cartas e peças em cartão, bem longe das emoções prometidas pela propaganda – as quais poderiam, facilmente, ter sido recriadas em miniatura pela Majora, não estivesse a mesma a trabalhar a partir de um modelo pré-existente.

De facto, e ao contrário de outros jogos distribuídos pela companhia, 'O Labirinto Mágico' não é um original; trata-se, pelo contrário, de uma recriação e tradução directa do título do mesmo nome lançado na Alemanha pela Ravensburger (que se tornaria, mais tarde, sinónima, em Portugal, com os 'puzzles' de cem ou mais peças) e que também já havia sido disponibilizado no mercado espanhol e italiano. As regras, essas, perdem-se nas 'brumas do tempo', sendo a maioria dos 'posts' acerca deste jogo na Internet nacional, precisamente, pedidos por cópias ou digitalizações das instruções do jogo, por parte de ex-jovens 'noventistas' desejosos de o jogas – o que prova que, apesar da publicidade enganosa, este jogo conseguiu, ainda assim, cativar a sua quota-parte de jovens lusitanos da época.

Tanto assim, aliás, que 'O Labirinto Mágico' mereceu não só uma actualização para o Novo Milénio – essa sim, capaz de cumprir as promessas do antigo anúncio, com base em mecanismos magnéticos, entre outros 'truques' – como também de uma série de actualizações licenciadas do jogo original, com temáticas tão bizarras e distantes do conceito original como Naruto e Super Mario, e o título simplificado para apenas 'Labirinto'. Para as crianças e jovens da geração 'millennial', no entanto, continua a ser o formato inicial e original o mais associado com o nome em causa, o qual trará, sem dúvida, memórias de abrir pela primeira vez a caixa do jogo num qualquer Natal ou festa de anos de há três décadas atrás...

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