NOTA: Este 'post' é respeitante a Domingo, 28 de Setembro de 2025.
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
Um dos maiores axiomas do senso comum futebolístico é que a maioria dos jovens com potencial formados em grandes clubes 'ficam pelo caminho', acabando por fazer carreira em emblemas mais pequenos, muitas vezes como peças destacadas dos mesmos. E apesar de este fenómeno ser, hoje em dia, prevalente ao ponto de constituir a norma, tal não significa que, em outros períodos da História do desporto-rei, tal não fosse também o paradigma; antes pelo contrário, o século XX viu um sem-número de jovens jogadores falharem na sua tentativa de singrar profissionalmente num 'grande', apesar do talento nítido e óbvio. Portugal não foi, de todo, excepção a esta regra, tendo oferecido ao mundo futebolístico de finais do Segundo Milénio um verdadeiro 'ror' de 'promessas adiadas', que tardavam ou falhavam em evidenciar o seu potencial. É, precisamente, sobre um desses jogadores que nos debruçamos neste 'post', por ocasião do seu quinquagésimo-primeiro aniversário – um futebolista que foi internacional português, jogou por Sporting e Benfica, foi feliz em Inglaterra, mas não deixou, ainda assim, de passar ao lado de uma carreira ao nível do seu talento.
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Com a camisola do Benfica.
Nascido em Lisboa e formado nas escolas do Sporting (já então um viveiro de jovens talentos, mesmo uma década antes de construída a sua famosa Academia), Hugo Cardoso Porfírio destacou-se o suficiente para ser promovido à equipa principal dos 'Leões' no seu primeiro ano de sénior, em 1992, reencontrando assim o colega de equipa dos Juniores, Emílio Peixe. Ao contrário deste, no entanto, Porfírio não singraria de leão ao peito, realizando apenas uma dúzia de partidas com a 'Listrada' ao longo de duas épocas antes de, em 1994, se ver sem espaço no plantel e com viagem marcada para um clube mais pequeno – ou, no caso, três.
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Porfírio no Sporting.
De facto, entre as temporadas de 1994-95 e 1996-97, o extremo rumaria primeiro a Santo Tirso, depois a Leiria, e por fim, inesperadamente, a Londres, Inglaterra, onde representaria o West Ham. Apesar da escala marcadamente distinta dos três empréstimos, em nenhum deles Porfírio 'fez feio', tendo realizado épocas de excelente nível, e sido presença regular nos jogos de todos os emblemas que representou durante este período – feito que lhe valeu a presença na equipa que representava Portugal no Euro '96, no decurso do qual fez a sua estreia como Internacional A (antes, havia sido presença assídua nas Selecções jovens, tendo disputado os Campeonatos Europeus de sub-16 em 1990 e sub-18 em 1992, e o Mundial de sub-20 em 1993) jogando quinze minutos da partida contra a Turquia, e seguindo depois viagem para os Jogos Olímpicos de Atlanta.
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Em acção pelo Tirsense, e no seu único jogo no Euro '96.
As boas indicações deixadas ao longo daqueles três anos não foram, no entanto, suficientes para garantir a Porfírio um lugar no plantel principal do Sporting, que o dispensava no Verão de 1997. O extremo via-se, assim, obrigado a abraçar novos desafios, acabando por rumar a Espanha, para representar o Racing Santander. Ao contrário da primeira experiência internacional, no entanto, esta segunda 'aventura' pelo exterior não lhe correria de feição, levando a que, apenas um ano depois – e com o Racing Santander já despromovido da La Liga – caísse a 'bomba': Porfírio, o antigo 'leão', assinava contrato com o grande rival da Segunda Circular, passando assim a fazer parte do grupo dos 'vira-casacas', isto é, jogadores que representaram dois clubes grandes em Portugal. Ainda assim, durante este período, conseguiria ainda a sua terceira e última internacionalização pela Selecção Nacional, participando no jogo contra a Ucrânia, a contar para a fase de qualificação para o Mundial de França '98.
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As aventuras internacionais no West Ham, Racing Santander e Nottingham Forest.
Ao contrário de 'companheiros' ilustres como Yuran, João Vieira Pinto, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma ou Mário Jardel (entre outros) Porfírio não viria, no entanto, a relançar a carreira no rival do seu clube de origem; antes pelo contrário, seria ainda menos utilizado do que havia sido no Sporting, totalizando metade das exibições que fizera pelo clube de Alvalade ao longo de duas épocas, e vindo a ser emprestado ao Nottingham Forest, onde passaria também despercebido, antes de se desvincular do clube das Águias, alegando salários em atraso, e se 'mudar' para as ilhas, para representar o Marítimo. Não tardaria mais que uma época, no entanto, até regressar à Luz, para mais três temporadas anónimas, a maioria das quais passada na equipa B. O outrora promissor extremo entrava assim, oficialmente, no ocaso de uma carreira que o veria ainda passar por clubes semi-amadores da zona da Grande Lisboa antes de rumar às Arábias (então ainda longe do estatuto desejável que possuem hoje) para pendurar definitivamente as botas ao serviço do Al-Nassr, hoje conhecido como o clube de Cristiano Ronaldo, mas, à época, um emblema perfeitamente desconhecido para a maioria dos adeptos europeus.
Consumava-se, assim, o estatuto de 'promessa (eternamente) adiada' de um jogador cuja 'sorte' e oportunidades estiveram sempre algo aquém do talento que exibia nos pés (mesmo numa era que favorecia os 'baixinhos' com 'magia', como ele), e que será sempre lembrado como um dos grandes 'e se...?' do futebol português moderno – estatuto que lhe vale, agora, a presença nestas páginas, à laia de 'prenda de anos'. Parabéns, e que conte ainda muitos.